A angústia da folha em branco atinge até os mais experientes escritores. Quem está de fora do processo acredita que escrever é muito fácil para quem está em constante exercício. No entanto, mesmo nesse espaço que ora escrevo, por vezes fico tateando as palavras, às cegas, como se desejasse senti-las em suas diversas possibilidades do dizer. Há anos lecionando Língua Portuguesa, nas aulas de produção textual vejo com frequência o sofrimento daqueles que demoram a colocar a primeira
O poeta é como o navegador que, no mar, observa as estrelas e as nuvens sem desprezar as ondas. Pelas estrelas se guia para avançar pelas águas mais profundas e realizar sua pescaria e, nas ondas do mar, observar a poesia que exala, carregada pelo vento. Através das nuvens e das estrelas, descobre as tempestades, e as ondas e o vento formam um consórcio que o conduz à terra firme.
É um engano confundir a felicidade com a mera obtenção de resultados. A felicidade não está numa meta, mas no estado em que nos sentimos quando a alcançamos. Tem mais a ver com o sentir do que com o obter. A ansiedade pela conquista de um resultado pode ser tão perturbadora quanto o tédio
No meio do cotidiano apressado, onde celulares pipocam notificações e a correria se torna um segundo idioma, surge a eterna pergunta: o que é de fato, o bem viver? A canção que toca ao fundo, quase inaudível, parece sussurrar que a resposta está nas pequenas coisas, mas como as palavras antigas dos filósofos poderiam iluminar essa busca?
A tragédia — enquanto forma estética e expressão filosófica da condição humana — é o resultado da tensão entre os impulsos vitais e os sistemas morais que buscam dar sentido e ordem à existência. Quando uma moral absolutista se impõe como estrutura fixa de valores, desconsiderando a diversidade e complexidade da experiência humana, inaugura-se o terreno do trágico. A infelicidade, nesse contexto, não se reduz a um evento catastrófico, mas revela um conflito insolúvel entre princípios éticos, pulsões humanas e as limitações da razão normativa.
Fosse na Inglaterra ou na França, por exemplo, um jornal completar cem anos de existência até que seria normal. Na civilização, sabemos, as coisas costumam durar e as tradições são cultuadas com orgulho nacionalista, no bom sentido da palavra. Lá ninguém pensaria em derrubar o prédio do Parlamento inglês ou o Palácio de Versalhes para colocar no lugar um empreendimento imobiliário qualquer. Mas aqui, nestes trópicos ainda bárbaros, talvez eternamente bárbaros, é diferente. A impermanência é a lei da tribo e a precariedade de tudo, uma fatalidade que se aceita naturalmente, como se fosse coisa de Deus (ou do diabo). De modo que um jornal
Largo da Carioca (RJ) Biblioteca Nacional
brasileiro completar um século de vida, estando ainda em pleno vigor e prometendo mais cem anos pela frente, é de fato um acontecimento. Um grande acontecimento, para dizer melhor.
Um amigo me indaga sobre a crônica publicada há três semanas em que trato do meu apego a João Pessoa, em detrimento de outras cidades, a exemplo de São Paulo.
O problema não é das metrópoles, é meu, inteiramente meu. Em verdade não andei muito, mas das poucas vezes em que me achei fora de casa, achei-me, também, fora de mim. Não me encontro em qualquer das situações, mais cômoda e animada que pareça. A vontade é voltar, entrar na ruazinha estreita e sinuosa de Cruz das Armas, medir-me com o muro baixo, a casinha em que, andando a pé, avista-se o telhado de lodo e heras.
Vivi um momento extraordinário, na manhã desta quinta-feira (24jul2025). Em tamanha conexão, no cenário visível, eu e o cronista-jornalista Gonzaga Rodrigues; no invisível, as memórias do nosso ilustre escritor e político paraibano José Américo de Almeida. Memórias perpetuadas no seu coração e expressadas nas suas emoções. O local: óbvio, o Museu Casa de José Américo, situado na hoje Fundação que leva o nome de seu patrono e sua residência, onde morou por cerca dos seus últimos trinta anos finais. Precisamente situada "entre o mar e a colina" (JAA), na orla do paradisíaco Cabo Branco.
Ontem, ela resolveu arrumar um dos seus armários. Bem aquele que fica no outro quarto, o da procrastinação, o que ela olhava e falava: depois arrumo.
Mas dessa vez foi diferente. Pegou firme e mergulhou nas pilhas de lençóis, fronhas, toalhas. Mesmo sendo prática, reconheceu que ali havia excesso e que, por mais afeto cada uma das peças trouxesse, não havia necessidade daquilo tudo.
No último dia 27 de julho, foi celebrada a memória litúrgica de São Tito Brandsma (1881-1942), um frade camelita holandês, que enfrentou o regime nazista e morreu no campo de concentração de Dachau. Canonizado pelo papa Francisco em 2022, ele é o primeiro jornalista profissional elevado à honra dos altares pela Igreja Católica.
Li Mensagem de Fernando Pessoa. Senti falta de uma personagem histórica: Dom Egas Moniz IV, o Aio. Sem ele não teríamos a Dinastia de Borgonha, quiçá Portugal. Mas o certo também é que todos que descendem dos primeiros colonizadores portugueses descendem de Dom Egas Moniz, o Aio. Inclusive eu, por diversas vezes, por suas duas esposas.
Escrito em 1914, é um dos mais destacados sonetos de Augusto dos Anjos. Pela temática atemporal, pelo enfoque único, pela estrutura perfeita, é um poema eterno que os séculos hão de repetir, como repetem os sempre atuais camonianos sobre as mudanças da Fortuna e os enganos do Amor.
A etimologia tem sido má conselheira dos que pretendem explicar fatos atuais da língua. O uso leva com frequência ao esquecimento de como determinada palavra ou expressão se formou. E pode ocorrer o que em linguística se chama hipercaracterização, que é uma redundância incorporada
“Aquilo que é acrescentado ou suprimido sem que se produza qualquer consequência apreensível não é parte do todo”.
É o que afirma Aristóteles, na Poética (1451a), quando propõe uma definição mais completa da mímesis, como uma ação singular que forma um todo. A partir daí, compreende-se que o criador – poeta ou prosador –, não tem qualquer compromisso com o fato ocorrido, mas com o que poderia ter ocorrido, de acordo com a verossimilhança e a necessidade (1451a).
A prática do nadismo me leva constantemente a pensar. Sim, porque pensar é coerente com o nadismo. Fazer é que são outros quinhentos. Uma boa definição do nadismo é não fazer absolutamente nada, porém pode-se pensar desde que não seja pensar em algo sério.