Meu amigo pensou em matar de inveja o casal da Pensilvânia de quem a menina mais velha foi hóspede no transcurso de um desses programas de intercâmbio. A coisa funciona assim: você despacha a filha com visto de intercambista para os Estados Unidos, França, Inglaterra, Austrália, ou outro País onde isso exista, à escolha dela. Já ali, a garota pode estudar por 12, ou 24 meses, sob a proteção e o abrigo de uma família anfitriã, de pais temporários, a bem dizer. Em troca, ela cuidará de crianças, seus irmãos ocasionais, e ajudará nas tarefas domésticas.
Geralmente, quando se fala em invasão holandesa no Nordeste, nos remetemos sempre a Pernambuco. Porém, é inegável a participação de Potiguaras paraibanos que se aliaram aos batavos. Costuma-se minimizar a influência dos holandeses na Paraíba, pelo "curto" período de 20 anos que aqui passaram.
Estou ainda para ler "História das Lutas com os Holandeses no Brasil" de Varhagen. Ficará como leitura para o recesso forense.
A luz brilhava no céu feito a ponta de um lápis marcando uma página de azul escuro. A luminosidade fazia uma longa curva. Os olhos mal puderam perceber o rabisco do corpo celeste em deslocamento. Beleza celestial. De volta à terra e a pseudo normalidade, a visão era de uma paz tranquilizadora. Os espaços vazios entre as cidades assemelhavam-se como vácuos da loucura humana, um intervalo para apenas observar a calmaria, escutar o silêncio. Logo, as luzes artificiais ofuscarão o céu e impossibilitarão observar as infinitudes do espaço.
A deusa de róseos dedos põe cores no céu da Califórnia enquanto leio “I am” (Eu sou), de John Clare. Tristeza, solidão e o desejo de encontrar a paz são os temas desse rico poema, talvez o mais famoso de Clare, um romântico inglês do século dezenove que escreveu seus versos enquanto estava internado em um hospital psiquiátrico. As palavras pungentes me comovem e eu me deixo conduzir. Aprendi recentemente uma nova economia, a das lágrimas: entrego-as tão-somente como tributo aos que me iluminam. O mal que me fazem ou as dores do corpo não merecem receber a emoção líquida que habita os meus olhos. Evito ao máximo desperdiçá-la com autopiedade ou rancor.
K. MacKinnon
Tantas coisas me ocorrem diante da beleza agoniada dos versos escritos há mais de 150 anos. “Eu sou – mas o que eu sou ninguém sabe” e “mesmo os mais queridos, os que eu mais amei, são estranhos – mais estranhos que os demais” soam familiares a tantos humanos que anseiam por ser compreendidos. Conhecer o vasto e tortuoso território do coração alheio é ilusão que a realidade e a maturidade retiram. Não é apenas o poeta deprimido que se sente um estranho para os amados. Cá estamos nós todos carregando a solidão do ser e, à medida que envelhecemos, cada vez mais conscientes de que a riqueza dos fios entrelaçados que compõem o nosso espírito é captada superficialmente, como um novelo de muitas linhas que, visto de longe, permite identificar apenas um ajuntamento de cores e o formato redondo.
“Eu sou o autoconsumidor das minhas aflições” é um verso que gosto demasiado. Diz tanto sobre o hábito de cultivar e aprofundar as dores. Clare transita pelas flutuações da mente, expondo o tormento das sombras que surgem e desaparecem: agonias delirantes e sufocadas do que chamamos amor – esse tão ansiado sentimento que, mal se assenta à nossa mesa com seu cortejo de plumas e canções, não raro é convertido em chicote e espada. Prova máxima da nossa vocação para o paradoxo, o auto boicote ou a estupidez.
Ponho os versos mais sofridos de John Clare na conta da depressão do poeta. Assim como van Gogh e Virginia Woolf, Clare batalhava contra a própria mente. Transpôs tudo para versos impactantes (“no mar vivo dos sonhos despertos não há sentido da vida
G. Ritchie
ou alegrias”) e depositou suas esperanças em um futuro pós-morte, em que adormeceria docemente, como na infância, aconchegado nos braços de seu Deus, em cenários tecidos de sonho e jamais tocados pelas paixões humanas. Um lugar em que se deitaria, imperturbável, sentindo a grama abaixo do corpo, e tendo acima a abóbada do céu. Tal imagem me remete a outra cena criada por um escritor brilhante, Liev Tolstoi, em “Guerra e Paz”: a do príncipe Andrei caído no campo de batalha, sereno, contemplando o céu azul, pondo a existência em perspectiva, focado no que realmente importa.
Retiro da ordem e subverto o sentido de um verso para encerrar este texto: “E, ainda assim, eu sou e vivo”. Afasto as tristezas do poeta e celebro a minha própria vida, transbordando de gratidão por esse tempo curto em que experimento a alegria única de existir.
Eu sou. Eu vivo. Nas minhas veias ainda flui o sangue, meu rosto se ruboriza de prazer ou de vergonha, carrego experiências únicas. Eu sou um mundo semidesconhecido, um planeta inteiro de sonhos e tropeços, que gira como bailarino em uma galáxia imensa. Ao meu redor há tantos vizinhos. Neles percebo a vida pontuada por delícias, aflições e espantos. Não disfarço o encantamento. Nada pode ser mais fascinante que estar aqui, agora, testemunhando o teatro cósmico, pleno de som, fúria e flertes com a felicidade.
Propondo-se a uma arqueologia da noite, Helder nos conduz poeticamente a um mergulho no escuro de que nos constituímos e que é a própria luminosidade em sua força mais intensa. A noite remete à tragicidade própria da existência, à questão do nada, do abismo no qual estamos suspensos, como finitos que somos, mas do qual fugimos, perdidos na agitação incessante e superficial da vida pública, impessoal.
Toda carreira exige, é evidente, seja ela qual for, uma série de predicados daquele que pretenda exercê-la, para dar cabal desempenho às suas obrigações. Mas a medicina é, sem a menor dúvida, a que reclama, mais do que qualquer outra, maior soma de predicados específicos para bem desempenhá-la. Além disso, o seu exercício implica em dedicação plena, abnegação, desprendimento e espírito de sacrifício. Ao demais, deverá ainda o médico possuir sólidos conhecimentos básicos, técnica apurada, apego à investigação científica e amor ao próximo.
No livro O futuro do ódio (2008), o psiquiatra e psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun (1945) analisa o embrutecimento humano e o desejo ao crime. Sobre o tema, o autor afirma:
“O ódio está lá, na vida cotidiana, nas cóleras, na violência, na agressividade, claro, mas também nos enganos,
Na redação de A União, onde repousei minhas esperanças de repórter, Carlos Aranha se revelou guru para jovens, dando-nos o prazer de ouvir sua conversa. Alegrávamos com o que saia de sua boca. Alguns não eram do meio, mas outros aspiravam seguir a profissão de jornalista.
Em meio à turbulência e caos de uma guerra, é necessário lembrar daquilo que muitas vezes passa despercebido: as famílias que estão por trás dos "lados" envolvidos nesse conflito. É fácil olhar para um campo de batalha e ver apenas os vencedores e perdedores, mas a realidade é muito mais complexa.
Josué Montello dizia que escrever para jornal exige sobretudo disciplina. Não apenas a disciplina de se sentar semanalmente diante do computador e produzir o texto, mas o exercício diário de observar os fatos, as pessoas, e atentar no ritmo tumultuário da vida. Pois jornal é instante, urgência, celebração contraditória do hoje. O mesmo pode se dizer dos blogs e portais coletivos cujos colaboradores (a grande maioria no exercício da crônica) prolongam e às vezes revigoram essa vertente jornalística.
Com o passar do tempo construímos nossos lares e relações humanas, temperando com expressões populares baseadas em acontecimentos curiosos, que carregam muita história e verdades. Nosso folclore mostrou caminhos que levaram à literatura e modificou o comportamento do povo, desenhando estradas baseadas em vidas doloridas e marcantes, ao ponto de expressões curiosas se tornarem de uso muito frequente.
A filosofia de Leibniz é de discussão problemática, uma vez que grande parte de sua obra é fragmentária, faltando-lhe, muitas vezes, o devido cuidado de um processo de revisão, que poderia eliminar do corpo de sua obra certas inconsistências e incongruências. De outra banda, Leibniz aceita a lógica aristotélica de sujeito-predicado, o que, de certo modo, confundiu, para o público em geral, o sentido de seus estudos sobre a lógica matemática, tendo boa parte de sua obra produzida nesse campo vindo à tona somente no início do século XX. Uma de suas concepções
Neste 12 de outubro de 2023 o escritor Fernando Sabino, se vivo fosse, estaria completando cem anos de nascimento. Em condições normais, imagino que a data talvez viesse a ser não apenas lembrada mas também celebrada nos meios culturais brasileiros, dada a importância do mineiro nas letras nacionais. Acontece que, como bem sabem alguns, as condições desse centenário não são propriamente “normais”, dada a catástrofe literária que se abateu sobre o autor com a publicação, em 1991, de seu livro Zélia,
uma paixão (Editora Record, Rio de Janeiro, 1991), cujo imaginoso subtítulo era “Romance da figura mais surpreendente de nossa vida política nos últimos tempos”. Essa figura, que na verdade não tinha nem tem nada de romanesca, é a ex-ministra da Economia no governo de Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello, de triste memória, ressalte-se.
Coisa estranha é o amor
Quando te falava que teu corpo
não era o mais importante
que nossos sentimentos eram mais valiosos
Não acreditavas.
Querias ser forte, jovem e viril
Ainda não entendias de amor platônico
Do amor que existe, que é correspondido
mas que o corpo pode ser irrelevante.
A herança é a maneira mais pertinente de formar uma biblioteca (Walter Benjamin, Desempacotando minha biblioteca)
À pergunta que alguém me fez recentemente diante das minhas estantes cheias de livros - A senhora já leu todos esses livros? - dei a seguinte resposta: li muitos desses livros para escrever textos, outros fiz apenas a leitura de determinados capítulos e há aqueles que permanecem fechados aguardando a hora da leitura. Foi essa pergunta que me conduziu até ao ensaio de Walter Benjamin, Desempacotando minha biblioteca. Um discurso sobre o colecionador, inserido no livro Rua de mão única. Ele conta que está desempacotando os livros de sua biblioteca e afloram muitos pensamentos e lembranças.
No prédio do Tribunal de Justiça da Paraíba, até algumas décadas atrás — segundo me contou certa vez o historiador Humberto Mello —, havia um buraco provocado por um dos tiros desferidos contra Sady Castor.
Em 22 de setembro de 2023, a tragédia de amor de Ágaba de Medeiros, normalista de 16 anos, e Sady Castor, estudante do Lyceu Parahybano, morto aos 23 anos, completou 100 anos. No dia 22 de setembro de 1923, Sady foi assassinado na atual Praça Joao Pessoa, onde estudantes do Lyceu Parahybano e da Escola Normal se encontravam. O Lyceu funcionava no prédio que posteriormente serviu à Faculdade de Direito da UFPB; a Escola Normal é o atual edifício do TJ da Paraíba, no centro histórico da capital do estado.