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13 de fevereiro de 1923. Há cem anos nascia Joacil de Brito Pereira. Quem diria. O tempo passou ligeiro. Até há pouco, pode-se dizer...

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13 de fevereiro de 1923. Há cem anos nascia Joacil de Brito Pereira. Quem diria. O tempo passou ligeiro. Até há pouco, pode-se dizer, a presença dele era certa em todo acontecimento relevante de nossa vida política e cultural. Mesmo nos anos outonais, quando a idade já lhe começava a pesar, enquanto lhe foi possível, nunca deixou de comparecer a nada que julgasse merecer apoio e prestígio. E o prestígio era sempre conferido por ele ao evento, fosse qual fosse, e não o contrário.

Este tema prendeu minha atenção em antigo texto de Rachel de Queiroz datado de 24 de agosto de 1990. Já lá se vão mais de 32 anos. A ce...

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Este tema prendeu minha atenção em antigo texto de Rachel de Queiroz datado de 24 de agosto de 1990. Já lá se vão mais de 32 anos. A cearense escrevia sobre a posse do paraibano Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras, ocorrida no dia 9 daquele mês já longínquo, e destacava o fardão especial do novo acadêmico, mistura do modelo de praxe adotado por seus pares com particularidades trazidas por Ariano, sempre preocupado em ressaltar sua nordestinidade.

Refiro-me a Edson Nery da Fonseca, o escritor e intelectual recifense, que, depois de aposentar-se, escolheu para morar pelo resto da v...

nelson nery fonseca gilberto freyre olinda
Refiro-me a Edson Nery da Fonseca, o escritor e intelectual recifense, que, depois de aposentar-se, escolheu para morar pelo resto da vida uma casa em Olinda, vizinha ao Mosteiro de São Bento. Uma escolha de jeito nenhum aleatória, mas, ao contrário, muito refletida, se levarmos em conta sua condição de oblato beneditino. Essa casa, que me penitencio por não conhecê-la, ao menos em sua fachada externa, quando fui a Olinda e visitei o Mosteiro, deve ter sido escolhida a dedo pelo escritor por várias razões e foi uma grande sorte ele tê-la encontrado, em algum momento, disponível para compra ou locação. Mas o fato é que Nery conseguiu realizar o desejo de viver materialmente junto ao claustro, à igreja e ao refeitório de sua veneração e de sua frequência diária, o que lhe permitiu,

"Tudo que é sólido desmancha no ar” é uma frase famosa extraída do Manifesto Comunista de Marx e Engels. E é também o título d...

blair moro neves urss colapso
"Tudo que é sólido desmancha no ar” é uma frase famosa extraída do Manifesto Comunista de Marx e Engels. E é também o título do célebre livro do norte-americano Marshall Berman, um extenso ensaio sobre a modernidade. Aqui não vou comentar o contexto original da frase nem a obra ensaística de Berman. Faltam-me espaço e ciência para tanto. Ficarei apenas com o sentido comum da mesma, despindo-a de quaisquer significados político-filosóficos, ficando, portanto, no rés do chão de sua quase literalidade, ok? Pois bem.

Era uma vez uma mulher, brasileira, que recusou-se a fazer amor com ninguém mais ninguém menos que Alain Delon, o célebre ator francês...

alain delon fernanda bruni boate regines
Era uma vez uma mulher, brasileira, que recusou-se a fazer amor com ninguém mais ninguém menos que Alain Delon, o célebre ator francês, à época considerado por muitos e muitas como o homem mais bonito do mundo. Estamos falando do ano de 1978 e o ator estava com meros 42 anos de beleza incontestável. Hoje, pelas fotos mais recentes, ele é uma múmia igual a outras da mesma idade, para consolo e vingança daqueles que sempre viveram em sarcófagos. Não há beleza que resista ao tempo, esse “escultor de ruínas”, bem sabe o leitor, mas vamos ao que interessa.

Gratidão, essa palavra-tudo. Assim a definiu Drummond, com sua capacidade de síntese. Para mim, pobre pecador, é a virtude maior...

gratidao evaldo ribeiro silva
Gratidão, essa palavra-tudo. Assim a definiu Drummond, com sua capacidade de síntese. Para mim, pobre pecador, é a virtude maior, que persigo, embora humanamente sujeito, como seria de esperar, a falhas e esquecimentos. Agradecer sempre que possível, reconhecer e proclamar as benfeitorias e bondades recebidas, enaltecendo aqueles e aquelas que algum bem nos fizeram, mínimo que seja. E se as circunstâncias permitirem, que as graças sejam dadas expressamente, com todas as palavras, em som e em letras, para que todos saibam do benefício, do beneficiado e do benfeitor. E, se for o caso, que o louvor se manifeste apenas no silêncio do coração, última tribuna de que dispomos para expressar, só para nós mesmos, os agradecimentos que não puderam vir à luz.

Pelé morreu. Dá para acreditar? Parece que não, mas é o jeito. Afinal, tratava-se de uma morte anunciada. Ele já estava condenado, ...

pele futebol personalidades brasileras
Pelé morreu. Dá para acreditar? Parece que não, mas é o jeito. Afinal, tratava-se de uma morte anunciada. Ele já estava condenado, recebendo apenas os cuidados paliativos: o corpo ferido irremediavelmente não mais respondia a quaisquer tratamentos. Fez-se o possível. Mas há, sabemos, um limite para tudo. Os seres e as coisas têm fim. Entretanto, repito: dá para acreditar?

Ídolos populares da altitude de Pelé parecem eternos. A gente se acostuma tanto com eles, com a presença cotidiana deles na nossa vida, através da televisão, dos jornais e demais meios de comunicação social, que nem sequer admitimos a hipótese de não tê-los mais.

Este texto é dedicado ao meu amigo Martinho Leal Campos, leitor e fã de Nélida Chamo-a apenas pelo primeiro nome como se com e...

nelida pinon literatura brasileira
Este texto é dedicado ao meu amigo Martinho Leal Campos, leitor e fã de Nélida

Chamo-a apenas pelo primeiro nome como se com ela tivesse tido alguma intimidade. Mas quem sou eu para tanto? Apenas um leitor. Todavia, sabemos, o leitor tem direito a tais atrevimentos com relação aos autores, sejam eles amados ou não. Ao lê-los e portanto trazê-los para o mais íntimo de nós, tornamo-nos amigos – ou ao menos conhecidos, justificando-se, assim, a quebra de maiores cerimônias e formalidades. Então, que seja Nélida, apenas Nélida, a grande escritora que nos deixou há poucos dias em Lisboa, na Península Ibérica tão amada por ela, tão próxima da Galícia de suas origens orgulhosamente cultivadas. Nélida, estranho nome, que ela descobriu, para mais amá-lo, ser um anagrama do nome de seu querido avô, Daniel.

Essa coisa de vocação umas vezes é muito simples e outras é muito complexa. Há crianças que praticamente já nascem chamadas para um ofí...

ps carvalho mpb musica paraibana
Essa coisa de vocação umas vezes é muito simples e outras é muito complexa. Há crianças que praticamente já nascem chamadas para um ofício ou arte, como Mozart. E há idosos que nunca descobriram verdadeiramente sua aptidão mais profunda. Claro que Mozart foi um gênio e uma exceção, mas há casos e casos semelhantes. O que quero dizer é que identificar a vocação e poder segui-la com algum êxito é uma dádiva, uma felicidade que se reflete em todos os outros aspectos da vida da pessoa.

Quando recebi o convite para o lançamento do mais recente livro de Rubens Nóbrega, de título Baixa do Mel (Editora Ideia, João Pesso...

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Quando recebi o convite para o lançamento do mais recente livro de Rubens Nóbrega, de título Baixa do Mel (Editora Ideia, João Pessoa, 2022), imaginei, no primeiro momento, que devia ser algum texto memorialístico do bananeirense que nunca deixou o chão natal, apesar de viver em João Pessoa há muitos anos. Nunca tinha ouvido falar na tal Baixa, mas supus que devia ser algum lugar relacionado a Bananeiras, atual ou antigo, que o jornalista/escritor estivesse resgatando através da memória e da palavra escrita. Só depois, quando fui ler com mais atenção o convite, é que me dei conta de que se tratava de um romance. Veja só, um romance, pensei, para completar imediatamente: Cabra corajoso, esse Rubens.

Poesia exige um leitor especial. Não é qualquer um que é habilitado (pelos deuses?) a adentrar sua linguagem, seus segredos e sua belez...

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Poesia exige um leitor especial. Não é qualquer um que é habilitado (pelos deuses?) a adentrar sua linguagem, seus segredos e sua beleza. Não importa que o leitor seja afeito aos romances, aos contos, às crônicas e aos ensaios; se ele não possuir a chave dessa porta estranha chamada poesia, ele jamais penetrará nessa casa de tantas moradas; permanecerá sempre do lado de fora desse refúgio de eleitos, dessa confraria de escolhidos. Por isso, são poucos os leitores desse gênero literário, são escassas as vendas dos livros de poemas, apesar de serem muitos os que se aventuram a escrever e publicar nessa seara aparentemente fácil, mas tão arredia, como bem sabem os verdadeiros bardos, os que adotaram, por vocação, essa difícil forma de expressão pela palavra.

O sonho irrealizado compõe também o acervo de nossas vidas”. Esta frase é de Josué Montello, o romancista, e gosto muito dela. Por sua...

O sonho irrealizado compõe também o acervo de nossas vidas”. Esta frase é de Josué Montello, o romancista, e gosto muito dela. Por sua verdade e pela inevitável reflexão a que ela nos conduz. Ao lê-la e ao refletirmos sobre ela, somos levados a fazer um balanço existencial, a conferir o que fizemos e, principalmente, o que não fizemos, o que deixamos de fazer, pelas impossibilidades que as circunstâncias da vida nos impuseram, a despeito de nossos desejos e até de nossos esforços. Sim, os sonhos irrealizados constituem um fato de nossa vida, da vida de todos e de qualquer um, e os fatos, fatos são, realidades que não podemos mudar. Mas ainda assim, como bem disse o escritor maranhense, essas quimeras também fazem parte do nosso currículo secreto, aquele que apresentamos apenas a nós mesmos, pois, em tese, a ninguém mais interessa.

Pois é, existem diplomas e diplomas, medalhas e medalhas, títulos e títulos. As pessoas sabem disso, sem que ninguém precise explicar ...

elio gaspari ditadura democracia etica merecimento
Pois é, existem diplomas e diplomas, medalhas e medalhas, títulos e títulos. As pessoas sabem disso, sem que ninguém precise explicar a diferença entre uns e outros. E isso é bom, pois prova que a inteligência pública para intuir certas verdades muitas vezes é subestimada pelos que se julgam mais espertos que os outros. Circulando por aí, sabemos, tem muito diploma, muita medalha e muito título cujo recebimento diminui mais que engrandece os seus agraciados. E também, ao contrário, muito diploma, muita medalha e muito título cujo não recebimento só aumenta a estatura dos não contemplados.

Ela nunca tocara tão bem até então. O artista sabe. Sempre. Quando se sai bem e quando não. Quando se sai mais ou menos também. O artis...

musica violino violinista concerto
Ela nunca tocara tão bem até então. O artista sabe. Sempre. Quando se sai bem e quando não. Quando se sai mais ou menos também. O artista não precisa da crítica, pelo menos não sempre. Pois ele, lá no fundo de si mesmo, sabe. Ou desconfia. As críticas favoráveis certificam-lhe o que ele já sabe – ou pressente -, mas servem-lhe de afago, de confirmação, coisas tão necessárias para o ego inseguro quanto água para os sedentos. Por isso ela estranhou aquele silêncio vindo de quem ela menos esperava. Que ocorrera? Ela queria entender.

O eventual leitor (ou leitora) poderá, com toda razão, indagar o que têm a ver Van Gogh e Vermeer com sopa de tomate. Explico. É que te...

protestos fanatismo religiao pinturas
O eventual leitor (ou leitora) poderá, com toda razão, indagar o que têm a ver Van Gogh e Vermeer com sopa de tomate. Explico. É que telas famosas de ambos os pintores, grandes nomes da arte universal, foram recentemente atingidas, em diferentes museus do mundo, por sopa de tomate lançada por ativistas que protestavam contra danos ao meio ambiente. Como se vê, dois artistas distintos, dois grupos de ativistas diversos, um mesmo meio de agressão (a sopa de tomate) e um mesmo motivo (o protesto a favor do ambiente). Aqui, vamos tentar analisá-los conjuntamente,

Motivo para pessimismo não falta, sabemos bem. É só abrir os jornais sobreviventes e assistir às TVs. O bicho-homem continua agindo mal...

diversidade evolucao democracia
Motivo para pessimismo não falta, sabemos bem. É só abrir os jornais sobreviventes e assistir às TVs. O bicho-homem continua agindo mal, não aprende as lições da História e se compraz, sob muitos aspectos, em permanecer nas cavernas e não no século XXI. Apesar disso, genericamente, o mundo avança. Devagarinho, mas avança. É só prestarmos atenção, para, em alguma medida, encontrarmos um mínimo de consolo em meio a tanta desolação. Vejamos.

E eis que Virginius completaria cem anos se vivo fosse nesse 19 de outubro de 2022. Levando a vida boêmia que levou, dificilme...

literatura paraibana virginius gama melo
E eis que Virginius completaria cem anos se vivo fosse nesse 19 de outubro de 2022. Levando a vida boêmia que levou, dificilmente atingiria o centenário, mas a vida tem seus mistérios e o menestrel poderia perfeitamente ainda estar entre nós, inclusive com o pleno uso das faculdades mentais, como alguns idosos privilegiados que estão por aí. Seria curioso ouvirmos o que ele estaria achando dessa nossa contemporaneidade, tão diferente do seu tempo, a despeito de ter sido ontem que ele pontificou em nosso meio. Esse centenário terá certamente muitas comemorações; pelo menos, é o que espero, sempre receoso que sou da amnésia paraibana. Para prevenir algum lapso oficial, temos a seguir uma espécie de sumária rememoração do grande crítico e romancista que tanto marcou nossa vida cultural no século passado, seguindo uma certa ordem cronológica, para facilitar a leitura e o desenrolar do texto.

Parece título de fábula ou de conto de fada. Mas não é. Trata-se de história verídica contada, segundo Mirabeau Dias, por Genival Vel...

jaguaribe sapateiro dostoievski
Parece título de fábula ou de conto de fada. Mas não é. Trata-se de história verídica contada, segundo Mirabeau Dias, por Genival Veloso, nosso mestre de Medicina Legal. O tal sapateiro chamava-se Isac, morava e trabalhava em Jaguaribe, meado do século passado, e era quem consertava os calçados da família de Genival, também moradora do bairro. Esse artesão, autêntico espécime do proletariado urbano, tinha uma característica inusitada: gostava de ler Dostoiévski, autor até hoje considerado não muito fácil e por isso restrito a paladares literários mais refinados. Veja só.

Há algum tempo, escrevi sobre Manelito Vilar, que havia falecido em 28 de julho de 2020, em plena pandemia. Intitulei meu texto, que fo...

Há algum tempo, escrevi sobre Manelito Vilar, que havia falecido em 28 de julho de 2020, em plena pandemia. Intitulei meu texto, que foi publicado neste mesmo ALCR, de “Um herói paraibano”, e até hoje essa crônica apologética dedicada ao grande empreendedor na área do agronegócio em nosso Estado teve meu recorde de “curtidas” dos leitores: mais de trezentos polegares para cima. Fiquei surpreso com essa reação, não manifestada até então com tanta ênfase, mas depois compreendi a razão do entusiasmo: não foi exatamente o texto e sim o personagem-tema que mobilizou as mais diversas admirações e cumprimentos.

Até os anos 1970, mais ou menos, o prato típico e sagrado dos domingos nas casas da classe média brasileira – e até mesmo nas de muit...

culinaria domestica familia domingo galinha
Até os anos 1970, mais ou menos, o prato típico e sagrado dos domingos nas casas da classe média brasileira – e até mesmo nas de muitos trabalhadores – era a galinha. A galinha cozida (ou torrada, como diziam alguns), ao molho cabidela ou não, acompanhada de arroz, feijão verde, talvez uma farofinha, uma salada talvez. A bebida era normalmente o ponche de fruta do dia a dia, podendo às vezes ser um guaraná. A Coca-Cola não havia ainda dominado o mercado, pelo menos aqui no Nordeste. Havia umas laranjadas, tipo Crush, e a Grapette, de uva, cujo slogan genial era “quem bebe, repete”.