Você já se pegou hesitando ao escrever ou falar, perguntando-se: o correto é "Deus lhe abençoe" ou "Deus o abençoe"...

'Lhe''

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Você já se pegou hesitando ao escrever ou falar, perguntando-se: o correto é "Deus lhe abençoe" ou "Deus o abençoe"?. O “lhe” talvez seja, dos pronomes oblíquos átonos, o que mais suscita dúvidas quanto à sua aplicação.

“LHE” nos permite substituir nomes de pessoas ou pronomes de tratamento. Sua aplicação é regulada pela transitividade verbal, ou seja, pela maneira como o verbo
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se conecta aos seus complementos.

Iniciemos pela função canônica do LHE como objeto indireto e, após, exploraremos situações especiais em que assume as funções sintáticas de adjunto adnominal e complemento nominal.


O LHE como objeto indireto (OI)
A função mais recorrente do LHE é atuar como Objeto Indireto (OI). Isso ocorre quando o verbo da oração é transitivo indireto (VTI) ou transitivo direto e indireto (VTDI), ou seja, ele exige um complemento mediado por uma preposição (geralmente a preposição a).

O LHE exerce a função de OI e se refere geralmente a pessoas, seres personificados ou pronomes de tratamento no singular: a ele, a ela, a você, ao senhor, à senhora.

Exemplos:

VTIEntreguei o livro ao professor.= Entreguei-LHE.
(LHE substitui “ao professor”)
VTIEste é um direito que assiste ao estudante”.= Este é um direito que LHE assiste.
(LHE substitui “ao estudante”)
VTDIEntreguei a carta ao diretor.= Entreguei-LHE a carta.
(O LHE substitui ao diretor)
VTDIDesejo sucesso a você.= Desejo-LHE sucesso.
(O LHE substitui a você)


O LHE e o Objeto Direto (OD)
Uma regra da norma-padrão é que o LHE não deve ser empregado para substituir um Objeto Direto (OD), ou seja, o complemento de um verbo transitivo direto (VTD) ou verbo transitivo direto e indireto (VTDI) que não exige preposição.

Para substituir o OD, a norma-padrão exige o uso dos pronomes oblíquos átonos o, a, os, as.

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Alguns verbos que exigem atenção (Regência):
Muitos falantes, por influência da fala coloquial, utilizam o LHE como OD (fenômeno conhecido como lheísmo), especialmente com verbos como amar, abençoar, ver, ajudar, entre outros, que são VTD:

Incorreto (lheísmo): "Eu lhe vi na rua."; “Eu lhe amo.”
Correto: "Vi-o/a na rua."; “Eu o/a amo.” (O VTD ver e amar exigem o/a para OD)


Situações Especiais: LHE Como A.A. e C.N.
Embora o LHE, de forma mais recorrente, seja usado para a função de Objeto Indireto, ele pode, em casos específicos, desempenhar a função de Adjunto Adnominal (A.A.) ou Complemento Nominal (C.N.), dependendo da classe de palavra que ele complementa.

1
LHE como Adjunto Adnominal (A.A.)
O LHE assume a função de Adjunto Adnominal (A.A.) quando, semanticamente, denota a ideia de posse. Nesses casos, o pronome substitui um termo preposicionado que funciona como A.A. do substantivo. Ele é equivalente a "seu(s)" ou "sua(s)" e geralmente é ligado a substantivos que se referem a partes do corpo, vestuário, objetos pessoais ou a algo que pertence à pessoa a que o LHE se refere.

"Beijei a face dele." = "Beijei-LHE a face."
Análise: O verbo beijar é VTD. A face é o OD. O LHE (equivalente a sua face) indica posse. Por isso, funciona como Adjunto Adnominal.
"Tiraram o chapéu dele." = "Tiraram-LHE o chapéu." (O LHE é A.A. de o chapéu)
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LHE como Complemento Nominal (C.N.)
O LHE desempenha a função de Complemento Nominal (C.N.) quando ele substitui um substantivo, adjetivo ou advérbio que exige um complemento introduzido pela preposição a. Isso ocorre com substantivos abstratos e adjetivos, expressando o alvo ou o paciente da ideia expressa pelo nome.

"O perdão ao ofensor foi necessário."
(Substantivo abstrato perdão exige C.N. ao ofensor)
▪ "O perdão LHE foi necessário."
Análise: O LHE é C.N., pois completa o sentido do substantivo abstrato perdão.
"Ele é fiel à esposa."
(Adjetivo fiel exige C.N. à esposa)
▪ "Ele LHE é fiel."
Análise: O LHE complementa o sentido do adjetivo fiel, assumindo a função de Complemento Nominal (C.N.), pois é um termo regido.
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Caso os leitores desejem conferir outros exemplos e aprofundar seus conhecimentos gramaticais, podem recorrer a: Evanildo Bechara, Celso Cunha, Celso Luft, Rocha Lima, entre outros.
Referências BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 48. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.

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