Gratidão, essa palavra-tudo. Assim a definiu Drummond, com sua capacidade de síntese. Para mim, pobre pecador, é a virtude maior...

Gratidão a Evaldo

gratidao evaldo ribeiro silva
Gratidão, essa palavra-tudo. Assim a definiu Drummond, com sua capacidade de síntese. Para mim, pobre pecador, é a virtude maior, que persigo, embora humanamente sujeito, como seria de esperar, a falhas e esquecimentos. Agradecer sempre que possível, reconhecer e proclamar as benfeitorias e bondades recebidas, enaltecendo aqueles e aquelas que algum bem nos fizeram, mínimo que seja. E se as circunstâncias permitirem, que as graças sejam dadas expressamente, com todas as palavras, em som e em letras, para que todos saibam do benefício, do beneficiado e do benfeitor. E, se for o caso, que o louvor se manifeste apenas no silêncio do coração, última tribuna de que dispomos para expressar, só para nós mesmos, os agradecimentos que não puderam vir à luz.

Debby Hudson
Em minha vida já medianamente longa, tenho tido a ventura de receber bondades mil. Desde criança e desde jovem. E sem maiores merecimentos de minha parte, apresso-me a dizer. Mas simplesmente tem sido assim. E por isso aos céus e às pessoas busco ser grato.

Uma dessas gratidões carinhosamente cultivadas é dirigida aos pais e mães de meus amigos de infância e juventude que me receberam em casa com afabilidade explícita ou tácita. Pais e mães que, de certo modo, fizeram-se meus também, na medida em que estenderam sobre mim – e outros infantes e jovens também – o manto generoso da guarida doméstica e familiar. Por isso, não os esqueço. Por isso, quando casei, convidei-os para me apadrinharem, tão próximos e queridos eram – e são. Edmo e Rita, Edward e Lourdes, Evaldo e Carmen Isabel, Levi e Cremilda, Orlando e Íris. Naquele momento, porque ausentes, não pude reverenciar, salvo no pensamento, Seu José Luna e Dona Rosa, pais do meu amiguinho de infância Nilsinho, todos já “dormindo profundamente”, como diria o poeta Bandeira. Todos esses me acolheram de braços e sorrisos abertos. Uns mais efusivos, outros, mais contidos, cada qual de acordo com seu jeito e seu temperamento; mas todos gentis, fazendo-me sentir que era bem-vindo, coisa tão importante para mim naquela fase de formação. É possível que nem desconfiassem do bem que me faziam apenas com aquela simples recepção hospitaleira.

@hannahverheul
Dentre eles, permita-me o leitor, destacar agora aquele que nos deixou há poucos dias, na plenitude de seus 95 anos bem vividos: Evaldo Ribeiro Silva. Um homem de bem e do bem, em todos os sentidos. Um cidadão modelar. Um filho, um pai, um marido, um irmão, um tio, um amigo para se guardar “no lado esquerdo do peito”, como diz a canção. Alguém que soube viver – e bem viver, significando isso que viveu com sabedoria, fazendo o bem sempre que possível e dando a Deus e a César o que era de cada um, de acordo com o momento e o lugar.

Filho do ilustre pastor Firmino Silva, memorável líder político e religioso de nossa cidade, construtor do belo prédio da Primeira Igreja Batista, ali ao lado do Liceu e da antiga FAFI, Evaldo herdou filialmente a sólida fé que professou até o fim e que tanto o guiou em sua caminhada. Soube, principalmente no outono e no inverno da existência, bem interpretar e bem compreender fatos e pessoas “sub specie aeternitatis”, ou seja, a partir do ponto de vista da eternidade, com visão de longo alcance, além dos limites naturais de nossa precariedade e finitude. Não quer isto dizer que tenha vivido como um anacoreta do deserto, sobrevivendo a mel e gafanhotos. Pelo contrário. Foi um homem que gostava da vida e dos prazeres que lhe são próprios, um homem sociável, musical e esportivo. Daí, certamente, a sabedoria que lhe reconheço e aplaudo neste modesto tributo.

Evaldo e Carmen Isabel / Firmino e Niny Silva @hannahverheul
Há outro aspecto da personalidade de Evaldo que sempre admirei, admiração esta que, estou certo, é partilhada por outros. Casado com uma mulher de reconhecido valor, dotada de luz própria, a professora Carmen Isabel Carlos Silva, que tantos serviços prestou à causa da educação paraibana, Evaldo nunca se abalou nem se incomodou com isso. Soube sempre apoiar a companheira, regozijando-se com suas conquistas e êxitos. Fazia seu o brilho dela e repartia com ela os seus próprios sucessos. Lembremos que numa época e numa região ainda marcada por tanto machismo e de protagonismo quase absoluto dos maridos, essa postura evaldiana foi notável.

Aprendi muito com o meu velho e querido amigo. Assim como também Ednardo, Marcelo, Jorge e outros mais, na família e fora dela, todos e todas generosamente acolhidos em sua casa alegre e de largas portas sempre abertas. Por isso, unimo-nos todos, agora na saudade, para agradecer-lhe, com emoção, tudo que nos legou sem alarde, com cordial e cavalheiresca discrição.

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