Sinto necessidade de escrever uma crônica sobre os netos. Tomo emprestado o título de crônica de Carlos Drummond de Andrade, publicad...

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Sinto necessidade de escrever uma crônica sobre os netos. Tomo emprestado o título de crônica de Carlos Drummond de Andrade, publicada na primeira edição da revista Manchete, edição de 26 de abril de 1952: “Cultive o seu neto”. O poeta mineiro fala da sensação de contemplar ao berço o neto recém-nascido, aconselhando-nos a cultivar os pequenos, porque “é a maneira mais discreta de envelhecer com ternura e dignidade”.

Ao chegar em casa, ele notou que alguma coisa estava errada. A mulher ...

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Ao chegar em casa, ele notou que alguma coisa estava errada. A mulher e um dos filhos, em pé na sala, empunhavam cartazes. O do rapaz dizia: “Agora é tudo ou nada! Aumento na mesada!”. A esposa não fizera por menos: “Basta de ladainha. Homem também cozinha!”. Tudo rimado, para soar mais forte.

O sol bate na janela, e eu me pego pensando na vida. Não na vida que se mede em batimentos cardíacos ou em anos no calendário, mas na...

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O sol bate na janela, e eu me pego pensando na vida. Não na vida que se mede em batimentos cardíacos ou em anos no calendário, mas naquela força que nos empurra para frente, a potência. Essa energia misteriosa que faz uma semente rachar o concreto, uma criança aprender a andar, ou um velho sábio acender os olhos ao falar de amor.

Como sempre, iluminado pelo Espírito Santo, estava em meu gabinete de trabalho logo cedo, pela manhã. Como de costume, predominavam o r...

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Como sempre, iluminado pelo Espírito Santo, estava em meu gabinete de trabalho logo cedo, pela manhã. Como de costume, predominavam o reflexivo e o contemplativo, e me vieram à mente algumas divagações filosóficas sobre a valorização do nosso ser e do nosso agir ao longo de nossa existência. Sendo assim, meus caríssimos leitores, cheguei à conclusão de que a fonte inesgotável da filosofia está em responder aos apelos da alma. É procurar compreender o sentido de nossas dores, medos e, assim, nos libertar de sua influência.

Entre o Tempo e o Afeto: uma ode realista ao envelhecer O livro Velhice Sinistra nasce de uma encruzilhada íntima e coletiva: atrav...

Entre o Tempo e o Afeto: uma ode realista ao envelhecer
O livro Velhice Sinistra nasce de uma encruzilhada íntima e coletiva: atravessar um dos períodos mais sombrios da história recente do Brasil, marcado por instabilidades políticas, perdas em massa e isolamento e, nesse percurso, sofrer a dor irremediável da perda do pai, figura de afeto e orientação. A partir dessa dor fundadora, o autor nos entrega uma obra que vai além do relato pessoal:

Eles passam praticamente todo dia. Devem morar na vizinhança, pois andam a pé e já não são jovens. Vão de mãos vazias e retornam com s...

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Eles passam praticamente todo dia. Devem morar na vizinhança, pois andam a pé e já não são jovens. Vão de mãos vazias e retornam com sacolas de supermercado. É quase um ritual. Imagino que essa caminhada é a ginástica que praticam, se é que essa palavra, ginástica, ainda existe, já que vem dos meus tempos de adolescente no Colégio Estadual do Roger, de saudosa memória (desculpem o clichê). De minha varanda, eu os observo com curiosidade científica, por conta de um detalhe que me chamou a atenção: andam sempre separados, ele na frente e ela atrás, nunca lado a lado. Como interpretar?

Já não é segredo nas minhas crônicas de viagem que London London ocupa um primeiro lugar especial. Sou louca pela cidade, que conheci ...

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Já não é segredo nas minhas crônicas de viagem que London London ocupa um primeiro lugar especial. Sou louca pela cidade, que conheci nos longínquos 1975, e nesse momento, me esbaldei nos pontos turísticos, nas artes, no mundo das feiras (Notting Hill), e nas túnicas indianas de espelhinho.

O título é recurso que me ocorre, tirado de uma página de Severino Ramos dedicada à solidão povoada vivida por José Américo quando se ...

O título é recurso que me ocorre, tirado de uma página de Severino Ramos dedicada à solidão povoada vivida por José Américo quando se recolhe àquela Tambaú do tempo e do livro de Walfredo Rodriguez.

“Ó crentes na unidade de Deus, pessoas de fé e boas obras, que agem com justiça uns para com os outros e que, na causa da verdade, nã...

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“Ó crentes na unidade de Deus, pessoas de fé e boas obras, que agem com justiça uns para com os outros e que, na causa da verdade, não temem as reprovações dos homens nem a tirania dos déspotas: saibam que a luz que o seu Senhor colocou em seus corações é a verdade guia em sua pureza, e é misericórdia e compaixão em toda a sua ternura, e nessa pureza e naquela ternura há força e resolução.”

  Entre o riso e a amargura Eu escolhi a amargura, Você preferiu o riso largo. Então, enquanto me martirizo, Você apenas gargal...

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Entre o riso e a amargura
Eu escolhi a amargura, Você preferiu o riso largo. Então, enquanto me martirizo, Você apenas gargalha. Enquanto me devasto, Você se reconstroi, Antes meus olhos

Há algum tempo, uma aluna de um curso de letras, ao comentar num artigo a “Carta pras Icamiabas”, cap. IX do Macunaíma , de Mário d...

mario andrade luis verissimo
Há algum tempo, uma aluna de um curso de letras, ao comentar num artigo a “Carta pras Icamiabas”, cap. IX do Macunaíma, de Mário de Andrade, se insurgiu contra a gramática, na presunção de que a língua ou a comunicação linguística possa existir sem ela, ou na ignorância do fato de que o próprio Mário de Andrade escreveu uma Gramatiquinha, que

Conheci Nevinha Carvalho no final da década de 1960. Era madrinha de batismo de meu avô Romualdo de Medeiros Rolim e cerca de oito ano...

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Conheci Nevinha Carvalho no final da década de 1960. Era madrinha de batismo de meu avô Romualdo de Medeiros Rolim e cerca de oito anos mais velha que ele. Nevinha era irmã de Maria Arminda Carvalho Ribeiro, casada com Mateus Gomes Ribeiro, ex-Secretário das Finanças da Paraíba e tia avó do escritor e poeta paraibano Clemente Rosas.

Victor Hugo é um dos maiores escritores da humanidade. Além de romancista, poeta, dramaturgo, crítico, homem político – fazendo Polític...

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Victor Hugo é um dos maiores escritores da humanidade. Além de romancista, poeta, dramaturgo, crítico, homem político – fazendo Política, com “P” maiúsculo – ele era um pensador, construindo, ao longo de sua obra, frases que são verdadeiras sentenças, incluídas, sem a menor hesitação, na categoria dos aforismos.

De: creusapires@nocéu Para: joaoazevedo@gov.pb Senhor Governador, me permita tratá-lo por João...

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De: creusapires@nocéu
Para: joaoazevedo@gov.pb

Senhor Governador, me permita tratá-lo por João. Começo agradecendo seu nobre gesto de sancionar a iniciativa da Assembleia Legislativa da Paraíba que deu meu nome para o Hospital da Mulher. Preciso ainda agradecer com muita força a iniciativa do Deputado Branco Mendes que contou com o apoio decisivo do Presidente Adriano Galdino. Sobre a ideia, pensei que era coisa daquele meu filho meio acelerado, que faz caminhadas nas madrugadas com o Deputado Branco. Mas não foi.

No que diz respeito à essência do cão e à comunicação primária, John Locke (1690) afirmou que “a essência é composta pelas coisas inte...

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No que diz respeito à essência do cão e à comunicação primária, John Locke (1690) afirmou que “a essência é composta pelas coisas internas e geralmente desconhecidas que podem ser descobertas e são responsáveis pelas qualidades de um ser".

Que bom! Johnny Mathis está vivo. E ainda canta “Misty”. Consegue fazer isso no mesmo tom e com a voz suave dos inícios de 1960. Eu ...

johnny mathis
Que bom! Johnny Mathis está vivo. E ainda canta “Misty”. Consegue fazer isso no mesmo tom e com a voz suave dos inícios de 1960. Eu o reencontrei por acaso durante o mais recente dos meus costumeiros passeios pela Internet. Estava lá, à frente de um fundo escuro, o homem agora calvo e enrugado, o ser alquebrado e irreconhecível, não fora pelo talento espantoso, pela canção que eternizou
e pela maciez do timbre imaculado, espantosamente, no transcurso das décadas.

Johnny vai para os 90 anos, a serem completados em setembro. Acreditem: aquela garganta de menino ainda sustenta os agudos de outrora com a naturalidade do primeiro choro, aquele dos recém-nascidos incomodados com a aspereza da existência fora do ventre materno. O bom e velho Johnny canta sem esforço e sem que as veias engrossem no pescoço, ao que observei da interpretação a mim chegada por acaso, via YouTube, sem que eu a buscasse. Anotei a postagem: 18 de janeiro de 2025. Eu soube que ele anunciou a aposentadoria em março passado. Mas está vivo e ainda consegue cantar, maravilhosamente, ao menos no banheiro.

Como eu estava precisado de “Misty”. Não em suas diversificadas versões, algumas com o carimbo de monstros sagrados do cancioneiro internacional, mas com a voz de veludo de Johnny, a voz da minha juventude, a das minhas aspirações, a dos meus sonhos.

johnny mathis
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johnny mathis
johnny mathis
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Minha precisão tinha e tem as dores do tempo. Por um momento, ouvindo aquilo, escapei das aflições dos povos e das que, somente minhas, hoje carrego. Fui às nuvens naqueles acordes. Ali, não me alcançavam os males que a idade me trouxe nem as desavenças e confusões do planeta à beira, mais uma vez, da catástrofe em larga escala.

A nuvem em que me dependurei me levou ao passado e me fez pousar numa estradinha emoldurada por coqueiros. Ao sabor do vento, segurei a mão daquela que me daria três filhos. Estávamos jovens. Ela mais segura de si.
johnny mathis
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Eu, desamparado e confuso feito filhote de gato numa árvore, tal como descrito no primeiro verso da bela canção.

Mergulhos no passado dão nisso: na confusão de imagens, na mistura de memórias. “Misty” também põe diante de mim amores adolescentes, alguns com vozes de violinos, novamente, como nos versos compostos por Johnny Burke para a melodia do pianista Erroll Garner, criada em 1954. Eu estava, então, longe da idade para as mãos dadas com aquelas que por mim iriam passar e com a que me reteria, por um golpe de sorte, para a satisfação e a quietude da alma. Nosso Johnny gravou essa música em 1959 e dela se fez o melhor intérprete, ao que entende meu coração bobo.


O octogenário de agora ainda alimenta dúvidas juvenis. Uma delas diz respeito aos que se dedicam a agravar a agonia da raça humana, a fazer deste mundão de Deus um lugar de padecimento e expiação, como o fazem os promotores das discórdias e das guerras. Os tiranos ouvem música? Sabem cantar? É o que ainda me pergunto.

Quero crer em que divido com muitos dos meus semelhantes esses mesmos incômodos. Ora têm dimensão planetária ora decorrem dos aperreios cotidianos feitos de desesperanças, enfermidades, desconfortos. Se assim for, recomendo-lhes um cantinho numa nuvem para o sossego do espírito. Escolha cada um o meio de transporte para a fuga momentânea e indispensável dos problemas individuais,
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ou coletivos. Nem precisa ser “Misty”. Basta a música de cada agrado desde que contenha poema e notas suficientes para o deleite e a elevação.

Não custa insistir na necessidade dos voos para recantos onde more a paz, ou a saudade. Dorothy Gale queria voos de passarinho. Desejava pairar bem acima das chaminés, além do arco-íris. Por falar nisso, a canção “Over the Rainbow” somente não foi excluída da trilha de “O Mágico de Oz”, porque Arthur Freed, o produtor associado, fincou pé no studio da MGM, nos idos de 1939: “A música fica, ou eu vou embora”, ameaçou. Ganhou a briga para sorte dos compositores Harold Arlen e Yip Harburg, o letrista. Quem diria que o número de assinatura da jovem atriz Judy Garland se tornaria, em 2021, “a música do Século 20”, assim escolhida em pesquisa conjunta do National Endowment for the Arts e da Recording Industry Association of America?


É como digo. Cada um pode escolher a forma de escape dos problemas diários. “O desejo infantil de escapar, ou fugir, é uma universalidade”, leio isso em texto assinado por Gary Shapiro para boletim da Universidade de Columbia. A sentença é por ele atribuída ao professor de música Walter Frisch, autor do livro “Arlen and Harburg’s Over the Rainbow”.

Burt Howard quis ir acima do ponto desejado pela pequena Dorothy. Johnny Mathis, em meio à profusão de intérpretes consagrados, também cantou seus versos. Frank Sinatra, em 1964, os associou (sem a menor graça, digo eu) às missões Apollo à Lua. Refiro-me a “Fly me to the moon”, outra peça icônica.


Desta vez, a mão da pessoa amada serviria à fuga para as estrelas e para ver como a Primavera se mostra aos apaixonados, em Jupiter e Marte. Prefere você ver um filme, ler um livro? Tudo bem, que assim seja. Quanto a mim, neste exato momento, valho-me de Johnny Mathis, há pouco reencontrado. Felizmente, ele ainda está vivo. E canta “Misty” em palcos que podemos reprisar quando voar for preciso.