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Antes da pandemia, assisti ao espetáculo Violetas; “fruto da pesquisa “Memória da Voz”, realizada pela atriz Mayra Montenegro, com dire...

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Antes da pandemia, assisti ao espetáculo Violetas; “fruto da pesquisa “Memória da Voz”, realizada pela atriz Mayra Montenegro, com direção de Raquel Scotti Hirson (LUME Teatro) e assistência de direção de Eleonora Montenegro. O espetáculo trata do silenciamento de mulheres, guerreiras anônimas, sonhadoras solitárias, que dedicaram suas vidas aos filhos e maridos e não puderam realizar sonhos outros. O fio condutor é a história da avó de Mayra, dona Wilma, que com o seu exemplo de vida e amorosidade, inspira toda a pesquisa.”

Quando eu era adolescente eu era muito magra, pouco peito e a minha mãe, desavisada, dizia que a minha bunda era grande. Imagina! apena...

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Quando eu era adolescente eu era muito magra, pouco peito e a minha mãe, desavisada, dizia que a minha bunda era grande. Imagina! apenas tomava corpo de mulher. E eu, pré-adolescente, me olhava no espelho e me sentia deslocada. Como a maioria das meninas dessa idade. Para ficar sem forma, eu usava cinta, hã?. Depois, sob o olhar do namorado, que dizia estar tudo lindo, fui me apoderando do meu corpo – aquele que eu tinha, e me achando melhor. Ou seja, precisei do olhar do outro, de um homem, para referendar a minha fina estampa.

“A gente que é mulher vive um terror cotidiano. Mudamos muitas coisas na estrutura social. Séculos de lutas, queima de tudo, de corpos ...

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“A gente que é mulher vive um terror cotidiano. Mudamos muitas coisas na estrutura social. Séculos de lutas, queima de tudo, de corpos na Inquisição, enfrentamento às guerras, lutas nas fábricas, no campesinato. As conquistas do presente tiveram um alto preço pago pelas mulheres na História."
(Sandra Raquew, em “Viva nos queremos”, jornal A União, 4 de agosto 2023)

Recentemente, o STF derrubou o uso da tese de legítima defesa da honra para crimes de feminicídio. Uma conquista mais que atrasada para um crime hediondo que tomou visibilidade depois do assassinato de Ângela Diniz, por Doca Street, quando as mulheres foram às ruas gritar – “Quem ama não mata”.

Travessia: aquele constante entrelugar. O mantra. Entre uma ponta e outra da vida, mas não somente. Entre mundos, entre vidas, entre in...

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Travessia: aquele constante entrelugar. O mantra. Entre uma ponta e outra da vida, mas não somente. Entre mundos, entre vidas, entre instantes, entre dias, entre noites. Deixar, ficar, voltar, permanecer.
Tudo travessia.

(De "Todo o tempo que existe")

No seu livro Todo o tempo que existe, Adriana Lisboa, Belo Horizonte: Relicário, 2022, ensaio de caráter autobiográfico, fala da sua experiência de luto quando da perda dos pais, em curto intervalo de tempo. Entre uma perda e outra, longos passeios pelo Jardim Botânico e devaneios sobre a existência.

No segundo domingo do mês agosto celebramos o Dia dos Pais. Fiz muitos almoços para o meu querido pai, e para os pais dos meus dois fi...

dia dos pais maternidade paternidade
No segundo domingo do mês agosto celebramos o Dia dos Pais. Fiz muitos almoços para o meu querido pai, e para os pais dos meus dois filhos. Eram momentos de compartilhar alegrias do domingo com a família. Mas também sempre tive um olho bem aberto para pensar sobre a paternidade e os pais ao meu redor. Não gostava muito do que via. Sempre me inquietei com a exaustão e sobrecarga da minha mãe. Amava/amo meu pai, mas estava sempre atenta às minhas questões sobre a sua ausência, o seu silêncio, e o seu lugar de liberdade e distância do dia a dia de uma casa com quatro filhas. Era assim em todas as famílias.

Há algum tempo que as esquinas das praias (talvez da cidade toda) foi tomada por pedintes; venezuelanos, paraibanos, adultos e crian...

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Há algum tempo que as esquinas das praias (talvez da cidade toda) foi tomada por pedintes; venezuelanos, paraibanos, adultos e crianças. Por aqui em Manaíra/Bessa, sempre via uma turma de crianças meninas, a fazer malabares em um sinal de trânsito específico. Meninas crianças, com shortinhos e top (a triste sexualização na infância), rasgados é verdade, e com duas, três laranjas, a tentar fazer algumas peripécias na esquina, subir uma na outra e derrubar essas laranjas na primeira jogada, para ganhar alguns trocados. Eu sempre ficava a olhar aquela cena num misto de dó e raiva. Raiva de ver as nossas meninas em situação de tanta vulnerabilidade. Dó de ver aquela meninice desperdiçada com laranjas desobedientes.

O filme O Filho (2022, Florian Zeller) nos parte o coração. Ainda mais num domingo, enclausurada de São João, onde todos estavam dan...

cimema literatura resenha critica
O filme O Filho (2022, Florian Zeller) nos parte o coração. Ainda mais num domingo, enclausurada de São João, onde todos estavam dançando forró nas festas do interior. Ou pelo menos deveria ser assim. O enredo: um casal separado, um filho, um adolescente sem lugar, Nicholas (Zen McGrath), já que o pai Peter (Hugh Jackman) casou de novo com uma mulher mais jovem, Beth (Vanessa Kirby), e acabou de ter um bebê. A sua ex-mulher, Kate (Laura Dern), aparece sem avisar para pedir ajuda ao filho ausente da escola e com sinais de depressão. A partir daí, a gente assiste a uma solidão a cada dia mais profunda desse filho, a sua tristeza inviolável, ao mesmo tempo, ao seu esforço para se adaptar a viver novos dias junto ao pai, a madrasta e ao irmãozinho. O colorido da vida não lhe chega, mas as sombras aterrorizadoras de um não lugar de afeto.

No sábado, dia 17/06, quando entrei no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, onde aconteceu a festinha junina da Escola Sempre Viva, pa...

No sábado, dia 17/06, quando entrei no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, onde aconteceu a festinha junina da Escola Sempre Viva, para ver minha neta, Luísa, dançar a dancinha do sapo, me deparei com um espaço que me fez rodopiar pelas linhas da vida. Lembrei imediatamente do livro O Lugar, da premiada (Nobel Literatura 2022), a francesa Annie Ernaux, cujo tema é a relação com seu pai, a distância de classe, a sua posse como professora, e o amor que se quebrou. Mas as minhas lembranças eram outras. Não tinham um apanhado sociológico, mas a memória de épocas marcantes dos meus anos.

Para Teca, Bebé e Claude No aeroporto de Marseille pensei em encontrar Gerard Depardieu. Assisti à série com o nome dessa cidade, ch...

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Para Teca, Bebé e Claude

No aeroporto de Marseille pensei em encontrar Gerard Depardieu. Assisti à série com o nome dessa cidade, cheia de intrigas e máfias. E adoraria ter conhecido esse lugar. Mas ao invés, voamos tranquilamente para London London, com destino certo: Cardiff e Penarth, um istmo ligado à Baía da capital do País de Gales, onde mora a minha irmã, Teca. A primeira vez que as quatro irmãs se juntam naquela cozinha para saborear seus quitutes e do seu marido Anthony: Paella, Sunday lunch com porco cozido com erva doce, bolo de amêndoa, ou a famosa sobremesa Pavlov, ou ainda, um típico Cream Tea enquanto o Rei Charles era coroado. Nos intervalos, os esquilos (Tico e Teco?) pinotavam no quintal/jardim, por entre as palmeiras tropicais e uma calçada com cerâmicas de ondas – numa alusão à Copacabana.

Depois de presenciarmos alguns rastros das passeatas políticas em Paris, pichações e sacos de lixos amontoados, denunciando as posiçõe...

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Depois de presenciarmos alguns rastros das passeatas políticas em Paris, pichações e sacos de lixos amontoados, denunciando as posições daquele povo tão efervescente/conscientes da liberdade, igualdade e fraternidade, partimos ao sul.

Era um sonho para mim, conhecer um pouco da região da Provence, sudeste da França. Um desejo antigo, sentir aquele perfume das lavandas. Saímos da gare de Lyon em Paris (3 h no TGV- trem bala), para Aix en Provence. Seis dias, por aquelas terras azuis lilases. O encanto de tantas fontes e poder beber água no meio da rua. Como nos filmes românticos. O café da manhã com essa mesma água brotando de uma torneira na parede do hotel, croissants e pães sourdough, queijos todos, geleias, e frutas vermelhas. Pela janela do quarto, já avistava os telhados. As chaminés. E aquelas árvores majestosas.

E assim se passaram dez anos desde a sua partida Juca. Quanta saudade! E o que é o tempo? Parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo, ...

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E assim se passaram dez anos desde a sua partida Juca. Quanta saudade! E o que é o tempo? Parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo, uma fenda se abriu no meu coração e na minha vida, e quanta coisa aconteceu. No mundo também. Você não iria acreditar! Na eleição de um governo negacionista e que nos deixou estarrecida com o que fez, e não fez. A re-eleição de Lula, por mais que tudo parecesse improvável. E recuperando a democracia aos poucos, com todas as dificuldades. Uma neta que chegou, Luísa, e que já faz quatro anos de sapequice e fofura. Daniel foi embora para São Paulo, e lá está com Bruna desbravando o mundo do trabalho e não só. Lucas e Nathalia abriram um Café – o Bricktops, que de grão em grão vão se firmando no mercado. E tivemos uma pandemia. Essa você nem dos céus conseguiria imaginar.

Às crônicas volto. E o assunto? Só tenho um na cabeça: A viagem que fiz e de que falei aqui quando me ausentei. Pela primeira vez, viaj...

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Às crônicas volto. E o assunto? Só tenho um na cabeça: A viagem que fiz e de que falei aqui quando me ausentei. Pela primeira vez, viajei com as queridas irmãs: Bebé, Teca e Claude. Um sonho antigo. E só agora, todas na casa dos 60, pudemos atravessar o Atlântico. Não foi uma peregrinação à Compostela, mas uma maratona de alegria e turismo. Acidental.

O caminho do rio sempre esteve presente na minha imagem de criança, ver o rio e observar o mar. Juca Pontes O que é o sonho, s...

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O caminho do rio sempre esteve presente na minha imagem de criança, ver o rio e observar o mar.
Juca Pontes
O que é o sonho, senão o desejo imponderável de alçar voos? O gesto desafiador em desenhar infinitos horizontes. A incontida voz que não descansa enquanto não alcança os amplos ventos do tempo.
Juca Pontes, A marca do tempo

Quando me convidaram para escrever esse perfil, do amigo Juca Pontes, fiquei muito honrada, mas também insegura. De pronto quis pedir uma conversa com os seus/meus amigos: Flavio Tavares, com Gonzaga Rodrigues, ou com o seu irmão de afeto, Martinho Moreira Franco (in memoriam). Deixei Gonzaga com as suas saudades; liguei pra Flavio, e com Martinho, conversei pelas nuvens. Sempre ouvi o nome de Juca me rodear os ouvidos. Trabalhei no Centro Administrativo (área cultural), no final dos anos 70 e o talento de Juca, junto com Milton Nóbrega sempre me era do saber. Acho que via Juca de longe, mas éramos jovens. Não que isso não o fizesse notar. Eu que estava em outro estado das coisas. Somente nos anos mais tarde vim me aproximar de Juca. Uma pessoa por quem me sinto próxima, mesmo estando longe. Sinto a sua amizade e carinho. Coisa de amigo do lado esquerdo do peito! Tomo emprestado às minhas próprias palavras, no prefácio do seu livro As flores do meu jardim, que tive a alegria de escrever, para começar esse texto:

Quando estou sozinho tenho muitas coisas que não existem. A poesia é uma delas. (Hildeberto Barbosa Filho) Sábado (1 de abril), nã...

Quando estou sozinho
tenho muitas coisas que não existem.
A poesia é uma delas.
(Hildeberto Barbosa Filho)

Sábado (1 de abril), não foi mentira!! fui ao lançamento duplo do poeta, crítico, professor, escritor, Hildeberto Barbosa Filho, para ver de perto os seus “pensamentos provisórios”, e quem sabe os permanentes. Aliás, desde que chegou nas redes, escrevendo suas ideias, devaneios e pensamentos, com esse título que me deixou des-norteada; que me pego meio tonta de tantas palavras mais lindas que findas, para refletir sobre tantos assuntos da vida e da literatura. Fico esperando esses escritos que me abastecem, me intrigam, me fazem mais conhecedora do universo literário, poético e filosófico da vida. Hildeberto tem imaginação, conhecimento, trajetória e ação para produzir inimaginavelmente. Como disse Paulo Sérgio Vieira na orelha do livro Cemitério Vivo:

O que estavam fazendo nossas mães que não tiveram nenhuma riqueza para nos legar? (Virginia Woolf em Um teto todo seu ) O programa Sa...

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O que estavam fazendo nossas mães que não tiveram nenhuma riqueza para nos legar?
(Virginia Woolf em Um teto todo seu)

O programa Saia Justa (GNT) do último dia 22 de março, falou de um assunto importante – dinheiro, e a relação de como nós, mulheres, nos relacionamos com as verdinhas. Como esse tema é caro para os brasileiros! muito pudor em falar do assunto, entre os casais então... e com as mulheres? Nunca se acham capazes nem merecedoras de gastar consigo. Gabriela Prioli, advogada e novo membro do programa, falou de forma pertinente e até jurídica sobre o assunto. As mulheres não estudavam e eram relegada à casa e aos cuidados com as crianças e com os mais velhos (vejo a minha neta Luísa, de quase quatro anos, brincar de grávida e com o seu bebê imaginário por entre os cômodos. E como faz isso com graça e altivez; tão pequenina e o mundo já lhe dizendo para/como ser mãe).

Antigamente tinha uma expressão, “ficar para titia”, termo pejorativo para designar mulheres que não se casavam e/ou não eram escolhid...

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Antigamente tinha uma expressão, “ficar para titia”, termo pejorativo para designar mulheres que não se casavam e/ou não eram escolhidas por um homem para ser seu par. Uma vez não escolhidas para o casamento, ferradas a sangue e ferro para o resto da vida. Rejeitada. Solteirona. E à margem da sociedade, do mundo e da vida. Por isso que, muitas mulheres preferiam o sacerdócio – freira, ou virar prostituta, para não ficar nesse lugar de solidão e cancelamento.

O nosso querido Gonzaga Rodrigues, por quem tenho admiração e carinho especiais, escreveu sobre a sua teimosia em Escrever fora do seu...

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O nosso querido Gonzaga Rodrigues, por quem tenho admiração e carinho especiais, escreveu sobre a sua teimosia em Escrever fora do seu tempo (A União). Mas para a felicidade da cidade, ele continuou a escrever – sempre aos domingos! Imagina se passamos sem ler a sua crônica publicada no Jornal A União toda semana? Já faz parte, pelo menos do meu ritual, ao tomar meu café.

Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem . (A Ciranda das Mulheres sábias — de Clarissa Pinkola Estés) Foi um ano difícil. E p...

Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem. (A Ciranda das Mulheres sábias — de Clarissa Pinkola Estés)

Foi um ano difícil. E por entre o assunto da política, da eleição de Lula – o grande presente e Vivas!, e o momento de transição e da constatação do desmonte do país, tive também outros assuntos pertinentes a pensar. A velhice das mulheres. O corpo da mulher idosa, para os que não gostam da palavra velha, as suas dores e a solidão e invisibilidade dessa mulher, já há tanto falado, Desde Simone de Beauvoir à Miriam Goldenberg e a sua Bela Velhice.

Quando a escritora inglesa Virginia Woolf foi convidada para dar uma palestra sobre As Mulheres e a Ficção, ela sentou-se à margem de ...

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Quando a escritora inglesa Virginia Woolf foi convidada para dar uma palestra sobre As Mulheres e a Ficção, ela sentou-se à margem de um rio e começou a pensar sobre o sentido dessas palavras e observou o rio que refletia o que bem quisesse de céu e ponte, e árvore flamejante. Woolf pensava: “Hoje vi uma mulher… hoje vi um avião… tudo pode acontecer quando a feminilidade tiver deixado de ser uma ocupação protegida… Mas que relação tem tudo isso com o tema… As mulheres e a ficção?”, perguntava ela. Já eu, por esses dias, também pensei sobre as mulheres e suas escritas. Hoje vejo um mulherio de mulheres; uma colcha de retalhos, e o que terá acontecido já que a feminilidade já não é uma ocupação tão protegida assim?

"O canto de Gal é cura, mas também é curadoria de toda a expressão da música popular brasileira". Carlinhos Brown "S...

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"O canto de Gal é cura, mas também é curadoria de toda a expressão da música popular brasileira".
Carlinhos Brown
"Sabe uma faca me rasgando?... Gal Costa sempre me trata com choque elétricos, eu chego pra ver ela e não vejo ela, e me arrebato por ela, e me arrebento por ela, me desarrumo por ela... cada vez acontece alguma coisa estranha, cada vez é como se a vida tivesse se partido, se começando, se acabando..."
Tom Zé