Vivemos em uma época marcada por transformações tecnológicas aceleradas, hiperexposição a estímulos, intensificação das dinâmicas produtivas e fragilização dos vínculos comunitários. Esses processos produzem um modo de existência no qual a sensibilidade — entendida como capacidade de perceber, afetar-se e responder eticamente ao mundo — sofre um visível apequenamento.
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A racionalidade instrumental moderna — isto é, o raciocínio focado na eficiência e na escolha dos meios mais eficazes para atingir um objetivo específico — reduz a experiência à funcionalidade, produzindo sujeitos incapazes de perceber a singularidade dos acontecimentos. A sensibilidade, nesse fenômeno, é substituída por respostas padronizadas e automatizadas. A condição de ser selvagem, cruel, desumano ou incivilizado inicia na perda cotidiana da capacidade de indignar-se com o sofrimento alheio.
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Martha Nussbaum berggruen.org
Nesse sentido, a reconstrução da sensibilidade atua contra os sistemas burocráticos e tecnológicos, os quais dissociam ações de suas consequências, diluindo a responsabilidade. A sensibilidade moral enfraquece quando o sujeito não vê a dignidade do outro, não escuta o grito social nem percebe o sofrimento humano. Fortalecê-la exige restabelecer o vínculo entre ação e consequência, devolvendo acolhimento às relações sociais. Nesse desafio, a sensibilidade é uma forma de estar-no-mundo, e o corpo é o lugar no qual a realidade se torna significativa. Considerando isso, a reconstrução da sensibilidade é um retorno ao corpo vivido. Em sociedades que tendem a desmaterializar a experiência por meio de virtualizações constantes, a recuperação da presença corpórea torna-se vital para restituir o sentido estético de existir.
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Nessa perspectiva, a reconstrução da sensibilidade constitui um gesto de compaixão e político que forma sujeitos capazes de solidariedade e dotados de um senso crítico desembrutecido. Ao promover a integração entre razão e emoção — frequentemente dissociadas pela tradição da banalidade da maldade — esse processo prioriza o bem comum relacionado à dignidade humana, a qual se expressa na habilidade de cooperação e reconhecimento mútuo, dignificando os sofrimentos humanos, permitindo que eles sejam nomeados, compreendidos e acolhidos dentro de uma responsabilidade ética. Isso implica reorganizar modos de sentir e de estar-no-mundo que sustentem experiências de cuidado, justiça e pertencimento comunitário mais inclusivo, capaz de resistir aos processos de desumanização e indiferença.
























