Muitos textos possuem esse título. Mas a violência patrimonial contra mulheres e pessoas idosas nunca deixou de acontecer e, atualmente, ocorre com muitas famosas e ricas, que vêm a público denunciar esse tipo de agressão.
O assunto está em alta. Até pouco tempo atrás, as mulheres tinham vergonha de expor violência patrimonial e o próprio Judiciário dava à questão um tratamento irrelevante. Por que muitos homens nas suas relações se apropriam e gerenciam o dinheiro de suas mulheres e filhas?
Teseu e AriadneA. Kauffmann, S.XVIII
A história de Ariadne apresenta um significado espiritual e iniciático. Façamos uma análise a partir dos dados exotéricos (com x mesmo), lembrando como muitas de nós, por amor, damos mais do que recebemos.
A bela Ariadne, para conseguir o amor de Teseu, passou por cima dela mesma. Teseu deveria enfrentar o Minotauro, monstro que habitava o labirinto, na ilha de Creta. Buscava a vitória, a glória. Por essa razão, mesmo sem corresponder da mesma forma ao amor de Ariadne, casou-se com ela. Sabia que ela o levaria à glória.
Ariadne, na esperança de ter seu amor correspondido, deu a Teseu um fio para que ele pudesse encontrar o caminho de volta em seu percurso no labirinto. E, assim, ele venceu a luta contra o Minotauro.
Porém, na história, só Teseu levou os louros. Logo após a vitória, ele parte com sua esposa e a abandona numa ilha, retornando para sua pátria.
Ariadne abandonada por Teseu na ilha de NaxosAngelica Kauffmann, S.XVIII
Na verdade, Dionísio rege os mistérios da iniciação, da espiritualidade e, talvez por isso, também simbolize a embriaguez dos sentidos. Talvez qualquer ser humano sugado em um relacionamento amoroso necessite se conectar com sua espiritualidade para, então, poder se redescobrir.
Ariadne e DionísioTiciano, 1523
Na condição de coisa, o outro pode se apropriar de seus frutos, sejam eles quais forem. No direito civil, vemos que um dos efeitos da posse é justamente a percepção dos frutos. Quando o possuidor está de boa-fé, os frutos já percebidos continuam consigo.
AriadneAngelica Kauffmann, 1774
Mas, na vida real é assim? Seria se, em nossa sociedade, não vivêssemos tantas incertezas nos relacionamentos descartáveis, nos quais as ameaças e medos de um fim não fossem o impulso das vontades. Seria se o parceiro não se desfizesse do sentimento e ameaçasse o outro com finais e abandonos.
São formas de apropriação inevitáveis. É comum, nas classes média e baixa, vermos bares e restaurantes em que todas as pessoas da família trabalham. Porém, quando nessa família existe um pai ou um marido, o nome do empreendimento tem o nome dele. Mulheres só dão nomes a bares e restaurantes quando trabalham sem auxílio de marido ou companheiro. Em regra, o nome de fantasia é sempre o do homem.
Essas mulheres encontram-se na cozinha ou nos serviços gerais, trabalhando até mais do que seus parceiros, do que seus pais. Elas são pessoas invisíveis. Mulheres cuja mão de obra é associada ao nome do homem e não aos delas.
AriadneE. Burne Jones, 1862
Também constatamos esse tipo de comportamento quando observamos casais jovens e pobres. O homem pobre decide se casar com uma mulher pobre, mas que tenha força de trabalho para construir, com ele, um patrimônio considerável, que, mais tarde, dará a ele status e poder econômico. É igualmente comum que esse mesmo homem troque sua companheira por outra que possa dar visibilidade ao poder.
São muitas as Ariadnes. E os homens também podem ser Ariadnes. Ariadne é uma condição do ser humano carente, que entrega tudo o que tem, inclusive seu poder de barganha, sua força, sua mão de obra, em troca de um amor que possa ser correspondido. São pessoas que temem dizer “não” e receiam perder aquilo que talvez nunca tenham tido. São pessoas que dão presentes e tudo que possuem para conquistar um amor interesseiro. Talvez, qualquer dia, essas pessoas sejam abandonadas em alguma ilha.