Conta-se que certo dia Alceu Amoroso Lima, já glorioso, recebeu uma homenagem de amigos e admiradores, praticamente uma consagração pública do escritor, crítico e pensador brasileiro. Agradecendo aos presentes, ele fazia uso da palavra, saboreando o gozo daquele momento especial. Eis que, súbito, adentra a sala uma anônima senhora, trazendo à mão um
Alceu Amoroso Lima @museucasadeportinari
ramalhete de flores, que todos devem ter pensado ser mais um tributo para o homenageado. Mas não. Para surpresa geral, ela caminha até Alceu e atira-lhe, como uma pedra, o buquê nos peitos, com inequívoca brusquidão. Sem falar uma palavra, diante da plateia atônita, ela se retira. Doutor Alceu interrompe o discurso e permanece alguns segundos em silêncio, certamente se recuperando do choque. O auditório em peso olha em sua direção, aguardando de sua parte uma mínima palavra que esclareça o inusitado episódio. Ele diz o seguinte: “É uma lição de humildade. Recebo isso como uma lição de humildade.” Apenas isso. E continuou a fala que interrompera, como se nada tivesse acontecido.
Um antigo conto persa relata que um rei pediu a dois grupos de artesãos que decorassem as duas paredes opostas de um salão.
Um grupo pintou uma das paredes com cores, figuras e detalhes belíssimos.
O outro não pintou nada: apenas poliu a parede até que se tornasse um espelho perfeito.
A abertura do Festival Literário Internacional da Paraíba, FliParaíba, no último dia 27 de novembro, aconteceu naquele lugar especial que é o Centro Cultural São Francisco. Lugar que frequento desde menina, onde dei os meus primeiros beijos por entre os arcos, por entre os azulejos portugueses. Uma orquestra de sanfonas me fez chorar. E a filha de Vital Farias, cantando junto — Margarida — mais lágrimas, por entre o barroco e os anjos daquela capela da Nave Central.
Com ampla foto no alto da 1ª página, A União da última quarta-feira não demorou mais que um fechar de olhos para me situar diante de outra foto, esta em preto e branco, publicada no mesmo jornal há exatos 70 anos, como um sonho que a fotografia de agora recolhe em jubilosa realidade. A foto de hoje: uma plêiade de professores chamados ao palco para a aclamação de professor emérito dos que concorrem com eles, seus pares do magistério.
Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon foi empurrado para o território das sombras. Tinha completado 40 anos dois meses antes, era pai de um garotinho de cinco anos e de um jovem adolescente; tinha passado os últimos cinco anos recluso, fazendo pão, trocando fraldas e desfrutando da vida doméstica.
Fui convidada por um grupo de leitura que discutia o romance A educação sentimental, de Gustave Flaubert, para traçar um retrato do autor. Na ocasião, Rosa Freire d’Aguiar falaria sobre a tradução que realizou da obra.
As situações mais atrapalhadas podem virar lembranças deliciosas para rir depois. Afinal, rir de si mesmo é um remédio poderoso.
Um dia, meu companheiro apareceu com dois ingressos para um show numa famosa casa noturna do Recife. Disse que eu deveria caprichar na roupa, porque seria um evento requintado. Depois disse solenemente: “Vamos assistir ao show do Reginaldo Rossi.” Cai na risada, achando que era brincadeira. O “rei do brega”? Achei que fosse piada.
A construção da narrativa em Os Miseráveis merece um estudo à parte. Um alentado estudo, diga-se de passagem, em que se contemple também o estilo de Victor Hugo, com as suas frases reiterativas e gradativas. Hugo sabe se deter em detalhes, quando lhe convém, para compor um ambiente ou para compor um perfil, e, ao mesmo tempo,
Getúlio Vargas foi, de longe, o político mais completo da nossa história. Por qualquer parâmetro que se pretenda medir a atividade política no Brasil, ele ganha fácil de qualquer outro que tenha se dedicado a essa nem sempre tão nobre atividade. Esqueçam os 19 anos na presidência. Menos importa a sua capacidade de recuperação. Até amantes ele teve. Ou seja, tudo que os outros políticos fizeram, ele fez mais e melhor — inclusive traindo os colegas.
A beleza da simplicidade no canto regional e na ancestralidade expressa uma forma de estar no mundo, de preservar identidades e de transmitir saberes que atravessam gerações. Esses elementos, quando combinados em uma obra de arte — por exemplo, a arte de cantar — produzem uma experiência armazenada de memória, emoção, pertencimento e dignidade. É dessa combinação que nasce a espontaneidade, na qual é possível encontrar uma vivência que resiste ao engessamento da técnica excessivamente formalizada. Nela, há o gesto natural do corpo que pulsa para cantar, tornando o palco um espaço de empatia e partilha, no qual cada espectador se reconhece no cancioneiro, na poesia e na melodia. Esse processo eu observei durante o show da paraibana Mayana Neiva, no dia 6 de dezembro, no Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa (PB).
Estonteado, ainda pude ver meu corpo esticado: durinho. Era manhã de sábado. O céu estava acinzentado e o ar poluído. A paisagem daquele dia não seria diferente de tantas outras do inverno paulista — mórbida e depressiva.
Ei, psiu... Você já perdeu a cabeça por amor? Eu, não. E, permita-me a discordância, caso seja afirmativa a sua resposta. Você nunca perdeu a sua cabeça por conta disso nem por nada. Quando muito, pode ter perdido, ocasionalmente, o juízo, ou o sossego. Na verdade, minhas e meus camaradas, nenhum de nós sabe o que seja, de fato, uma perda dessas.
Aprendi com Tia Nina, mulher forte e iluminada, que uma cadeira de rodas não lhe impediria de continuar indo para a cozinha fazer o que sempre amou. Não deixaria de dar seu toque particular nos quitutes deliciosos que servia.
A vida é, sem dúvida, muito difícil! Só que ela é compensada a cada dificuldade. Mesmo que seus problemas de hoje fossem multiplicados por dez ou por cem, ainda assim eles não excederiam a magnitude da alegria, da beleza e da experiência de estar vivo e provar a maravilha de haver sido singularmente criado por Deus.
O verdadeiro significado da vida é uma questão que tem intrigado a humanidade ao longo dos séculos. Filósofos, poetas e pensadores de diversas culturas têm refletido sobre essa busca, oferecendo perspectivas que variam desde a busca pela felicidade e realização pessoal até a conexão com o cosmos e o propósito maior da existência.
Por mais terras que eu percorra
Não permita, Deus, que eu morra
Sem que volte para láCanção do Expedicionário
Enquanto a Segunda Guerra Mundial devorava gente na Europa, África e Ásia, aqui, no maior país da parte Sul das Américas, o governo vigente, longe desse “pega-pra-capar”, flertava em alguns momentos com o pessoal do chamado Eixo (Alemanha. Japão e Itália); noutras horas com os chamados “Aliados” que formavam o ajuntamento do bem. Ficou nessa relação infiel até que o Tio Sam pusesse “aquela coisa” na mesa e exigisse que o Sr. Vargas, o nosso ditador da vez, tomasse uma posição. Só então nossa Pindorama declarou de qual lado estava.
Bem,
não temos ninguém com idade dos vitrais
das catedrais!,
nem com a dos fragmentos de templos gregos,
nos museus.,
menos ainda com a dos ossos colossais da Terra:
seus rochedos
ateus!,
O tempo incide na materialidade do que busco. Preciso racionar a tensão incitada pelos ponteiros. A avidez não deve se tornar sinônimo de desespero. É o embate constante entre o que fiz e aquilo que ainda quero fazer. Sei que posso.
Despedindo-me do dia 2 de dezembro de 2025, deixo para trás os sessenta anos, vividos e ainda não quitados com o universo, apesar das novas dívidas contraídas, não só por adiar as não pagas, mas também as novas que fiz e ando fazendo. Sinto-me feliz pela oportunidade de ainda estar no jogo.
Nas manhãs com o sol rasgando as nuvens, ou quando a lua grande vagava lentamente no céu como uma bola dourada, gostava de ficar no quintal de casa observando o sol ou a lua por entre as folhagens do cajueiro existente em minha rua.