Para George Harrison Minha amiga raspou a cabeça. Gosta e acha prático. Foi uma comoção: a mãe chorou, estranhos a olharam com muita c...

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Para George Harrison

Minha amiga raspou a cabeça. Gosta e acha prático. Foi uma comoção: a mãe chorou, estranhos a olharam com muita compaixão, supondo que enfrentava uma quimioterapia; e houve quem se afastasse dela no ônibus, temendo o contágio de alguma doença.

Bastou cortar os cabelos para acender a imaginação das pessoas. Um mundo de suposições, preconceitos e medos tomou conta de amigos e desconhecidos. Enquanto ela, aos risos, me contava a experiência, lembrei que homens optam pela máquina zero e não causam um terremoto. Questão de convenção mesmo. Acostumamo-nos a um padrão e ele passa a ser inquestionável. Pelo menos até que algo dentro de nós se insurja e faça a pergunta fatal: por que penso assim?

Ícaro Não contavas com o céu de fogo E vulcões invisíveis Querias inventar. Nem tinhas medo de tua força Minimizada pelo g...

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Ícaro
Não contavas com o céu de fogo E vulcões invisíveis Querias inventar. Nem tinhas medo de tua força Minimizada pelo grande deus O ar. Que te parecia na imensidão Colchão macio de nuvens Querias só voar. E foi tanto o querer que te lançaste Do alto dos teus sonos E te dilaceraste.

Existem vozes que são inconfundíveis quando cantam. Seus tons e timbres são exclusivos. Vozes que têm personalidade, encantamento, origin...

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Existem vozes que são inconfundíveis quando cantam. Seus tons e timbres são exclusivos. Vozes que têm personalidade, encantamento, originalidade e que ecoam no meu coração de forma arrebatadora. Essas vozes são as de Caetano Veloso e Chico Buarque. Maria Betânia e Gal Costa também conseguem essa façanha. No caso de Chico, o enigma ainda é maior, pois dizem que ele não tem uma voz assim poderosa, mas, quando uma canção dele é cantada por ele, há aquele tom intimista, meio tímido, meio malandro, meio tudo, que nós todas amamos,

'O mundo tem fome de amor'. Parece clichê, mas é realidade". A poetisa Milfa Valério define com maestria o que mais se preci...

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'O mundo tem fome de amor'. Parece clichê, mas é realidade". A poetisa Milfa Valério define com maestria o que mais se precisa. A necessidade de amor está a todo momento gritando nos ouvidos das pessoas, mesmo que elas não se dêem conta disso. E esse vazio que parte do coração, passa pelo estômago, atinge todas as células e a subjetividade de pensamentos humanos de todo o sempre. Sim, provavelmente, esfomeado de amor já era o Homem de Neandertal quando andava caçando com o seu estereotipado porrete aos ombros a esmagar animais/alimento e arrastá-los para sua caverna.

A verossimilhança é, na ficção, uma invenção de Hesíodo, na Teogonia. Aristóteles a sistematiza, como uma das essências da ação de criar f...

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A verossimilhança é, na ficção, uma invenção de Hesíodo, na Teogonia. Aristóteles a sistematiza, como uma das essências da ação de criar ficcionalmente, ao teorizar sobre a tragédia, na Arte poética, dizendo que o trabalho do criador (ποιητοῦ ἔργον) é dizer não o que ocorreu, mas o que é poderia ter ocorrido, segundo a verossimilhança (κατὰ τὸ εἰκὸς, 1451a). Neste mesmo trecho, o filósofo cria o conceito de “necessidade” (τὸ ἀναγκαῖον), que passaria a designar uma característica fundamental da obra ficcional: se algo não tem utilidade ou não vai ser usado funcionalmente no texto, não há necessidade de ser citado. Ou nas palavras de Aristóteles, “o que é acrescentado ou não acrescentado, e não resulta em clareza, não faz parte do todo” (1451a).

Já não disponho, na mente, do mapa em detalhe ou mesmo geral da nossa João Pessoa. Um avanço além da cidade de quando cheguei e me vejo per...

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Já não disponho, na mente, do mapa em detalhe ou mesmo geral da nossa João Pessoa. Um avanço além da cidade de quando cheguei e me vejo perdido.

Que diferença! Num sábado de véspera, esgotado o papo que nos caldeava a alma e o berço de origem na velha Casa do Estudante, Dorgival Terceiro Neto, ao nos recolhermos, veio com a ideia de, cedinho da manhã, sairmos num périplo pela cidade de então, que morria ao sul na Santos Stanislao de Oitizeiro, enviesava a sudeste pelo ABC da Joaquim Hardmann ou rua da Jaqueira, cortava o rio subindo o Varjão e torcia, escorregando pela beira da mata, deixando de lado o bairro de Jaguaribe.

José Américo ainda estava se preparando para calçar a Epitácio, contrariando o sonho do seu antigo presidente, João Pessoa, que, da sacada do Palácio, gizava na mente o que três prefeitos levaram uns cinco anos para fazer com a Beira-Rio.

No início dos anos 1950, uma jovem brasileira que morava na Bélgica, onde o seu pai trabalhava como diplomata, participou de um concurso ...

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No início dos anos 1950, uma jovem brasileira que morava na Bélgica, onde o seu pai trabalhava como diplomata, participou de um concurso de canto lírico que tinha como prêmio uma bolsa de estudo no renomado conservatório musical Accademia di Santa Cecilia, em Roma. A moça acabou conseguindo o prêmio e foi estudar no conservatório, onde ficava pela manhã e, no resto do dia, era interna em um colégio de freiras. Só saía para passear pela cidade nos finais de semana.

A singela exortação que agora farei será destinada a uma querida amiga. Uma amiga especial. Criar vínculos sinceros, ou melhor dizendo, ser...

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A singela exortação que agora farei será destinada a uma querida amiga. Uma amiga especial. Criar vínculos sinceros, ou melhor dizendo, ser presenteado de forma construtiva, com afetos, deve sempre ser dividido e divulgado. Existem gestos que não são inesquecíveis e essa história é uma delas. Estando acamada em virtude de um sarampo ainda mocinha, uma amiga ficou tomando conta de mim. Mamãe trabalhava nos dois expedientes e eu me encontrava sozinha. Aquele gesto espontâneo de boa vontade, gesto que veio do coração, guardo comigo até hoje. Nossa amizade permanece cultivada depois de décadas. Nossas vidas evoluíram, como é natural. Amadurecemos, mas nosso bem-querer continua genuíno, permanecendo incólume e sem mácula.

O chato é um sujeito intermediário, ele está entre o sim e o não, aquele que nem foi e nem ficou, quer, mas não quer, nem ata nem desata. ...

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O chato é um sujeito intermediário, ele está entre o sim e o não, aquele que nem foi e nem ficou, quer, mas não quer, nem ata nem desata. E, apesar de indeciso, se acha o sabichão, tem regras e palpites pra tudo.

Se fosse só isso a gente ignorava e tocava a vida, mas não é assim, o chato clássico faz questão de aparecer. É a autêntica mosca na sopa ou pedra no sapato, não tem jeito, acaba incomodando. É aquele cara que no final da palestra, às 13h, auditório lotado, todo mundo cansado, com fome, afim de sumir dali, e… adivinha quem levanta a mão pra falar? O chato, claro. Muito sem jeito o professor pede para as pessoas

Janelas… Quisera não ter que fechá-las e sempre mantê-las abertas. Abertas pra vida, com flores e céu. Embora comum, no ato de abri-las...

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Janelas… Quisera não ter que fechá-las e sempre mantê-las abertas. Abertas pra vida, com flores e céu.

Embora comum, no ato de abri-las, em cada manhã, há sempre uma surpresa. A rotina é bem-vinda e cria canais por onde o olhar se lança no mar, na relva e nas nuvens. Até o horizonte, que singra o limite em reta contínua, pincela os dois lados do mundo infinito com cores diversas.

Manhã ou crepúsculo, nas horas douradas, os tons se misturam em cada espetáculo. À chuva ou ao brilho do céu sem vapor,

Vivemos uma época assinalada por duas significativas realidades: o desenvolvimento científico e tecnológico e o vazio existencial. As conq...

Vivemos uma época assinalada por duas significativas realidades: o desenvolvimento científico e tecnológico e o vazio existencial. As conquistas científicas e tecnológicas propiciam melhor qualidade de vida com os avanços no campo da saúde, alimentação, energia, comunicação, acesso ao conhecimento, entre outros. Em contraposição, o vazio existencial aparece no cenário das relações interpessoais, expressando-se como uma sensação de perda do sentido existencial que, em maior grau conduz a crises depressivas e, não raro, ao suicídio. Tais constatações merecem do venerável Bezerra de Menezes as seguintes ponderações dirigidas aos espiritas:

Meu amigo João Paulo remeteu de Lisboa essa perola de comunicação de um acidente de trabalho feita por um pedreiro português ao Tribunal J...

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Meu amigo João Paulo remeteu de Lisboa essa perola de comunicação de um acidente de trabalho feita por um pedreiro português ao Tribunal Judicial da Comarca de Cascais. O conteúdo é o seguinte:

“Sou assentador de tijolos. Estava a trabalhar sozinho no telhado dum edifício de 6 andares e, ao terminar o serviço, verifiquei que tinham sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo, decidi colocá-los dentro dum barril e descê-los com ajuda de uma roldana fixada em um dos lados do edifício.

Desci ao térreo, atei o barril com uma corda, voltei ao telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro dele. Voltei para baixo,

Conta a lenda que Narciso viu seu rosto nas águas e ficou deslumbrado consigo mesmo. Desapareceram, pelo que eu saiba, os espelhinhos redo...

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Conta a lenda que Narciso viu seu rosto nas águas e ficou deslumbrado consigo mesmo. Desapareceram, pelo que eu saiba, os espelhinhos redondos, geralmente ilustrados com figuras de mulheres nuas. Conduzidos ao lado do pente, serviam para cuidar do alinho ou assanhamento de quem o levava no bolso.

No parque de diversões, havia o chamado “espelho mágico”, que retorcia, desfigurava, caricaturava no reflexo quem o olhasse. Era atração paga e bem consumida. O ser humano gosta de se olhar; espelhos e fotos,
dizia um de meus professores, é antessala do desejo de imortalizar-se. Tinha lá suas razões. E, sempre, a espelharia se espalha pelos recônditos diversos das habitações, ainda hoje.

Qual a mulher (salvo exceções) que não se mira na planície espelhada, antes de sair para uma festa ou, na menor das hipóteses, qualquer saída à rua para simples compra de um remédio? Homens, também, não os excluo.

Há uma música, sucesso regional nordestino, cujo enredo é um enamorado se enfeitando o dia inteiro para ver a querida e que ficou inteiramente frustrado pelo fato de ela não o haver notado, quando se encontraram: “Ela não olhou para mim/ passei horas no espelho/ me arrumando o dia inteiro/ ela nem olhou pra mim”.

Conheço um advogado que, antes de seguir à audiência, além de conferir o bom ajuste da roupa, verificava o nó da gravata. Era um nó; ajeita, desfaz, refaz, até que fique bem com o colarinho. O próprio Novo Testamento alude ao fato, numa das cartas do Apóstolo Paulo:

“Hoje vejo por um espelho embaçado” – alude à impossibilidade de conhecermos a totalidade real de Deus, aqui no tempo. Muitos literatos utilizam o espelho como metáfora. Pintores, também.

O espelho, depois a foto de álbuns dos desaparecidos fotógrafos dos antes, vieram as fotos virtualmente concebidas, as selfies são moda, enfim. Ambos, espelho e foto, são denunciadores do tempo: de verde a amarelecido. Demarcam e documentam a cara lisa ou apinhada de rugas. Natural.

Espelho meu/ espelho meu/ existe no mundo/ alguém mais bela (o) do que eu? Cada idade tem sua juventude (ou cada imagem refletida ou captada) – se não me engano foi Jorge Luis Borges, poeta argentino, cego e genial quem proferiu essa máxima. Não sendo ele, me desculpem, mas as fases da vida jamais serão vistas, porque se dissolvem na totalidade da alma.

E alma (pessoa) jamais será fotografada, nem refletida. Mesmo que Jesus assegure que o olho é o espelho da alma. Sem nenhuma intenção de heresia, há olhos que não traduzem a interioridade recatada em seu misterioso quarto. Existe quem se veja no espelho ou fotografia com estranheza.

Explico: acha que não é ele. Ou se vê vivo, jovem, ou morto, velho. Até como outra pessoa. Não se conforma com a naturalidade impressa na foto, nem espelhada. Enfim, faz sua própria imagem. Será que Narciso se viu assim nas águas paradas?

Essa garrafa enrugada e escura foi objeto do desejo da meninada, no transcurso das décadas de 1950 e 60. Não exatamente ela e, sim, o que ...

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Essa garrafa enrugada e escura foi objeto do desejo da meninada, no transcurso das décadas de 1950 e 60. Não exatamente ela e, sim, o que ela continha: a laranjada em sua plenitude, a explosão de sabor apenas percebida na fase em que a vida conduz às descobertas e ao encantamento.

Provei meu primeiro Crush aos 10 anos de idade, numa bodega de beira de estrada, no interior da Paraíba. O bodegueiro, que não tinha refrigerador, retirou da prateleira uma das 15 ou 20 garrafas ali enfileiradas, abriu-a e me deu sem copo, ali mesmo, no gogó. Meu pai, que então já se servia de uma dose do Conhaque de Alcatrão São João da Barra,

Quem mora por aqui já o viu. Uma figura envelhecida, alquebrada, maltrapilha, suja, caminhando a passos lentos levando invariavelmente um o...

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Quem mora por aqui já o viu. Uma figura envelhecida, alquebrada, maltrapilha, suja, caminhando a passos lentos levando invariavelmente um ou mais sacos repletos não sei do quê às costas. Não lhe importa ser dia de sol escaldante, nada parece impedir sua trajetória incerta, sempre vindo não se sabe de onde e indo, ao que parece, para lugar nenhum.

Quem é? Aqui referem-se a ele como “o velho do saco”, numa alusão à estranha bagagem que leva à “cacunda”. Dizem até que fora um homem de posses e aqui e acolá elencam uma série de motivos que teriam levado essa criatura aos abismos da dignidade humana. Hipóteses, é claro.

Vez outra desaparece por uns tempos e aí surgem boatos de que o “velho do saco” teria, como se diz, batido com as dez. Nada disso. Logo ele reaparece arrastando sua lentidão pelas ruas da cidade. Outro dia o vi pela Epitácio Pessoa, no sentido inverso àquele do bloco Muriçocas que desce a avenida na quarta-feira de fogo antecedendo ao carnaval. Subia aquela ladeira e parecia levar às costas todo o peso da humanidade. Pobre velho. Atravessou aquela linha tênue que limita a lucidez da insanidade. Seria isso? Ou seria essa figura exótica uma metáfora de nós, os supostamente equilibrados e lúcidos? Há sim meus amigos, minhas amigas, um pouco daquele velhote em cada um de nós. Ainda que metaforicamente, mas há.

Quem não carrega alguns desses pesos impensáveis às costas? Pode haver peso maior do que a perda de entes queridos? De um filho, por exemplo. Não estamos livres dessas tragédias, e como pesam.

O que não dizer daqueles amores mal sucedidos...as paixões que não se resolveram e ficaram pelas estradas da vida. Muitas vezes se perderam por uma palavra que deixou de ser dita, por um pedido de desculpas que nosso orgulho não permitiu.

Não podemos deixar de colocar nessa incômoda bagagem os sonhos que não se concretizaram. É uma estatística dolorosa contabilizar os projetos que as mais diversas circunstâncias da vida nos obrigam a ir adiando, adiando... até que essas quimeras fossem definitivamente sepultadas.

Quando os anos vão pesando em nosso calendário, descobrimos que devíamos, como diz a canção, ter trabalhado um pouco menos, ter visto o sol nascer. Podíamos ter ficado mais com nossos filhos quando pequenos e mais exigiam nossa presença. Quantos sorvetes ficamos devendo? Por que não lhes permitíamos repetir o algodão doce que lambuzava suas carinhas de açúcar colorido?

Não sabemos fazer o tempo voltar e então o que nos resta é suportar o peso dessas recordações, de alguns arrependimentos e de muitas saudades.

Assim, quando me deparei com o “velho do saco”, subindo pela Epitácio dias atrás, enxerguei aquela excêntrica figura de forma diversa das anteriores. Pude vê-lo com respeito e até com alguma ternura, quando pensei se o que levamos sobre os ombros não seria tão enfadonho e torturante quanto aquilo que ele leva sobre os dele. Talvez.

Soube que voltam a cogitar da mudança de nome do nosso aeroporto. Desta vez para, em lugar de Castro Pinto , o nome do meu biografado José...

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Soube que voltam a cogitar da mudança de nome do nosso aeroporto. Desta vez para, em lugar de Castro Pinto, o nome do meu biografado José Maranhão.

O exemplo de Castro Pinto, a razão de manter seu nome vivo, valia, avultava inquestionável nas três primeiras décadas do século passado. Ele foi do tempo em que o discurso era a arma superior e a razão maior do êxito político. Acrescentando-se a esse dom o exemplo moral e a lição de democracia.

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Dos nossos vultos maiores, os chamados pró-homens da veneração histórica, Castro Pinto situa-se entre Epitácio na política e Carlos Dias Fernandes na cultura. No belo ensaio que Celso Mariz lhe dedica, em Cidades e Homens, ele chega a ser acusado de dispersão dos seus dons e valores culturais por não deixar obra escrita. Toda a sua obra restou impressa, mais que na memória, na devoção virtuosa dos que faziam o seu público. Isso no Pará, na Câmara Federal, no Senado, tanto quanto na Paraíba. Assis Chateaubriand, mesmo devendo favor a Epitácio, que foi seu advogado pela posse de O Jornal, questionado por herdeiros do fundador, mesmo assim não negou ao contemporâneo de Epitácio o exemplo maior, para o Brasil, do democrata perfeito. Diz lá ele que a Paraíba, nas mãos de Castro Pinto, mostrou ao país de Ruy Barbosa o exemplo perfeito da prática democrática, caracterizada pelo respeito ao povo, aos seus direitos e aos opositores do seu governo.

Deixando de lado o testemunho conterrâneo dos Chateaubriand, Celso Mariz, Coriolano, Horácio, reafirmados pela geração de José Octávio e Humberto Melo, vejamos o registro insuspeito de Liberato Bittencourt em seu Brasileiros Ilustres:

“João Pereira de Castro Pinto - Político de grande influência e de extraordinário valimento. (...) Eleito deputado, brilhou na câmara baixa (a Federal), discutindo, superiormente (...) e entrou glorioso no Senado. Eleito governador no período 1912 a 1916, tomou posse do alto cargo onde, com unânimes aplausos do Brasil em peso, começou a praticar a verdadeira doutrina republicana, libertando a justiça das peias partidárias e respeitando escrupulosamente a soberania popular. Na ocasião em que se escrevem estas linhas, fins de 1913, é sem questão um dos mais nobres representantes do executivo estadual em terra brasileira”.

Setenta anos depois desse depoimento, é a Castro Pinto que Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, ex-governador do mesmo padrão moral e intelectual,
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dedica as melhores páginas de seu livro A Paraíba na primeira República:

“De Castro Pinto pode-se dizer, com segurança, que se elegeu – para a Assembleia, para a Câmara, para o Senado e para a Presidência do Estado – exclusivamente por seu prestígio intelectual e moral”. E conclui: “Não tinha ele temperamento político. Espírito delicado e sensível, muito sofreu com as dificuldades naturais de todo governo, agravadas, no caso do seu, pela qualidade de presidente de conciliação, obrigado a contentar gregos e troianos, coisa tão difícil quanto a quadratura do círculo. (...) Desde o início, falava em renunciar, o que acabou fazendo antes de completar o terceiro ano de mandato.”

Há muito mais a transcrever de Oswaldo, de Celso Mariz, de Coriolano, das revistas e almanaques do IHGP e do acervo dos que ocuparam a sua cadeira na Academia de Letras. Sem dúvida nenhuma José Maranhão está entre os brasileiros que honraram o cargo e o que mais demorou nele por confiança popular demonstrada em sua consagração para o Senado. Por isso mesmo, dificilmente consentiria em se usurpar a homenagem de todos os tempos a Castro Pinto.