“Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
E no alto subi
Teci um tapete floreado
E no sonho me perdi”
Os versos falam sobre transformar as dificuldades em algo positivo; sonhar e buscar realizar esse sonho. Pensar assim é ter coragem de enfrentar os percalços da vida, como ela fez, produzindo doces para sobreviver, mas realizando seu sonho de escritora, ao colar, nos saquinhos de papel que serviam de embalagem, seus poemas encantadores.
Ousadia foi a palavra que me veio à cabeça, ao me meter na aventura de ir a Paraty conhecer a festa literária mais importante do Brasil. Participar desse evento era um desejo antigo a que me dei o luxo de realizar.
Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
Marineuma Oliveira
Há atividade para tudo quanto é gosto. Da programação oficial, formatada em 20 mesas temáticas, que acontecem numa tenda-auditório climatizada, com reprodução das falas num ambiente com telão que fica ao lado (esse sem ar-condicionado, mas pelo menos com acesso gratuito), até a programação de inúmeros outros espaços privados a que chamam de casas, com suas peculiaridades e que competem entre si pelos ávidos participantes itinerantes, que vão de uma a outra, em busca de novidades.
Encontramos muitos lugares alternativos em meio a um areal (único local plano, mas cheio de lama), ao lado do rio que corta aquele pedaço da cidade histórica, feita de pedras desiguais e escorregadias, em que até quem tem nariz empinado precisa andar olhando onde pisa, sob pena de escorregar e ir ao chão da dura realidade.
Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
E vamos encontrando pelas ruas camelôs de livros, dividindo o passeio com vendedores de pipoca, salgadinhos, doces, churros e até milho verde cozido! E há os restaurantes caros, cafés, bistrôs, onde acontecem saraus e leituras de textos os mais diversos. Mas não se engane: tudo é muito caro e nem sempre bom. Houve dia em que faltou água e café, acreditem, numa cafeteria.
No entanto, gostei muito da experiência. Ter o nome na programação oficial, através da participação em uma casa parceira, poder lançar um livro na FLIP e estar em uma coletânea de textos de autoria feminina encheram-me de orgulho. Fiz questão de marcar presença e colocar à venda, numa mesinha branca, forrada com toalha preta, meus três livros de poesia. E as pessoas, curiosas, paravam, folheavam, perguntavam de mim e alguns até compravam.
Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
Das mesas oficiais, assisti a três no espaço pago. Eu queria sentir todos os lugares dali. Na mesa de abertura, David Jackson e Adriana Armony falaram sobre Patrícia Galvão, Pagu, a pessoa homenageada do evento. Logo após, veio o show de Adriana Calcanhoto.
Além da mesa 19, cujo tema foi “Só então pude falar”, composta pelo escritor mais lido do momento, Itamar Vieira Júnior, Miriam Espodito e a simpática Glicéria Tupinambá, vi, com muito apreço, a mesa 15, que trouxe falas sobre o artista em destaque, Augusto de Campos, vivinho da silva, com seus 92 anos, um gênio do que ouso chamar, com todo respeito que merece, de poeta do virtual, visual e sinestésico, reverenciado por André Vallas, Ricardo Aleixo e Simone Homem de Melo.
Feira Literária Internacional de Paraty (RJ)Flip
A experiência foi boa. É preciso vivê-la, se você escreve e gosta de literatura. Juntar pedras e construir com elas escadas é ainda o que mais precisamos aprender a fazer. Se voltarei lá um dia? Quem sabe? Talvez. Por que não?