Na redação de A União, onde repousei minhas esperanças de repórter, Carlos Aranha se revelou guru para jovens, dando-nos o prazer de ouvir sua conversa. Alegrávamos com o que saia de sua boca. Alguns não eram do meio, mas outros aspiravam seguir a profissão de jornalista.
Sua vida de jornalista foi fecunda. Como editor de Cultura de jornais paraibanos, melhorou o conteúdo e inovou a diagramação para deixar aprazível o visual e facilitar a leitura. Umbilicalmente ligado às artes, tornou-se amigo de luminares da música, de compositores ou intérpretes da estirpe de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, e tantos outros, para os quais organizava shows na Paraíba. Talvez por isso formávamos roda em torno de sua mesa na redação para ouvir falar deles.
No ciclo das agitações da juventude diante da opressão motivada pelo regime que governava o País, associou-se aos movimentos de protestos estudantis, e depois, recolhido pelo rodo das manifestações culturais que se espalharam, bebeu na fonte do Tropicalismo, produziu Poesia e Músicas de protesto. Um rebelde que procurava o tempo perdido, diferente de Proust, colheu sementes nas filosofias modernas, nas vivências esotéricas e buscava luzes cósmicas.
Aufusto dos Anjos TCDelfos
Seu contemporâneo Petrônio Souto assevera que nos anos de 1960 Aranha simpatizou pela Juventude Estudantil Cristã. Que sempre buscou a infinitude de Deus. Para expor as ideias geradas a partir deste grupo religioso, escolheu o Jornalismo e as Artes como espaços onde acalentou a alma.
Não se enfiou na Igreja, enquanto instituição que se reúne para orações e reflexões espirituais. Na adolescência começou a dialogar com a Bíblia, com São Francisco e a Mãe de Jesus. Na juventude simpatizou com o socialismo cristão apontado pelas encíclicas sociais, de onde tirou lições para formar a base de seu comportamento de cidadão e o recheio para seu pensamento filosófico. Estava sempre afinado com o pensamento dos filósofos da era moderna.
Carlos Aranha Acervo pessoal
Muito me admirava o modo ágil como produzia seus textos, mesmo com o barulho das máquinas de datilografia, conversava enquanto digitava. Algo incomum, que muito me admirava.
Homem de gestos sensatos, nunca presenciei em Aranha algo desabonador. Muito aprendi com ele nos espaços das redações onde trabalhamos em diversas ocasiões, até chegarmos à Academia Paraibana de Letras, primeiro ele e depois eu, para partilhamos os mesmos sonhos. Poeta inquieto, sem aparentar rebeldia agressiva, sempre revelou as dores da alma, pois realizou a longa viagem espiritual na poesia.
Olhando para este homem que nunca alimentou maldade, sempre bondoso e sincero, meu pensar se volta à redação de A União, em 1979. Durante esse tempo não registrei aspereza, mas brandura no falar. Nem malquerença.
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No limiar da velhice, olho para este poeta que se fez imortal, quando mais precisa de seus amigos, estendo as mãos para recolher no abraço, tendo na mente o slogan “A Ideia é outra”, de sua campanha à Associação Paraibana de Imprensa.