“ Eu, filho do carbono e do amoníaco ” (Augusto dos Anjos) Sou leitora do cronista maior/amor, Gonzaga Rodrigues , e acompanho os s...

Eu, filho do carbono e do amoníaco
(Augusto dos Anjos)

Sou leitora do cronista maior/amor, Gonzaga Rodrigues, e acompanho os seus escritos sobre as suas perdas: dos amigos, das ruas, da cidade, e do tempo. Já vivo tudo isso e ainda há uma margem de poucos anos menos que ele. Nessa pandemia então, perdi amigos, conhecidos, contemporâneos e com eles, lá se foi um pouco de mim também. E a cidade? Estou igual à minha mãe que, por onde passava, apontava os moradores de cada casa. Eu hoje faço o mesmo. Aqui morava fulana; ali, beltrana. Aquela casa era aonde eu ia estudar com Maria, aquela outra onde eu namorava com João; lá mais adiante conversava com as amigas. E quando passo pelos bairros centrais, mesmo aqui pela praia, já não re-conheço minha cidade. Prédios e prédios tomaram os lugares das casas da minha cidade. João Pessoa cresceu e transfigurou-se. O tempo!

Cronista inspira cronista. Acontece muito. A gente lê uma crônica de outro autor e se sente tentado a abordar tema semelhante ou pareci...

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Cronista inspira cronista. Acontece muito. A gente lê uma crônica de outro autor e se sente tentado a abordar tema semelhante ou parecido sob ótica diferente – a nossa. E desse processo, diga-se, têm resultado, não raro, bons textos; às vezes, até melhores que os originais. Isso vai muito na linha de que em literatura nada se cria de verdadeiramente novo desde os gregos e Shakespeare, o que é verdade, penso eu. Não se trata de plágio, claro, mas apenas de dar um outro enfoque ao assunto. Muitas vezes, toma-se apenas um pequeno detalhe, uma rápida passagem, uma mera citação do texto original, e, partir dali, cria-se um cenário novo, um olhar distinto, uma escritura que nada – ou muito pouco – tem com o ponto de partida.

Paraíba, 28 de agosto de 2022

Paraíba, 28 de agosto de 2022

Escutei o soar do triângulo e corri a ver. Carregando ao lado do ombro um tambor, avisando a passagem pela rua dominical de uma saudad...

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Escutei o soar do triângulo e corri a ver. Carregando ao lado do ombro um tambor, avisando a passagem pela rua dominical de uma saudade da infância. Aquela sonoridade que acabou, pensava eu, volta resistente pelo corredor despido de pessoas, naquela tarde fagueira sem laranjais.

A Batalha de Campo Grande: o começo da popularidade Em 1864, teve início a guerra que foi para o Brasil a mais violenta de sua histór...

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A Batalha de Campo Grande: o começo da popularidade

Em 1864, teve início a guerra que foi para o Brasil a mais violenta de sua história e um acontecimento marcante para a América do Sul: a Guerra do Paraguai. O conflito durou seis anos, deu lugar a numerosas batalhas, e terminou em 1870, com a morte de Francisco Solano Lopez, ditador paraguaio.

O episódio é bastante conhecido. No dia 28 de junho de 1914, o Arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono da Áustria-Hungria visitav...

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O episódio é bastante conhecido. No dia 28 de junho de 1914, o Arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono da Áustria-Hungria visitava com sua mulher a cidade de Sarajevo. Ao passarem em um carro aberto por uma das ruas da capital da Bósnia foram assassinados a tiros por membros de um grupo nacionalista que reivindicava a emancipação da região que era então parte do Império austro-húngaro. Nas quatro semanas que se seguiram ao ato terrorista que levaria ao início da Primeira Guerra Mundial, uma voz portentosa se levantou em defesa da paz tentando convencer os trabalhadores a não participarem do conflito, era a voz do líder socialista francês Jean Jaurès.

Um livro sempre deve ser um alvo. Um livro nos transforma, nos remete ao passado, tenha ele sido vivido em consonância com o tema abord...

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Um livro sempre deve ser um alvo. Um livro nos transforma, nos remete ao passado, tenha ele sido vivido em consonância com o tema abordado, ou lidando no presente principalmente quando bem escrito.

Ele nos acompanha com seus autores quando abordam com riqueza as mudanças sociais e estéticas que venham a acontecer e, de uma certa forma, permanecer em maior ou menor grau com o leitor, por conhecerem a natureza humana em detalhes vivos, que fazem da arte uma composição de elementos atemporais pelas razões expostas.

Duvido, sem pabulagem, que até vinte anos atrás houvesse lugar desta cidade onde eu não encontrasse a quem cumprimentar pelo nome ou vi...

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Duvido, sem pabulagem, que até vinte anos atrás houvesse lugar desta cidade onde eu não encontrasse a quem cumprimentar pelo nome ou vice-versa.

Neste fim de semana, tive de trocar um livro com falhas de impressão (“Democracia e luta de classes”, de Lênin) e só não passei inteiramente incógnito e encandeado nas avenidas do shopping porque, já na saída, irrompeu duma loja o reparo de um amigo velho nestes exatos termos: “Oh, você está bem, ainda em cima dos pés. Mas só escrevendo sobre casa velha.”

Continuo fazendo a garimpagem na internet e descobrindo algumas pérolas. A mais recente é a seguinte: Três coisas salvariam o Brasil: ...

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Continuo fazendo a garimpagem na internet e descobrindo algumas pérolas. A mais recente é a seguinte: Três coisas salvariam o Brasil: "memória histórica, interpretação de texto e consciência de classe”. Comentarei a principal delas, sobre a interpretação de texto, e passarei rapidamente pelas outras duas.

O que, realmente, poderia salvar o Brasil? Direi, sucintamente, que a nossa salvação está na educação. A memória histórica é importante, mas depende diretamente da educação, a partir de que se pode entender o que significa cultuar uma memória, formadora de um conceito de nação.

PONTEIO O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que dei...

poesia paraibana marineuma oliveira
PONTEIO
O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que deixam em aberto mesquinhas suposições? Onde coloco os dois pontos cruciais, que me obrigam a dar inúteis explicações?

Um grupo do agronegócio havia marcado reunião porque queriam assessoria jurídica para um empreendimento que iriam iniciar aqui na Paraí...

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Um grupo do agronegócio havia marcado reunião porque queriam assessoria jurídica para um empreendimento que iriam iniciar aqui na Paraíba. Que legal, pensei. Isso significaria recursos para nosso sofrido Estado, a abertura de muitos postos de trabalho e honorários sempre muito bem-vindos.

A grade de programação do Canal Arts & Entertaimment, da NET, traz “O Grande Kilapy”, filme de Zezé Gamboa, homem que se tornou a m...

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A grade de programação do Canal Arts & Entertaimment, da NET, traz “O Grande Kilapy”, filme de Zezé Gamboa, homem que se tornou a mais importante referência do cinema angolano. Mas pode-se, também, vê-lo no Youtube, desde que por isso se pague.

A ambientação surpreende o público paraibano em razão de passagens pela orla e prédios que assinalam a diversidade arquitetônica de João Pessoa. Chamam, particularmente, a atenção dos que moram, ou conhecem a cidade, as cenas tomadas diante da antiga sede dos Correios e Telégrafos e do Liceu Paraibano, prontamente reconhecidos.

Primavera Primavera traz movimento ao olhar balé de cílios Surpresa de cores São flores! Olhos são para as flores ...

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Primavera
Primavera traz movimento ao olhar balé de cílios Surpresa de cores São flores!
Olhos são para as flores
Vejo um mundo cor de rosa No sentido flor da palavra Na janela Olhando a rua do mundo Um imenso coração Debruado em cor de rosa

Todo jornalista tem sua tragédia profissional. Também tive a minha. No segundo semestre de 1987, no auge da carreira e com elevados índ...

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Todo jornalista tem sua tragédia profissional. Também tive a minha. No segundo semestre de 1987, no auge da carreira e com elevados índices de audiência, fui sumariamente demitido da Rádio Arapuan AM. E, em consequência, vi-me alijado do mercado de trabalho na Paraíba, por um bom tempo.

Era uma noite de mistério e suspense. Algo soturno emanava da atmosfera da fria madrugada de início de ano. O gélido cenário enevoava a...

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Era uma noite de mistério e suspense. Algo soturno emanava da atmosfera da fria madrugada de início de ano. O gélido cenário enevoava a silhueta do palácio, que se estendia em sombras pela vastidão da praça .

A imensa edificação, com quase quinhentos aposentos, de tantas histórias abrigadas em ambiciosa e colossal arquitetura, acervo de bibliotecas e obras de arte da imperatriz Catarina II, sede oficial do império, residência de inverno dos czares, havia de ser o palco ideal escolhido para a justa manifestação que estava por vir.

As castanholas se vestem de um tom vermelho antes de se despirem ao sopro dos ventos de agosto. As folhas entapetam a terra como um abr...

As castanholas se vestem de um tom vermelho antes de se despirem ao sopro dos ventos de agosto. As folhas entapetam a terra como um abraço em meio ao inverno. Orgânico lençol a cobrir e colorir, indistintamente, corpos vegetais e gélidas estruturas de cimento, como um salto de paraquedas sem controle ou alvo definido. Já à noite esfria as superfícies e incendeia a pele com mil sensações e arrepios em tentativas de tradução em livros, filmes, poemas, canções, com vãs interpretações. O entendimento pleno só virá com o experimento, com o toque entre a fria lâmina no pingo da chuva no pescoço desnudo, na mão livre.