Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam be...

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Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam bem.

O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, mas nunca simplório, que o tocava e promovia o bem ampliando e prometendo vida.

Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terr...

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Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terra do agreste, vem à lembrança mestre Horácio. Como Avôrai, Horácio era um velho de botas longas, barba longa e branca, e alforje de caçador. Morava numa casa simples de duas águas, num cabeço de serra cercado por mato denso, cortado por caminho de pedras, serpenteado, difícil de subir.

Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "...

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Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "personagens" para aumentar o índice de leitura de suas notícias. Uma dessas invenções foi a "Mulher de Branco da Lagoa", um fantasma do gênero feminino que aparecia, à noite, na Lagoa do Parque Solon de Lucena, assustando passantes, motoristas e outros incautos.

Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra...

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Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra no velho ditado: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Os apaixonados são movidos por razões que só Freud explica – e aqui não me limito a repetir um clichê. Para o criador da Psicanálise nossa atração pelo objeto amoroso decorre de nebulosas determinações inconscientes, que remontam às vivências infantis.

É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também...

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É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também dos oceanos, onde os peixes maiores comem os menores e estes, por sua vez, se impõem aos seres que lhes são subalternos. Por ser natural, essa lei é isenta de considerações morais e religiosas, ou seja, antecede e ultrapassa o mundo da cultura, existindo simplesmente como algo que “é”, o que significa, filosoficamente falando, que pertence à esfera do “ser” e não à do “dever-ser”.

Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo pa...

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Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo para tentar dar algum colorido à palavra velhice. Não conseguiu.

Como pode alguém em sã consciência apelidar o outono de nossas vidas de “melhor idade”? Ao que me consta, melhor idade é a da adolescência quando nossa saúde está em sua plenitude e nossos sonhos só aguardando a vez de serem realizados. Estou dizendo dos possíveis e dos que não são. Mas nessa fase da vida, tudo para nós é factível: para a rapaziada,

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspecti...

A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspectiva da fatalidade leva ao teatro do disfarce, da ilusão e da fuga.

“A angústia nos suspende porque ela põe fuga o ente em sua totalidade” (Heidegger)

Para atingir a sabedoria de mesclar a dor existencial com um pouco de alegria, surge a pressa de viver intensamente cada segundo, de nada perder, de consumir emoções como se não houvesse um só amanhã. As viagens são as opções comuns, pois transportam o indivíduo para “outro” lugar diferente do lugar da questão, e fora do seu mísero controle. Nas malas maiores seguem os sonhos de idealização e nas menores, as fantasias do que será minimamente necessário para esquecer.

Vi, tempo atrás, num canal da tevê a cabo, um desses filmes em que a personagem central ganha vida quase eterna. A história tem seu começo...

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Vi, tempo atrás, num canal da tevê a cabo, um desses filmes em que a personagem central ganha vida quase eterna. A história tem seu começo ambientado nos anos de 1930. Filme americano, é claro.

Conta a saga de uma moça envolvida num acidente de carro, em noite de tempestade. Caíra, ao volante, num lago extremamente frio e, como se isso já não bastasse, veio-lhe um raio na cabeça. Alguém que passava por perto acionou o socorro médico.

A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo ...

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A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo de José Maranhão, que sobrou no livro que assinei com Ângela Bezerra de Castro, a ele dedicado, e veio se consolidar por aceitação real da cidadania. Arrisco uma olhadela para a clientela da praça da alimentação até deter-me no café, a um canto, onde uma moça

O movimento romântico nas artes com frequência nos inclina a apuradas reflexões, principalmente no mundo da Música. Não que a delicadeza b...

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O movimento romântico nas artes com frequência nos inclina a apuradas reflexões, principalmente no mundo da Música. Não que a delicadeza bem comportada das obras barrocas, ou ainda mais antigas, não sugira devaneios à emoção, mas os românticos como Scriabin, Mahler, Bruckner, Sibelius, Strauss, Wagner, Saint-Saëns, Shostakovich, extrapolaram os limites da imaginação ao quebrar as barreiras da estética clássica de maneira arrebatadora.

Tal ruptura de formas e padrões da estrutura harmônica dominante nos períodos anteriores também ocorreu na literatura, poesia e artes plásticas, quase concomitantemente. A efervescência dos sentidos exacerbou-se rumo à liberdade de expressão, a desatar tudo o que havia preso nos recônditos do consciente e do inconsciente emocional. O sensitivo irmanava-se
Jean Delville
à intuição artística moldando o grito entusiasmado das ideias em linguagem livre e cristalina.

Os dramas épicos e nacionalistas aliavam-se à impetuosidade da paixão, trágica ou lírica. Uma tendência de total flexibilidade das formas pré-estabelecidas potencializava arroubos poéticos comuns a afeições inerentes à saudade, à alegria, ao amor, à angústia, à tristeza e à desilusão. A protagonização romanesca traduzia e relatava, enfim, tudo o que ocorria no âmago do ser.

A revolução francesa contribuiu para que a reconfiguração da arte eclodisse contagiada com o espírito de independência transformadora de tudo convencionado até então. Embora outras rebeldias, íntimas ou não, próprias da evolução e da história da humanidade tenham contribuído para a epopeia da fantasia. E tal influência foi assim estendida às demais manifestações artístico-culturais.

Altas doses de egocentrismo temperaram textos, poemas, sinfonias, pinturas e até mesmo a filosofia, destacando impulsos individuais acima de tudo, por vezes sob exagerado subjetivismo. E o esplendor da estrondosa e instigante beleza da Natureza e seus fenômenos atemorizantes fez o homem interagir com o eu lírico, exprimindo com toda força o que vivenciava no momento narrado. A criação divina influenciava e se retratava no estado de espírito do artista, do qual emergiam inspirações que advinham do grotesco ao medievalismo, do bélico ao pacífico, do trágico ao suavemente poético.

Jean Delville ▪ 1885
Houve, no entanto, românticos autênticos ou tardios que captaram intuitiva e espiritualmente a quintessência mística, transcrevendo para as suas composições a ousada e grandiosa imagem da Divindade.

O compositor russo Alexander Scriabin (1872-1915) é autor de uma obra profundamente romântica, na qual a dramaticidade não se restringe aos aspectos voluptuosos da paixão ou da tragédia. Há nos seus poemas sinfônicos e sinfonias um contexto de densidade transcendental arrebatador. Pois ele próprio dizia ser o artista “fruto de uma designação divina”.

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Alexander Scriabin

Um exemplo “clássico não clássico” dos rompantes modernistas é o seu “Poema do Êxtase” (opus 64), original e intencionalmente literário para se transformar posteriormente em música sinfônica. Sua mensagem em busca do nirvana já se revela em um dos 369 versos, do próprio Scriabin, também poeta, que serviria de base para a obra:

Chamo-vos à vida, forças misteriosas, Afogadas nas profundezas obscuras do espírito criador, Tímidos esboços da vida. A vós trago a audácia.

Tão entusiasmado estava com o novo trabalho que disse, em carta, à sua (segunda) esposa, Tatiana de Schlözer:

“Acabo de escrever um monólogo com as cores mais divinas. Novamente sou arrastado por uma enorme onda de criatividade. Mal consigo respirar. Oh!, que benção! Estou a criar divinamente em um novo estilo, e que alegria é vê-lo tomar forma tão bem! (...) Por vezes, o efeito do poema é tão potente que não é necessário conteúdo algum. Estou a exprimir – neste poema – o que virá a ser o mesmo como música.”

Passaram-se 3 anos, de 1904 a 1907, para que o Poema do Êxtase fosse concluído, após várias transformações, todas livres de quaisquer limites formais, estreando em dezembro de 1908, em Nova York. O desejo do autor era realmente esse, transcender, extrapolar, descrever a jornada da alma às esferas superiores, no ondulado ritmo da evolução humana. A música assim cresce, indo e vindo se robustece, para atingir um auge de sonoridade de extasiante luminescência.

Jean Delville ▪ 1932
Logo após a estreia em seu país, na capital São Petersburgo, a crítica convergiu quase unânime ao classificar o Poema do Êxtase como “a obra mais ousada em toda a música contemporânea”. Enfim, a liberdade musical fora alcançada com excelsa sublimação das reações íntimas diante da arte, em busca da iluminação, confessada pelo próprio autor:

“Ama a vida com todo o teu ser e serás feliz como nunca. Não temas ser o que queres ser. Não tenhas medo de teus desejos. Não temas nem a vida nem o sofrimento. Não há nada maior do que a vitória sobre o desespero. Não tenhas medo, jamais, de desejar e de fazer o que tu bem quiseres”.

Imbuído de total desprendimento, sempre associado à plenitude, Scriabin consegue, em pouco mais de vinte minutos, condensar a nítida imagem da ascensão à espiritualidade. No início a música sugere o tatear da pureza, da ignorância, da simplicidade, e, aos poucos, ao longo do poema, faz a alma expandir a consciência, iluminar-se.

O início é suave como um despertar e se consolida aos poucos à vigília. O tema composto por três intervalos ascendentes e consecutivos de duas notas, inúmeras vezes tocados pelos trompetes, estão presentes em toda a partitura. Os metais têm uma participação enfática ao executá-lo conferindo o caráter solene de anunciação de uma meta, de um objetivo: o êxtase místico, a grandiosa ponte que Scriabin edificou entre o humano e o divino.

Jean Delville
O adensamento sinfônico enriquece-se passo a passo com a diversidade de timbres e espectros melódicos que se contrapõem em complexidade perfeitamente unificada na harmonia de conjunto. Na incisiva jornada ao auge epifânico, a música oscila entre forte e piano, entusiasmo e suavidade, e assim evolui para o glorioso clímax . Toda orquestra ruge, com tímpanos, gongo, sinos e colaneri a explodir no portentoso frenesi que tão bem singulariza o universo sonoro de Scriabin.

Ao final, descortina-se então a visão panorâmica contagiante capaz de nos conduzir às cintilantes órbitas celestiais. É quando os ouvidos transmitem intensa comoção aos olhos que, mesmo cerrados, lançam-se na exuberância do cosmo irradiando-se em direções antagônicas, do infinito imaginário à realização do ser interior.

Jean Delville
Logo após a explosão sinfônica que finaliza o poema, o espírito agora reconfortado respira pela última vez, e consagra seu renascimento no glorioso clímax do pungente epílogo , tal como Richard Strauss magistralmente alcançou na conclusão de seu célebre trabalho “Morte e Transfiguração" (Tod und Verklärung, 1891 - Eisenach).

Ao ouvir o Poema do Êxtase, conclui-se que os efeitos da arte que extrapola, que ousa, que se desgarra do que é óbvio, das convenções contextuais, invariavelmente fortalece a convicção de que a liberdade é extasiante. Aprendamos então com os românticos. Vivamos nossos sonhos. Inovemos, criemos o incomum, abracemos aquilo que nos compraz, deixando explodir aos céus tudo o que é intimamente belo, sem medo de ser livres. Completamente livres.

Se tu te dispões a fazer alguma coisa que faças de bom grado. De nada adianta fazer algo, que deveria ser voluntário, contra a própria ...

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Se tu te dispões a fazer alguma coisa que faças de bom grado.

De nada adianta fazer algo, que deveria ser voluntário, contra a própria vontade. Se estás chateado, não precisas transformar a chateação em mau humor.

É lícito chatear-se, pois a vida não é um caminho suave e indolor, mas a transformação da chateação em mau humor imputa a ti mesmo e ao outro um peso extra à vida e àquilo que temos de fazer.

      Decifração de gotas A nuvem escreveu com água e "enchuvou" a janela frases aleatórias pingadas nas telhas ao longe,...

flor ceu poesia mar rio clovis roberto
 
 
 
Decifração de gotas
A nuvem escreveu com água e "enchuvou" a janela frases aleatórias pingadas nas telhas ao longe, embaços desuniformam pessoas e o mundo antecipa a noite em pleno dia avante decifrações ditas pelas meras gotículas que em código relata: não é tempo ainda de invernada mas é bem-vinda a quase chuva inesperada dota clima diferente por estas temporadas

Às vezes sou toda ouvidos... falo isso literalmente, às vezes, gosto de esquecer os outros sentidos para ouvir os sons da vida que passa...

silencio sons vento eco interior poesia
Às vezes sou toda ouvidos... falo isso literalmente, às vezes, gosto de esquecer os outros sentidos para ouvir os sons da vida que passam desapercebidos num falso silêncio.

Gosto de fechar os olhos e escutar, o som do vento que uiva passando pelas frestas das janelas, ao longe o barulho do motor de um carro que arranca, apurando mais o ouvido , ouço uma serenata de gatos que se acasalam. Aprofundando mais ainda o sentido, dá para ouvir o som de grilos que cricrilam, saudando a Lua no céu.

      I Mais poeta de hábitos que de versos, busco levar minha vida ordinária, construindo poemas submersos, esperando que um dia c...

 
 
 
I
Mais poeta de hábitos que de versos, busco levar minha vida ordinária, construindo poemas submersos, esperando que um dia cheguem à praia...
II
Só me apego a lembranças, às minhas velhas histórias... Sendo um ser sem semelhanças, existo em minhas memórias.

... até que um ator "chegue" ao personagem Há exatos vinte anos, eu, com 60, ao me ver prestes a participar — sob o sol do s...

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... até que um ator "chegue" ao personagem

Há exatos vinte anos, eu, com 60, ao me ver prestes a participar — sob o sol do sertão ao redor de Monteiro, a 300 km de João Pessoa — das filmagens do curta A Canga, de Marcus Vilar, baseado em trecho de meu livro com o mesmo nome, senti que o velho e sedentário escritor burguês tinha que se preparar... fisicamente... para ser o ancião camponês acostumado ao trabalho duro do arado e enxada.

Tive a oportunidade de trabalhar e viver cinco anos na Colômbia, quase dois no México e aproximadamente quatro anos no Peru. Isso aumento...

literatura latinoamericana mario vargas llosa alberto manguel biblioteca
Tive a oportunidade de trabalhar e viver cinco anos na Colômbia, quase dois no México e aproximadamente quatro anos no Peru. Isso aumentou a chance que tive de poder ler no original muitas obras de famosos escritores, a exemplo de vários livros do Gabriel García Márquez (Gabo), o excelente “El labirinto de la soledad”, de Octavio Paz, mostrando as idiossincrasias do povo mexicano, e muito mais livros do laureado Mario Vargas Llosa, de quem sou fã incondicional.