Robert Louis Prevost parece ter um nome inventado por um romancista pouco inspirado. Aliás, sua identidade e trajetória seriam inverossímeis se tivessem sido criadas para um romance.
Além de ter um nome civil pouco crível para um norte-americano, pois é descendente de imigrantes espanhóis e franceses, Prevost não é um "WASP", o anglo-saxão protestante comumente identificado como o típico cidadão dos Estados Unidos. É um homem de cútis morena, com traços mediterrâneos, improvável de ser reconhecido como um "yankee" à primeira vista.
Roberto Prevost Instagram/peandersongomes
Atuou por quase vinte anos no Peru como missionário, sendo nomeado Bispo de Chiclayo em 2014, pelo Papa Francisco. Sua atuação ali foi marcada pela proximidade com o povo, pelo incentivo às vocações e pela atenção às periferias.
Robert Prevost e Papa Francisco Vatican News
Prevost me lembra o também religioso norte-americano Thomas Merton, o monge trapista que se destacou nos anos 1960 com seus escritos. Merton dizia sentir-se obrigado a se expressar como cristão e cidadão da maior potência mundial, refletindo sobre sua responsabilidade diante das injustiças sociais, da guerra e do consumismo. Em seus textos, criticou com veemência o militarismo dos EUA, especialmente durante a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã, o racismo estrutural e o materialismo que, segundo ele, afastava os cristãos da verdadeira vida espiritual.
Thomas Merton Abadia de Gethsemani
Foi também um “construtor de pontes”, defensor do diálogo inter-religioso e da união entre fé e engajamento social.
Assim como o monge trapista, seu conterrâneo agostiniano Robert Prevost também assume sua responsabilidade crítica diante de seu papel na Igreja e no mundo, posicionando-se do lado certo: o da paz e dos pobres.
Papa Leão XIV Vatican news
Mais importante do que a análise de seu discurso é a impressão que sua presença e seu modo de ser despertam em quem o vê e escuta. Percebe-se um espírito pacífico e conciliador, um homem de gestos tranquilos, educados, afáveis e gentis, que se coloca claramente a serviço da justiça e da concórdia.
Apesar do nome e da trajetória que parecem saídos da ficção, Robert Prevost se tornou uma bênção real para o mundo contemporâneo.
A simbólica escolha de seu nome papal pode remeter a uma preocupação com a dignidade do trabalho nos dias atuais, especialmente diante do avanço das tecnologias digitais. Trata-se, possivelmente, de uma atualização do cuidado que Leão XIII, seu homônimo antecessor, teve ao escrever a encíclica Rerum Novarum, sobre os direitos dos trabalhadores frente à ganância industrial do século XIX. É um novo Leão, também a serviço do Cordeiro.