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A noite cai como uma lâmina fria para os tipos esquecidos. A máquina de produzir sonhos agora tem a função decorativa, não é mais ser viv...

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A noite cai como uma lâmina fria para os tipos esquecidos. A máquina de produzir sonhos agora tem a função decorativa, não é mais ser vivo, pulsante, que firma opinião, gera documento, contribui, conta e marca a história. Os tipos esquecidos se perdem no tempo, nos espaços. A caixa onde eram zelosamente armazenados está vazia, corroída pela ferrugem. Seu próprio coração esvaziou. Dali já não sai mais a soma da transformação das letras em palavra, frases, parágrafos, páginas.

      Decifração de gotas A nuvem escreveu com água e "enchuvou" a janela frases aleatórias pingadas nas telhas ao longe,...

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Decifração de gotas
A nuvem escreveu com água e "enchuvou" a janela frases aleatórias pingadas nas telhas ao longe, embaços desuniformam pessoas e o mundo antecipa a noite em pleno dia avante decifrações ditas pelas meras gotículas que em código relata: não é tempo ainda de invernada mas é bem-vinda a quase chuva inesperada dota clima diferente por estas temporadas

Novo e de odor suave, antigo de muitos aromas armazenados pelo tempo... Livros físicos são tipo frascos de perfumes. Uma estante cheia de...

Novo e de odor suave, antigo de muitos aromas armazenados pelo tempo... Livros físicos são tipo frascos de perfumes. Uma estante cheia de fragrâncias variadas. É possível sentir a história, interpretar os cheiros, embriagar-se com cada sensação da leitura. Tramas, personagens, capas, tipos gráficos, impressões, tudo se mistura na bagagem que o leitor domina com as mãos, acaricia com os olhos, mergulha com a mente e deixa penetrar-se na alma.

Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome...

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Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome da árvore simbólica do Natal. A exceção deve ser as castanholas na Rua das Castanholas, já que essas plantas parecem se adequar a qualquer espaço pelas vias da cidade.

Uma pena não encontrar as belas cerejeiras no logradouro que homenageia a planta símbolo do Japão. Decepcionante também não descobrir um lugar cheio de flores na Rua das Flores. Afora o nome poético, a foto revela um lugar comum.

Sentado do alto da pequena colina pescava vazios espalhados à sua frente. Nos espaços da tela em branco, ia preenchendo com paisagens. In...

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Sentado do alto da pequena colina pescava vazios espalhados à sua frente. Nos espaços da tela em branco, ia preenchendo com paisagens. Inicialmente, rabiscou as águas pelo terreno em movimento contínuo, uma lenta procissão com seu tom escuro, pinceladas de ouro e prata a variar o reflexos vindos do céu. Era o largo rio.

Às margens, rápidos toques deram vida a uma vegetação de características próprias, cujas raízes desciam à terra abaixo da lama e da água, conhecedora do fluxo e refluxo das marés, batizada de manguezal. Verdes variados ao longo do dia.

Sento, ajusto o corpo, explico como será o corte, o estilo, o formato. A cadeira é reclinável; confortável. É só fazer as orientações bás...

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Sento, ajusto o corpo, explico como será o corte, o estilo, o formato. A cadeira é reclinável; confortável. É só fazer as orientações básicas, fechar os olhos, relaxar e deixar o profissional das tesouras e outros instrumentos agir. Quero aproveitar o silêncio do salão, interrompido por uma leve música que toca baixinha, saída de uma caixinha estrategicamente instalada em algum esconderijo no ambiente. O estilo, algo tipo de blues/jazz/reggae. Tudo praticamente perfeito.

O barbeiro mal inicia sua missão e eu, paralelamente, quase começo uma soneca. E parto, momentaneamente, para outras paragens, outros tempos, outros corpos. Mas, o silêncio é interrompido. Existem clientes e... certos tipos de clientes.

Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente ...

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Pego o pincel à procura de uma tela. Para um pintor com dotes para lá distantes dos de um Monet, um Van Gogh ou um Dalí, repasso na mente imagens e reconstruo cenários da eterna cidade Parahyba. De repente, visito a Lagoa como uma página de um caderno de colorir. Parece-me alguma cena entre janeiro/dezembro, meio ano findo e tempo novo, sem chuvas, um espaço para serem derramadas diversas cores, cheiros e sabores.

As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às a...

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As folhas das castanholas formam um tapete de cor terral quebradiço pela calçada, pela grama. Caem no final do inverno como um outono às avessas, às vésperas da primavera. Nos troncos dessas grandes árvores não encontramos as dezenas de soldadinhos amontoados de outrora. E questiono mentalmente para onde teriam ido nos últimos meses. O que fez com que levantassem acampamento e partissem? Só o banco de concreto permanece com seu testemunho alheio e frio,

No meio da manhã as lágrimas da noite chuvosa já haviam secado na praça. O vento espiçava com força suave seus tentáculos fortes e invisív...

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No meio da manhã as lágrimas da noite chuvosa já haviam secado na praça. O vento espiçava com força suave seus tentáculos fortes e invisíveis sobre a grama, os balanços, os bancos de pedra e os galhos das mais altas árvores. No mais, era o silêncio. Uma paz ruidosa que se fazia presente em embalagens plásticas que rolavam sobre a calçada de cimento, nas folhas arrastadas aqui e acolá, no motor a impulsionar um veículo distante que se afastava cada vez mais até se perder do alcance dos ouvidos. E tão importante, a tranquilidade poderosa da voz do rádio a cantar mitologias, sertões, filosofias, pulsações. Zé Ramalho evocando deuses, mitos e sonhos delirantes e reais de Brejo do Cruz, do mundo anterior e interior em expansão.

'O mundo tem fome de amor'. Parece clichê, mas é realidade". A poetisa Milfa Valério define com maestria o que mais se preci...

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'O mundo tem fome de amor'. Parece clichê, mas é realidade". A poetisa Milfa Valério define com maestria o que mais se precisa. A necessidade de amor está a todo momento gritando nos ouvidos das pessoas, mesmo que elas não se dêem conta disso. E esse vazio que parte do coração, passa pelo estômago, atinge todas as células e a subjetividade de pensamentos humanos de todo o sempre. Sim, provavelmente, esfomeado de amor já era o Homem de Neandertal quando andava caçando com o seu estereotipado porrete aos ombros a esmagar animais/alimento e arrastá-los para sua caverna.

Nos últimos dias eu tenho me sentido olímpico, quase um deus atleta grego desgarrado, sem a imortalidade, exceto a efêmera eternidade do i...

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Nos últimos dias eu tenho me sentido olímpico, quase um deus atleta grego desgarrado, sem a imortalidade, exceto a efêmera eternidade do instante marcado na memória, do segundo mágico perdido em algum momento das décadas já vividas. Moderno e antiquado ao mesmo tempo, feito os atletas que aparecem de calções enormes em filmes preto e branco com imagens céleres e, ainda assim, ligado às ultras câmeras dos celulares da última geração já em vias de seres substituídas, pré-obsoletas em sua modernidade.

Eu sou mais um entre os 12 deuses gregos e milhares de atletas de toda a humanidade. E o motivo: eu sei sonhar. No filme mudo da mente, repriso as competições mais acirradas das corridas, saltos e jogos desde a infância. Sim, eu ajudo a construir vitórias, pois percebo que ainda sou um corredor, saltador, ginasta e jogador.

O garoto ali postado na memória é um arremessador de sonhos, sacador de desejos, marcador de sorrisos, saltador de possibilidades. Olímpico aventureiro diário, que se materializa nas disputas em ciclos de quadriênios. Ele é capaz de sorrir e chorar com as vitórias e derrotas e muito mais ainda com as histórias de cada guerreiro armado com o corpo, bolas, raquetes, arcos, lutas, pesos e sapatilhas.

Os campos olímpicos se materializam em campinhos de terra batida, quadras de piso de cimento crespo, muros feitos de blocos de tijolos que serviam de traves para se equilibrar, obstáculos em formato de muretas, pedras arremessadas como discos, dardos ou martelos.

Sopra, assim como antes, o vento no rosto e nos cabelos, que acaricia a fronte do deus mortal do garoto da esquina, dos deuses eternos do Olimpo e dos inesquecíveis atletas dos jogos apresentado hoje em telas de TVs de modelos que se ajustam a cada quatro anos ou às fotografias e filmes raros de competições esquisitas ou conhecidas.

A camisa suada, os pés descalços e a linha de chegada não tão bem definida. O pódio, esse mero detalhe ansiosamente sonhado por muitos, é só uma questão de percepção. O que conta no íntimo é ser "o mais rápido, o mais alto, o mais forte" de si mesmo. Parafraseando Mahatma Gandhi, a medalha da alegria "está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita". O que é a vitória senão o fato de se estar bem consigo próprio.

Trago notícias de uma flor. Um pequeno bilhete rabiscado numa folha frágil e multicolorida, escrito com uma caneta de cor verde, entregue ...

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Trago notícias de uma flor. Um pequeno bilhete rabiscado numa folha frágil e multicolorida, escrito com uma caneta de cor verde, entregue a mim numa quase manhã quando o Sol começava a dividir um pouco do seu calor com os corpos dos animais humanos recém despertos, enxugava as lágrimas orvalhadas dos galhos de árvores e ramos de arbustos e de outras flores, oferecia um aroma que invadia suavemente o novo dia.

Enquanto a música, ecoando ao longe de uma caixinha de som, dava o ritmo suave e pássaros assanhavam em algazarra festiva os galhos das á...

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Enquanto a música, ecoando ao longe de uma caixinha de som, dava o ritmo suave e pássaros assanhavam em algazarra festiva os galhos das árvores na praça; em fim de tarde o mar cheio sacudia batidas de tambores como rajadas de fogos de artifício e a cidade se iluminava de escuro em pequenos pontos piscantes. No horizonte, fronteira dos sonhadores e limite dos terraplantados, a chuva cerrava fileiras para banhar a noite que chegava. "No dia em que fui mais feliz" no rádio do carro, mais um lembrete da efêmera vida, que é preciso construir felicidades.

Era uma referência no canto da pracinha recentemente construída. Engraçado que flagrantemente seca, já morta, ainda era majestosa como dev...

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Era uma referência no canto da pracinha recentemente construída. Engraçado que flagrantemente seca, já morta, ainda era majestosa como deveria ter sido quando muitas folhas em tantos galhos. Deve ter abrigado muitos ninhos, servido de casa para centenas de soldadinhos, certamente foi frondosa, de muito verde, ainda mais pela posição de destaque.

Parado em busca de um transporte que pare e o leve. Inicialmente, acredita ser enviado ao futuro num ônibus com uma placa qualquer com u...

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Parado em busca de um transporte que pare e o leve. Inicialmente, acredita ser enviado ao futuro num ônibus com uma placa qualquer com um número e um nome indicativos de um destino previsível. De fato, um caminho feito em ritmo de dejá-vu, uma volta ao mesmo lugar, uma revolta ao ponto inicial. E um veículo se aproxima. Braço esticado, velocidade reduzida, embarca, senta, respira, transpira.

O voo Soltar-se as asas Espécie de levantar âncoras Ser em sustento pelas batidas Tantas, tantas repetidas Abaixo o olho mir...


O voo
Soltar-se as asas Espécie de levantar âncoras Ser em sustento pelas batidas Tantas, tantas repetidas Abaixo o olho mira, fantasia De Ícaro em voo de seda Magistral equilíbrio, penas Que a si próprio não sustenta Ao pássaro, o próprio voo inventa Obstáculos cria e desvia, cruza Dribla fiação, joga a rota Vento, equilíbrio, mágica torta

Eis que junho sorri para o inverno e esquenta o coração nordestino. As temperaturas timidamente caem na marcação do termômetro e alivia da ...

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Eis que junho sorri para o inverno e esquenta o coração nordestino. As temperaturas timidamente caem na marcação do termômetro e alivia da secura os sertões de cada alma. É mês que nunca chega só, traz com ele novos-velhos dias no calendário, momentos enamorados, santos brincantes, alegres, que saboreiam milho e até festas pagãs com fogos e fogueiras. Junino é tempo diferente, é saudade de trem antes nunca andado, é passeio pela própria mente.

Saudações para o poeta e cantador popular que traz junho. Pois é mês de passagem pelo meio do tempo, figura que pelas bandas nordestinas é dividida entre duas únicas estações explícitas: verão e inverno, terra seca e molhada, vegetação de tons marrons acinzentados e verdinho vivo ressuscitado na campina. O meio do ano é só no encontro de junho/julho, mas o sexto mês dá a sensação que a temporada já virou pela metade.

É verdade. Para o sertanejo a invernada chega ainda em janeiro com o aguaceiro tão esperado e esperançoso, mas para os litorâneos ela avisa que está vindo em maio e despenca em junho. Ou seria apenas impressão que não é feita no papel ou no tecido? Talvez sim, talvez não, pois chuva exprime lágrimas de todas as formas em gotículas de água e fica impressa na roupa molhada, no papel desbotado e na pele tocada com mais sensibilidade no período junino.

Junho, mês que tem gosto. Sabor de lembranças, de pamonha e canjica, de meninice. E vem junto o inverno, tornando o junino mês da nação Nordeste colorido de bandeirolas e balões no céu das casas, terraços, ruas e arraiais. É pôr vida em todo canto ao som dos tocadores de hinos com sanfonas, triângulos, zabumbas e pandeiros. Tempo de vestir roupa boa para seguir para a festança e esquentar o corpo na fogueirinha no terreiro ou na calçada.

Tantos junhos colecionados nas marcações do tempo, que o corpo pressente sua chegada, a alma alegra-se com trombeteio dos céus que se desarma sobre tenras terras molhadas. Mês de dengo, preguiçoso, de aconchego, deitar na rede, de cheiro perfumado, amanhecer orvalhado, friozinho encabulado.

Ser junino, é assim. Junho é rever nascimento, contentamento, fartura, assombramento, descobrimento. Reencontrar-se no meio do ano para perder-se em pensamentos. Ou seria o inverso?

A página aberta num branco em formato ofício que já não é mais palpável como em tempos idos, assim como a caneta que rabiscaria palavras...

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A página aberta num branco em formato ofício que já não é mais palpável como em tempos idos, assim como a caneta que rabiscaria palavras desconexas conectadas ao interior do ser. Em breve, apenas uma bolinha amassada de confissões desimportantes para o mundo, onde diálogos imaginados e nunca realizáveis eram montados, palavra a palavra, peça a peça, quebra-cabeça da própria mente.

Quando as ruelas já quase nem são caminhos, é impossível lembrar a última vez que certas portas e janelas foram abertas ou fechadas. Antes...

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Quando as ruelas já quase nem são caminhos, é impossível lembrar a última vez que certas portas e janelas foram abertas ou fechadas. Antes remédios irremediáveis do brilho diurno e segurança do mundo noturno, muitas delas perderam os sentidos, deixaram de proteger a si mesmas e não guardam mais que vazios de amontoados de restos e lembranças, cada vez mais distantes e raras. Por vezes e sorte, poucas se tornaram telas de artistas improváveis em grafites que trazem algo sobre vivência.

Pela grade fechada com dois cadeados e correntes vejo duas borboletas fazendo uma ronda no gramado da praça. Parecem voar aleatoriamente...

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Pela grade fechada com dois cadeados e correntes vejo duas borboletas fazendo uma ronda no gramado da praça. Parecem voar aleatoriamente, um par de surfistas naturais pela onda verdinha. Mas, na verdade, a natureza é mais que perfeita para fazer as coisas sem um propósito. E logo questiono-me em qual missão estarão as duas ex-lagartas que se metamorfosearam de seres rastejantes para espécies de vôos disformes e ao mesmo tempo brincalhões. Talvez seja encantar, feito fadas de uma manhã, e não digo apenas, porque encantar é uma arte.