A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças ...

Eterno e deslumbrante

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A noite caiu há pouco, e o mar ali sussurra seus milenares mistérios... Já começam as saudades do inverno, enriquecidas com as lembranças da performance da orquestra de sapos, no brejo atrás da rua. Mas, contento-me com os exaltados marulhos desta preamar de lua nova. Tudo quieto, menos o vento que jorra em brisa impetuosa, com leve aroma de um verão já instalado. A paz faz eco na memória, acaricia as mais doces lembranças do existir. Ao fundo, somente os grilinhos do sereno mordiscam a penumbra deste saboroso silêncio.
Ó, cara quietude como estás rara neste mundo de hoje… A que ponto vilipendiaram tua mais valiosa essência – a paz!

Daqui observo que, apesar de recorrente, o som das ondas nunca é o mesmo. São como as variações sobre um mesmo tema musicadas por Haydn, Mozart, Häendel, Paganini. De vez em quando uma onda se sobressai em tom mais grave. Outra se contrapõe com sonoridade leve e miúda, e, de repente, uma pesada pancada d'água lembra um tímpano.

Toda essa sinfonia me transporta àquela baía tão formosa onde a intimidade com as ondas nos enriquecia o espírito. Brancas de espuma, atiram-se furiosas, mas é com muito amor que se enroscam em rochas negras. Um espetacular confronto pleno de harmonia e beleza. À noite, quando os sonhos se calam, elas soam tão alto dentro de casa que, se nos déssemos a escutá-las, levariam-nos até o sono. Só por pouco tempo, pois enlevo maior não há do que um mar a cantar… Baía Formosa, outrora mística, rude, delicada, um encanto à parte. Depois roubaram-te a cena, a calma, riscaram de pneus tuas areias, violaram com barulho preciosos marulhos. Ô gente!…

Penso que com o tempo fiquei bobo, ou mesmo velho. Ora, ora, que felicidade poderia eu imaginar que encontraria ao escutar somente o mar? Que tanta graça houve-se escondida por esse tempo no silêncio, hoje apreciado e tão caro a reflexões de bem estar?... E fui ali ouvi-lo mais de perto. O manto negro da noite, já sem lua à vista, descia por trás de tudo. E no céu bem à frente Júpiter destacava-se numa intensa e brilhante solidão.

Olhando a praia imaginei quantas vezes a história do mundo se liga ao mar. Esse elo gigante de beleza e majestade que, não obstante ter muitos nomes, em verdade é um só, une e banha infinitamente os quatro cantos do planeta. Fruto de inspiração e poesia, lastro de descobertas e viagens, origem de tudo o que é vivo, o mar é realmente um tesouro eterno e deslumbrante.


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