Estamos alojados no Alto do São José, em Coimbra. Lugar estratégico, perto da Universidade, tendo a excelente vizinhança do Seminário M...

Coimbra à vol d'oiseau

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Estamos alojados no Alto do São José, em Coimbra. Lugar estratégico, perto da Universidade, tendo a excelente vizinhança do Seminário Maior da Sagrada Família e do Jardim Botânico.

A caminhada para a Universidade é tranquila, amena, por nos encontrarmos quase no topo da colina, e já nos sinaliza a preservação da memória. Estamos perto das ruas Camilo Castelo Branco e Alexandre Herculano, grandes escritores do Romantismo português. As placas designativas das ruas são simples e, ao que parece, não diria imperecíveis, mais duráveis do que as que tenho visto no Brasil, produzidas em
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M. Marques Jr
louça ou cerâmica (deixo a diferença para os especialistas no assunto), feitas para resistir ao tempo. Além da simplicidade bela das placas, chama a atenção a praticidade: diz-se o nome da rua, abaixo faz-se referência às datas de nascimento e morte, quando é o caso, e quem foi o homenageado, informações que não fazem parte do endereço. Diferentemente do que ocorre no Brasil, é isto que acontece nas grandes cidades europeias, como Roma e Paris.

Logo na entrada do Jardim Botânico, cortando o caminho para a Universidade, vemos uma estátua de Avelar Brotero (1744-1828), botânico ilustre, cujos estudos foram decisivos para o desenvolvimento dessa ciência, em Portugal. A preservação da memória do cientista luso não para por aí. Descendo, em direção à Igreja de São José, vemos uma escola pública de prédio impecável, denominada Avelar Brotero. A homenagem a Botero é algo como se houvesse uma estátua do Professor Lauro Pires Xavier, na entrada do nosso Jardim Botânico, na Mata do Buraquinho. O Professor Lauro Xavier foi o primeiro ecologista da Paraíba, aluno de Cândido de Mello Leitão, seu professor na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, entomologista e primeiro ecologista brasileiro. Cândido de Mello Leitão é o patrono da Cadeira 40 da Academia Paraibana de Letras, ocupada inicialmente por Lauro Pires Xavier, depois Antônio Sobrinho, agora ocupada por mim.

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Continuando a caminhada até a Universidade, passamos pela arcos da antiga muralha e subimos um pequeno aclive, tendo ao largo algumas das famosas repúblicas estudantis de Coimbra. Não passou despercebida, apesar de as repúblicas se encontrarem no nível mais baixo da rua, a placa registrando a residência em que o escritor Augusto de Castro (1883-1971) morou, “durante o lustro de sua formatura como escolar de leis, na Faculdade de Direito”. Sempre o cuidado com a memória, revelado de modo explícito, interesse ou não a quem por ali passe, mas como um registro inquestionável aos que procuram saber a história da cidade e de seus vultos importantes.

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Abramos um parêntese para o dístico de uma das repúblicas estudantis – a Real República –, que atraiu a nossa atenção:

“Aqueles que por copos volumosos, se vão da lei da sede libertando...”
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É chiste rabelaisiano, legitimamente pantagruélico, característico da irreverência juvenil e estudantil, aproveitando-se, parodisticamente, dos vetustos versos camonianos, que se encontram no hall da Faculdade de Letras, como base de uma representação do poeta, compondo um painel da história de Portugal (Os Lusíadas, Canto I, Estrofe II, versos 5-6):

“E aqueles que, por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando,”
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A entrada da Universidade de Coimbra, dando acesso à Rua Larga, não poderia ser mais emblemática, com a imponente estátua de D. Dinis (1261-1325), rei poeta, trovador, que a fundou em 1290. Ao pé da estátua, fazendo um círculo, a identificação mais precisa, em bom latim: VNIVERSITAS CONIMBRIGENSIS.

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No pátio da Universidade, com a Torre do Relógio, funcionando e soando com precisão as horas e os quartos de hora, é onde repousa a Sapientia. No ambiente da antiga alcáçova moura, abriga-se a Faculdade Direito, a capela de São Miguel e a Biblioteca Joanina. Como a proteger tudo isto, a estátua de D. João III (1502-1557), o rei das Capitanias Hereditárias, que soube, à época, trazer riquezas da nova colônia, madeira da melhor qualidade, e aplicar no reino; aplicar na riqueza indestrutível do saber, como diz o dístico da Biblioteca que ele criou:

HANC AVGVSTA DEDIT LIBRIS COLLIMBRIA SEDEM, VT CAPVT EXORNET BIBLIOTHECA SVVM.
A augusta Coimbra deu livros a esta sede, para que a Biblioteca adorne a sua cabeça.
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Adentrando a Porta Férrea, que dá acesso ao pátio da Faculdade de Direito, os estudantes, portando a sua beca, se reúnem para um protesto, reivindicando melhores condições físicas e psicológicas de estudo, numa cidade em que o conhecimento é visto como essencial. A completar o vol d'oiseau, temos, do alto da colina, onde se situa o pátio da Universidade, a visão espetacular da cidade, cortada pelo rio Mondego e emocionalmente enriquecida com as lágrimas de Inês de Castro, memória preservada e sempre presente, eternizada pelo poeta maior Camões.

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