Nesse dia 26 de outubro próximo passado, foi comemorado o Dia do Dentista no Brasil. Aqui, a sua existência vem desde os primórdios da des...
Dia do Dentista
Era uma caixinha mágica. Tinha muitos poderes: Falar, cantar, sorrir, emocionar... Isso era feito em muitos idiomas. Das minhas primeiras...
Caixinha mágica
"Mãe, só tem uma". Pois é, crescemos ouvindo essa máxima. Embora ginecologicamente seja correta, a história mostra que, bem... ...
Mães que valem por duas
... Não é bem assim!
Em 2018, meu amigo cronista Luiz Augusto Paiva da Mata teve um encontro inusitado que mudou sua vida. Viajando a noite por terras brejeiras...
Paiva, os sacis e a tradição
TODO OUVIDOS O eu lírico sofre de delírios esquizofrenoides: Ponge ouve coisas; Bilac ouve estrelas; Gullar, muitas vozes.
Livros crepitam no forno das estantes
O eu lírico sofre de delírios esquizofrenoides: Ponge ouve coisas; Bilac ouve estrelas; Gullar, muitas vozes.
Em 1997, foi inaugurado, em Campina Grande, o Museu Vivo da Ciência e Tecnologia . Em uma das conferências realizadas quando da abertura d...
O grande cientista que a Paraíba esqueceu
Os sinos do campanário Dobram os velhos sinos A cantarem êneos fados, No campanário carcomido, Pelas rezas dos tempos passados.
Pelas rezas dos tempos passados
Dobram os velhos sinos A cantarem êneos fados, No campanário carcomido, Pelas rezas dos tempos passados.
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, não menos famoso que Leonardo da Vinci, nasceu em um castelo em ruínas do Casentino, na Toscan...
Michelangelo e a tecnologia
Não basta ao homem a informação. Ele — o conhecimento — não se instala como “verdade” na vida de quem o procura. Na maioria dos casos,...
O Eu antropofágico de Augusto dos Anjos
Quando celebramos os noventa anos de nascimento do poeta Ferreira Gullar, prefiro falar dele como estudio...
Gullar e Augusto
“O senhor tem uma casa para alugar em Mussumago?”… Se não conhecesse o nome do bairro, pensaria em algum lugar distante, além-mar… ou mesm...
Ligação errada, nem tanto
Se não conhecesse o nome do bairro, pensaria em algum lugar distante, além-mar… ou mesmo em um engano. Mas já não é tempo de trotes telefônicos. A identificação visualizável de qualquer chamada os afugentou. Ademais, o tom de voz parecia sincero.
Certo jornalista de bom papo e excelente profissional (saudosa memória) me narrou o que passo a vocês agora. Bem conceituado como profissi...
O jornalista e a santa
“No princípio era o verbo”. Esta é uma das mais controvertidas frases do Evangelho, menos pela doutrina do que pelo o que ela significa. Mu...
Jesus, o Verbo da Vida
Como seria viver no ano de 1794? As pessoas viviam sem conforto, com dificuldades, condições de vida muito precárias. Para se iluminar as ...
Modesto, porém sagaz
“Escavação e transmutação são ingredientes fundamentais da minha produção e se fundem a interesses por temas como corpo, passado, memória...
Arte e trauma
José Rufino
Há dois anos, José Rufino, artista plástico paraibano, escritor, professor de Artes da UFPB e UFPE, autor do livro "Afagos" — ou geólogo, paleontólogo, jardineiro — ou artista simplesmente, e tantas outras coisas —, participou da 5ª edição dos Debates Psicanalíticos "Arte e Trauma". Fui assistir-lhe e sou grata por ter mergulhado nessa noite do saber.
Rufino, professor que é, preparou uma palestra irretocável e eloquente sobre o mistério da criação, sobre a linguagem, enfocando o seu próprio processo criativo. Para tanto, mergulhou em assuntos diversos, como o papel do artista pesquisador, sua família, infância, estudos, formação, interesses, vida em Recife, referências a outros artistas, vida política dos familiares, mágoas, tabus, rastros, engenhos, pegadas, eurekas e epifanias. Concluiu a exposição com o seu trabalho sobre os Desaparecidos Políticos, acreditando ele que isto remeteria ao passado, quando, na verdade, infeliz e ironicamente, seria falar do presente.
“O artista trabalha para a linguagem, para estabelecer paradigmas!”. Com slides, percorremos as artes rupestres, Stonehenge, paisagens bíblicas, até chegarmos em Van Gogh, Antônio Dias, a fotografia, o cinema e outras artes contemporâneas que não mais desejam representar a realidade, mas um conjunto de novas experiências/fragmentos e relações... no lugar da obra em si. O artista e o coletivo: o ateliê, o crítico, o mercado (que agora terá que entender, provocar e se adaptar) e toda a cadeia, a visão sistêmica do criador x observador, que se contrapõe ao artista isolado.
Logo foi exibida "A Fonte", de Duchamp, transgredindo todos os conceitos... até hoje! O deslocamento do objeto, do olhar, do óbvio para a sensualidade de um outro corpo. Uma bicicleta que gira fora de um guidão, mas agora num busto. O busto do desvio. Uma coisa que é outra coisa, e mais um monte de ressignificados.
O artista quer ser revolucionário. Mas também quer ser assimilado. Eis a questão! Essa revolução vai ampliar o simbólico e o mercado vai à reboque. Exemplos como o Projeto Coca-Cola de Cildo Meireles, a calça Jeans e o caminho que percorreu (desde os operários americanos até os dias de vitrine de hoje) ilustram algumas das ideias discutidas.
A artista/performer feminista cubana Ana Mendieta unia seu corpo com a terra para tornar-se uma extensão da natureza. Rufino utiliza a "criação e a cura", o "eu lírico", o "poético" para falar de assunto que sangra. Frida Kahlo utilizou o corpo para falar das suas dores. E seguimos interessados naquele caminho sem fôlego.
Enquanto o artista falava das cartas familiares e todo o seu trabalho ruminante de escavações literárias/simbólicas/poéticas, fiquei a pensar na instalação "Intolerância" de Siron Franco, que visitara em São Paulo, alguns anos antes, trabalho que me marcou muito. Aconteceu no Memorial da Liberdade (antigas salas do DOI-CODI). Uma amiga — que viveu os tempos da ditadura em São Paulo, tendo sido presa e torturada — ficou incomodada com o título. “Como tortura é intolerância? Isso é minimizar! Intolerância é algo menor do que se viveu nas galerias desse lugar sangrento” – exclamava ela com todas as suas razões. Hoje, olhando em perspectiva, até acho forte o termo "intolerância", pois é nele que tudo se inicia.
Fiquei transtornada ao me deparar com uma montanha de sapatos des-encontrados. Gastos. Maltrapilhos. E mais uma outra de bonecos do tamanho de gente, vestidos como se gente fossem. Os "corpos" amontoados, jogados em valas, tenebrosos. Quase tive ânsias, de tão fortes esses corpos me pareciam; esgotados e no mais sub-humano que os humanos podem estar; subjugados por seus algozes. "Tortura Nunca Mais!" — pensei naquele momento. Hoje, esse slogan se perde nas fake news! Um horror que se anuncia sorrateira e agressivamente.
Rufino seguia a falar dos seus métodos, processos, persistências, listas, arquivos, desafios, obras inimigas e riscos. Pensei, então, na complexidade dos seres humanos. Observei o artista inquieto, que trabalha com o passado, com a memória e com o esquecimento, com o corpo e o espírito, a opulência e as faltas. Sua arte já vem nas profundezas das Terra. Uma carta não é mais uma carta! E a arte ressignifica sim. É uma única forma de se viver a catarse e redimensionar um trauma. No filme Desejo e Reparação (2007), só a literatura salva tanta mentira irreversível quando se tem a morte. A artista francesa Sophie Calle também tomou emprestado uma carta do companheiro que rompia o amor, e criou uma instalação: "Cuide de Você". Exorcizando sua dor em público e assim, quem, sabe, superando-a. Calle, Duchamp, Rufino, assim, refazem dores, fontes, mágoas, lágrimas, rancores, para poderem transcender significados anteriores e lançarem outros olhares e leituras de um fato, de um desejo, da morte e principalmente da vida.
"Plasmatio" foi uma das exposições na Bienal de São Paulo que deu foco à palestra. Recentemente, tivemos a oportunidade de ver uma outra exposição: "Limbo", resultado de um processo de resgate de obras que estavam guardadas, perdidas, esquecidas, desprezadas, inconclusas ou apenas à espera de uma chance para aflorar pelas brechas. É também repleta de caminhos, peças, cronologias e perdições, talvez daquilo que tem nesse espaço suspenso: o limbo de nossa existência.
Em 30 anos de trabalhos fortes, enigmáticos, com rasgos de vida na frente e no verso, percebi que conhecia quase nada daquele artista escavador, tão diverso, perfeccionista e determinado, conforme as minhas impressões. Um pesquisador da alma, dos rastros de sua família, não só da família autobiográfica (que ele se transveste pelo nome do avô (para ter ainda mais legitimidade dessa escavação do passado), mas da família ampla da humanidade. Um pesquisador de um período histórico, como neste tempo em particular, da Ditadura Brasileira.
Rufino encerrou dizendo: ”Artistas são como bola de soprar! Podem estourar!" — Fiquei de olhos bem abertos durante quase três horas ouvindo-o discorrer com tanta propriedade sobre seu trabalho, sobre Arte, sobre História e sobre os enigmas dos processos criativos... dele e de outros.
Aplausos sempre!
Quais seriam os segredos guardados há séculos nos pavimentos e nas paredes das construções do Centro Histórico de João Pessoa? Ou mesmo no...
Gritos da história
Eis que retornavam então dos campos aqueles caçadores, atraídos dessa feita pelo surpreendente superávit alimentar que agricultores vinham ...
Minaretes de lama (Cap. 02)
Autor de um livro também intitulado “Eu”, o português Alfredo Pimenta está entre os autores que teriam influenciado Augusto dos Anjos. Con...
Augusto e Pimenta: uma comparação
Por exemplo: ambos fizeram versos à dor e à mágoa. Mas, enquanto Augusto dos Anjos identifica na mágoa um travo maiúsculo e definitivo, de ressonâncias metafísicas, o qual se constitui em marca da falta (mácula) humana – Alfredo Pimenta enaltece, preponderantemente, a mágoa na mulher. A mulher que chora (a mulher magoada) aparece em sua lírica como uma imagem de obsessivo apelo emocional.
Assim é que, no primeiro dos sonetos nomeados de “Santificação da mágoa”, ele refere a certa altura:
"Tudo em ti me revela uma tristeza Filha da grande dor da natureza, Bendita e santa irmã da humana dor!” (p. 14).
E, no segundo deles, remata o terceto final com estes versos:
“Que a tua dor, Mulher, seja infinita! Pois quanto mais sofreres, maior serás!”
Em Augusto dos Anjos, a dor merece um hino. É tratada, segundo a perspectiva cristã, como um ganho espiritual e, sobretudo, como um instrumento de ascese, conforme se pode constatar nos versos com que ele inicia o seu “Hino à dor”:
“Dor, saúde dos seres que se fanam, Riqueza da alma, psíquico tesouro, Alegria das glândulas do choro De onde todas as lágrimas emanam...”
E nestes outros, que aparecem pouco adiante:
“E, assim, sem convulsão que me alvoroce, Minha maior ventura é estar de posse De tuas claridades absolutas!”
São comuns aos dois poetas o panteísmo e a representação da Natureza. Ambos fizeram versos à pedra, à montanha, conferindo à superfície dura e inóspita desses elementos um recorte dramático. Confrontemos, quanto a esse aspecto, os versos de cada um deles. Em certa passagem, Alfredo Pimenta se refere à “... maldição que ouvimos/ Sair da boca duma pedra/ Quando com outra às vezes a ferimos!” Se comparamos o dramatismo dessa imagem com a representação que Augusto dos Anjos faz no primeiro dos sonetos “As montanhas”, de novo percebemos a significativa diferença que separa um do outro — quer pelo uso da linguagem, quer pela integração, diríamos, dialética, entre o elemento plástico, exterior, e o componente anímico e subjetivo.
Eis os versos do paraibano:
“Quem não vê nas graníticas entranhas A subjevidade ascensional Paralisada e estrangulada, mal Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?! Ah! Nesse anelo trágico de altura Não serão as montanhas, porventura, Estacionadas, íngremes, assim, Por um abortamento de mecânica A representação ainda inorgânica De tudo aquilo que parou em mim?!” (352).
No trecho de Pimenta, o que se tem é a sumária indicação de um conflito, própria somente para figurar o sentimento, ou melhor, o ressentimento que acomete a substância bruta quando agredida. Augusto, por sua vez, alude a um combate que se constitui em leit motiv da sua obra, representado pelas contradições entre instinto e alma, matéria e espírito. Sendo um “abortamento de mecânica”, um resíduo inorgânico, a montanha alegoriza a própria morte como pulsão, que se contrapõe aos anseios eróticos, vitais, e se constitui em sombrio e permanente aceno para o homem.
Há em ambos os poetas o mesmo fundo mórbido, a mesma perplexidade ante a voragem contraditória de sentimentos e conceitos que marcaram o final do século XIX. Tanto Alfredo Pimenta quanto Augusto dos Anjos vivenciaram intensamente esse clima, marcado pela sensação de decadência e pela expectativa de um fim iminente, do qual emergiria uma nova ordem.
Mas cada qual espera ou propõe o novo à sua maneira. Pimenta chega a sonhar com a revolução social, concebida romanticamente; Augusto deseja a redenção espiritual do homem. E se um, a despeito dos ideais progressistas, permanece formalmente preso ao passado — o outro inova em termos formais, utilizando-se de recursos (o coloquialismo, por exemplo) que o incluiriam na modernidade literária brasileira.
Ninguém consegue raciocinar bem quando seu coração está dominado pelo ódio. A raiva fecha a mente e limita a capacidade de refletir e pens...
Afastemos o ódio do debate político
2020 está terminando e pelo visto o cinquentenário de “O nariz do morto”, de Antonio Carlos Villaça, vai passar em brancas nuvens. Ma...