Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulh...

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Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulheres. Solidão feminina. Construção de identidades e problemas de gênero. As solteiras, as casadas, as separadas, as viúvas e todas, ou quase todas, as suas circunstâncias. Vida sexual, conquistas e tabus enfrentados. Meninas x Meninos! Menstruação e menopausa, e suas curvas de cólicas e insônias.

Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelo...

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Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelos fundamentos e segredos que os cristais do seu ensaio traziam à rudeza de minha percepção , ponho-me agora a correr atrás de Chesterton. Impressionou-me a veemência da confissão. Como poderei bicar esse escritor e pensador de tamanha influência?

Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e corre...

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Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e correr para conseguir um bom lugar, torcendo para não sentar desavisadamente em um chiclete. Ah! Como era bom um cineminha de domingo nos antigos cinemas de João Pessoa (não tão antigos como os pioneiros Metrópole, Santo Antônio ou Brasil). Cito especialmente Municipal e Plaza. Um programa com cheiro de adolescência.

o argueiro haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. ...

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o argueiro
haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. sem fórmula
não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às vezes dou-lhe ré, mas ela sempre me escapa). aos sábados e domingos deixo-me ficar em ponto morto diante dessas fotos já sem cor: paisagens vistas de um retrovisor? circo mambembe
o drama projeta-se além do palco: hoje encenam a paixão de cristo, amanhã conduzem a cruz do mastro. rios, cidades, poetas À Moema Selma D’Andrea
o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sena, não desviam o curso do poema. o poema, nenhum rio ou cidade o fazem. só os poetas, à margem do lápis: caniço pensante na maré vazante da linguagem. o preto cosme, pintor de paredes
o preto cosme caiava como quem dispara tiros a esmo ou como quem bêbado erra o prumo e salpica-se de cal estrela-se de cal caiando-se a si mesmo qual fosse um muro branco de susto homiziando um preto seu isidoro
seu Isidoro era eletricista e a sua barba hirsuta hirta era um rolo de fios desencapados soltando faíscas seu isidoro era uma pilha um surto um curto um longo circuito atritando-se com a vida

Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Franc...

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Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Francesa de Letras, biógrafo e músico, o francês Romain Rolland ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1915. Admirado e citado por Gramsci, Herman Hesse e Freud, com quem se correspondia, foi autor de quase 100 livros, entre romances, dramas, novelas e biografias como as de Tolstoi, Hugo Wolf, Beethoven, Haendel, Michelângelo, ensaios sobre Rousseau, Swami Vivekananda,
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Empédocles, Danton e robustas coletâneas em torno da literatura operística e musical.

Romain Rolland era grande apaixonado e conhecedor de música, arte que lhe provocava transcendência mística. Defendia a religiosidade como “sentimento oceânico”, expressão forjada em carta a Freud, com quem costumava debater sobre os transes extáticos relacionados com a “sensação de eternidade, de algo ilimitado, infinito, um vínculo indissolúvel com o universo”.

Rolland identificava este “sentimento oceânico” como fonte de energia espiritual que permeia todas as religiões, experimentando-o fervorosamente na música.

Quando o compositor alemão Richard Strauss (Baviera, 1864-1949), conhecido como o “Poeta Sinfônico” pela beleza de seus poemas tonais, estreou “Uma vida de herói”, em Frankfurt, no ano de 1899, Romain Rolland, amigo que estava presente, relatou:

“Vejo pessoas a tremer e quase se levantam em determinadas passagens. No fim, durante a ovação e a entrega de flores, soam os trompetes e as mulheres acenam os seus lenços”.

Que qualidades teria uma música para causar reações como esta, não apenas nas plateias, mas principalmente em alguém como Romain Rolland? Sem dúvida, sobretudo, a beleza!

Richard Strauss maravilhou o mundo com 10 magníficos poemas sinfônicos, forma musical caracterizada por aludir a  enredos vários, como lendas, astronomia, mitologia, sátiras, tragédias, obras de arte, paisagens, povos, nações, romances, poesia.
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Alguns se classificam como música descritiva ou programática, e diferem da chamada música absoluta, pura, sem uma intenção premeditada. Ainda que ambas sejam subjetivamente capazes de sugerir e provocar emoções tão variadas quanto criativas.

A relação entre a música e outras formas de arte é muito antiga. O balé reúne enredo, coreografia (dança), cenário e música orquestral. A ópera, peça expressivamente ainda mais rica, une literatura (libreto), dança, arte dramática (teatro), música sinfônica, canto lírico e cenografia. Há outros exemplos de ligação entre literatura, pintura, belezas e fenômenos da natureza que se intensificaram, do período romântico em diante, por compositores que quiseram narrar histórias, descrever paisagens, falar de um quadro, transformar imagens e acontecimentos reais ou imaginários em música. Peças como Les Boréades (tragédia lírica de Rameau), As quatro estações (Vivaldi), Amor em Bath (Haendel), A Pastoral (Beethoven), Sinfonia do Novo Mundo (Dvorak), Minha terra (Smetana), Enigma (Elgar), o Quebra Nozes (Tchaikovsky), grandiosas sinfonias de Mahler, Shostakovich, Sibelius, Bruckner e Scriabin são admiráveis transcrições capazes de refletir a riqueza e o poder da imaginação e do sentimento, íntimo ou cósmico.

No poema sinfônico, o caráter descritivo se notabiliza ao detalhar com mais unidade e riqueza de elementos o assunto que aborda. Há, entretanto, poemas cujas narrativas são fruto do imaginário pessoal do compositor, como “Uma vida de herói”, de Richard Strauss, que extasiou plateias do mundo ocidental e pessoas como Romain Rolland.

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De uma originalidade ímpar, construído em caráter audaciosamente moderno, sem se afastar da essência romântica, este poema eleva a música em primeiro plano e restringe a descrição narrativa a importância secundária. A história se resume ao perfil de um “herói”, personagem intensamente presente em inúmeras peças da literatura e dramaturgia clássicas antigas. Mas, neste caso, o protagonista é inédito, imaginado pelo próprio compositor, representando mais uma personalidade do que um personagem.

Para descrevê-lo, Strauss dividiu “Uma vida de herói” em seis partes:

I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Na primeira, a figura central é emoldurada com traços completos do espírito heróico em enérgica construção musical que evoca suas virtudes e características mais marcantes da entidade a ser narrada .


E a música assim desfila pelas nuances da personalidade do herói entre ternas, gloriosas e agitadas passagens em torno do tema que se reapresenta sempre destemido e conclui-se com merecida vivacidade.

Na seção seguinte são mencionados os adversários do herói. Os invejosos, falsos, os rivais e obstáculos por eles criados simulam-se com diálogos irrequietos, entre sopros e tubas, sarcasmo e ironia nos contrastes jocosos de graves e agudos. Há quem suponha que Strauss também se refere aos críticos de arte maldosos que dificultam a carreira dos artistas. São considerações que o deixam pesaroso como se ouve no trecho a seguir . Em meio a tudo, o tema heroico inicial aparece constantemente ao fundo, nos baixos e cellos, infundindo respeito e reiterando sua soberana preponderância.

Na terceira parte, surge a figura da companheira que se introduz com a devida importância em sua vida. As nuances da relação soam, a princípio conflitantes, como acontece entre casais, com o violino representando o ente feminino, sutil, às vezes irritante, provocativo, dialogando com o companheiro
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na voz dos metais com cordas, em tons bem mais graves .

A conversa prossegue oscilando entre divergências e bom entendimento, mesclada com pitadas afetuosas que também revelam momentos de doçura da companheira. Embora logo se “desentendam” como se ouve no agitado temperamento feminino sempre ponderado pelas respostas graves e compreensivas do herói nas cordas e metais . Alguns amigos de Strauss identificaram nos temperos e destemperos femininos uma referência à própria esposa.

Nesta parte dedicada à companheira, assim como em outras, o violino é bem valorizado com instigantes passagens de complexidade virtuosística e algumas dissonâncias, em plena liberdade tonal. Os solos mais extensos podem até ser interpretados como uma verdadeira cadência .

Ao fim da exposição deste rico e intenso fraseado entre o herói e sua companheira, é o amor que prepondera como esteio importante para os desafios e conquistas de sua trajetória e se consagra com incrível beleza e paixão .

O colóquio assume ares de confidências amorosas e soam como declarações de afetuoso lirismo enunciadas no oboés, clarinetes, trompas, imantados na harmonia das cordas em uníssono . Curiosamente, “os adversários do herói” (da parte 2) “beliscam” a cena final ao se concluir em absoluto clima de paz .

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O leitmotiv, expressão atribuída ao elemento, tema, frase que se repete ao longo de uma peça sinfônica, faz-se presente nos poemas como característica da forma. Tal como na literatura, é traço muito constante no poema sinfônico. As reaparições conferem unidade ao tecido musical e moldam a personalidade do romance. Este modelo de recorrência temática muito usado por Wagner e outros compositores de ópera é inserido com maestria, nos instantes propícios mantendo os elos entre as diversas abordagens da narrativa. Em Uma vida de herói, o leitmotiv ganha destaque maior, porque além de variado se emula por todas as seções, alternando as matizes que as distinguem assiduamente, ao longo de cada fragmento, sobretudo no arremate. Este artifício oferece colorido especial ao poema, mantendo os assuntos não apenas lembrados permanentemente, mas integrando-os em “hibrida” homogeneidade.

O ápice orquestral se nota obviamente na ilustração dos campos de batalha do herói (4ª parte), que no enredo se referem às lutas por ideais e causas nobres. Os embates são inicialmente anunciados pelos metais distantes do palco, que se mesclam com a reexibição do tema principal, com relevância extraordinária neste borbulhante trecho.
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A frase exibe-se repetidamente com matizes e timbres diversos, ora fragmentada, ora inteira, com a imagem do herói surgindo em palras contrapontísticas artisticamente bem entrosadas .

Agora a atmosfera invoca o personagem a enfrentar o combate. Toda a orquestra conclama os cenários de luta, com ritmos freneticamente marciais, permeados por pequenos excertos dos temas de partes anteriores .

O espetáculo se intensifica para cumes de sonoridade feérica condizente com o panorama de duelos e contendas, ao som de tiros em uma pirotecnia de percussões poucas vezes vista no mundo sinfônico .

A densidade sonora se espirala em hemiciclos e culmina apoteoticamente com a mais esfuziante aparição do tema protagonista que descerra as cortinas do cenário de batalhas .

Sem intervalo, o quinto movimento começa por enunciar as conquistas de paz que advêm dos desafios destes embates, estrondosamente encenados. Desfilam sequenciados e cravados como emblemas apregoados pelos tímpanos em um mural de vitórias.

Um interlúdio súbito , inquieto e agitado separa o clima bucólico que se instaura pelas harpas, seguidas de suaves e poéticos fraseados melódicos nos sopros e cordas a se entrelaçarem, fazendo emergir sentimentos de consciência serenamente tranquila pelo dever cumprido em suas obras de paz .

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A exposição dos feitos heróicos se conclui com solos mais extensos, ainda com ares de elegia, e se conecta imediatamente à última parte.

Eis de volta o suspense, agora mais intimidador. É chegada a hora de, após o dever cumprido em uma vida agitada e plena de realizações, retirar-se de cena. A volta do interlúdio da seção anterior pressagia o que acontecerá e a angústia da fatalidade se estampa perante a iminente despedida .

Mas a resignação sobrepõe-se e a calma se instala nos solos crepusculares do corne inglês, que se revezam com cordas que anunciam a aurora grandiosamente sublimada. É o adeus de um herói resignado e convicto dos feitos exitosos da trajetória terrena. Silencia a orquestra e ouve-se um dos momentos de maior transcendência lírica na obra de Richard Strauss. O herói - que para muitos é auto-retratado pelo compositor - despede-se do mundo emocionado pela visão retrospectiva de uma existência proveitosa e profícua .

Para concluir o poema, após suspense introdutório do mesmo interlúdio já exibido nesta e na seção anterior, ora mais trágico e intenso, estabelece-se o enternecedor diálogo final. Como se o herói conversasse consigo, com suas memórias, com sua amada,
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com sua vida, na fusão de seu eu com o passado, presente e o futuro que se descortina inexorável.

As falas se abrem com o violino suave e romântico, quiçá referindo-se ao amor que desfrutou com sua esposa, respondido pela trompa, no mesmo tom, reiterada docemente por fagotes, oboés e clarinetes em colóquio comovente que progride se alternando entre os três timbres .

Chega, então, o epílogo, possivelmente uma das mais encantadoras conversas musicais da era romântica. Trompa e violino se comunicam divinamente a confessar toda a poesia imaginada pelo autor para descrever o magnífico trabalho. Entre eles não estão somente o herói e a companheira, como dantes o fizeram, mas a existência completa de um personagem ricamente imaginado .

Por fim, a consagração divinizada no extasiante desfecho ao estilo de Assim falou Zaratustra , outro grande poema sinfônico deste compositor que fez o gênero atingir o ponto culminante, glorificando-o como modelo mais requintado de narrativa musical, e a si próprio igualmente como um herói. Um herói capaz de nos fazer navegar em sua música com “sentimento oceânico”, a “sensação de eternidade” tão bem definidos por Romain Rolland como “vínculo indissolúvel com o universo”.

Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o inst...

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Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o instinto de perpetuação das espécies, o que as faz buscar um companheiro.

Quando uma pessoa é tímida, tem dificuldade de relacionamento, às vezes recorre a especialistas. Outrora existiam, nos jornais, os tais Correios Sentimentais, colunas onde essas pessoas encontravam correspondentes para se comunicar. Muitas vezes terminavam em casamento. Mas às vezes corria o risco de dar errado.

O mundo evoluiu, e os Correios Sentimentais deram lugar ao... FÊICIBÚQUI! Sim, o que vós modernosos hoje chamais de face book. Mas que ainda conserva os mesmos riscos do namoro à distância. Como é o caso que veremos adiante.


Alicia Patrícia era uma belíssima jovem moradora de Brusque, em Santa Catarina. Filha de alemão com cabocla era um morenaço nos seus 1,76 de altura, olhos verdes profundos, corpo bem esculpido. Um manequim!

Mas não conseguia casamento. E por um simples detalhe: tinha um estúpido mau-hálito, que ninguém suportava. Nem seus pais! Então resolveu freqüentar sítios de relacionamento no fêicibúqui.

Em pouco tempo aprofundou sua correspondência com um rapaz de Teresina, no Piauí, chamado Cauê Cauan, que demonstrou muuuito interesse por ela. Passavam horas trocando palavras no uotizápi, namorando pelo celular.

Acontece que Cauan era uma figura que chamava a atenção: louro de 1,86 de altura, olhos azuis cristalinos, presença que não passava despercebida. Um outdoor! Mas não conseguia casamento, pois nenhuma moça suportava o seu... CHULÉ!

Para seu desgosto até a sua mãe só conversava com ele tampando o nariz com os dois dedos... Tudo isso só fazia piorar o complexo do bichinho...

Sem ter a menor idéia dessas idiossincrasias recíprocas, o namoro dos dois evoluiu pela internet. Trocaram fotografias, emojis e correspondências, onde compartilhavam seus gostos por hábitos, leitura (mentiras dos dois, pois nenhum lê!), pratos prediletos, novelas preferidas, heróis da TV. Ela se descreveu conforme a fotografia que enviou para ele. E, naturalmente, omitiu o mau-hálito.

Ele, por sua vez, respondia a tudo o que ela indagava, e também se descreveu conforme a fotografia que lhe enviou. E, naturalmente, omitiu o chulé!

A correspondência evoluiu para romance. E o romance despejou no mar do casamento! Casaram-se por correspondência. Marcaram um encontro no hotel Quatro Rodas, de Olinda.

Para ir encontrar-se com ele, ela fez gargarejo com Periogard, e encheu a boca com vários tabletes de chiclete: hortelã, canela, framboesa, menta, baunilha, café... tutti-frutti!

Para ir ao encontro dela, ele recorreu a uma daquelas botinas de caipira, com um rabicho atrás e que, depois de fechadas, não sai nem um arzinho de dentro. Calçou meias grossas, embebidas no perfume Alfazema, da Garrão.

Encontraram-se no saguão do hotel, trocaram beijinhos tímidos, e subiram para o apartamento. Ela sempre mascando quase um quilo de chicletes e procurando falar pouco. Ele confiando na hermeticidade das botinas.

O apartamento, por ter sido reservado para uma lua de mel, estava sugestivamente decorado, perfumado com uma suave fragrância de água-de-colônia, e à meia-luz.

Chegados ao quarto ela foi direto para o banheiro tomar uma ducha e vestir uma camisola. Sozinha, sentindo-se mais confiante, pensou:

“Ele agora é meu marido, não tenho mais o que esconder!” E jogou o bolo de chicletes na privada e deu descarga.

Esperando no quarto por ela, sentado na cama king-size, ele pensou:

“Ela agora é a minha esposa, e eu não tenho mais o que esconder!” E jogou as meias na lixeira. Tirou a roupa e deitou-se na cama. No friozinho gostoso do ar-condicionado, à meia-luz... logo, logo ele adormeceu.

Acordou-se com ela deitada ao seu lado, colada em seu corpo, ciciando no seu ouvido:

“Meu bem, eu tenho um segredo para te contar...”

Ele rápido respondeu, saltando da cama:

“JÁ SEI! VOCÊ COMEU A MINHA MEIA!”

Implicavam que a moradia era mal-assombrada. Fora de um espertalhão. Uns molecotes da rua resolveram pular uma das janelas semiabertas e d...

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Implicavam que a moradia era mal-assombrada. Fora de um espertalhão. Uns molecotes da rua resolveram pular uma das janelas semiabertas e de lá saíram aos berros, falando sobre um cachorro preto e um careca. O agiota era mesmo parco de cabelos. Tanto que, quando desejava negar o empréstimo, sacrificava os ralos fios, alisando-os, e rosnando, quase a ladrar, antes de enxotar o pedinte do empréstimo.

Sentimentos tão díspares... Às vezes, a lágrima trava. Choro mais por dentro que por fora. Mas não sufoco o medo. Mantenho acesa a espera...

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Sentimentos tão díspares... Às vezes, a lágrima trava. Choro mais por dentro que por fora. Mas não sufoco o medo. Mantenho acesa a esperança. Da parede lateral do muro vejo que há sempre o crepuscular da vida!

Minha sede não é qualquer copo d'água que mata Essa sede é uma sede que é sede do próprio mar Essa sede é uma sede que só se desata Se...

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Minha sede não é qualquer copo d'água que mata Essa sede é uma sede que é sede do próprio mar Essa sede é uma sede que só se desata Se minha língua passeia sobre a pele bruta da areia Sonho colher a flor da maré cheia vasta
Caetano Veloso & Waly Salomão, Talismã

Octacílio de Queiroz cultivava e sabia muitas vezes mais do que pôde ou conseguiu escrever. Tive a fortuna do seu convívio de homem exempl...

Octacílio de Queiroz cultivava e sabia muitas vezes mais do que pôde ou conseguiu escrever. Tive a fortuna do seu convívio de homem exemplar e intelectual ativista, influente e participativo a partir de sua passagem pela direção de A União, no governo de Pedro Gondim. Gritava ordenando ou simplesmente conversando, até mesmo lendo e escrevendo. Não se empolgava calado. Deu um urro sozinho no gabinete, corri a ver o que era e era ele lendo Gilberto Amado a descrever a passagem de Carlos Dias Fernandes, de tamanco, chapéu de abas largas, uma sacola de compras na mão, atravessando airoso a calçada do Café Lafaiete no Recife. Não sabia segurar as emoções. Nem transigir nos seus códigos ou princípios. Fiquei lhe devendo até hoje, passados sessenta anos.

Céu de bombas Não interrompam o cotidiano das serpentes. Elas não buscam no homem seu veneno. Jorge Elias Neto Por que choras por mim ...

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Céu de bombas
Não interrompam o cotidiano das serpentes. Elas não buscam no homem seu veneno. Jorge Elias Neto
Por que choras por mim meu pai? Cumpri com o que me coube nessa Gaza de feras. Em cada criança morta, sacrificada, um objetivo insano.

Para admitir a influência dos Espíritos é necessário aceitar a ideia de que há Espíritos e que estes sobrevivem à morte do corpo físico...

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Para admitir a influência dos Espíritos é necessário aceitar a ideia de que há Espíritos e que estes sobrevivem à morte do corpo físico.

A dúvida relativa à existência dos Espíritos tem como causa principal a ignorância acerca da sua verdadeira natureza. Seja qual for a ideia que se faça dos Espíritos, a crença neles necessariamente se baseia na existência de um princípio inteligente fora da matéria.

Eu estava deixando a pequena Santa Luzia, onde nasci e me criei, onde podia desmaiar na praça sem medo (pois alguém iria me deixar em casa...

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Eu estava deixando a pequena Santa Luzia, onde nasci e me criei, onde podia desmaiar na praça sem medo (pois alguém iria me deixar em casa), a cidade que eu podia levar no bolso, para ir morar em Campina Grande, uma cidade grande, onde qualquer desconhecido poderia me botar no bolso a adolescidade.

A moda das comemorações de aniversários natalícios, segundo o livro The Lore of Birthdays, dos antropólogos americanos Ralph e Adelin Lint...

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A moda das comemorações de aniversários natalícios, segundo o livro The Lore of Birthdays, dos antropólogos americanos Ralph e Adelin Linton, vem do Egito e da Grécia, por volta de 3000 a.C.

O Filósofo está apaixonado. Demorou muito para admitir isso, mas agora não pode mais se enganar. Seria desconhecer as evidências, menospre...

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O Filósofo está apaixonado. Demorou muito para admitir isso, mas agora não pode mais se enganar. Seria desconhecer as evidências, menosprezar o alcance das suas faculdades cognitivas. Depois de longas prospecções interiores, reconhece que está amando. Não permitiria, contudo, que os arroubos da paixão lhe turvassem o entendimento. Afinal era um filósofo, um homem acostumado a meditar sobre as grandes questões do universo.

Início deste ano, recebi com muita desconfiança os votos de “Feliz Ano Novo”, mesmo vindo de pessoas de minha benquerença. Não precisava...

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Início deste ano, recebi com muita desconfiança os votos de “Feliz Ano Novo”, mesmo vindo de pessoas de minha benquerença. Não precisava ser nenhum adivinho, usar bola de cristal ou jogar sobre a mesa cartas de tarô. Estava evidente que o ano ia ser difícil. E está sendo.

Há cem anos, o paraibano Epitácio Pessoa , que presidiu o Brasil no período 1919-1922, decidiu dar ao seu estado natal, sempre pobre e car...

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Há cem anos, o paraibano Epitácio Pessoa, que presidiu o Brasil no período 1919-1922, decidiu dar ao seu estado natal, sempre pobre e carente de grandes investimentos públicos federais, uma obra capaz de alavancar seu desenvolvimento econômico, libertando-o, pelo menos em parte, do eterno problema das secas periódicas, que inviabilizavam a sustentabilidade de nossa atrasada economia fortemente baseada em rústicas agricultura e pecuária.

Há mais de trinta anos Firmo Justino, jornalista que entrou para a Magistratura da Paraíba, retornando às paisagens do Convento São Franc...

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Há mais de trinta anos Firmo Justino, jornalista que entrou para a Magistratura da Paraíba, retornando às paisagens do Convento São Francisco, numa crônica antológica, disse que foi satisfatório passear pelo maravilhoso conjunto arquitetônico barroco, e convidou a todos para visitar aquele lugar. Mesmo que fosse uma única vez, narrava, quem olhasse para as velhas paredes carregadas de histórias, as imponentes capelas ornamentadas com belas pinturas e imagens, como também observasse as peças sacras de incomum beleza, além do horto que exala o perfume silvestre, dali sairia com o desejo de retornar.

Na época da visita do meu amigo, o convento tinha sido restaurado, estava ainda mais imponente e carregava, como ainda mantém, o encantamento do magnífico conjunto arquitetônico barroco. Quem passear por seus longos corredores de largas paredes, pisar no assoalho de madeira dura e olhar as peças ornamentais que a mão humana moldou, silencia e escuta a quietude do lugar.

Se eu fosse rei ou imperador, assim como nas estórias que ouvia no tempo de criança no nosso sítio, em Serraria, recomendaria aos professores a levar seus alunos a este maravilhoso local, onde estão guardadas muitas histórias que ajudam a entender o passado da Paraíba, porque falam como um livro aberto.

Para amar o lugar onde nascemos, é por demais importante conhecer sua história, sabiamente profetizava Nathanael Alves.

Estive pela primeira vez no São Francisco, em 1979. Foi quando, por inspiração de Dom José Maria Pires, o poeta Waldemar José Solha e o maestro José Kaplan montaram a “Cantata pra Alagamar”, apresentada numa noite que me deixou abismado pela aclamação ao espetáculo e pela imponência do conjunto arquitetônico onde o evento aconteceu.

Então, após as revelações de Firmo Justino, levei minha filha Angélica para conhecer aquela inconfundível obra de arte. Grande foi sua admiração, apesar dos nove anos de idade. Pouco indagava, mas o semblante e os olhos arregalados davam pistas de seu encantamento ao contemplar detalhes dos corredores, as grossas paredes e as imagens pintadas no teto das capelas.

Todas as vezes que volto àquele lugar, vagueio na imaginação colhendo remotas imagens e histórias que os livros abordam, desde a fixação das pedras sobre pedras, conduzidas por muque humano até chegar a imponente edificação que conhecemos. Entre as paredes, o silêncio de Deus se manifesta em nós.

Em cada recanto observava-se misterioso silêncio. O vento entrando pelos janelões, espalhando-se pelos móveis antigos, caminha ao nosso lado durante o passeio pelas celas, extensos corredores e o horto florestal recebe a todos com seu frescor.

Meu amigo tinha razão quando convidou-nos a visitar o convento franciscano, e olhar por dentro a fabulosa obra de arte que eles deixaram.

O prédio com a torre apontando para o céu, o cruzeiro que nos recebe à entrada e seus arredores, tudo espalham emoções. Essas imagens carregamos pelo resto da vida.

- Não é uma beleza?...

A menina respondeu com acena da cabeça, e curtas palavras que tento relembrar.

Quase três décadas depois, a filha conduziu meu neto para igual visita, quando a pandemia nem dava sinais.

O convento franciscano continua com seus mistérios, criando emoções aos que ali se dirigem, mesmo em tenra idade.

Discordar é um ato que exige conhecimento de causa, mas também respeito ao interlocutor. Não transformar uma simples discussão num conflit...

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Discordar é um ato que exige conhecimento de causa, mas também respeito ao interlocutor. Não transformar uma simples discussão num conflito que acabe em ofensas ou insultos. Discordar é divergir, ter opinião contrária. Mas é necessário que estejamos preparados para oferecer argumentos inteligentes na contestação. Assim enriquecemos o processo comunicativo e preservamos as relações pessoais. Não nos deixarmos jamais ser levados pelo emocional.

Para os estudos em filosofia, uma definição básica para abstração é: operação intelectual em que um objeto de reflexão é isolado de fato...

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Para os estudos em filosofia, uma definição básica para abstração é: operação intelectual em que um objeto de reflexão é isolado de fatores que comumente lhe estão relacionados na realidade. Já para os estudos em psicologia, e aqui vou me restringir à psicologia cognitiva, abstração está relacionada ao pensamento hipotético-dedutivo que, conforme a teoria elaborada por Piaget sobre o desenvolvimento humano, é um estágio do desenvolvimento do raciocínio na criança que se alcança por volta da entrada na adolescência e se amplia daí por diante.
Dito com outras palavras, a abstração é um estágio avançado do pensamento que se mostra quando o adolescente, diferentemente da criança, já não precisa mais da referência ao concreto para o entendimento de um conceito e passa também a criar hipóteses para tentar explicar e sanar problemas.