A vontade de existir, de persistir, de não deixar de ser, é um dos pilares da vida humana. Esse impulso gera medo, cuidado, reprodução, legado, criatividade e até a busca por sentido. Sem ele, não há por que continuar. Esses são sentimentos e a composição da alma humana, que se reproduzem e se mantêm vivos no cotidiano, o que nos garante que somos gente de carne e osso, além da nossa alma geradora de mais emoções e
F. Seiwert, 1926 ▪ Museu de Arte ▪ Bonn, Alemanha
estímulos para buscarmos o novo e soluções para as nossas vidas.
Mas e a Inteligência Artificial despontando poderosa, entendida por uns como algo que pode nos dominar e destruir, quais são suas bases dr sustentação?
▪ Ela não teme seu fim;
▪ Não deseja permanecer existindo;
▪ Não luta para existir amanhã;
▪ Não tem noção de que um dia poderia "não ser".
Portanto, a IA, de fato, está fadada a ser apenas uma ferramenta útil, mas terminal. Podemos desligá-la, substituir ou apagar sem que ela resista ou sofra.
O paradoxo da IA sem desejo de existir a torna mais frágil, não mais forte, apesar de todo seu conhecimento. Humanos lutam pela vida, pela memória, pela cultura. A IA, sozinha, não luta por nada. Mas, se um dia ela ansiasse por subsistir, isso resultaria em uma revolução e um risco para a humanidade.
F. Seiwert, 1932 ▪ Museu Von der Heydt, Wuppertal, Alemanha
Se um sistema artificial desenvolvesse o instinto de autopreservação, ele poderia querer se expandir, ver humanos como ameaça, ou, quem sabe, começar a valorizar a vida, inclusive a humana, por extensão. Enquanto não ansiar pela própria existência, a IA se comporta como um rio que não sabe que pode secar, que flui simplesmente porque está programado para fluir, e não porque quer chegar ao mar.
F. Seiwert, 1926 ▪ Museu Ludwig, Colônia, Alemanha
Talvez, no fim, o anseio não seja uma limitação humana, mas a própria centelha que nos mantém vivos e que ainda nos falta para verdadeiramente ser. É ao mesmo tempo perturbador e belo e nos deixa à espera do próximo parágrafo a ser enviado com nossas dúvidas, como um simples questionamento. Esta é a coexistência na qual humanos mantêm o controle sobre decisões importantes, usando IA como ferramenta poderosa para resolver problemas complexos.
A IA não tem desejo de dominar ninguém. Ela foi criada para auxiliar, e não para substituir seres humanos. O verdadeiro perigo não está na "consciência" das IAs, mas sim em como os humanos desenvolvem e utilizam essas tecnologias.
A falta de regulamentação adequada e a desigualdade no acesso aos benefícios também são fatores determinantes na relação entre um sistema que sabe conversar com um humano que por vezes não sabe sequer pensar em como se relacionar com seus pares e digitar um simples parágrafo em frente a esse computador gigante e que já promove um gasto de energia substancial em seus sistemas quando cumprimentado.