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Em 1988, o aiatolá Khomeini, então todo-poderoso líder religioso e político do Irã, decretou uma fatwa contra o escritor anglo-indiano...

salman rushdie livro faca
Em 1988, o aiatolá Khomeini, então todo-poderoso líder religioso e político do Irã, decretou uma fatwa contra o escritor anglo-indiano naturalizado norte-americano Salman Rushdie. A fatwa é um decreto oficial de condenação à morte e possui uma característica especial que aumenta consideravelmente sua letalidade, pois autoriza qualquer muçulmano, em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo, a cumpri-lo, ou seja, a matar aquele ou aquela objeto da sentença. No caso do referido escritor, a condenação deveu-se ao seu livro Os Versos Satânicos, que, segundo o aiatolá, teria ofendido a fé islâmica e seus seguidores.

É um luxo. E sempre foi. Principalmente agora, nestes nossos tempos despudorados. Para alguns, tão importante e necessário quanto o si...

vida moderna privacidade
É um luxo. E sempre foi. Principalmente agora, nestes nossos tempos despudorados. Para alguns, tão importante e necessário quanto o silêncio, outro requinte civilizacional. Mas só para alguns, parece. A maioria, o rebanho, prefere a exposição e persegue a exposição, a “mostração”, como diria minha sábia avó, referindo-se aos “mostrados” de seu tempo, ou seja, aqueles e aquelas que gostavam de se “mostrar”, de aparecer, de se exibir, como se sua inerente mediocridade não combinasse (e até exigisse) com o mais absoluto anonimato.

Rua Lopes Chaves, 546, Barra Funda, São Paulo – SP. No mundo das letras, este endereço é famoso, faz parte de nossa história literá...

mario oswald andrade
Rua Lopes Chaves, 546, Barra Funda, São Paulo – SP. No mundo das letras, este endereço é famoso, faz parte de nossa história literária. Aí morou, quase a vida inteira e até a morte, Mário de Andrade, o mestre do modernismo brasileiro, o guru de tantos dos nossos maiores escritores surgidos na primeira metade do século XX e talvez o maior dos nossos epistológrafos, o homem que mais escreveu cartas entre nós, cartas que, para muitos, eram também lições sobre o “como escrever” no espírito da modernidade que veio na esteira da famosa Semana de 1922.

Jacques Lacan, o célebre psicanalista francês, não foi um bom pai, no sentido convencional da expressão. Essa a conclusão a que che...

sibylle jacques lacan um pai
Jacques Lacan, o célebre psicanalista francês, não foi um bom pai, no sentido convencional da expressão. Essa a conclusão a que cheguei após a leitura do livro Um pai: puzzle (Aller Editora, São Paulo, 2023), de autoria de Sibylle Lacan, filha do dito cujo. Vou além: se aplicarmos os critérios brasileiros de avaliação, creio que até podemos afirmar que ele foi um péssimo pai. Vejam só, quem diria.

Não, a intenção não é falar sobre a até agora hipotética extinção dessa categoria tão importante, necessária e querida, a dos livrei...

livraria livreiro pedro herz
Não, a intenção não é falar sobre a até agora hipotética extinção dessa categoria tão importante, necessária e querida, a dos livreiros, hoje tão ameaçada, por várias razões. O objetivo é tratar da morte concreta e irrecorrível de um livreiro especial: Pedro Herz, dono da icônica Livraria Cultura, que tanto serviu aos brasileiros nas últimas décadas. Entretanto, creio que os dois temas estão de alguma forma relacionados, de modo que abordarei ambos, sucintamente, como convém à crônica.

O rapaz estava morando sozinho na Capital, fazendo o curso de Medicina, e o tio-avô o convidava vez em quando para comer no casarão ...

jose americo fcja
O rapaz estava morando sozinho na Capital, fazendo o curso de Medicina, e o tio-avô o convidava vez em quando para comer no casarão do Cabo Branco. Bom negócio para os dois: para o rapaz que se alimentaria melhor sem gastar nada e para o tio que teria companhia em sua célebre solidão. De certa forma, um encontro. Um encontro familiar e de gerações, no qual ambos os protagonistas teriam o que trocar – e ganhar. O tempo iria mostrar – e mostrou.

Foi o próprio João Batista que falou: “Diz-se que poesia não se traduz. Mas se tenta.” É verdade. Pois se há realmente algo difícil de...

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Foi o próprio João Batista que falou: “Diz-se que poesia não se traduz. Mas se tenta.” É verdade. Pois se há realmente algo difícil de traduzir para outro idioma é poesia. Não raro custa interpretá-la até na mesma língua, como sabemos. Além do exímio domínio das línguas envolvidas, requer-se do tradutor muita sensibilidade poética, sem falar na capacidade criativa, requisito essencial do ofício. Claro que a prosa também exige muito, mas é evidente que a poesia é bastante mais complexa. O trabalho vai além da simples versão das palavras e frases, pois há que se alçar voo até as alturas da arte poética, na qual significantes e significados nem sempre – ou quase nunca – coincidem com o previsto nos dicionários. E nem sempre dispõe o exegeta de asas grandes e fortes o suficiente para o arriscado desafio.

Clichês à parte, passei batido e dou a mão à palmatória: não lembrei que no último 5 de dezembro de 2023 fez dez anos da súbita e pre...

reitoria ufpb jader nunes
Clichês à parte, passei batido e dou a mão à palmatória: não lembrei que no último 5 de dezembro de 2023 fez dez anos da súbita e precoce partida do professor Jader Nunes de Oliveira, ex-reitor da UFPB, meu amigo pessoal e com quem trabalhei de perto em seu reitorado de dois mandados consecutivos (oito anos). Naquele 6 de dezembro de 2013, ainda abalado, fiz a seguinte anotação em minha caderneta de registros mais relevantes: “05/12/2013: falecimento de Jader, de repente. Grande emoção. Publiquei artigo sobre ele no dia 06/12/2013, no Correio da Paraíba.”.

De tudo faz-se a crônica, já dizia Drummond. E é verdade. E a beleza da crônica está nisso também. Nesse saudável descomprom...

nevita franca gil messias encontro sao paulo
De tudo faz-se a crônica, já dizia Drummond. E é verdade. E a beleza da crônica está nisso também. Nesse saudável descompromisso com planos, projetos e estratégias de todos os tipos. A crônica normalmente é espontânea. Ela surge na cabeça do cronista de repente, por uma razão qualquer, um acontecimento, uma leitura, uma experiência, alguma coisa que ele entenda valer a pena registrar, dividindo dadivosamente com o leitor aquilo que presenciou, viveu e sentiu. A crônica, como a literatura e a arte em geral, é sempre dadivosa. E catártica. Não pode deixar de ser assim, se se pretende autêntica e verdadeira. Daí seu encanto, seu sutil e não raro precário encanto, aquele encanto de tudo que é precário – como a vida mesma, que pode acabar num instante imprevisto.

Muitos adjetivos se lhe aplicam. Mas elegante é o primeiro que me vem à mente. Quem o conheceu, sabe. Agora mesmo, enquanto escrevo, ...

joao mauricio lima neves
Muitos adjetivos se lhe aplicam. Mas elegante é o primeiro que me vem à mente. Quem o conheceu, sabe. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou a vê-lo com os olhos adolescentes do ginasiano do Colégio Estadual do Roger de fins dos anos 1960. Na antiga construção que antes abrigara o Seminário Arquidiocesano, destacava-se a sua figura calma, de voz baixa e impecavelmente vestida. Nele, via-se claramente o esmero pessoal, sem que significasse dandismo ou fútil vaidade; era apenas o seu jeito de ser e de estar no mundo, personalíssimo.

Que não se pense jamais que estou a querer fazer cortesia com o chapéu alheio. Jamais. O que pretendo é tão somente apresentar uma ...

residencia odilon coutinho joao pessoa
Que não se pense jamais que estou a querer fazer cortesia com o chapéu alheio. Jamais. O que pretendo é tão somente apresentar uma modesta sugestão de melhor aproveitamento do belo e decrépito casarão que pertenceu ao doutor Odilon Ribeiro, na avenida João Machado. Um imóvel de considerável valor arquitetônico e histórico, símbolo de uma época de nossa cidade, de uma sociedade e de conjunturas econômico-sociais desaparecidas, mas que resistem, como testemunho a ser devidamente preservado, na pedra e no cal da casa desabitada há tempos, mesmo que não de todo abandonada, eis que ainda guarda livros e algum mobiliário do culto proprietário falecido, conforme mostrou recentemente o atento jornalista Kubitscheck Pinheiro nas redes sociais.

Assim escreveu Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, em suas célebres memórias póstumas, sobre uma de suas amantes: “Marcela am...

machado assis bras cubas paixao amor
Assim escreveu Brás Cubas, personagem de Machado de Assis, em suas célebres memórias póstumas, sobre uma de suas amantes: “Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis”. Pode haver frase mais atual? E é nessa atualidade que reside o gênio machadiano tornado clássico das letras brasileiras e universais, pois clássico é exatamente o livro que se mantém atual através do tempo. Quinze meses e onze contos de réis. O tempo e o preço de um amor fugaz, desde o início condenado à efemeridade e ao vultoso custo financeiro, como costuma acontecer, desde que o mundo é mundo, com relações desse tipo. Os amantes, no fundo, sabem que será assim, pois não se trata de amor verdadeiro e incondicional, e no entanto a ele se entregam com o ímpeto dos apaixonados e o desespero dos suicidas. Tudo para acabar na quarta-feira, como diz a canção, mas que seja eterno enquanto dure, como diz o poeta. Pois só dessa maneira terá valido cada minuto e cada tostão.

Por coincidência ou por artes do destino, ele nasceu exatamente no dia primeiro de maio, dia dos trabalhadores. E foi o primeiro ...

martinho leal campos comunismo ditadura militar 64
Por coincidência ou por artes do destino, ele nasceu exatamente no dia primeiro de maio, dia dos trabalhadores. E foi o primeiro menino a nascer na antiga Maternidade Frei Martinho, em Jaguaribe, daí seu nome, cujo diminutivo combina tanto com suas naturais doçura e cordialidade, sem prejuízo da coragem e do brio nos momentos necessários. Pois é um bravo, como bem sabem os que o conhecem mais de perto.

Pagu é o apelido mais conhecido de Patrícia Galvão, a célebre escritora e agitadora cultural paulista. Este apelido foi criado pelo ...

pagu maria valeira rezende patricia galvao
Pagu é o apelido mais conhecido de Patrícia Galvão, a célebre escritora e agitadora cultural paulista. Este apelido foi criado pelo poeta Raul Bopp, que pensava que o nome dela era Patrícia Goulart, daí Pagu. Mas ela foi mulher de muitos nomes e pseudônimos, como Zazá (apelido de família), Pat, Patsy, Mara Lobo (nome adotado pelo Partido Comunista, ao qual ela era filiada),

Maria. Tão somente Maria, como a mãe de Jesus. E não precisava de mais. Por esse nome simples, belo e universal, com o seu inafastáve...

trabalho domestico
Maria. Tão somente Maria, como a mãe de Jesus. E não precisava de mais. Por esse nome simples, belo e universal, com o seu inafastável quê de divino e ao mesmo tempo tão humano, tão comum, tão popular, todos a chamavam. E era o bastante para ela atender prestativamente ao chamado, fosse de quem fosse. Sobrenome não era necessário nem lhe importava. Sobrenome é coisa das formalidades do mundo, das vaidades do mundo, e ela viveu a vida inteira como que à margem do mundo exterior, pois seu universo, aquele que lhe bastava, resumia-se ao âmbito da casa da família que a acolhera desde mocinha e na qual exerceu todos os ofícios domésticos da época, ou seja, babá, cozinheira,

As pessoas são as mesmas em todo lugar? Mudam a geografia, a língua, a história e a cultura, mas os vícios e as virtudes dos homens s...

neruda llosa isla negra
As pessoas são as mesmas em todo lugar? Mudam a geografia, a língua, a história e a cultura, mas os vícios e as virtudes dos homens são potencialmente os mesmos, desde sempre? Existe o que se chama de “natureza humana”? É possível, mas há quem negue essa tal natureza. Os existencialistas, por exemplo, para os quais, a existência precedendo a essência, não há por que se falar em uma natureza humana predefinida, já que as pessoas vão se definindo por si mesmas, para o bem e para o mal, à medida em que vivem, ou seja, vão se construindo aos poucos, em meio a escolhas e circunstâncias. É uma questão filosófica interessante. Mas o fato é que a experiência tem mostrado fortes argumentos em contrário, independentemente de crenças religiosas ou assemelhadas. As pessoas se repetem tanto, no bem e no mal, em todo lugar e ao longo do tempo, que parecem mesmo ter algo em comum.

Não vou dizer que o tempo voa para não cair num lugar-comum. Pensamos e sentimos que o tempo voa ou passa devagar de acordo com nossa...

filosofia literatura paraibana jose jackson carvalho
Não vou dizer que o tempo voa para não cair num lugar-comum. Pensamos e sentimos que o tempo voa ou passa devagar de acordo com nossas circunstâncias. Mas o tempo não voa nem retarda o passo; ele tem o seu tempo próprio e inalterável, a despeito de todos os relógios. O fato é que em 22 de fevereiro deste 2024 completa um ano da partida do filósofo, professor e escritor José Jackson Carneiro de Carvalho, símbolo inconteste da melhor intelectualidade paraibana e brasileira.

É raro, mas acontece. A prova – e a razão para comemorar – é a notícia da restauração de antigo e belo casarão do Centro Histórico p...

restauracao centro historico joao pessoa semdh
É raro, mas acontece. A prova – e a razão para comemorar – é a notícia da restauração de antigo e belo casarão do Centro Histórico para a instalação da futura sede da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH). Se não me engano, o imóvel, praticamente em ruínas, se situa nas Trincheiras e foi adquirido pelo governo estadual com a finalidade citada. É um valioso exemplo que é dado aos demais órgãos e entidades públicos, como também ao empresariado paraibano. Muita coisa bonita e importante, do ponto de vista histórico e cultural, ainda pode ser salva no Varadouro e no Centro da Capital se houver vontade para tanto.

As ironias capitalistas. O cemitério de Highgate, em Londres, está vendendo por 25 mil libras túmulos na proximidade da sepultura d...

cemiterio karl marx
As ironias capitalistas. O cemitério de Highgate, em Londres, está vendendo por 25 mil libras túmulos na proximidade da sepultura de Karl Marx, ponto turístico da necrópole londrina. Ou seja, quem desejar descansar para sempre ao redor da celebridade terá que pagar caro por isso. Definitivamente, pode-se dizer então que o velho Marx é pop, do mesmo modo como a rainha Elizabeth II, do Reino Unido, também o foi, e assim por diante. Mais que isso: virou uma mercadoria, um produto de luxo, com bom valor de mercado. O fato comprova que ninguém escapa do chamado “establishment”.

Duas notícias recentes: roubaram o busto de bronze (45 quilos) que adornava o túmulo de Nelson Rodrigues no cemitério São João Batist...

cemiterios nelson rodrigues
Duas notícias recentes: roubaram o busto de bronze (45 quilos) que adornava o túmulo de Nelson Rodrigues no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e os sobrinhos-netos de Jorge Luís Borges querem trazer seus restos mortais de Genebra para Buenos Aires. Os dois fatos mostram o desrespeito de que são vítimas os mortos no Brasil e além. Vejamos.