Não acredito em pessoas que não sonham, mesmo que sejam sonhos altos, fantasiosos, utópicos. É assim que damos asas à nossa imaginação, mot...


Não acredito em pessoas que não sonham, mesmo que sejam sonhos altos, fantasiosos, utópicos. É assim que damos asas à nossa imaginação, motivada por fortes esperanças, de que algo muito bom esteja para acontecer. Ainda que classifiquem de utopia alguns planos idealizados nunca devemos desistir deles. Até porque o que parece impossível hoje pode perfeitamente ser realizável no todo ou em parte no amanhã.

Beijo de metal Da faca que divide a tarde da noite que ilumina a lâmina e corta o Sol quero o toque da navalha na face em um beijo de ...

jornalista clovis roberto

Beijo de metal

Da faca que divide a tarde da noite
que ilumina a lâmina e corta o Sol
quero o toque da navalha na face
em um beijo de metal, com língua de sal

Gentil-homem de conhecimento admirável, catedrático brasileiro respeitado em terras germânicas e de personalidade rara em dias atuais: assi...


Gentil-homem de conhecimento admirável, catedrático brasileiro respeitado em terras germânicas e de personalidade rara em dias atuais: assim é o pianista Marco Antonio de Almeida, paranaense, nascido na cidade de Londrina.

Das lembranças que eu guardo da infância, a mais gostosa é o banho de rio. Do Piancó ao rio do Peixe, todos eram diversão gratuita e garant...

banho de rio rio do peixe pianco

Das lembranças que eu guardo da infância, a mais gostosa é o banho de rio. Do Piancó ao rio do Peixe, todos eram diversão gratuita e garantida.

A História registra que antes de Jesus ser morto por crucificação, ele foi submetido a uma sequência de julgamentos por parte das autoridad...


A História registra que antes de Jesus ser morto por crucificação, ele foi submetido a uma sequência de julgamentos por parte das autoridades religiosas (clero judaico e membros do Sinédrio), administrativas (Herodes e representantes) e políticas (romanos, representado pela figura Pilatos). Foi também alvo de traição por parte de um dos membros do colégio apostolar que não compreendeu a magnitude da mensagem do Evangelho. Contudo, O mestre Nazareno viera ao mundo como o Messias aguardado, a fim de nos ensinar a vivência da Lei de Amor.

Tinham chegado no dia anterior, um tanto tarde, com a tralha de filmagem. Um deles se adiantou e se anunciou ao serviço da União Europeia. ...


Tinham chegado no dia anterior, um tanto tarde, com a tralha de filmagem. Um deles se adiantou e se anunciou ao serviço da União Europeia. O funcionário ligou então para a Prefeitura do distrito de Tatrami. Depois de alguma demora, veio a recomendação para que não exigissem credencial deles e marcou-se o encontro para a manhã do dia seguinte. Mesmo local. De manhãzinha, lá estavam novamente os forasteiros (jornalistas?), para encontrarem a cena já montada.

A sessão em sala de aula irá encerrar-se com as seguintes imagens e palavras, trocadas entre a professora Natassa Kissova, branca, 47 anos, e uma turma de alunos da “Escola municipal de Kesmarok para crianças rumes”.

– Olhem aqui: os pais de vocês. Eles trabalham? - Ela joga a pergunta no ar, para os, cerca de quinze alunos, entre os sete e doze anos, aproximadamente, sentados em carteiras distribuídas do meio para o fundo da sala, de um modo aleatório que não disfarça o improviso, dando a qualquer um perceber que assim foram dispostas para que, na parte da frente, os técnicos pudessem mover-se livremente. Mas, como as crianças não respondem de pronto, um tanto tímidas e aparentemente surpresas com aquela novidade na escola, a professora refaz a pergunta:

– Respondam: o pai de algum de vocês aqui. Ele trabalha? - A professora parece bem animada naquela manhã de setembro.

Uma manhã de ar puro e claro, de sol esparso, mas que não exigira dela nenhum agasalho, de modo a poder exibir o colo alvíssimo, os também alvos e longos braços roliços nessa manhã programada desde o dia anterior para que os alunos fossem avisados a tempo de se apresentarem asseados, bem vestidos e juntos com seus familiares. Para que, dessa forma, pudessem ser vistos ainda na caminhada que leva à escola, apenas um pouco antes desta, quanto teriam então suas imagens gravadas pela câmera colocada de antemão no caminho previsível. E vindo através dele, pela aleia forrada de pedras e marginada por canteiros, nessa época sempre floridos e exuberantes, de mãos dadas com suas irmãs maiores, para que dessem uma razão de ser a bela e harmoniosa manhã cívica em que o marido de Natassa, o Sr. Diretor da Escola, um homem bom, humano e cristão como ele só, estivesse em meio a elas munido de seu violão, e com ele cantasse, desde a música eterna do folclore nacional ao último sucesso do rádio, por que não?

A frase vem a provocar risos e gargalhadas entre os alunos, e antes que cesse a descontração, outra voz se ouve dos fundos
Isto para que todos ali se sentissem felizes como eles dois, Natassa e o maridão, e demonstrassem, mais uma vez, à União Européia, ao mundo e a todos ali, que em Kesmarok os rumes estão sendo tratados como merecem seres humanos. E assim partilhassem todos da mesa farta com o excelente liptauer de sua receita particular, em fatias de pão e acompanhados de refrigerantes, do muffin de chocolate com geleia de morango que é sua especialidade. Mas isto fique bem claro, só depois da cerimônia no pátio da escola, com direito à formação da alunada, após os discursos, canções e hasteamento das bandeiras, e de tudo mais. Sem no entanto saber ela, pobre Natassa, que por um único descuido, uma infeliz falha técnica do câmera-man, as imagens ficassem perdidas, e apenas estas, as da sala de aula, fossem aproveitadas depois.

Mas antes que novo silêncio se estenda, ela aponta um aluno no meio da sala.

– Você. Seu pai trabalha?
– Trabalha - Diz ele, sorridente. Outros garotos sorriem também, outros se mostram mais cautelosos.
–  Onde, trabalha ele? – Emenda a professora.
–  Bratislava – Responde ele, baixando a cabeça ao encontro dos dois braços juntos e à frente, na carteira, como se esperando o pior.
– E o seu pai. O que faz ele lá?
–  Ele cava.
– Ele cava? Ele limpa – A professora acha por bem corrigir, afinal há uma câmara ligada.
– Ele limpa – Concorda o garoto, assentindo com a cabeça, e, ao que parece, mais satisfeito com o novo emprego do pai.
– Você quer trabalhar no quê, quando crescer? – É a nova pergunta, mas que o menino não responde de imediato.
– Vai querer cavar também? - Ela acrescenta esta nova pergunta, visivelmente contendo o riso. Os outros meninos riem-se soltos, agora.
– Não, vou limpar. – Ele diz, por fim, sorridente e submisso.

Natassa Kissova está realmente muito feliz com todos, e resolve dirigir-se mais uma vez à classe inteira:
– E vocês, o que querem ser quando crescer?

No meio dos alunos, uma menina diz que quer ser cantora.
– Excelente. Você quer cantar que tipo de música, modernas, teóricas, ou ciganas?

Mas não há tempo de responder, pois um dos meninos, bem à sua frente, ergue timidamente o braço e diz:
– Eu quero ser policial.

Natassa Kissova arregalha os olhos para este, impressionada. Aquilo parecia melhor do que ela podia esperar. Pergunta, então:

– Você sabe dizer aos seus colegas para que servem os policiais?
– Para que as pessoas não roubem. – O garoto responde, categórico.

Natassa kissova está surpresa com ele, mas não suficientemente convencida, daí a nova pergunta:

– A quem você prenderia: brancos ou rumes, ou os dois?
– Os dois. – Ele responde, depois de um pequeno suspense na sala. Havia compenetração no olhar, trazida talvez pelo inesperado peso da missão.
– Pode nos dizer o que os ciganos mais roubam?

Um novo silêncio quer agora se instalar, mas é logo quebrado por uma voz nos fundos da sala:
– Rabanetes!

A frase vem a provocar risos e gargalhadas entre os alunos, e antes que cesse a descontração, outra voz se ouve dos fundos:
– Couve-flor também!

Mais risos. À sua frente, é a vez do decidido garoto que se pretendera policial (e cuja afoiteza no expressar seu desejo, junto com a boa receptividade obtida, possivelmente o tenha deixado com a ligeira sensação de alguém já investido na farda) apontar algo mais grave:
– Madeira da floresta.

Natasa Kissova distende o corpo para trás numa gargalhada curta e inesperada, e depois para frente, e aí dá uma palmadinha nas costas da mão dele, francamente satisfeita com todos.


Alberto Lacet é artista plástico e escritor


Naquele distante janeiro de 1963 o sol impiedoso castigava a fazenda Malhada da Cruz, no agreste paraibano…

celio furtado pintiura

Naquele distante janeiro de 1963 o sol impiedoso castigava a fazenda Malhada da Cruz, no agreste paraibano…

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Sem dúvida ela era uma mãe. E, como todas, sempre preocupada com as crias, a absoluta prioridade de sua vida. Olhava ao redor e só via incertezas. Os biscoitos, bombons, pirulitos, todos próximos de perder a validade, acenavam como uma advertência para um dramático porvir, no fiteiro encostado junto à porta.

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Colaboradores e leitores do Ambiente de Leitura Carlos Romero sugeriram alguns títulos de filmes e séries que podem ser boas opções para este período de confinamento, quando a leitura, a arte, o cinema e a música se tornam boas companhias para aliviar tensões e apreensões desses tempos tão estranhos.

Mamãe pegou uma laranja. Acabamos de almoçar e ela pegou uma laranja.


Mamãe pegou uma laranja.
Acabamos de almoçar e ela pegou uma laranja.

Mainha Digo o que de Mari Estela Que ela é uma fortaleza? Que é uma batalhadora, um ser de rara grandeza? Que mais diria eu dela Que ...


Mainha

Digo o que de Mari Estela
Que ela é uma fortaleza?
Que é uma batalhadora, um ser de rara grandeza?
Que mais diria eu dela
Que pelo nome é estrela?
Que é alguém diferente
Que viveu pra educar gente
Que conduz com o coração
E criou um batalhão?
E me ensinou ser prudente?

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Logo após o desembarque, os dedos pequeninos encontram o carinho da mão maior, que estará por perto e a postos ao longo de sua existência. E aqueles dedinhos tornam-se um novo sentido para aquela vida que o esperava, mudam rota, reviram planos. Meses antes, planejado ou não, a mãozinha é realidade, fantasia, sonho, amor, espera, gestação.

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Em entrevista exclusiva para o Ambiente de Leitura Carlos Romero, o poeta paraibano Sérgio de Castro Pinto fala sobre a influência da tecnologia no hábito da leitura e revela algumas de suas memórias e preferências relacionadas à arte literária.

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Dizem que Ernest Hemingway gostava mais de sua máquina de escrever que das suas mulheres. Bom, é possível que sim, ele não tinha mesmo o juízo muito certo. É tanto que deu no que deu.

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Ele acordou com severas dores no maxilar. Apesar de tantos anos de tratamento, determinadas épocas do ano, as mais frias, faziam com que dores em forma de alfinetes na carne percorressem-lhe a face. Como raios em tempestade, as dores lhes rasgavam desde a articulação da mandíbula até as têmporas em espasmos ocasionais. A medicina havia suspeitado do território do nervo trigêmeo. Na verdade, estas dores eram físicas e muito mais emocionais. Preso durante a ditadura militar, ao se recusar a falar o que não sabia, foi espancado e, ao solo, levou um chute na boca por um coturno daqueles que faziam da força sua profissão de fé. Agora, assomada às dores físicas do trauma, havia o fantasmagórico passado batendo à sua porta, batendo até seus ossos.

Naquela manhã de sábado, ao entrar pelos fundos para guardar a bicicleta no quartinho, estaquei à porta da cozinha, alarmado e curioso com...



Naquela manhã de sábado, ao entrar pelos fundos para guardar a bicicleta no quartinho, estaquei à porta da cozinha, alarmado e curioso com a movimentação em casa. Tia Madrinha tentava consolar Mamãe de alguma aflição, e ela, entre um soluço e outro, murmurava, não, não pode ser possível, o Major Jacobina, não, e Dona Felícia martelava, que a notícia estava bem ali, estampada na primeira página do jornal, com fotografia e tudo mais, inclusive depoimentos de várias pessoas, que lesse, conferisse, e se acalmasse, afinal, não havia o que fazer, o ser humano era bicho de natureza escura e deslizante, pedra limosa em águas profundas, onde existia o sopro de uma alma, existiam dois ou três, quem sabe, mais. Em cada homem, minha querida, sentenciava Dona Felícia com voz consternada, há muitos homens.