Bom dia a todos que participam desta solenidade, cujo objetivo é dar início às celebrações dos 80 anos de fundação da Academia Paraibana de Letras. Sonho de intelectuais visionários que, através dos tempos, se concretizou na sólida Instituição de Utilidade Pública, reconhecida pela sua positiva e valiosa interferência, na cena cultural da Paraíba.
Para comemorar seus 80 anos, completados no dia 14 de setembro, próximo passado, a APL recebe da Fundação Joaquin Nabuco, destacada instituição cultural nordestina e brasileira, o apoio que siginifica, sobretudo,
Era bem cedo e eu já estava ali agarrado com o folclore do Câmara Cascudo, apreciando cada página, quando lembrei que não tinha lido o jornal de ontem. Não por qualquer lapso, mas uma série de obrigações me impediu o habitué. Não me fiz de rogado e fui salvar o periódico da asfixia de um saco translúcido fechado por um nó muito bem dado.
Em um copo longo, muita água de coco e um pouquinho de uísque, o que lembra? Para mim tem o sabor das antigas festas de quinze anos, quando nós, meninos enxeridos (13, 14 anos) dávamos os primeiros passos nas festas de João Pessoa. Por falar em festa de aniversário, que tal pastel de carne com açúcar? É ou não é a cara de festa de criança?
Galinha com aquela “graxa” é a cara do almoço de domingo antigamente. Lá em casa, como brigávamos pelo coração da galinha, minha mãe recortava
Em Grande sertão: veredas, Riobaldo, encaminhando a conversa para o fim, diz a seu interlocutor que “a morte de cada um já está em edital” (22ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 416), corroborando o que já afirmara anteriormente, “Dia da gente desexistir é um certo decreto” (p. 45), e o que dizem os seus jagunços:
A memória é uma espécie de armadilha. Para o poeta Wally Salomão, “uma ilha de edição”. Ou quase isso. Bem mais algumas vezes. Alçapão escondido na mata esperando o pássaro. Quando menos se espera canto e voo se entregam em troca de migalhas. A partir de então, só o que foi aprisionado existe. Um canto triste para a alegria cruel dos seres esmaecidos. Aprisionado, o voo não se mantém na insuficiência das asas. Beleza que sangra num passear serelepe pelos poleiros. Movimentos que parecem graciosos, mas são tristes. Do mais puro desespero nasce o canto. Tristes penas cumpridas sem condenação.
Eu não sei se creio em vidas passadas, mas existe um sangue espanhol que corre em minhas veias e que incendeia minha alma... Eu sei!
Neste sábado em que a chuva molhava lá fora; mais um dia da interminável pandemia e isolamento social, me pego relendo "Os Espanhóis", de Josep M. Buades.
O livro não é nenhuma obra-prima. É um interessante guia, com belas ilustrações, da história, cultura, mitos e esplendor do povo que, há séculos, ocupa a Península Ibérica.
Edgar Allan Poe – nascido em 19 de janeiro de 1809 – é o mestre do fantástico, do romantismo sombrio, raiz primeira do romance policial. Seu trabalho é impregnado de brumas, de morte e mentes transtornadas nas quais ficção e realidade se confundem em tramas engenhosas. Sua vida e morte não foram diferentes.
Dizem que todo crítico literário é um escritor frustrado. Poe, inspirado crítico, desmontou a tese. Tornou-se escritor de primeira grandeza. Não teve o mesmo sucesso quando tentou viver apenas de sua escrita.
Amargou as dores da pobreza e teve uma das mortes mais misteriosas da história da literatura.
Em 3 de outubro de 1849, o escritor foi encontrado sujo, vagando delirante pelas ruas de Baltimore, usando roupas que não eram suas e “em grande angústia”, de acordo com Joseph Walker, que o encontrou. Foi levado para o Washington Medical College, onde morreu no domingo, 7 de outubro. Não ficou consciente tempo suficiente para explicar como chegou àquela condição degradante.
As lendas em torno de sua morte afirmam que ele chamou repetidamente o nome “Reynolds” na noite anterior à sua morte, embora não se saiba a quem ele estava se referindo. Algumas fontes citam suas palavras finais: “Lord help my poor soul” (Senhor, ajude minha pobre alma).
A causa real de sua morte continua sendo um mistério. Todos os registros médicos de Poe foram perdidos, inclusive sua certidão de óbito. Final doloroso de uma vida na qual não faltaram perdas e dores lancinantes.
Os jornais da época atribuíram a morte de Poe a “congestão cerebral” ou “inflamação cerebral”, mas estes eram eufemismos comuns para mortes que tinham causas mal vistas na sociedade, como o alcoolismo. As especulações incluem delirium tremens, doenças cardíacas, epilepsia, sífilis, meningite, cólera e raiva.
Imediatamente após a morte de Poe, iniciou-se uma sequência que parece saída de um de seus livros: uma história macabra entre um vivo e um morto. Seu rival literário, Rufus Wilmot Griswold,
iniciou uma das mais terríveis campanhas difamatórias de que se tem notícia.
Começou por escrever um obituário destacado no New York Tribune. Assinava-o com o pseudônimo Ludwig. No texto, falsidades e calúnias apresentavam Poe como um lunático que “andava pelas ruas, louco e melancólico, com os lábios se movendo em maldições indistintas, ou com os olhos erguidos em orações fervorosas (nunca por si mesmo, pois sentiu ou parecia sentir, que já estava condenado)”.
O parágrafo inicial do obituário anunciava o tom que permeou todo o texto: “Edgar Allan Poe está morto. Ele morreu em Baltimore anteontem. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos sofrerão com isso.” Uma obra-prima da vingança póstuma. Griswold, sim, merecia a má fama que injustamente atribuíram a Antonio Salieri no filme “Amadeus”, de Miloš Forman.
O obituário cruel foi publicado no exato dia em que Poe foi sepultado. Logo foi reproduzido nos jornais de todo o país. “Ludwig” rapidamente foi identificado como Griswold, editor e crítico que guardava profundo rancor em relação a Poe desde 1842.
Griswold prosseguiu com sucesso a sua campanha difamatória contra o inimigo morto. Conseguiu convencer a sogra de Poe, Maria Clemm, a lhe vender os direitos das obras do genro falecido. Sua obsessão em destruir a reputação de Edgar Allan Poe incluiu publicar as obras do escritor Poe em 1850, anexando a elas a uma biografia de Poe na qual narrou histórias de suas supostas embriaguez, imoralidade e instabilidade. Descreveu o autor de “The Raven” como um louco depravado, bêbado e viciado em drogas.
Gov. EUA
Nenhum limite deixou de ser ultrapassado, nenhuma mentira intimidou Griswold, nenhum ultraje o fez hesitar. O biógrafo transformou a opção de Poe de não retornar à Universidade da Virgínia em expulsão por comportamento “selvagem e imprudente”. A dispensa honrosa do Exército tornou-se deserção. A publicação de Tamerlane e outros poemas em 1827 foi descartada como mentira. Griswold chegou a acusar Poe de se envolver em segredos obscuros e chantagens. Para comprovar suas afirmações, divulgou cartas falsificadas.
Ao elogiar os escritos de Poe e atacar sua personalidade, Griswold conseguiu parecer um admirador sincero, benfeitor da família do escritor. Em suma, assassinou seu inimigo no que tinha de mais caro: a reputação. E o fez dando a impressão que o respeitava.
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Mais de uma vez, os amigos de Poe (John Neal, George Rex Graham, George W. Peck, James Wood Davidson, Henry B. Hirst, Charles Chauncey Burr e Sarah Helen Whitman) vieram em defesa do escritor falecido, mas Griswold havia feito um trabalho consistente. Para cada publicação que lhe condenava a infâmia, três repetiam suas difamatórias afirmações. Suas alegações somente um século depois foram completamente desmascaradas ou tratadas como meias-verdades distorcidas. Era tarde: o livro de Griswold tornara-se uma fonte biográfica popularmente aceita. Em parte porque era a única biografia de Allan Poe, mas também porque os leitores ficaram seduzidos pela ideia de ler “obras de um homem perverso”. Ah, a humanidade e suas loucuras.
Em 1852, Griswold preparou outro artigo biográfico sobre Poe, que foi novamente amplamente reproduzido.
Embora Griswold tenha morrido em 1857, seu livro permaneceu a única biografia de Poe até 1875. Após 25 anos, sua apresentação de Edgar Allan Poe havia se enraizado profundamente na consciência popular. Tudo o que suas acusações careciam em verdade foi compensado em repetição, uma vez que o escândalo e a morbidez seduz as almas mais dadas ao pensamento mágico.
Os amigos prosseguiram no combate às calúnias e muitos leitores sentiram a injustiça inerente ao relato de Griswold, mas foi em 1875 que surgiu um novo personagem, o inglês John Henry Ingram (1842-1916).
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Na inauguração de um monumento a Poe em Baltimore, a nova biografia, assinada por Ingram, recebeu muita atenção e iniciou a desconstrução da mentira de Griswold.
Em 1880, com a ajuda dos amigos de Poe, Ingram produziu uma nova biografia do escritor, em dois volumes. Esta havia sido cuidadosamente pesquisada e documentada. Juntamente com as biografias mais curtas de Eugene L. Didier (1877) e William Fearing Gill (1878), a reputação de Poe foi aos poucos restaurada.
Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de quase cinco décadas em relação à Academia Brasileira de Letras, um grupo reduzido de homens dedicados ao uso da palavra escrita achou oportuno criar uma instituição para eternizar as tradições literárias de nossa terra àquela época reverenciada em todo o País, sobretudo pela produção de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos e José Américo de Almeida.
A boçalidade sempre foi um eficaz instrumento para tomada e manutenção do poder. Defendendo posições insustentáveis perante a razão e a ciência, de uma forma geral, os boçais se valem da agressividade para tentar impor medo e assim fragilizar o poder de reação dos que se colocam em situação de divergência ao que praticam ou falam. Destilam ódio e ressentimento a todo instante. Estrategicamente tentam incutir na população a sensação de insegurança, levando-a a viver em permanente estado de alerta em razão das ameaças propagadas. Alteram a realidade dos fatos com o propósito de se apresentarem como “salvadores da pátria”.
Se alguém 'é' uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é.Judith Butler
Há quase uma década (2012), estiveram aqui em João Pessoa a Ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, Eleonora Menicucci, e a sua vice, professora Lourdes Bandeira. Vieram lançar linha de crédito para mulheres, a fim de que pudessem enfrentar as desigualdades de gênero no trabalho. Duas feministas, poderosas, que sempre estiveram à frente das lutas das mulheres, fossem na saúde ou na Academia, em pesquisas sobre Violência contra à Mulher, e que hoje legitimadas e autorizadas representam o que Rose Marie Muraro, chamou de “Nova Ordem Simbólica” nos espaços políticos, não mais centrados no falo (o poder, o matar ou morrer que é a sua lei),
O quanto
carrego de mim
nesse retrato cinzento
desbotado?
Carrego o tempo que é vivo
e um amor imenso
permanente
intenso
alado
ligado
e infinito!
Metade de mim é interno
onde estou me dou e me vejo
lugar onde me procuro
e me encontro.
Metade de mim é integralmente
ancestral
kármico cósmico
pleno absoluto
e simplesmente!
O firmamento expôs
uma janela
com vistas pro infinito.
Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser contada, e sobretudo compreendida, a partir dos artefatos com que ele vem transformando a natureza. A máquina é uma extensão de nossas faculdades e aptidões; quanto mais sofisticada, mais indicativa do refinamento a que terá chegado a inteligência humana.
Entre a enxada e o computador, vai um abismo que separa a nossa pré-história do estágio em que fazemos viagens fora da Terra, aspirando à conquista do espaço cósmico. O paradoxal é que, enquanto supercomputadores calculam as trajetórias
Gosto de chuva. Não sou sertanejo, mas gosto de chuva. Gosto gratuitamente, sem nenhum interesse, salvo o prazer físico - e metafísico, diria - de vê-la cair, também gratuitamente, sobre o mundo, sobre a paisagem, como que lavando e purificando tudo, até mesmo o que dela se encontra protegido, sob um teto. Fosse eu do campo, compreensível seria esse talvez esdrúxulo gosto pluvial, pois que lá, na campanha, tudo ou quase tudo depende da água que cai do céu, que a tudo dá vida, como se participasse, em alguma medida, da própria divindade fecundante. Mas, não. Sou urbano, profundamente urbano, nascido, criado e formado na urbe, mesmo que aldeã, todavia, urbe, em suas mais autênticas vocação e expressão citadinas.
Fácil capturar uma borboleta ou apanhar uma flor. Marisa vivia naquele mundo. Nunca se interessara por estudar: as irmãs, fazendo pós-graduação, levavam grossos volumes, consultavam internet, passavam noites acordadas para subirem na vida.
Elogiadas pela família, o pai vendera uma fazenda, a fim de vê-las no cume. Marisa era o patinho feio, considerada uma medíocre, dada a receitas culinárias anotadas num caderno, preparando o bolo do fim de semana. No dia em que as estudiosas alcançaram o diploma, foi festa até o clarear do dia. Muita gente compareceu para cumprimentos, elogios, exaltações.
Passei a conhecer melhor Frutuoso Chaves em inícios da década de 1970, quando me entrevistou para o jornal “ A União”. Na oportunidade, recém-chegado de Curitiba, onde eu fora receber um dos prêmios do Concurso Nacional de Contos do Paraná, em plena ditadura Médici, ele me provocou: “O que você acha da proibição da exposição das obras eróticas de Picasso no território brasileiro? ” Remeto o leitor para o texto “Sérgio e Picasso”*, publicado no presente livro, que revela o repórter desassombrado que ele sempre foi.
“Você gosta de ler?” “Não!”. A resposta para essa indagação vem marcada por uma contundente negativa. Engana-se por desconhecer o quanto sua cognição se prepara assiduamente para o exercício da leitura. Sim, você lê muito, seja o texto verbal ou não verbal. Estamos em um momento bastante imagético, em que muitas fotos, vídeos, memes circulam nas redes. Entretemo-nos. Horas a fio nos abastecemos de uma imensa gama de informações. Muito tempo quotidianamente dedicado ao acesso à vida alheia. O que sobra de nós? Quem se (re)conhece nessa multidão fantasiosa,
Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre os séculos XIII e XIV. Sendo considerado por muitos um “pensador menor”, o estudioso e teólogo escolástico foi o mais proeminente representante da escola nominalista, para a qual a questão dos “universais”, um dos maiores problemas da filosofia, era apenas pura retórica, tola invencionice, isto é, falácia.
Seu pensamento empirista e paroxisticamente moderno para a sua época assume a defesa sem concessões do livre arbítrio, condenando a interferência do Estado ou da Igreja nas ações humanas. Discípulo de Duns Scott
Fui Pilatos na Paixão de Cristo
e camponês paupérrimo,
que se dana e se zanga,
na caatinga paraibana do filme A Canga.
Fui,
também,
no cinema,
fazendeiro escravagista do Ceará dos inícios da República,
tenente de polícia nada abúlica, que perseguia um cangaceiro,
fui
pistoleiro,
delegado nada nobre,
fui aposentado... doente e pobre,
um pequeno tirano - empresário pernambucano,
Longe seguem velhos e surrados tênis
Passos que se escorrem dentro
da noite
Há uns que vão são quase comparsas destas escuridões
Rua larga
Vagos homens vagam
Faróis se cruzam no verde que diz:
Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Choque do futuro” de Alvin Toffler. Não a reproduzi em nenhum dos livros. E me surpreendo, agora, decorridos mais de quarenta anos, reagindo da mesma forma, sob o mesmo espanto, como se o choque saísse do instantâneo para o permanente. Toffler, ao tempo de sua reflexão, sente-se “esmagado pela rapidez com que se verificam as mudanças e alterações sociais na chamada sociedade tecnológica”.