Foi lendo a crônica do amigo Tarcísio Pereira que revi alguns costumes de um tempo remoto, quando se fantasiavam os modismos efêmeros e suas elucubrações com ídolos de todos os segmentos artísticos, principalmente os do cinema.
Viajei nela quando me lembrei da veneração que se tinha por artistas e celebridades durante a nossa adolescência. Naquele tempo, foi a Bruna Lombardi a minha primeira predileção, logo após a sua estreia na literatura com o livro de poesia “No ritmo dessa festa”.
Eram fortes esses focos refletivos, (lembrava atos de entorpecimentos), porém, limítrofes. Comparo-os hoje com as antigas iluminações públicas a gás. Luzes eram acesas ao cair da tardinha, mas logo quando amanhecia o dia, eram apagadas manualmente, uma por uma.
E assim me liguei aos fatos. A história que o amigo Tarcísio contou no decorrer de sua crônica, aludindo aos astros do cinema, estampas colados nas paredes do quarto de sua casa, tem o mesmo gênero dessas afeições de festim, ávidas e tomadas de evaporantes admirações pelos artistas famosos da fase memorável da euforia.
O seu texto resgata tudo isso! É memória viva das coisas de antanho. Apesar de hoje não existir mais, pelo menos, ainda se repete na configuração das cenas inolvidáveis. É ato puro, cristalino, sentimento diáfano de adolescente à moda antiga. Enfim, era um tipo assim de exaltação que se desprendia casta, juvenil, crescia e ia passando para os outros, a exemplo de suas duas irmãs, refletindo-se – de certa forma - nas fotos de revistas dos heróis artistas, com as quais ficavam fazendo fita na parede cinematográfica do cenário de seu quarto.
Esta é a razão sensível do Trem Bala nos trazer emoções diminuindo as suas distâncias. É que nos lembramos dela, da Maria Fumaça, de sua velocidade sonolenta, esse trem que estacionou nas nossas incríveis épocas e que ainda anda rangendo nos nossos trilhos. Ela ainda apita e tem a sua preponderância vivaz, um tipo assim de força gigante, imponente, misturada com submissa ternura e o cheiro ativo de óleo que exalava de suas ferragens pretas, tudo dentro do nosso pleno estado de consciência, do nosso memorável coração viajante.
Certa vez, João de Barros – o Braguinha – numa entrevista, recordando o Carnaval (que hoje já sofreu significativas mutações), resumiu todo o seu mundo: “O meu Carnaval sou eu”. Parodiando-o, eu diria: nossas vidas somos nós mesmos e os nossos sonhos estampados na lembrança; são as nossas poucas ou muitas ilusões que já se passaram, mas estão coladas no interior dessa locomotiva, essa que nos conduz levemente pelas nossas estações.