O poeta e confrade da Academia Paraibana de Letras, Helder Moura, revelou seu retorno às crônicas de Gonzaga Rodrigues, precisamente ao livro Café Alvear.
Senão o melhor livro do nosso cronista maior, este Café Alvear é o que mais nos chama a atenção pela forma como aborda a vida da cidade, a nossa antiga Parahyba. Gosto bastante das Notas do Meu Lugar, o primeiro que publicou, em 1978, mas também ressaltaria observar com apurado olhar o mais recente trabalho Com os olhos no chão, uma coletânea de textos do mais alto nível.
Rua Duque de Caxias (PB)
Gilberto Stuckert
Gilberto Stuckert
No entender de Gonzaga, o Café Alvear se tornou um “ponto de encontro perdido”, de um passado luminoso da nossa história, a ser lembrado. Alguns frequentadores fizeram a cabeça de jovens, enquanto outros brechavam as conversas, aceirando as mesas.
Sempre retorno às crônicas de Gonzaga com a mesma voracidade, desde quando, por volta dos primeiros anos da década de 1970, a cada manhã, corríamos à página de Opinião do jornal O Norte para a leitura de seus registros e a leitura de outros cronistas. A sua coluna Arquibancada chamava a atenção pela leveza dos textos e pelos temas abordados. Devo a Nathanael Alves esse apreço pelas crônicas e a admiração que sinto pelo filho de Alagoa Nova.
Gonzaga Rodrigues
O modo como aborda os assuntos, os temas sempre familiares, atrai leitores para suas crônicas.
Em muitas crônicas, ele falava da população que desfilava pelo Ponto de Cem Réis com a mesma desenvoltura daqueles que cruzavam as velhas alamedas da cidade antiga. Apontava a opulência dos frequentadores do velho Cabo Branco, que sempre usavam gravata e terno de brim branco, enquanto moviam as pedras do gamão. Esses dândis, esquentando as cadeiras na sede do antigo clube social, olhavam de soslaio para quem passava na calçada ou entrava na silenciosa Igreja da Misericórdia.
Na Paraíba, Juarez Batista, Carlos Romero, Virgínius da Gama e Melo, Elcir Dias e Germana Vidal antecederam Gonzaga Rodrigues; Nathanael Alves e Luiz Augusto Crispim deram à crônica dimensão de literatura.
Rubem Braga ABL
Lendo essa gente, aumentava o gosto pela crônica.
A universalidade de Gonzaga representa a época em que o jornalismo era alimentado, ainda mais, pelo pensamento greco-romano, pelo humanismo balizado nas raízes da partilha e da casa comum, tendo o livro como instrumento para a construção da nova paisagem humana.
Ele trouxe para a crônica o homem rural com suas ansiedades, as águas correntes dos riachos e o perfume da terra, como José Lins do Rego fez no romance.
Hélder Moura
Desde os primeiros anos da década de 1970 venho aceirando o roçado literário de Gonzaga. Suas palavras, escritas e pronunciadas ao pé do ouvido, vêm dando prumo à minha tentativa de desvendar os mistérios das palavras.
Pequeno, recém-chegado do interior, ele me fez entender a excepcionalidade da força da palavra escrita. Ajudou a mudar minha rudeza de escrever, de observar as artes e a literatura.























