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      FESTA DA PADROEIRA O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissã...

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FESTA DA PADROEIRA
O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissão de nossa Senhora da Conceição, se arrastando, sem pressa, pelas ruas da cidade. O som do sino da igreja matriz e a cadência das matracas, marcando os passos dos contritos fiéis.

Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me b...

Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me bastou (até aqui, pelo menos). Não que eu não tivesse motivos para questionar minha condição de vida e meu lugar no mundo.

Menina pobre do interior da Paraíba, que começou a estudar aos sete anos, numa escola pública, e que nunca pôde comprar um livro sequer, até entrar na universidade e arrumar o primeiro contrato de trabalho (auxiliar de ensino), fui levando minha existência com muitas dificuldades e falta de tudo um muito.

A difusora A Voz de Pocinhos, idealizada por meu pai, Hermes de Oliveira, foi ao ar pela primeira vez em 10 de outubro de 1951, execut...

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A difusora A Voz de Pocinhos, idealizada por meu pai, Hermes de Oliveira, foi ao ar pela primeira vez em 10 de outubro de 1951, executando a música Moreninha, moreninha, de Luiz Gonzaga. Sua criação se deveu, principalmente, ao programa A Voz de Campina Grande, apresentado em uma rádio da vizinha cidade, à qual, inclusive, Pocinhos pertencia, política e administrativamente, nessa época.

Meu pai era, por assim dizer, um multimídia: músico, alfaiate, eletricista, ativista cultural, locutor, animador de festas, chamador de bingos e leiloeiro de galinhas nas festas da padroeira da cidade, entre outras coisas.

FLOR DO OLHAR Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lu...

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FLOR DO OLHAR
Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lugar, até que a primavera possa, de fato, em minha vida se espalhar.

      NOV(IDADE) A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...

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NOV(IDADE)
A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...

NOVO EXÍLIO terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar

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NOVO EXÍLIO
terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar

DE OUTRA SOLITUDE A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda. DE OUTRAS LIBERDADES Alguém abandonou um papagaio q...

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DE OUTRA SOLITUDE
A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda.
DE OUTRAS LIBERDADES
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho.

PONTEIO O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que dei...

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PONTEIO
O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que deixam em aberto mesquinhas suposições? Onde coloco os dois pontos cruciais, que me obrigam a dar inúteis explicações?

    POEMINHA AMOROSO Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.

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POEMINHA AMOROSO
Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.

A meu pai, que se foi cedo demais VIDA-RODA Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a ge...

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A meu pai, que se foi cedo demais

VIDA-RODA
Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a gente tem. Roda, roda, roda-vida, que se abre como ferida e rasga

DAS INÚTEIS REFLEXÕES O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz d...

DAS INÚTEIS REFLEXÕES
O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz de afeto e agrado, falo fininho, em falsete apaixonado? O que espera um gato, dia após dia, entre cochilos e sobressaltos? Sem respostas, prossigo e desisto de dar sentido ao que em mistérios já nasceu envolvido.
DE OUTRAS LIBERDADES
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho. De tanto estar preso, não sabe ser livre e quer voltar para quem o largou sozinho.

Uma homenagem a Anayde Beiriz, pelo que foi e pelo que ainda é       PELO SIM, PELO NÃO Não, não quero amargar sentimentos...

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Uma homenagem a Anayde Beiriz,
pelo que foi e pelo que ainda é

 
 
 
PELO SIM, PELO NÃO
Não, não quero amargar sentimentos de perdas por não ter feito o que quis. Prefiro correr o risco e encarar o perigo de ter minha vontade como força motriz.

      RETROSPECTIVA Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu ...

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RETROSPECTIVA
Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu errei? Em qual esquina me perdi? No que fui certeira e não me confundi? De tudo, carrego dúvidas e a sensação de que os erros não me resumem. De nada, entretanto, adianta eu me culpar, já que, se eu pudesse reviver, no presente, minhas lutas, tropeços, conquistas e breves alegrias, seria igual tudo o que eu faria.

    NAVALHA O fio da navalha corta o cio. Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água q...

 
 
NAVALHA
O fio da navalha corta o cio.
Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água que correm no rio. Fio da navalha que corta o cio. Fio de cabelo que delata o crime.

    LUGAR DE FALA Em qual lugar minha voz se instala, se é no silêncio que o que digo mais se declara? DO BEIJO a voz cala...

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LUGAR DE FALA
Em qual lugar minha voz se instala, se é no silêncio que o que digo mais se declara?
DO BEIJO
a voz calada em nós a vez agora a sós o desejo cálido e veloz

O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasil...

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O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasileira de Escritores da Paraíba - (UBE-PB), traz uma série de sessenta poemas escritos nos últimos dois anos, cujo eixo norteador é fazer uma conexão poética através de linguagens,
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como a música, dança, teatro e as artes visuais, numa costura feita pela literatura.

Para cada poema, na página esquerda ao lado, há um “ponteio”, que pode ser entendido como um mote, uma epígrafe, um refrão, um pensamento, uma filosofia. Os temas desenvolvidos nos textos são os mais diversos, porém sobressaem angústias e reflexões diante do tempo, do envelhecer, da finitude da vida e da morte iminente. Com projeto gráfico do poeta Juca Pontes, fotografia de Antônio David Diniz e capa e elementos ilustrativos da arquiteta e artista visual Valéria Antunes, o livro traz apresentação da professora Neide Medeiros, que é membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e da União Brasileira de Escritores da Paraíba (UBE-PB).

Alguns poemas do livro PONTEIO:
 
 
PONTILHÃO
Teço e demarco, em linhas e traços, as partes extremas de mim: a do começo, com minhas expectativas pontuadas; e a do fim, uma história

      DA ESPERA Vivemos um tempo de esperas. Esperamos, a cada dia, que o dia seguinte seja mais promissor. Esperamos ...

 
 
 
DA ESPERA
Vivemos um tempo de esperas. Esperamos, a cada dia, que o dia seguinte seja mais promissor. Esperamos que as horas maçantes, vazias, passem logo.

      DOR O espinho da incerteza encrava uma dor no meu peito. Sem cura para o mal, a sedação da esperança não faz mais efe...

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DOR
O espinho da incerteza encrava uma dor no meu peito. Sem cura para o mal, a sedação da esperança não faz mais efeito.

DOS GATOS Gosto de gatos porque eles se posicionam, têm opinião. São exigentes, verdadeiros e misteriosos, num mesmo dia...

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DOS GATOS
Gosto de gatos porque eles se posicionam, têm opinião. São exigentes, verdadeiros e misteriosos, num mesmo diapasão. Sua astúcia e independência contrastam com preguiça e doce carência. Como é que podem ser tão diversos, assim? Num dia, dormem ao pé de nossa cama. Em outro, somem do mapa, enfim. Querem carinho e atenção redobrada, mas só quando estão a fim. Não gostam de você incondicionalmente. É preciso que se sintam como presença desejada. Uma coisa é certa: quando você está triste, doente ou desanimada, são eles que lhe acolhem, em troca de nada.
OS OLHOS DO URSO
No zoológico, a prisão, animais confinados, cujo destino é entreter as pessoas que passam. Triste sina! Urubus, harpias, cobras e jacarés. E vamos passando, admirando, como se eles fossem - e são – peças de um museu. Os pelicanos alçam tímidos voos, de lá para cá, de cá para lá. Os macacos, esses sabem de nós, e se exibem como quem diz: “Querem espetáculo? Tomem espetáculo!” E correm, de um lado para outro. Hipopótamos, camelos, leões, tigres e um urso. O urso olha nos meus olhos, como se dissesse: “Tem nada não... No futuro, quando destruírem o que lhes mantém, serão vocês a estarem aqui, nestas gaiolas-vitrine, a serem admirados, com tédio ou desdém, por seres outros...
TURNOS
O canto dos pássaros desperta a manhã que, rendida pela noite, dormia profundo. E eu, cúmplice, insone, finjo não ver essa troca de turno que me nega o sono e me mantém acordada.
MEDO
A barata alça voo por sobre minha cabeça. Feito louca, grito e corro para me esconder. E ela nem sabe do poder que exerce sobre mim. E eu nem desconfio do porquê de ser assim.
OLHAR
Quando o gato me olha fixamente com seus grandes olhos azuis, sinto, da parte dele, afeto, estima e consideração.

NOTA
Poemas incluídos no capítulo ANIMAL, do livro "Entre Parênteses - Poemas" (Ed. Da Autora), de Marineuma de Oliveira, com participação, em áudio, do grupo Poética Evocare.
Clique na imagem ao lado para acessar episódios completos do podcast homônimo, já publicados em plataformas de streaming (Link)

MORMAÇO A tarde desfaz seus laços nos vãos dos últimos raios de sol. Já eu, noturna, vago, por esse espaço, de...

MORMAÇO
A tarde desfaz seus laços nos vãos dos últimos raios de sol. Já eu, noturna, vago, por esse espaço, de amarela cor e quente mormaço.