É de Piero della Francesca o afresco que a vila de Sansepolcro caia, sem reação, como indigno da terra de tão bello e sinistro nome , que ...

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É de Piero della Francesca o afresco que a vila de Sansepolcro caia, sem reação, como indigno da terra de tão bello e sinistro nome, que assim o amortalha, com Piero vivo, no interior da Itália.

O que há de ser, no entanto, tem muita força, como se lê n´A Bagaceira, em que se reformula, queira ou não queira, o que diz o vidente do Édipo Rei: o mesmo Que será, será, sucesso da Doris Day. A cal pura conserva a pintura.
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Um homem que chora com os adágios da 8ª sinfonia de Bruckner e da “Nona” de Beethoven. Um homem que exulta com o canto da cotovia da Sinfo...

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Um homem que chora com os adágios da 8ª sinfonia de Bruckner e da “Nona” de Beethoven. Um homem que exulta com o canto da cotovia da Sinfonia Pastoral, vibra com a tempestade e, logo depois, se enternece quando os trovões se acalmam na seguinte "canção dos lenhadores”.

Um homem que mareja os olhos ao ouvir o Cisne de Saint-Saëns e a Ave Maria de Schubert. Que brinca com a ideia dos esqueletos bailando e rangendo os ossos, à meia noite, num cemitério sombrio, da Dança Macabra.

Em tempos tão lentos, arrastados, aparentemente sem perspectivas, precisamos ter consciência de que somos seres capazes de criar! Precisam...

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Em tempos tão lentos, arrastados, aparentemente sem perspectivas, precisamos ter consciência de que somos seres capazes de criar! Precisamos buscar coragem para criar o nosso presente e o nosso futuro. Entender que somos parte e que temos o poder de interferir agora em várias frentes!

Num tempo em que a cultura brasileira, a da elite ou acadêmica, trata Marx como despojo da URSS, como coisa de um remotíssimo passado, as ...

Num tempo em que a cultura brasileira, a da elite ou acadêmica, trata Marx como despojo da URSS, como coisa de um remotíssimo passado, as Máximas de Marx, relidas por um paraibano que é exceção na alienação geral, o intelectual Walter Galvão, me fazem lembrar a lição que recebi, em carta, de um raro brasileiro da sua estirpe e de igual coerência, meu saudoso amigo Moacir Werneck de Castro.

O que se ouviu foi um estalido trêmulo. Audível apenas no exato ponto de não passar despercebido. O som delicado e já extinto de uma alter...

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O que se ouviu foi um estalido trêmulo. Audível apenas no exato ponto de não passar despercebido. O som delicado e já extinto de uma alteração transcorrida em completa invisibilidade, em íntimo segredo até aquele último instante.

Muitos anos depois daquela noite, não sabe como, teria ela então uma lembrança mais diversificada, como se com o passar do tempo uma sensação mais acurada lhe fosse progressivamente sendo devolvida, espécie de progressão senil e às avessas, e que faria algum esquecimento parcial ser aos poucos substituído por lembrança mais e mais precisa, e que, no entanto, porém, remetesse sempre a um intrigante detalhe: o de que uma fração do percebido dera-se através de sensores na pele, havendo decorrido talvez de uma vibração magnética do ar em volta. Resultaria a impressão de um fenômeno qualquer de natureza híbrida, ou assim repercutindo, falando a dois sentidos. Ou ainda, talvez, ao ilógico de que algo se adiantara à luz.

Reviveria na memória aquele soar como de algo brandamente plangente, metálico e insignificante, e cujo efeito, entretanto, houvera se estendido ligeiramente além do próprio som. Ficaria a recordação de um plac súbito, demasiadamente peremptório e alarmante, e ainda que tênue, irrevogável.

O que resultou de única, avassaladora sinapse, e já varreu - desimpedida - toda a extensão do vasto sistema a percorrer.

Um sistema intrincado, aéreo e perfeitamente errático.

Aquilo não tomara nenhum conhecimento do vale extenso e cáustico à sua frente. Nem da serra abrupta que lhe era destino. Melhor fosse dizer que ocorreu e se completou no tempo que uma vertigem cerra os olhos. Ou talvez naquele que seria suficiente para um sonho espocar o brevíssimo instante de algum enigma cheio, lúcido e indecifrável, exposto, porém, em panorama de quadro irretocável.

A pouco, mais ou menos, 30 quilômetros dali, o giro de uma chave comunicara-se pelas tranças do metal, no mesmo instante ativado ao longo da própria surpresa em que é apanhado e percorrido, e impossibilitado de outra reação que não viesse a ser um arrepio no final, na ponta - fixada no centro da cloaca de vidro -, que executará então movimento quase imperceptível, dado que muito mal é livre para tanto.

O equivalente talvez a uma minúscula vibração dentro da cloaca incubadora de luz, quase que uma pequena ereção na haste metálica (a lembrar um guizo de serpente em arranjo de ordenação óssea, firme e repentino), e com apenas o bastante para que se descole da inação. Noutra inexplicável imagem – essa talvez mais branda: aquele primeiro e involuntário, anônimo e solitário movimento de um vibrião imerso na cuba.

Embora sem estar programada para emitir qualquer tipo de som, a bolha de vidro acabou funcionando como minúscula caixa acústica, e esse efeito, uma vez multiplicado fez vibrar a notinha estrênua.

O alarme ou a senha para que se violasse o lacre sigiloso da escuridão.

Naquele momento, porém, soou aos ouvidos de Maria Otília como aviso tardio de algo que já tinha acontecido em toda plenitude: com a leveza sincrônica de um balé bem ensaiado, naquele exato instante e sem qualquer defecção, os 212 postes acenderam suas lâmpadas de uma única vez.

No mais, foi a brilhante consumação de quatro anos de esforço, escuridão e espera. Desde aquela surpresa do caminhão irrompendo na entrada da cidade.

Um lote de homens apinhava-se sobre a carga, na tarde escura de inverno.

Querido Miguel. Eu te saúdo, cubro de beijos e torço para que possas aguentar este avô pegajoso por muito tempo além destes teus primeiros...

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Querido Miguel. Eu te saúdo, cubro de beijos e torço para que possas aguentar este avô pegajoso por muito tempo além destes teus primeiros anos de idade. Até porque já nos tornamos velhos amigos: eu, que te envolvo desde que nasceste, e tu, que me tens ao lado por uma vida inteira.

O motivo desta prende-se ao desejo de te contar umas tantas coisas. Pois bem, houve um tempo em que eu e os de minha geração fazíamos amigos, trocávamos recados e notícias, namorávamos e rompíamos namoro por cartas.

É comum. E muito se fala hoje em dia a palavra “gratidão”. Banalizou-se o real significado da palavra nos meios sociais antecedida de um...

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É comum. E muito se fala hoje em dia a palavra “gratidão”. Banalizou-se o real significado da palavra nos meios sociais antecedida de uma “hashtag”.

A gratidão proveniente de um esforço bem sucedido, como uma promoção no trabalho, êxito em uma prova de concurso etc se justifica porque mostra a realização de um sonho que transforma a vida da pessoa.

Dá-me um olhar que te direi quem és. Assim como o corpo é um continente, o olhar é o conteúdo. O olhar expressa o ser e o sentir de cada ...

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Dá-me um olhar que te direi quem és. Assim como o corpo é um continente, o olhar é o conteúdo. O olhar expressa o ser e o sentir de cada vivente. Reflete o sublime êxtase da vida. É uma porta entreaberta que permite conhecer a alma em toda a sua profundidade.

Os olhos com generosidade e pureza exalam os sentimentos mais nobres da grandeza e da profundidade da condição humana. Permitem, sem restrições e preconceitos, nos conceder-nos um privilégio muito além da palavra, aproximar-nos da alma humana. Edificam com emoção a cumplicidade da vida em comum. Nos olhos encontram-se as narrativas dos mais profundos

A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cere...

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A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cerebral e frio, opondo-lhe o artesanato conciso ao derramamento dos românticos e ao anseio de religiosidade presente nos simbolistas. Por essa ótica, é difícil concebê-lo como um melancólico a lamentar o seu objeto perdido. A verdade, no entanto, é que em Bilac a representação melancólica perpassa diversas composições.

A parte metade A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto ...

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A parte metade
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz. (metade é medida sem desespero, recanto de passagem, cobertor dos atropelos.)

Quem diria, acredite, uma flor gostar da Lua. Passa o dia adormecida e à tardinha, com preguiça, calmamente se desnuda aos encantos da aur...

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Quem diria, acredite, uma flor gostar da Lua. Passa o dia adormecida e à tardinha, com preguiça, calmamente se desnuda aos encantos da aurora.

Quem sabe a sua tez, delicada como é, se ressinta do clarão que lhe faz o Sol a pino. Tão distinta de outras flores que da luz se alimentam logo que o céu prepara o cortejo da alvorada…

Em texto publicado em 17.8.2009 na Folha de S. Paulo, Luiz Felipe Pondé comenta um encontro recente com um amigo de infância. Segundo ele,...

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Em texto publicado em 17.8.2009 na Folha de S. Paulo, Luiz Felipe Pondé comenta um encontro recente com um amigo de infância. Segundo ele, “esses encontros são marcantes para mim porque sempre acabo percebendo como hoje sou outra pessoa. Diante das lembranças compartilhadas, a distância no tempo se impõe como distância no afeto”. Ou seja, o que Pondé está corajosamente afirmando é que para ele o amigo de infância de certa forma tornou-se um estranho, ou quase. Em outras palavras, o tempo e a distância consumiram o antigo afeto, a antiga amizade que o ligava ao velho amigo.

Encontrou, na saída do cinema, uma carteirinha feminina. Lembrou-se de haver namorado, em fantasia, Romy (a Sissi). Quem seria a dona? Q...

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Encontrou, na saída do cinema, uma carteirinha feminina. Lembrou-se de haver namorado, em fantasia, Romy (a Sissi). Quem seria a dona? Que faria? Procurou número de celular, em vão. Remexeu cada documento, minucioso em sua busca, pensou em jogar fora a carteirinha, mas desistiu. Afinal de contas, se tratava de algo nada vulgar: foi à lotérica, pensando encontrar alguém que lhe desse alguma pista, todas as alternativas seriam válidas. No mínimo, reencontrar Romy (um sonho), mesmo sabendo que a carteira não era pertença da atriz bela e charmosa. Desguarnecida de qualquer moeda, lisa, a carteira incomodava.

Eu não persigo a beleza, ela tem que aparecer junto comigo. Walter Carvalho Um dia fui assistir a uma palestra do cineasta Walter L...

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Eu não persigo a beleza, ela tem que aparecer junto comigo.
Walter Carvalho

Um dia fui assistir a uma palestra do cineasta Walter Lima Júnior, por ocasião do evento I SelSeminário de Estudos Literários -, na Academia Paraibana de Letras, sob a direção do então presidente, professor Damião Cavalcanti, e coordenação da professora Socorro Aragão. Como o Seminário foi dedicado aos 80 anos da publicação de obras do escritor José Lins do Rêgo, o cineasta Walter Lima Junior, se inseriu como um dos convidados para falar no dia da exibição do seu filme, adaptado do romance Menino de Engenho.

“Vox Populi, Vox Dei” é uma expressão latina que pretende dizer que “a voz do povo é a voz de Deus”. Tenho muita dificuldade em aceitar is...

“Vox Populi, Vox Dei” é uma expressão latina que pretende dizer que “a voz do povo é a voz de Deus”. Tenho muita dificuldade em aceitar isso como verdade. Não acredito que as manifestações do sentimento popular tenham inspiração divina. Nem sempre são coincidentes a voz do povo com a voz de Deus. Vemos frequentemente a vontade popular se expressando em contrário aos ensinamentos bíblicos. São decisões nascidas de influências nefastas, pautadas em conceitos que não se afirmam “do bem”. Logo não podem ser consideradas como orientadas por Deus.

Eneias deve deixar Troia. Os Argivos invadiram a cidade, estão matando seus habitantes e destruindo-a. Heitor lhe aparece em sonho e lhe d...

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Eneias deve deixar Troia. Os Argivos invadiram a cidade, estão matando seus habitantes e destruindo-a. Heitor lhe aparece em sonho e lhe diz da impossibilidade de defesa: não é por falta de braços que a cidade está caindo, o inimigo está dentro dos muros e Troia rui desde o seu alto cume (Hostis habet muros; ruit alto a culmine Troia, verso 290). O fantasma de Heitor ainda diz a Eneias, para levar consigo as coisas sagradas de Troia – seus Penates e a deusa Vesta –, pois o herói precisará deles para fundar as novas e grandes muralhas.