Mário de Andrade visita o Sertão (para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem...

Mário de Andrade visita o Sertão
(para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem traga o cigarro o homem traga o insulto ao burguês o homem permanece sentado sem insultar o burguês (o copo na mão, o livro no chão o violão na outra, mário de andrade no chão) um garoto pedala sua bicicleta rumo ao futuro o garoto vai ser emboscado e não encontrará mário de andrade

Meu colega escritor Ariano Suassuna uma vez contou que em seu tempo de estudante existiam apenas 3 opções de cursos universitários. Quem g...

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Meu colega escritor Ariano Suassuna uma vez contou que em seu tempo de estudante existiam apenas 3 opções de cursos universitários. Quem gostava de abrir barriga de lagartixa ia estudar medicina. Os bons em matemática seguiam o curso de engenharia. Os que sobravam estudavam direito. No caso dele deu num péssimo advogado. Seu primeiro emprego foi no mais renomado escritório de advocacia de Recife, do Dr. Murilo Guimarães.

Ao ler a crônica do jornalista Petrônio Souto sobre o Cabo Branco — no Ambiente de Leitura Carlos Romero — e a degradação da enseada, me ...

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Ao ler a crônica do jornalista Petrônio Souto sobre o Cabo Branco — no Ambiente de Leitura Carlos Romero — e a degradação da enseada, me bateu uma tristeza! Morei por dez anos à beira mar naquela praia, nos anos 70, e reafirmo que era um paraíso de beleza. Depois vim morar no Bessa e, desde 1984 (isso mesmo: a data de George Orwell e a distopia do mundo) que habito por entre cajueiros de conta e que se perderam na invasão dos prédios des-ordenados, dos pombos e das sujeiras de que fala Petrônio. Assim também assisti, incrédula, à deterioração dos paraísos que tive a sorte de conhecer no início dos anos 80: Pipa (RN), Praia do Francês (AL) e Canoa Quebrada (CE).

Seu Elias foi realmente um caso preocupante, como mostrou a sua evolução. Nasceu portador de uma síndrome pouco conhecida: Agenesia de Anj...

Seu Elias foi realmente um caso preocupante, como mostrou a sua evolução. Nasceu portador de uma síndrome pouco conhecida: Agenesia de Anjo da Guarda.

Pois é, Seu Elias nasceu desprovido daquela entidade mítica tão importante para as crianças, aquele que, distante da mãe, não deixa que o menino entre em situações de risco: banho de mar brabo, de açude ou de rio, pular muro para roubar goiabas, pegar “morcego” em ônibus ou caminhonetas, aperrear o doido da cidade. Ou se o menino entrar em frias, livrá-lo delas.

Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do ...

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Tirante as conquistas da tecnologia no âmbito da saúde, cuja aplicação não depende de mim, sempre emperrei em assimilar e me apropriar do que se louva como progresso tecnológico. Não sou contra, e embora tenha levado muito tempo para mudar de teclado, e veja a um palmo dos olhos o asseio luminoso do texto eletrônico, mesmo assim ainda me ressinto da segurança da linha batida fiche no papel. Por mais rebatido, por mais sujo que tenha terminado o texto datilográfico.

A palavra “cancelamento” ganhou popularidade a partir do BBB21, edição que nossa conterrânea Juliette sagrou-se vitoriosa. Logo no início ...

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A palavra “cancelamento” ganhou popularidade a partir do BBB21, edição que nossa conterrânea Juliette sagrou-se vitoriosa. Logo no início do programa, polêmicas envolvendo a artista Karol Conká, tida como uma “metralhadora de cancelamentos”, como ouvi na época, ajudaram a popularizar o termo. Cancelamento é uma espécie de veto, de rejeição, de “sai pra lá”... e a polêmica do cancelamento da vez envolve uma canção composta em 1966 por um jovem de 23 anos chamado Chico Buarque, atendendo a um pedido de uma intérprete só um pouco mais velha que ele, Nara Leão, que queria uma música de “mulher sofrida”.

Cedo acordei para a vida, vida de camponês que conviveu na brisa em período chuvoso e com as intemperes do verão. No tempo de adolescente,...

Cedo acordei para a vida, vida de camponês que conviveu na brisa em período chuvoso e com as intemperes do verão. No tempo de adolescente, quando as tormentas me consumiam em fogo brando, sem saber, construía espaços espirituais onde repousaria minha cabeça depois de recostado às paredes que me agasalharam. Os caminhos foram longos, tiveram pedras e espinhos, a todos transpus sem perceber. Demorei chegar, mas cheguei conduzido pelos ventos da esperança.

"O homem é um egoísmo mitigado por uma indolência" (Fernando Pessoa) Uma poeira fina levantada pelo vento, retirava a perfeit...

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"O homem é um egoísmo mitigado por uma indolência"
(Fernando Pessoa)

Uma poeira fina levantada pelo vento, retirava a perfeita visibilidade do caminho. No auge do verão e no calor do meio dia, o ar condicionado do automóvel parecia um privilégio. A atenção que poderia ser definida como a direção da consciência sobre um objeto, nesse momento, era dispersa, vagava indistintamente sobre imagens, estímulos e sons, sem que se detivesse em nada especial. Mas, o ritmo da distração, de repente, sofreu uma mudança... um engarrafamento quilométrico se estendia à frente, formando um colar sequencial de pontos cinza, preto e branco, cores comuns aos carros atuais. Uma breve irritação pelo imprevisto buscou a agenda, anotou atividades para o final de semana, avisou no grupo do zap que haveria atraso na chegada, para que não suscitasse preocupação familiar. A água mineral e o biscoitinho caseiro anteciparam a diversão mais tardia.

Zapeando pelas muitas páginas deste universo internetiano, encontro em um blog pernambucano – Jornal da Besta Fubana, artigo que me fez pe...

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Zapeando pelas muitas páginas deste universo internetiano, encontro em um blog pernambucano – Jornal da Besta Fubana, artigo que me fez pensar em outro tempo e comparar procedimentos daqui e de além.

Perguntei a Burity — na casa do Dr. Paulo Maia, em que o ex-governador, mais o maestro Kaplan, o violinista Yerko Tabilo, o contrabaixist...

solha
Perguntei a Burity — na casa do Dr. Paulo Maia, em que o ex-governador, mais o maestro Kaplan, o violinista Yerko Tabilo, o contrabaixista Hector Rossi, o jornalista Luiz Carlos Nascimento e eu nos reuníamos todos os sábados de manhã, para ouvir música erudita — se ele tivesse que levar uma única obra para uma ilha deserta, qual seria?

– Pai, urge que o senhor aumente a minha mesada. – “Urge”?! O que é isso? – A professora de redação ensinou que a gente deve dizer “u...

– Pai, urge que o senhor aumente a minha mesada.

– “Urge”?! O que é isso?

– A professora de redação ensinou que a gente deve dizer “urge”. Tem mais força do que “é preciso”, “é necessário”. Parece, tipo assim, o rugido de uma fera. URRRGEEE!

Frequentemente a civilização dá as mãos à barbárie e nos faz cair o queixo numa surpresa estupefata. Isso serve, positivamente, para nos...

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Frequentemente a civilização dá as mãos à barbárie e nos faz cair o queixo numa surpresa estupefata. Isso serve, positivamente, para nos advertir, pretensos civilizados, de que a barbárie pode nos aparecer de repente em qualquer esquina, sem qualquer aviso, já que anda solta pelo mundo, sem compromisso com nada e com ninguém, só com o não raro absurdo da existência. Uma dessas situações inacreditáveis aconteceu há poucos dias, em pleno 2022 e em plena Paris.

Paraíba, 6 de fevereiro de 2022

Paraíba, 6 de fevereiro de 2022

A grande força motivadora do homem é o sonho inconsciente de permanência. Por outro lado, a sua maior angústia é a luta do espírito querend...

A grande força motivadora do homem é o sonho inconsciente de permanência. Por outro lado, a sua maior angústia é a luta do espírito querendo escapar da finitude.

Esses dois extremos, sem uma percepção humana individual mais clara, cruzam com maior ou menor frequência o limite ancestral que separa a eterna confrontação entre sonho e realidade, ao longo do que chamamos vida. E esses encontros e seus graus de ocorrência definem a maior perenidade das nossas existências e como as levamos em termos de estabilidade versus insatisfação.

Nota Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de...

carlos nejar jorge elias neto poesia capixaba livro glacial
Nota
Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
Acerca do livro "Glacial", do poeta capixaba Jorge Elias Neto, ele escreve o seguinte:

A glacialidade no fogo
Carlos Nejar

Jorge Elias trabalha o silêncio, seja neve, seja gelo, seja razão exposta, ou delicadeza de sentir. Sua poesia é feita de centelhas que ignoram a cronologia da dor.

Os primeiros portugueses que chegaram ao Brasil, no final do século XV e início do XVI, não tinham a intenção de se fixarem no lugar que, ...

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Os primeiros portugueses que chegaram ao Brasil, no final do século XV e início do XVI, não tinham a intenção de se fixarem no lugar que, segundo o relato de um deles, não produzia nada mais do que um “pau vermelho, a que chamamos brasil”, macacos e papagaios, embora aquele “pau vermelho” fosse, na época, uma madeira de grande valor comercial pela sua utilização como material corante na indústria têxtil.