Ralph Waldo Emerson
"Você ouvirá todos os dias as máximas de uma baixa prudência. Você ouvirá que o primeiro dever é conseguir terras e dinheiro, l...
Flores que nascem e morrem
Ralph Waldo Emerson
O jornalista Kubitschek Pinheiro tem se dedicado a uma tarefa literalmente edificante: percorrer a cidade...
Ao sabor do tempo
Gertrude Stein foi uma genial escritora e poetisa americana que, em sua permanência na França, se alistou no F.A.F.F. (Fundo de Proteçã...
Antigo ditado grego
Ela e sua companheira, Alice, foram à Europa observar a vida dos franceses no início do século XX. Elas não consideravam os franceses insensíveis à ciência,
Os gramáticos costumam usar os termos pátrio e gentílico como sinônimos. Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova gramática do portu...
Pátrios e gentílicos
Foi o próprio João Batista que falou: “Diz-se que poesia não se traduz. Mas se tenta.” É verdade. Pois se há realmente algo difícil de...
João Batista de Brito e Sérgio de Castro Pinto: traduzir é preciso
Cilgin ficou imaginando se não havia acontecido algo semelhante agora. E, naquela manhã, precisamente naquela manhã, que poderia ser u...
Era domingo numa segunda-feira...
Ou poderia ter sido uma invasão alienígena. O cinema com seu mercado de catástrofes faz com que acreditemos na possibilidade. Uma invasão de seres, necessariamente, violentos, raivosos, famélicos, tipo o Alien, de Ridley Scott. Vieram só para exterminar a humanidade, por alguma razão. Sabe-se lá. Mas, porque teria restado apenas ele, o sujeito melancólico, dado a sonhos e pesadelos, igualmente, catastróficos? Ele, o escolhido. Pelo menos nas redondezas. Quem sabe, não haveria outros em locais distantes. Ou escondidos. Ou em outra dimensão, com a física do improvável, a quântica e suas possibilidades fantasmas, onde a lógica não conseguiu explicar.
E, pela primeira vez, pensou como tendo sido escolhido para sobreviver, era muito mais um castigo e um penar, do que tinha sido para os demais sacrificados pela fúria da carnificina alienígena. Morrer, afinal, só traz dor naqueles momentos derradeiros. Num instante, tudo acaba. Inclusive, qualquer possibilidade de sofrer. Sim, porque, para Cilgin, morrer era realmente o fim. Nada haveria além. Até entendia quem pensava na possibilidade de uma vida após a morte, mas ele, ele tinha imensa dificuldade de acreditar.
À tarde, cismou de ir até uma agência bancária. Se estava tudo tão disponível, então certamente haveria de encontrar dinheiro. E, realmente, a agência, como tudo ao redor, estava deserta, e ele pode entrar sem problemas, dirigir-se aos caixas, onde encontrou maços de dinheiro, tão perfeitamente engomados. Montes deles. Pegou o quanto pôde e saiu exultante da agência. Até começar a sentir certo incômodo: aquilo era roubo!
Mas, roubar de quem, se não havia ninguém por ali? De quem é, afinal, o dinheiro que está nos bancos? Dos banqueiros ou das pessoas que depositam nos bancos? Haveria banqueiros sem pessoas para confiar seu dinheiro nos bancos? Caminhava digerindo esses pensamentos, quando se deu conta: pra que dinheiro, se tudo que preciso basta pegar e levar? Sim, de fato.
Mas, após algum tempo, decidiu levar o dinheiro assim mesmo, vai que de repente as pessoas voltam ao mundo, e ele terá feito uma poupança. Roubo? Sim, mas haverá roubo se não existe quem reclame o objeto do roubo? Roubo pressupõe um que rouba, outro que perde. Não parecia ser o caso.
"Gosto do modo como Hélder busca equilibrar o psicanalítico com o ontológico, associando a crise do ser (cuja defecção, segundo Kristeva, é uma marca do quadro depressivo) aos fantasmas a que o sentimento de culpa dá forma." (Chico Viana)
Hildeberto Barbosa Filho ressalta numa Letra Lúdica dos meus guardados a falta que vem fazendo a crônica assinada por Martinho Moreira...
Amor-próprio e ao dos outros
— lamenta, às custas de seu exemplo, estendendo aos outros o amor que nutre pelo labor literário.
Martinho ironizava-se se dizendo cronista de variedades, carona que pegou na qualificação de intenção elogiosa como uma confrade amiga o tratara num registro qualquer.
E que variedades! Lembrei-me, já agora, por ser final do abril de Augusto e pela insistência como o telefone forçou-me a sair da rede só para ouvir um “desculpe, foi engano” - lembrei-me de crônica fora do estilo de Moreira a tirar partido da “ultrajante invenção do telefone”, nevrose que ele não deixou exclusiva do poeta do EU. Pena que essa crônica tenha se ido com ele.
Também Crispim se queixava da intervenção do telefone nos momentos mais inoportunos, cortando frases ou ideias em formação, como se escrever para ele fosse um prazer de portas bem fechadas. Andava de caderneta e lápis para o surto das ideias.
Quanto a Martinho, devo lembrar que foi sempre comedido em sua própria avaliação. Até mesmo em vazar seus autores e leituras, salvo as de cinema ou autores que migraram do jornal antes do livro e que fizeram o que ele não fez, buscar homizio mais seguro. Mas ninguém se deixasse levar por essa parcimônia. Percorrera o melhor da literatura brasileira e muita coisa estrangeira quase sempre atraído pela versão cinematográfica como Hemingway, só para citar o de sua maior nota, O velho e o mar.
Quando existiam aqui três jornais impressos, gastava a manhã inteira a saber dos outros, sobretudo da cidade, mais para conferir suas andanças, seus reparos, que para saber novidades. Lia por nós todos, e como sabia que muitos não liam ou liam por cima, era ele que fazia o telefone nos acordar para a notícia que suscitasse solidariedade ou nos deixasse numa boa. Lia por nós todos e para todos nós. Nas suas mãos o telefone deixava para trás a má fama de invenção ultrajante.
Nesse amor firme e justo pelas letras dos outros, Hildeberto não esquece seu antigo colega de colégio, Arlindo Almeida,
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Dante, de Homero a Platão
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Os Pires caíram mas não quebraram
Peço sua licença para dar um rasante rápido na origem do casal e em seguida observar a ascensão e queda dos Pires. Coisa de poucas linhas.
Meu avô paterno Manoel Pires era comerciante aqui em João Pessoa. Já meu avô materno Manoel dos Anjos era poeta, fundou a Academia Paraibana de Poesia.
Meu pai formara-se com distinção na primeira turma de Engenharia Química em Recife. Veio a João Pessoa apenas comunicar ao meu avô que havia sido convidado para um emprego fantástico, onde ganharia muito bem lá em Pernambuco. Naquele momento aconteceram duas coisas; meu avô comunicou ao meu pai que diante desse fato iria fechar a loja porque contava com o filho para tocar o negócio e... meu pai conheceu minha mãe que trabalhava como caixa na loja e apaixonou-se. Ele ficou.
Adrião e Creusa Pires foram os comerciantes mais ricos da Paraíba por muito tempo, a ponto de construírem uma mansão na descida da avenida Epitácio Pessoa (em frente ao clube Cabo Branco) onde hospedaram dois Presidentes da República e a totalidade das pessoas famosas que aqui chegaram desde o ano de 1966 até a inauguração do hotel Tambaú. Todos os fins de semana eram vistos por lá cantores, artistas e uma variedade de gente que enchia as páginas sociais da grande imprensa brasileira. Pudera, João Pessoa não possuía hotel e nossa casa tinha “apenas” 9 suítes.
Além da mansão eles possuíam diversos outros imóveis, porém o mais importante era o capital que dispunham para tocar seu negócio. O grande salto foi descobrir que poderiam ser distribuidores exclusivos das mais procuradas mercadorias se comprassem aos fabricantes toda a estimativa de venda anual de cada indústria para o Estado da Paraíba. Assim faziam. No começo de cada fevereiro iam a São Paulo e pagavam antecipadamente os produtos que solicitariam ao longo de cada ano. Santa Marina (Colorex e Pirex), Microlit (pilhas Ray- o-vac), Estrela (brinquedos) e mais uma centena de itens que só poderiam ser comprados por qualquer comerciante aqui na Paraíba se fosse no armazém dos nossos pais, que tanto vendia em grosso como no varejo. Era comum recebermos das fabricas uma série de presentes, porém nada que se comparasse aos brinquedos Estrela. O autorama novo que só iria para as lojas no dia das crianças já estava em nossa casa desde abril. Chegamos a ter um autorama enorme, com oito pistas, que se estendia por muitos metros.
Escolheu por mundo as imediações da cidade mordiscada, em desalento, ornada de incompreensíveis pichações. Desmandos de noites, esc...
Missão
Alugou uma casa, ele mesmo preparava as refeições, disposto em fé e destemor. Iria, pensava, interpretar o mistério das inscrições nas almas das pessoas decepadas que optaram por aquele viver. A maioria jovens, uma lástima. Motocas envenenadas estacionavam próximas a um galpão. Formava-se a conspiração. Os moradores dos becos e sobrados se achegavam aos motoqueiros. Cantavam músicas, tocavam guitarras. Refugiavam para a reunião acontecida semanalmente.
Ele observava o alvoroço de uma juventude anestesiada por práticas estranhas, falando uma linguagem adversa. Escutava a algazarra, as danças, o espírito de resistência a regras pré-concebidas, a aversão a normas vigentes na aldeia de adultos maduros, velhos. Como tomaria alento para familiarizar-se com eles ainda verdes? Olhava-se a si mesmo e se aceitava já avançado no tempo.
Uma noite, aproximou-se. Foi chamado de coroa. Começou a compor a roda. Uns bebiam, outros tragavam. Tomou com eles uma dose de cerveja. Ganhou-lhes a simpatia. Foi notando que era uma fuga deles aos ditames férreos de uma educação que lhes exigia cumprimento de ordens, obediência subserviente, e se refugiavam naquele espaço privado, sem intromissão de ditadores de comportamentos arcaicos. Todos tinham as pichações nos corações inquietos.
Perguntou se eles acreditavam em Deus. Silenciaram. Uns esboçaram um riso sarcástico. O homem abriu uma carteira e se identificou como padre. Entreolharam-se surpresos. Abriu o coração e o sorriso para eles. Muitos vieram abraçar o sacerdote. Muitos deixaram de frequentar aquele mundo. Para sempre. Franco milagre.
A velhice tem dessas coisas. Andamos com passos mais lentos por dias que correm em velocidade hipersônica. Espantosamente, maio nos...
Ao abril que se vai
Os conflitos entre seres humanos, geralmente, destroem a dignidade dos indivíduos. Essas tensões levam à voracidade de controlar um gr...
Saúde do bem-estar
Na vastidão das vaidades, onde o orgulho dança com a sombra da verdade, encontramos um espelho que reflete a dualidade da alma humana.
O véu da vaidade
"Wenders toma para si, em Dias Perfeitos, o trabalho de “cinematizar” esse paradoxo da previsibilidade dentro do caos, revelando u...
'Dias Perfeitos' e as sombras das árvores
(Crítica Omelete/internet)
Primeiro vi o post de Glorinha Kalil, jornalista e consultora de moda, falando dos banheiros de Tokyo, mais visitados que os museus. Ela comenta sobre um projeto inusitado: O dono das lojas esportivas e sustentáveis ao redor do mundo, Uniclo, queria fazer algo pelo seu povo e criou o “Tokyo Toilette Projetct”. Junto com os maiores arquitetos, cada um deles desenvolveu um projeto de arquitetura sofisticada para os banheiros públicos da cidade. E depois foi atrás do diretor de cinema Wim Wenders, que fez o filme Dias Perfeitos. Devo dizer que, depois desse filme, fiquei ainda com mais vontade de conhecer o Japão. Nem só de cerejeiras e templos vive uma cidade.
Dias Perfeitos, 2023, direção Wim Wenders (Mubi), a história de Hirayama, um homem silencioso e solitário que trabalha limpando banheiros públicos em Tokyo. No idioma original, o filme de Wenders se chama Komorebi, "uma palavra japonesa para a luz que cintila e as sombras criadas pelo balançar das folhas com o vento". Hirayama, Interpretado silenciosa e lindamente por Koji Yakusho, vencedor do prêmio de melhor ator no Festival de Cannes em 2023. O filme também foi o indicado a melhor filme estrangeiro na festa do Oscar de 2023. Um homem metódico, que mora num bairro pobre e que vê o Skytree de longe e de todas as cores. Hirayama tem como hobby, fotografar, com máquina analógica, as copas das árvores e seus efeitos diante dos raios do sol, ou do sol nascente.
A toda hora vemos a modernidade dessa megalópole, suas vias, sua impessoalidade, versus a vidinha cotidiana do protagonista. Sua invisibilidade no serviço é feroz; as pessoas não o veem cheio de esfregões, detergentes e esponjas. A sua única visibilidade se dá através de um bilhete deixado por traz de um dos vasos, onde ele brinca de jogo da velha com um transeunte invisível também. E pelos momentos do seu dia, vemos através dos seus olhos observadores, as meninas indo à escola, crianças no parque, uma vassoura despertando nas calçadas, um senhor que faz Tai chi chuan no meio do parque ou da rua, pássaros que voam, o céu azul, árvores tantas, ventos, um bocejo, uma bicicleta, a silhueta das pessoas, as sombras das folhagens, tudo isso se constituindo em rimas poéticas no filme.
Hirayama é um homem culto. O seu pequeno canto em um sobradinho apertado, tem estantes abarrotadas de livros; dentre eles: Palmeiras Selvagens, de William Falkner; Eleven, de Patricia Highsmith, e Árvores, de Aya Koda. E coleções de fita cassete, esse objeto estranho e anacrônico, cheio de hits do passado, Van Morrison e “Perfect Days”, de Lou Reed, que dá título ao filme, e “A casa do sol nascente” que, cantado em japonês, fica ainda mais tocante como o próprio sol desse país. “Mulheres não gostam de homens que resmungam, diz a dona do bar e que entoa essa música. Também ficamos sabendo da vida de Hirayama, através da sua sobrinha que cai de paraquedas na sua rotina costumaz. Sua irmã aparece, de outro mundo, dos vários mundos sem conexão, mas com notícias do seu pai isolado. Ele chora copiosamente por esse seu mundo do “lado de lá”. Ou de cá, das copas das árvores.
“Da próxima vez é da próxima vez”, e “Agora é Agora”, diz Hirayama, para a sua sobrinha, quando esta lhe pede para irem até o oceano e mudarem a perspectiva das coisas. Poderia ser um norte para os rumos que a história toma. Um Japão moderno, indiferente, robotizado, mas que a modernidade toma conta dos antigos espaços físicos e subjetivos. Num certo momento, um senhor ao ver um terreno vazio, se preparando para construção diz: “O que tinha aqui antes? Isso que é envelhecer?” Se pergunta amargurado. Realidade nossa de cada dia todo e em qualquer lugar.
Os dias de Hirayama parecem realmente perfeitos. Ele acorda cedo, trabalha, cuida das plantas, faz a barba, escova os dentes, olha pela fresta da janela, ouve suas músicas preferidas, frequenta uma casa de banho, janta sempre no restaurante de uma galeria e termina o dia lendo um livro. Mas seja pela belíssima fotografia de Franz Lustig, ou pelos ângulos que jamais serão os mesmos numa jornada onde se faz tudo igual, Hirayama olha para a câmera de Wenders e, numa tomada longa e profunda, ao som arrebatador de Nina Simone, nos transmite num silêncio sepulcral, o sentido/propósito da vida – VIVER! E a beleza do banal
A morte de um médico sempre nos desconcerta. Ele, que cuidou de tantos, prolongou tantas vidas, não pôde salvar a si mesmo. Um operário...
O médico das letras
Acho que dei a primeira tragada aos 15 anos. A fumaça entrou engasgando, e de noite veio ...
Fumar ou viver
O presente ano enseja a oportunidade de a Paraíba reverenciar Augusto dos Anjos nos 140 anos do seu nascimento. É hora de voltar,...