Quando passava pela Lagoa do Parque Solon de Lucena costumava observar a imponente árvore dando sombra ao busto de Augusto dos Anjos. Era o tempo que carregava fortemente comigo o aroma da terra e nas mãos as marcas do trabalho no campo. Não percebia quanto representava para nós o poeta, o tamarindo e o seu busto.
Olhando as árvores da Lagoa lembrava da paisagem de minha terra. Um tempo da infância que sequer falávamos em literatura, mas ouvíamos estórias de Trancoso, escutávamos a poesia dos pássaros e nos deliciávamos com os repentistas.
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Em décadas passadas a árvore caiu não “ao golpe do machado bronco”, mas foi ao chão devido ao descuido de gestores públicos.
Busto de Augusto dos Anjos
Pq. Solon de Lucena Ajmcbarreto
Pq. Solon de Lucena Ajmcbarreto
Todas as vezes que passo pela Lagoa penso no poeta, recordo o busto e relembro da árvore, símbolo da poesia de Augusto.
Os que amam a Poesia debruçam seus corpos sobre o tronco imaginário da árvore do poeta, abrindo o coração para amar angelicamente o marco de amores e dores, lugar de muitos suspiros, de paixões arrebatadoras pela mística transcendental, símbolo do entusiasmo criador de Augusto dos Anjos.
Na infância, o poeta Augusto conheceu a insuperável fragrância do engenho Pau d’Arco, de solitária paisagem. Seus poemas cantam a constante presença amor ao invisível da paisagem observada enquanto desfrutava da sombra do tamarindo.
Tamarindo IKAI
O tamarindo e o busto do poeta formavam um único corpo. Décadas depois ainda passo pela Lagoa tentando encontrar os resquícios da árvore de nossa admiração.
Em tempos passados da árvore, em visita ao Pau d’Arco, aconchegado à sombra, escutava as cantigas dos pássaros flautistas nas pontas das galhas e as canções melancólicas das cigarras. Já na Lagoa, inúmeros casais de
Augusto dos Anjos CC0
O tamarindo e o poeta tiveram a mesma sina, uma sina que Augusto cantou com versos eternos. O poeta consumido pela doença infestada em seu magro corpo que a medicina não curou e a árvore comida pela mão do tempo. Mas nem tudo está perdido, pois restam a imagem hirta do vate a sombrear estantes.
Algumas iniciativas vêm sendo colocadas em práticas pela Academia Paraibana de Letras, tendo à frente o professor e acadêmico Milton Marques Júnior, para fazer com que cada vez mais Augusto dos Anjos seja lembrado e venerado. Milton plantou uma muda da árvore, símbolo do poeta, nos jardins da Academia, e outras iniciativas dele acontecem para que o poeta e sua poesia cheguem às mentes e aos corações daqueles que ainda não conheceram o autor do Eu.
Sempre buscamos descobrir algo novo na genialidade de Augusto dos Anjos, porque sendo poeta de versos imortais, é o mais original na literatura brasileira, como atestam os críticos mais sisudos.