Já detentora de uma história de vida com riqueza de atitudes, ações e posicionamentos, contrariou os estatutos do Rotary Internationa...

Emma Hildinger

emma hildinger rotary club
Já detentora de uma história de vida com riqueza de atitudes, ações e posicionamentos, contrariou os estatutos do Rotary International, que vetavam mulheres na organização, e ingressou no Rotary Club de Caçapava, SP, em 17 de maio de 1988.

Por causa dessa sua coragem e ousadia, Emma tornou-se a primeira rotariana da América Latina.

A maior lição de vida escutou do pai: “Se você quer e tem coragem, você vai vencer”.

E assim aconteceu!

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Emma Hildinger Vozes do Rotary
Emma Hildinger nasceu em 1923 na cidade de Waldbronn, no sul da Alemanha, e chegou sozinha ao Brasil em 1950 para começar sua vida profissional como secretária executiva na cidade de São Paulo. Faleceu em junho/2021.

Jamais se esqueceu dos horrores e do sofrimento da Segunda Guerra Mundial, mas a experiência parece ter aguçado nela a vontade de ajudar o próximo.

Enfrentou uma luta enorme, pois naqueles tempos a mulher não podia entrar no Rotary.

O Rotary International determinou o fechamento do clube de Caçapava, principal motivo: “ter admitido a entrada de uma mulher no clube”.

Porém o advogado deles alertou que “Pela lei brasileira não existe diferença entre homem e mulher. Vocês não podem fechar”. A briga levou o ano inteiro de 1988, até que na Convenção do Rotary de 1989 ficou liberada a entrada de mulheres.

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Enviei mensagem ao seu filho, o engenheiro e administrador de empresas Thomas.

Eis a resposta dele, em nome da família:

São Paulo, 27 de Abril de 2024.

"Querida Ana Paula,

Amigas e amigos do Rotary e da Academia Brasileira Rotária de Letras,

A homenagem a nossa inesquecível Emma toca profundamente nos corações de nossa família. É difícil descrever a emoção e a saudade que sentimos; estamos muito honrados.

Acreditamos que a honraria concedida a nossa saudosa avó/sogra/mãe é um espelho do amor e da dedicação que ela sempre compartilhou generosamente. Mais do que um reconhecimento, essa linda homenagem é um chamado para continuarmos a tecer a tapeçaria de contribuições que ela começou, e o amor incondicional que ela semeou.

Em um mundo onde a palavra e a ação caminham juntas na construção de um futuro melhor, nossa querida e amada Emma, sempre se norteou pelos lemas rotarianos 'Dar de Si Antes de Pensar em Si' e 'Mais Se Beneficia Quem Melhor Serve'. Para nós, netas, nora e filho, o legado dela é um testamento vivo do poder transformador do Rotary e sua presença é um farol de liderança e compaixão.

Temos certeza de que ela está muito feliz e honrada com essa linda homenagem e orgulhosa de ter a você, Ana Paula, com sua trajetória intelectual, literária e humanística ocupando merecidamente a cadeira de 22 da Academia Brasileira de Letras Rotária.

Que sua jornada, querida Ana Paula, continue a ser marcada pelo altruísmo e pela busca incansável por um mundo onde a literatura e a fraternidade sejam as chaves para um amanhã mais justo e pleno.

Um grande abraço,
das netas Cinthya, Evelyn e Karyn
da nora Solange
do filho Thomas

e, mais que tudo, da nossa querida e inesquecível Emma Hildinger.”
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Família Hildinger Emma Hildinger
Ao ler sobre essa incrível mulher, encontrei uma entrevista dela aos 93 anos.

Algumas perguntas respondidas por ela:

O que a levou a ser rotariana?

Eu sempre tive vontade de ajudar. Eu atravessei a guerra e sei que é necessário ajudar o próximo.

Quando a senhora se tornou presidente do clube?

Já na festa em que assumi a presidência do Rotary Club 9 de Caçapava [em 1992-93].

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Emma Hildinger
Como foi ser a primeira rotariana da América Latina? Naquele momento, a senhora tinha ideia de que era uma pioneira?

No Brasil, mais ou menos eu tinha. Da América Latina, naquela época não tinha ideia.

Logo depois que se tornou rotariana, a senhora viu outras mulheres ingressarem nos clubes da região?

Demorou. Os clubes ficaram com receio, porque tem homens machistas, que não gostam da ideia. Até hoje tem clubes no meu distrito que não convidam mulher.

A senhora chegou a sofrer algum tipo de resistência no meio rotário?

Nenhuma. Fui sempre muito respeitada, muito querida aonde vou. Logo fui presidente do clube de Caçapava e aqui em São José dos Campos fui presidente três vezes.

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Emma Hildinger
Recentemente, a senhora recebeu uma homenagem.

Foi uma das grandes alegrias da minha vida. Na posse do nosso governador [Ivanir Chappaz], eu tive que ir à tribuna e não sabia o porquê. No fim de tudo, de repente, ele me deu uma placa. Agora eu sou Governadora Distrital Honoris Causa.

Por que a senhora escolheu o Brasil para viver?

Inicialmente, eu queria ir para o Canadá, mas não me deixaram entrar porque eu era solteira. Depois da guerra, o Canadá só deixava entrar famílias. Como eu tinha um primo, que infelizmente também morreu na guerra, jornalista, e ele tinha amizade com o pessoal de um jornal alemão do Rio de Janeiro, mandei uma carta para eles. Perguntei se não podiam me ajudar. Então eles fizeram contato com o consulado e me concederam o visto para o Brasil. Digo que sou mais brasileira do que muitos brasileiros. Aonde vou procuro defender o nosso país.

A senhora poderia falar um pouco sobre a experiência da Segunda Guerra Mundial?

Foi a pior época da minha vida. Veja bem: eu tinha 15 anos quando começou a guerra. Eu queria viver, tinha planos para o futuro. E aí acabou tudo… E quando acabou a guerra, eu tinha 21 anos. Eu morava a 20 quilômetros da fronteira com a França, você pode imaginar o que nós sofremos. Todas as noites chegavam os aviões e jogavam bombas. Durante os dias, a gente escutava os tiros.


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