A pandemia amedronta, foge ao controle, e outras doenças agravam-se com ela. Angústia, desespero, pavor, depressão, estupidez, maldade ou mesmo ignorância. A pior de todas talvez seja a desavença oriunda da guerra ideológica, de posições egocêntricas, pessoais ou coletivas. A qualquer fato que ocorre no país, tem que ser atribuída imediatamente uma bandeira política. E, justamente no momento em que mais o povo e seus gestores precisariam se unir, desentendem-se. Vacinas, medicamentos, terapias, pesquisas, noticiários, tudo passa a ter cor, sexo, raça, partido e posição política. E daí se origina o desentendimento geral que só traz prejuízos.
O IBGE editava, até 2019, uma revista de poucas páginas, RETRATOS, dirigida aos jovens, que traduzia o essencial para o universo de interesses de uma mente em formação sobre o espaço em que habita. Traduzia com as palavras do cotidiano o que a estatística apurava em sua linguagem técnica de leitura não muito fácil a quem não é do ramo.
São quatro anos de silêncio, sem o riso de Cristovam Tadeu. Num sábado sem graça, o humorista, cartunista e jornalista foi encontrado sem vida em seu apartamento, mas renascido para ficar guardado na memória dos amigos e admiradores. Uma memória da lembrança de seus gracejos e na sinceridade de suas palavras.
ELEGIAAinda não sonhei contigo.
Deus não me deu o castigo
De enganar-me o coração
Com uma triste ilusão.
Sabe que, clareando o dia
E estando a casa vazia,
Seria ver-te voltar
E recuperar o lar
Para ir embora outra vez.
Seria pior, talvez,
Uma comoção mais forte
Que o dia de tua morte.José Américo de Almeida
O terno olhar da formosa Alice, sempre a emoldurar os crepúsculos das esplêndidas tardes que desenhavam o sobrado de azulejos, em suas cores azul e branca, na Rua Direita, um belo dia haveria de se cruzar com os olhos sensíveis e apaixonados de José Américo.
Muito antes de ver esse filme (Sob o Sol da Toscana, 2003), já era fascinada por conhecer a Toscana. Em 1975 fui a Florença pela primeira vez e em 1987 visitei Siena. Os tons ocres e os ciprestes me encantaram.
Tempos depois, fiz outro pouso em Florença. Saimos de Milão e, em pouco mais de uma hora, estávamos em frente ao Duomo — aquela catedral de mármore verde e branco —, à Santa Maria Del Fiore, ao Palácio Velho, ao Batistério de S. João e ao Campanário de Giotto, que nos deixaram surdos... para não dizer mudos, diante de tamanha beleza. Sem esquecer de um olhar mais atento às Portas do Paraíso, às ruelas, mercados, de comprar uma bolsinha de couro, e de estar em um museu a céu aberto, com a lua cheia sobre o rio Arno e a Ponte Vecchio,
Dizem que a paixão cega, por isso é recomendável antes de se apaixonar fazer um rigoroso exame de vista. Isso não assegura que você vá escolher a pessoa certa, mas pelo menos impede que sua decisão decorra de uma ilusão de óptica. Embora o amor seja algo que “arde sem se ver”, é bom saber em que fogueira está se metendo.
De Pedra Lavrada, no Cariri paraibano, para Moscou. Dá para imaginar? Pois é. São muitos quilômetros. E não é só a distância espacial ... Mas esse foi o caminho percorrido por nosso conterrâneo Paulo Bezerra para se tornar um dos mais autorizados tradutores de Dostoiévski do Brasil, na atualidade. Caminho heroico o desse intelectual, cujo destino inicial talvez fosse ser ferreiro, profissão do pai. Mas o seu sonho era outro: o de estudar. E esse sonho, que foi e é o de tantos meninos e meninas modestos em nossa pátria pouco gentil, transformou sua vida, como costuma acontecer quando as fantasias se tornam reais.
Há um tempo para os vivos e há o tempo dos mortos.
Enquanto tentamos dilatar ao máximo o ínfimo tempo da consciência, o outro — o nada — já se apresenta distendido a infinita e desesperadora potência.
Mas como poderíamos nos aproximar dos artifícios lançados por nossos contemporâneos para combater e distorcer esta verdade? Poderíamos partir da idéia de uma nova, e talvez transitória trindade. Não a santíssima trindade e suas implicações doutrinárias e cosmogônicas,
Repentinamente o planeta silenciou, obrigado por uma pandemia que impôs medo à humanidade. No isolamento social a que estamos obrigados vivenciar, passamos a questionar o que esse silêncio traz escondido na sua manifestação. A sociedade contemporânea está sendo convocada a fazer uma autoavaliação comportamental. O ser humano sendo despertado para a necessidade de olhar para si mesmo, identificando o lado “sombra” de sua personalidade. O coronavírus tem enviado mensagens que precisam ser ouvidas por todos nós. Daí a essencialidade de nos fecharmos em casa, segregados em família, para exercitarmos a reforma íntima.
Faz bem o poeta em escutar as suas vozes interiores, vozes “esquizofrênicas”* sem as quais o poema seria pautado simplesmente a partir de breviários estéticos ou de conteúdos programáticos. Aliás, já não era sem tempo de os poetas contemporâneos mostrarem-se livres atiradores, diferentes de quando as vanguardas, já exauridas, extenuadas, imprimiam à poesia brasileira uma articulação monocórdica, um repertório cheio de tiques e de cacoetes plenamente superados por força do uso. Tanto é assim que a lírica nacional tem incorporado alguns elementos do surrealismo**,
Tempos apressados estes que estamos vivendo... Ontem, só eu e Nanego em casa, olhando para a noite, linda, majestosa, pensei “sou livre! Penso, escrevo, leio, escuto música, desenho, danço, canto...” não tem quem me tire essa força, essa integridade que sinto, como se meu corpo e minha alma fossem uma massa de bolo — totalmente integradas, prontas para crescer!
Jacob Bittencourt (ou Jacob do Bandolim como ficou conhecido), falecido em 1969, era considerado um dos maiores instrumentistas do Brasil. Nos finais de semana, Jacob promovia saraus (que ficaram famosos) na sua casa no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, nos quais participavam grandes nomes da música brasileira. No final da década de 1950, Jacob teve conhecimento (através de gravações caseiras) da excelência de um grupo de músicos do Recife
O cinema de Woody Allen representa certamente o que há de mais "genuíno" na arte cinematográfica norte-americana com sotaque nova iorquino. Mas a sua relevância reside antes pela ironia que caracteriza as narrativas do que pela glamourização da vida chique dos habitantes de Manhattan.
Nós estamos na Semana Santa de 2021, e há mais de um ano vivemos uma crise múltipla na história da humanidade, que nos desestabiliza em todos os sentidos. Cenas de desespero e horrores, sentimentos de temor e incerteza ameaçam a paz, banalizam a morte, corroem a esperança, ameaçam a fé.
Muitos buscam na religião um meio de combater a inquietude do presente e fortalecer a confiança no futuro. Para os cristãos, a narrativa da Paixão de Cristo revivida em encenações da Via Sacra é um poderoso estímulo ao restabelecimento da fé. Esse precioso sentimento que tem o poder de proteger e estabelecer a necessária unidade entre corpo e espírito.
Por isso eu achei oportuno relembrar hoje o oratório Via Sacra em que um poema de Waldemar José Solha, minha música e a coreografia de Rosa Cagliani interagem cooperativamente para transmitir mais uma versão dessa história de um poder inigualável.
Estas entrevistas datam do ensaio geral do Oratório, que foi estreado na Semana Santa de 2005, na Igreja de São Francisco, em João Pessoa. Elas estimulam a memória dos processos criativos e interpretativos que moldaram a música e a cena que interpretam o poema Via Sacra, de W. J. Solha, resultando num espetáculo multimídia, sobre o qual ele se refere:
“Eu não sou religioso, mas fascinado pela grande metáfora da vida, que é a religião. Por isso pensei em culminar o texto com uma ressurreição, que seria a do ser humano se perpetuando na Terra através das gerações.”:
Isto se encontra nas últimas estrofes do cordel que é um verdadeiro canto de esperança e de fé no homem:
A noite será um pesadelo
Se não se espera outro dia
Se o Sol se vai de uma vez
A treva é terna e agonia
Por isso precisa-se tanto
Disso que agora eu canto
A volta da alegria
A luz que o mundo regressa
Confirma a nossa esperança
Pense no horror da velhice
Sem ter a quem dar sua herança
Herança de uma unidade
Que só prossegue em verdade
Quando aparece a criança
No fim do caminho há o homem
Que se identifica com Deus
Que sai da treva glorioso
Assim como o Sol lá no céu
Que compreende seu mundo
Torna-se grande e profundo
Sabe que tudo é seu Eu
A mão rabisca contornos impróprios de um especialista. Rascunhos dos galhos, filtros do clarão, da luz com bordas amareladas que desmergulha na linha horizontal da água ou dos entornos de terras distantes, das planícies ou das irregulares elevações. Desenho grafitado em preto e branco, inicialmente superficial, mas com tantos detalhes guardados que adentram aos olhos, estremecem o coração, arrepiam o corpo em saltos diante de visível belezura e mistério. Espasmos de contentamento, fragmentos de todos os tempos.
Mexo nos meus baús e encontro essa matéria que produzi, em dezembro de 2011, para a Revista "AlgoMais", do Recife. Diz respeito à Cruz da Menina, obra erigida em memória de Francisca, a criança morta a pauladas por uma jovem dona de casa a cujos cuidados fora entregue pelos pais, fugitivos da seca. O lugar é, atualmente, um dos mais visitados pontos de romaria do Sertão nordestino.