Língua é como roupa ou sapato – desgasta-se com o uso. Precisa ser continuamente renovada para não pe...

Língua é como roupa ou sapato – desgasta-se com o uso. Precisa ser continuamente renovada para não perder o vigor. A tendência dos falantes e escreventes, às vezes por preguiça mental, é lançar mão de clichês e modismos que debilitam a expressão, reproduzindo chavões cuja obviedade torna o texto raquítico e previsível. Usá-los é como se servir de um estoque já pronto, que dispensa o pensamento. Segundo Alcir Pécora, em “Problemas de Redação” (Martins Fontes), eles são “o túmulo do estilo”; evitá-los é condição fundamental para se pensar e escrever bem.

      Gostaria de falar Sobre coisas importantes Mas prefiro as úteis Como o desejo De desfazer a história Não para qu...

antonio aurelio cassiano poesia paraibana
 
 
 
Gostaria de falar Sobre coisas importantes Mas prefiro as úteis Como o desejo De desfazer a história Não para que ela deixasse De existir Mas para que Se fizesse outra Como aquelas Que nunca existiram

Há um silêncio peculiar que habita os espaços entre nossos pensamentos. Não é o silêncio vazio da distração, mas um silêncio carregad...

caspar david pintura silencio solidao interior
Há um silêncio peculiar que habita os espaços entre nossos pensamentos. Não é o silêncio vazio da distração, mas um silêncio carregado, denso, que surge justamente quando a mente trabalha a todo vapor. É o silêncio da aporia. É aquele momento em que a estrada da lógica simplesmente acaba. E você fica ali,

“Let the day perish wherein I was born.” (“Pereça o dia em que nasci.”) . Livro de Jó. O que resta quando o sagrado silencia e as e...

literatura classica universal judas obscuro thomas hardy sonia zaghetto
“Let the day perish wherein I was born.” (“Pereça o dia em que nasci.”).
Livro de Jó.

O que resta quando o sagrado silencia e as expectativas são destruídas, uma a uma, pela mão pesada do mundo e das circunstâncias? Resta o homem. Nu, desprotegido, porém consciente.

Fosse hoje, provavelmente as cartas de Nevita e Marcílio Franca não existiriam. Seriam substituídas por e-mails e telefonemas int...

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Fosse hoje, provavelmente as cartas de Nevita e Marcílio Franca não existiriam. Seriam substituídas por e-mails e telefonemas internacionais a preços módicos. E assim não teríamos o belo livro Cartas de Berlim (Editora Ideia, João Pessoa, 2025), lançado há poucos dias. E seria uma pena, pois perderíamos esse importante registro epistolar que retrata um tempo e um mundo já passados, mas que mantém interesse sob vários aspectos.

Foi por esses dias! Meu abraço a esses profissionais que lidam com as dores das pessoas. Sempre fui admiradora dos médicos. Tinha medo ...

dia medico medicina cinema suspense drama
Foi por esses dias! Meu abraço a esses profissionais que lidam com as dores das pessoas. Sempre fui admiradora dos médicos. Tinha medo quando menina. Mas como precisei deles! Com a minha garganta frágil (operei as amígdalas aos sete anos); gripe toda hora. Aff! Não podia ver um pingo de chuva nem um sorvete. Isso, para uma criança, é o terror.

Ninguém se cansa porque é fraco. Hoje, talvez a dor mais comum, seja esse cansaço que mora no fundo do peito. É um sofrimento que nã...

Ninguém se cansa porque é fraco.

Hoje, talvez a dor mais comum, seja esse cansaço que mora no fundo do peito.

É um sofrimento que não é drama, que não é fraqueza, mas a soma silenciosa de tudo que se carrega, de tudo que se enfrenta, daquilo que se suporta, em silêncio... Às vezes acordamos, trabalhamos, fazemos o necessário, ajudamos quem podemos, sorrimos quando dá… enquanto por dentro só precisamos de paz.

Joshua Earle
Então, como podemos seguir em frente quando já não aguentamos mais? A verdade é menos heroica do que parece. Não é necessário ser invencível. Não precisamos acompanhar o ritmo produtivista do mundo, que cobra pressa, motivação e força ininterrupta.

Seguir em frente começa quando paramos de exigir o impossível de nós mesmos, e nos dedicarmos apenas ao possível. O impossível é tudo ao mesmo tempo; o possível é um passo constante de cada vez. Todo dia.

Quando vamos passo-a-passo, sem desistir, descansar não é preguiça nem abandono; é estratégia e inteligência.

Muitas vezes, correr é fugir; e caminhar, é enfrentar.

Ninguém aguenta carregar tudo o tempo todo. Para seguir em frente às vezes é necessário diminuir o ritmo, respirar mais devagar, aceitar que não dá para resolver a vida inteira em um dia, de uma hora para outra. A natureza não faz isso. O bambu japonês passa cinco anos apenas criando raízes invisíveis. Durante esse tempo, nada parece crescer na superfície. Depois disso, ele cresce vários metros em semanas. Em certas regiões áridas, algumas sementes aguardam, suportam, sem desistir, esperando a chuva. Quando ela vem, tudo explode em cor. Persistência é sobrevivência. Constância é vitória.

Joshua Earle
Há providências simples que fazem a diferença. Ser franco consigo mesmo e com os outros em relação às suas próprias possibilidades. Levantar mesmo sem vontade, fazer o que cabe no agora e dar sempre um passo pequeno, mas ainda assim um passo.

Cansaço não é fraqueza. Não é sinal de fracasso pessoal, mas sim da ineficiência de uma forma de lidar com a vida, da falha de uma maneira de ser que não funciona mais e que precisa ser substituída por outra, que dá certo.

Todo dia, quando nos levantamos e nos dedicamos a resolver algo, do mais urgente ao menos, vamos sanando cada situação, por pior que ela seja. Se hoje esse é o passo que podemos dar, ainda assim ele vale, porque é na continuidade humilde e perseverante que a bênção se derrama.

A vida não nos exige perfeição, apenas sinceridade no esforço. Vamos fazendo o melhor possível, dentro de nossas possibilidades. Cada dia traz junto consigo uma oportunidade nova, mesmo quando os olhos ainda estão marejados da noite anterior.

Unsp
Nenhum sofrimento é inútil e nenhuma caminhada é solitária. Somos amparados muito além do que imaginamos. Quando for muito difícil dar o passo seguinte, sempre podemos buscar arrimo na oração, que é a maneira de Deus levantar mãos invisíveis para nos auxiliar.

Nenhuma noite permanece. Por mais pesada que seja a hora, o amanhã, que fica logo ali, bem pertinho, sempre chega trazendo novas possibilidades.

Unsp
Façamos o melhor ao nosso alcance, mesmo que seja pouco. A vida nunca abandona quem não se abandona.

Seguir em frente não é correr. É caminhar no seu ritmo, mesmo trêmulo, mesmo machucado, mesmo duvidando. É continuar porque sempre existe saída e esperança, e a prova disso é a estrada bem à nossa frente.

Escrivão de polícia durante cinco anos, nas horas desocupadas — que não eram muitas — deixava-me ficar na Praça Rio Branco, um aconcheg...

praca rio branco cronica paraibana gonzaga rodrigues
Escrivão de polícia durante cinco anos, nas horas desocupadas — que não eram muitas — deixava-me ficar na Praça Rio Branco, um aconchego de sombras que ornava a antiga Prefeitura, a contrastar com a cara de poucos amigos e aquela importância exagerada do barão em sua estátua. Estátua perfeita como eram as antigas, feitas até ali com o olhar em Roma ou na Grécia. Clássicas, como era ainda o ideal de todas as artes entre nós, provincianos. Do tamanho que é, a praça era e continua o entrançado de copas com que uma mão anônima e benfazeja já anunciava a predestinação ambiental da cidade.

O café terá sido introduzido na Turquia por volta do século XVI, durante o reinado do sultão Süleyman, “o Magnífico”. O general mameluc...

cafe turquia constantinopla
O café terá sido introduzido na Turquia por volta do século XVI, durante o reinado do sultão Süleyman, “o Magnífico”. O general mameluco do Império Otomano, Özdemir Pasha, durante o seu mandato como governador do Iémen, fez chegar a Constantinopla (atual Istambul) esta bebida, depois de se ter encantado com o seu sabor e efeitos estimulantes.

Até recentemente, era impossível uma mulher ficar grávida após os 50 anos e sustentar a gravidez. Mas a ciência médica tem evoluído mui...

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Até recentemente, era impossível uma mulher ficar grávida após os 50 anos e sustentar a gravidez. Mas a ciência médica tem evoluído muito, especialmente após a invenção da Inteligência Artificial, a IA. Aí... tudo pode acontecer.

A palavra acorda a memória e altera o desejo; é o instrumento primordial para que a educação se faça. (Bartolomeu Campos de Queirós — A...

marina colasanti critica literaria neide medeiros santos
A palavra acorda a memória e altera o desejo; é o instrumento primordial para que a educação se faça.
(Bartolomeu Campos de Queirós — Arte e Educação)

Marina Colasanti era uma escritora e artista múltipla: contista, cronista, tradutora, ensaísta, poeta e pintora. Sabia lidar, com mestria, com a palavra e com os pincéis. Deixou muitos livros para crianças, para jovens e para o público adulto.

Há um grande trecho de minha infância que permanece entre brumas. Não sei. Parece que não quero abrir a caixa do coração… No entanto, q...

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Há um grande trecho de minha infância que permanece entre brumas. Não sei. Parece que não quero abrir a caixa do coração… No entanto, quanto mais a velhice se instala, mais alguns fragmentos parecem nítidos, como se fossem retirados da névoa do passado. Dizem que não se deve olhar para ele. Mas lá estão os segredos do hoje e o possível conserto do amanhã.

O que faz a essência de uma língua é a sua estrutura, por dizer como ela é formada e como ela funciona. Conhecemos o modo como ela se ...

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O que faz a essência de uma língua é a sua estrutura, por dizer como ela é formada e como ela funciona. Conhecemos o modo como ela se formou pela sua morfologia, e o seu funcionamento pela sua sintaxe. A morfologia é a anatomia de uma língua; a sintaxe, a sua fisiologia. O léxico é apenas a carnação, de modo que uma língua pode ter na sua composição lexical vocábulos de línguas diferentes daquela da sua estrutura.

    FINADOS Todos os anos, novas flores, em túmulos lavados, murcham e caem, sob o sol de novembro. Todos os anos, uma ve...

poesia paraibana marineuma oliveira
 
 
FINADOS
Todos os anos, novas flores, em túmulos lavados, murcham e caem, sob o sol de novembro. Todos os anos, uma vela acesa

“— Senhor Presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que am...

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“— Senhor Presidente, com a permissão de Vossa Excelência, falarei de frente para o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que ameaçou me matar hoje ao começar meu discurso.”

E, em seguida, a bala cantou.

Sessenta e dois anos depois, acho que vale a pena recordar um dos momentos mais trágicos do Senado brasileiro.

Minha Nossa Senhora! Vejo-me entre os últimos dos moicanos. Ou, então, entre os últimos tamoios, se transferirmos o drama dos povos e...

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Minha Nossa Senhora! Vejo-me entre os últimos dos moicanos. Ou, então, entre os últimos tamoios, se transferirmos o drama dos povos em extinção para os residentes neste Brasil sofrido e desigual. Explico: não trato, aqui, da trama concebida em papel e tinta, na Nova York de 1826, pelo romancista James Fenimore Cooper, nem dos eventos que, em 1567, alicerçaram os caminhos e a sina do Rio de Janeiro. Pobre Rio, trágico desde seus princípios.