Adorava, e ainda adoro, esta época de São João! Amo pamonha, milho e bolo. E a música? O vozeirão de Luiz Gonzaga e de tantos mestres do fo...

ambiente de leitura carlos romero thamara duarte sao joao luiz gonzaga rancho quadrilha recordacao festa junina

Adorava, e ainda adoro, esta época de São João! Amo pamonha, milho e bolo. E a música? O vozeirão de Luiz Gonzaga e de tantos mestres do forró (especialmente dos músicos de pé-de-serra), me deixam louquinha, com vontade de rodar muito no salão.

Quando Gonzaga Rodrigues recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” da UFPB foi, sem dúvida, o grande acontecimento do ano. Por motivo supe...

ambiente de leitura  carlos romero gonzaga rodrigues homenagens correio das artes a uniao honoris causa cronista paraibano

Quando Gonzaga Rodrigues recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” da UFPB foi, sem dúvida, o grande acontecimento do ano. Por motivo superior à minha vontade, não pude estar presente à solenidade da entrega do valoroso título ao estimado conterrâneo.

O estudo contínuo da obra de Augusto dos Anjos dá-me a certeza para dizer que, contrariamente ao que muitos pensam e apregoam, o autor de E...

ambiente de leitura carlos romero milton marques junior espiritismo poeta da vida congracamento solidariedade em augusto dos anjos poemas eu valor humanidade

O estudo contínuo da obra de Augusto dos Anjos dá-me a certeza para dizer que, contrariamente ao que muitos pensam e apregoam, o autor de Eu não é o poeta da morte, mas do renascimento. A morte – “a alfândega, onde toda a vida orgânica/há de pagar um dia o último imposto” (Os Doentes) – é apenas um processo de transição a que matéria se submete e, tendo passado pelas agruras da degradação
ambiente de leitura carlos romero milton marques junior espiritismo poeta da vida congracamento solidariedade em augusto dos anjos poemas eu valor humanidade
e do sofrimento, liberta o espírito para, enfim, buscar o renascimento, através de uma nova vida, em que os erros da anterior devem ser deixados para trás.

Era uma mesa de cozinha. Sempre forrada com uma toalha de plástico com desenhos de frutas bem coloridas. A luz da janela acentuava aquelas ...

ambiente de leitura carlos romero adriano de leon saudosismo lembranca de infancia saudades tias copo de leite destino

Era uma mesa de cozinha. Sempre forrada com uma toalha de plástico com desenhos de frutas bem coloridas. A luz da janela acentuava aquelas cores tão quentes quanto os móveis dos filmes de Almodóvar.

O Regent's Park foi um presente de reis. Jamais imaginei um espaço como aquele fora dos paraísos que já vi pintados e descritos, ou das...

ambiente de leitura carlos romero waldemar jose solha w. s. solha londres london viagem turismo museus londrinos regent park britsh museum museu britanico

O Regent's Park foi um presente de reis. Jamais imaginei um espaço como aquele fora dos paraísos que já vi pintados e descritos, ou das utopias.

Saiu na mídia a informação de que os generais do governo Bolsonaro passaram a sugerir a recomposição da equipe com um ministério de notávei...

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues joao goulart weintraub generais governo bolsonaro alcides carneiro pereira silva celso furtado

Saiu na mídia a informação de que os generais do governo Bolsonaro passaram a sugerir a recomposição da equipe com um ministério de notáveis. Será que resolve?

As bandeirolas Paleta de cores estendida no varal que junho enfeita e anuncia o arraial

ambiente de leitura carlos romero clovis roberto poesia sao joao comida de milho pamonha festa junina


As bandeirolas

Paleta de cores
estendida no varal
que junho enfeita
e anuncia o arraial

Ao longo da vida na casa de meus pais eu criei diversos bichinhos. Tive um pombo chamado Carlitos, por causa dos seus pés na posição de 15-...

mascote amor aos bichos animais domesticos amor a natureza criar rato ambiente de leitura carlos romero jose mario espinola

Ao longo da vida na casa de meus pais eu criei diversos bichinhos. Tive um pombo chamado Carlitos, por causa dos seus pés na posição de 15-pras-3. Ele era muito romântico. Desenvolveu um amor platônico pela sua imagem numa cristaleira velha, onde ele morava. Como mamãe não queria bichos dentro de casa, deu fim à cristaleira e Carlitos foi morar no galinheiro: apaixonou-se por uma galinha!

No verão tudo se acasala. Isso é um lugar comum. Saía de casa de mãos dadas com Carlos para a nossa caminhada antes das 7 horas da noite,...

ana elvira steinbach ambiente de leitura carlos romero olhar poetico nostalgia requiem pombo janela morte passaro poesia

No verão tudo se acasala. Isso é um lugar comum.

Saía de casa de mãos dadas com Carlos para a nossa caminhada antes das 7 horas da noite, ainda com o parque aberto, porque o sol batia a montanha pelas costas, mas ainda estava longe de chegar ao seu poente pacífico.

Acredite. Muitas vezes, não vale a pena pesquisar aquilo que não se entenda. E vale menos ainda se o assunto disser respeito à medicina e s...

ambiente de leitura carlos romero frutuoso chaves coceira hipocondria mania pesquisa google

Acredite. Muitas vezes, não vale a pena pesquisar aquilo que não se entenda. E vale menos ainda se o assunto disser respeito à medicina e seus tratos.

O politicamente correto chegou às cantigas infantis. A partir de agora devemos ter muito cuidado com o que cantamos para as crianças. Uma s...

chico viana ambiente de leitura carlos romero cantigas infantis politicamente correto cancoes de ninar infancia pau no gato poesia cronica

O politicamente correto chegou às cantigas infantis. A partir de agora devemos ter muito cuidado com o que cantamos para as crianças. Uma simples canção de ninar pode embutir um significado nocivo, capaz não só de amedrontá-las como também de marcar-lhes negativamente a personalidade.

Os plátanos vivem séculos. E há séculos embelezam o mundo. Solenes, ornamentais, margeiam memoráveis boulevards, bordejam praças e parques ...

ambiente de leitura carlos romero arquiteto germano romero platanos handel haendel ombra mai fu amor pela natureza amor pela vida opera canto lirico recordacao dos ausentes

Os plátanos vivem séculos. E há séculos embelezam o mundo. Solenes, ornamentais, margeiam memoráveis boulevards, bordejam praças e parques monumentais, marcam e simbolizam paisagens que definem com singularidade a beleza de cada estação.

Essa indagação está na letra de uma canção composta por Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra. O fato é que a humanidade nunca se preocupou e...

ambiente de leitura carlos romero rui leitao paulo de tarso corintios amor verdadeiro afeto espistolas apotolo paulo

Essa indagação está na letra de uma canção composta por Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra. O fato é que a humanidade nunca se preocupou em responde-la com objetividade. Há pouco mais de dois mil anos, esteve entre nós quem buscou colocar na cabeça dos humanos o verdadeiro sentido do que seja a palavra amor: o filho de Deus feito homem, Jesus Cristo.

Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, p...


Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, pulado de um barranco, dado como morto e cuidado por um casal estranho, recobra a consciência e decide que deve mudar de vida. O seu intuito com a mudança? Entrar no céu, nem que seja a porrete.

Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e gr...

thomas bruno oliveira campina grande maior sao joao do mundo ambiente de leitura carlos romero pandemia confinamento cariri acudes sertao

Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e grandes significados no romper dessa página de calendário. O mês da colheita, que dois mil e vinte já prometera fartura a partir de março (no dia de São José), vinha sendo esperado desde as chuvas que garantiram o bom desenvolvimento das culturas agrícolas; milho e feijão abundam nos tabuleiros e várzeas, planuras que se viram enfeitadas com o abonecar das plantações.
thomas bruno oliveira campina grande maior sao joao do mundo ambiente de leitura carlos romero pandemia confinamento cariri acudes sertao
Açudes sangram; no sertão, Coremas e São Gonçalo recebem o líquido precioso desde janeiro; Camalaú e Cordeiro, no Cariri, também se enchem de água e vigor e o Epitácio Pessoa, nosso Boqueirão, se destaca: saiu de 15% em janeiro para 70% em primeiro de junho. Porém, não entramos o mês da maneira que sonhávamos.

Ao longo da história nossa civilização desenvolveu uma multiplicidade de correntes religiosas bem diferentes entre si. As três religiões ma...

carlos romero filho carlos augusto romero filho cosmologia fisica quantica deus existencia de deus albert einstein ciencia e religiao

Ao longo da história nossa civilização desenvolveu uma multiplicidade de correntes religiosas bem diferentes entre si. As três religiões majoritárias do Ocidente, isto é, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, possuem uma concepção da divindade bem diversa da que é aceita pelas religiões orientais, tais como o Budismo e o Hinduísmo. Além disso, a chamada “verdade revelada” tem uma importância muito maior no Ocidente do que no Oriente. Mas, mesmo dentro da mesma religião existem diferenças enormes entre algumas vertentes.

O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos pato...

ambiente de leitura carlos romero francisco Gil messias a cronica cronista ego eu escrever cronica arte da escrita

O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos patológicos, normalmente as pessoas têm um certo pudor, uma certa parcimônia no uso do pronome eu. É comum um certo temor de parecermos, aos olhos dos outros, alguém autocentrado, que só enxerga o próprio umbigo. E, pensando bem, é bom que seja assim, já que costumamos, nós próprios, rejeitar os que se comportam dessa maneira reprovável. Os europeus educados são muito bons nessa arte civilizada de ocultação do eu, principalmente, creio, os ingleses, talvez a gente mais discreta do planeta. Um inglês de verdade jamais demonstra em público suas emoções, ou seja, jamais escancara o eu profundo publicamente. Isso fará bem ao corpo e à alma? Não sei. Mas que parece polido, parece, pelo menos nos livros e nos filmes.

Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamand...

jose nunes ambiente de leitura carlos romero luiz augusto crispim angela bezerra de castro apl

Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamando a atenção como adentrava na redação de O Norte, pela elegância corporal e inegável cultura. Lembro-me dele como o cronista da emoção e poeta da paixão que a professora Ângela Bezerra de Castro tão bem descreve.

Espelho Seria um espelho Ou um poço profundo, Que refletia imagens Que ainda não sei decifrar.

volia loureiro do amaral ambiente de leitura carlos romero poesia paraibana espelho

Espelho

volia loureiro do amaral ambiente de leitura carlos romero poesia paraibana
Seria um espelho
Ou um poço profundo,
Que refletia imagens
Que ainda não sei decifrar.

Não será numa homenagem de formato multi-seccionado, contemplando vários temas e referências numa mesma agenda, que se faria, a contento, u...

gonzaga rodrigues ambiente de leitura carlos romero angela bezerra de castro critica literaria premio jose americo de almeida a bagaceira sol das letras por do sol literario apl

Não será numa homenagem de formato multi-seccionado, contemplando vários temas e referências numa mesma agenda, que se faria, a contento, uma abordagem mais ajustada ao perfil de intelectual e de mestra escritora de nossa Ângela Bezerra de Castro.

Fachada é rosto, tela, expressão que reflete épocas da arquitetura, urbana ou humana. Seja de casa ou de edifício, nela está o sorriso do q...

ambiente de leitura carlos romero arquitetura arquiteto germano romero etruria enxaimel trompe l'oleil toscana historia da arquitetura fachadas fachwerk

Fachada é rosto, tela, expressão que reflete épocas da arquitetura, urbana ou humana. Seja de casa ou de edifício, nela está o sorriso do que se constrói, o registro de uma era, a figuração ilustrativa do clima, da economia, da tecnologia e do modo de vida entre os povos. Como lado que é visto por fora, são as fachadas que definem o cenário das cidades e comunidades.

ambiente de leitura carlos romero arquitetura arquiteto germano romero etruria enxaimel trompe l'oleil toscana historia da arquitetura fachadas fachwerk
A poesia também se faz presente na Arquitetura, interna ou externamente. No piso, no teto, nas paredes, móveis e detalhes inscrevem-se os reflexos do ser humano, de seus anseios de conforto, beleza, convivência, de sua organização social e familiar.

Se há algo que registra a história da humanidade como “Música Petrificada”, de forma tão intrínseca e genuína, é a Arquitetura. De todos os estilos, nas diversas eras, ela é a linguagem que mais exprime as emoções de maneira sólida, viva e eloquente. Da pré-história à modernidade, foi na perspectiva dos aglomerados urbanos que se evidenciaram os modos de vida, do relacionamento comunitário, que muitas vezes extrapolaram sentimentos fazendo brotar para a superfície das fachadas a intimidade que transcendia os ambientes internos e a alma que neles habita.

A técnica de construção conhecida como “Fachwerk” ou Enxaimel, que teve origem há quase 3 mil anos na Etrúria, parte da península itálica onde hoje fica a Toscana, é uma boa referência sobre o assunto. Muito usado na Alemanha, França e Inglaterra, com a intenção de pôr à mostra todo o sistema estrutural, o estilo tornou-se turisticamente muito apreciado pelos aspectos estéticos e históricos, amplamente encontrado em decantadas regiões da Normandia, Champanhe, Bavária, Saxônia e em cidades medievais suíças e inglesas.

ambiente de leitura carlos romero arquitetura arquiteto germano romero etruria enxaimel trompe l'oleil toscana historia da arquitetura fachadas fachwerk

A técnica consistia em preencher os espaços entre pilares, vigas horizontais e diagonais com tijolos, argamassa e até pedra grês, deixando a estrutura de madeira bruta aparente. Exemplos memoráveis podem ser vistos em bairros inteiros em Celle, Rothenburg ob der Tauber, Freudenberg, Blankenheim (Alemanha), Rouen, Troyes, Dinan (França) e até mesmo no centro de Londres, na sofisticada loja de departamentos “Liberty's”, modelo clássico e repaginado do estilo Fachwerk. Uma maneira de tornar visível em corpo, de forma graciosa, os segredos do esqueleto das edificações.

ambiente de leitura carlos romero arquitetura arquiteto germano romero etruria enxaimel trompe l'oleil toscana historia da arquitetura fachadas fachwerk
Outro tipo de composição de fachadas,  decerto mais romântico,  observa-se na Riviera Italiana, especialmente na costa banhada pelo Mar da Ligúria, região pródiga em relíquias paisagísticas e arquitetônicas, composta por pequenas cidades. Trata-se da encantadora técnica conhecida por “Trompe-l’oleil” (ilusão de ótica).

Embora remonte à Antiguidade, sobressaiu-se na Renascença como inovadora criação artística que deu vida, com ares de teatro e ópera ao cotidiano lírico das ruas e vielas, fazendo soar da Arquitetura sua bucólica melodia em pedra.

ambiente de leitura carlos romero arquitetura arquiteto germano romero etruria enxaimel trompe l'oleil toscana historia da arquitetura fachadas fachwerk
Os italianos e franceses souberam aproveitar bem essa virtude plástica, cujo objetivo é realçar o aspecto tridimensional das pinturas, adornando as fachadas e frontispícios com afrescos, que é descoberto com surpresa ao olhar mais atento.  Emoldurando janelas, ornamentando colunas, cornijas, caneluras, volutas, capitéis em estilo dórico e sua variante toscana, obteve-se o refinado realismo em três dimensões. Há casos em que se produz efeito tão apurado, como na imagem com o gato na janela, que é preciso aproximar-se para perceber que não é real.

Réplicas deste romantismo perdido podem ser vistos em Camogli, Finalborgo, Gênova (Itália), assim como em Nice, Agde, Avignon,  Gorbio e Menton (França).

São marcas indeléveis no tempo e nos sonhos, que em seu lugar de origem permanecem vivas, cultivadas, bem distantes de nossa arquitetura atual, cartesiana, funcional, tecnológica, que se transfigura na mesma velocidade com que vemos a vida passar...


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Para os filósofos franceses Félix Guattari e Gilles Deleuze, há um devenir impopular no enredo do livro Ratman’s Notebooks (bestseller de 1...

sam samuel cavalcanti ambiente de leitura carlos romero musica de filme stephen gilbert willard michael jackson deleuze guattari alex north ratatoulle

Para os filósofos franceses Félix Guattari e Gilles Deleuze, há um devenir impopular no enredo do livro Ratman’s Notebooks (bestseller de 1968) escrito por Stephen Gilbert, e que é base para o filme Willard (1971). Esse filme, que só conheci pela indicação dos filósofos constante no livro ‘MIL PLATÔS, Capitalismo e Esquizofrenia’, é dirigido por Daniel Mann, e tem no papel principal o ator norte-americano Bruce Davison, quando ainda tinha um quarto de século de vida.

sam samuel cavalcanti ambiente de leitura carlos romero musica de filme stephen gilbert willard michael jackson deleuze guattari alex north ratatoulle
Segundo as vagas memórias dos autores-filósofos, compartilhadas no início do quarto volume de seu denso livro, – que tem Ana Lúcia de Oliveira como coordenadora da tradução para o português, pela primeira edição de 1997 – há heróis no enredo, e são camundongos! Ora, a impopularidade estaria em parte pela qualidade duvidosa do filme, “um série B, talvez”, como lembram – que aliás ganhou uma sequência, Ben (em 1972), e uma espécie de releitura dos enredos anteriores e do livro original, um remake expandido, em 2003. Noutra parte, essa impopularidade, percebida pelos pensadores europeus, advém do asco que os ratos (e as possíveis mazelas que eles carregam) provocam no homem. Mas, paradoxalmente às impressões de Deleuze e Guattari, tanto o livro quanto os filmes que dele derivam gozaram de sucesso notável de vendas e bilheteria. Aliás, os próprios autores, conheceram o filme, no cinema, já na primeira metade da década de 1970.

Uma força inegável que realça e reinterpreta a narrativa do livro – e que pode explicar, em parte, essa “impopularidade popular” – é a música trilhada nos filmes. Na primeira montagem, adaptação para o cinema logo três anos após o lançamento do livro, temos a música de Alex North (1910-1991) que, desde a abertura do filme, com créditos e cena inicial
passando-se numa siderúrgica – homens fundindo ferro e aço, operários em meio a faíscas de combustão cintilando bem à frente da câmera, dando bastante movimento – sob uma pujante música orquestral (regida pelo próprio compositor) com um apelo melódico nas cordas com arco, leve e contrastante ao ambiente metalúrgico.

A música tem o primeiro corte justamente quando o carro do anti-herói, por assim dizer, o chefe da empresa, sa vci da fábrica e assusta Willard freando bruscamente quase que em cima dele. Essa sincronia de eventos da música que prepara, antecipa, refere, e alude a afetos e emoções é recurso não só do mundo cinematográfico, mas, advém de muito antes, já das obras incidentais e cerimoniais de tempos imemoriais.

North, para fazer um trocadilho com seu próprio nome, dá um “norte” à trama do filme que, apesar de estar rotulado no gênero terror, suaviza-se e ganha mais envolvimento com uma música criativa e interessante. Aos ratos, que saem da condição de intrusos num casarão tradicional norte-americano, passando a verdadeiros donos, ao fim do filme, são associados efeitos sonoro-temáticos próprios, de ritmo, timbres e arabescos rápidos ou gestos lentos a depender da intenção que se quis provocar no espectador.

sam samuel cavalcanti ambiente de leitura carlos romero musica de filme stephen gilbert willard michael jackson deleuze guattari alex north ratatoulle
A cena final tem Willard confrontado por Ben (o rato-chefe) como num acerto de contas. Ben vai crescendo, pouco a pouco, no filme; é nomeado pelo seu tutor Willard, e, então, sai da condição de ratazana para tornar-se personagem. É o rato maior e que lidera uma vingança contra Willard por ele ter matado por afogamento – tipo de assassinato já esboçado por ordem de sua mãe, bem antes, quando não havia enorme proliferação – grande parte da rataria. Também Willard contara com a ajuda de Ben e outros ratos para vingar-se de seu chefe, assassinando-o; mas, o personagem principal não é bom moço e, após este ataque mortal, abandona seu parceiro de crime à própria sorte. O enredo então é envolvido por música de tensão nessa espécie de luta final, mas, quando Ben vence, a câmera fecha em close-up nele, a subir os créditos finais, com música heroica e tematicamente transformada do tema de abertura que antes aludira a Willard.
Trompetes, trompas e trombones em ritmos marcados, quase em marcha, sucedidos por contraponto das cordas e flautins, com tímpanos rufando: a música em si a condecorar Ben como o vitorioso.

Como dar sequência a uma pitoresca estória como esta? No ano seguinte, Ben ganha seu próprio filme, suplantando a própria ênfase do livro no personagem Willard: “quando Willard se finda, Ben emerge, e ele não está só”, diziam as campanhas publicitárias de lançamento. Aliás, caberia aqui a expressão de pergunta sobre a coragem ou bravura que Willard não teve e que se viu no ‘gabiru-herói’: és um homem ou um rato?...

sam samuel cavalcanti ambiente de leitura carlos romero musica de filme stephen gilbert willard michael jackson deleuze guattari alex north ratatoulle
Pois bem, a música nesse novo filme é da lavra de Walter Scharf e junto ao diretor Phil Karlson, têm a felicidade de embutir uma canção com referência direta a Ben. Ambos os filmes guardam algumas semelhanças no roteiro, traçando o mesmo perfil solitário do personagem humano com quem Ben se relaciona. No entanto, Danny Garrison (interpretado pelo ator Lee Montgomery) não é um rapaz como Willard, é uma personagem criança e isso nos suscita, na relação com o rato, algo lúdico e muito mais ligeiro no argumento fílmico. Essa percepção é definitivamente terna quando, à cena do choroso Danny, pensando que Ben morrera, é adicionada a canção de Scharf, com letra de Don Black, num acompanhamento singelo de violão e cordas com arco ao final, pela voz inconfundível de Michael Joseph Jackson, aos quatorze anos. A canção é tão poderosa, de uma melodia tão tocante, tão poética que certamente não duvido muitas crianças terem pedido aos seus pais, à época, para domesticarem ratos e terem um ‘Ben’ para chamarem de seu.


Seja um “devir-animal”, – numa lembrança bem desenredada dos filósofos, com conceitos demasiado densos para que os traga aqui sem esmiuçá-los – seja a análise do discurso feita pelo profícuo e inteligentíssimo teórico literário canadense Northrop Frye, que emula a relação entre ritual, como “pré-consciente e animal”, e mito, como “consciente e humano”; tanto o livro, quanto os filmes, com a imaginativa e expressiva música, têm forma para bem além dos gêneros: uma criação arquetípica que releva nossa relação íntima com o mundo dos símbolos do qual a música é parte.

sam samuel cavalcanti ambiente de leitura carlos romero musica de filme stephen gilbert willard michael jackson deleuze guattari alex north ratatoulle
E nesse ambiente arquetípico, a tradição do conto em filme com os ratos como amigos de uns e causadores de nojo em muitos outros, chega ao auge no filme de animação Ratatouille (2007) onde Rémy – que já não é um rato real como Ben, nos filmes de terror, mas, um desenho animado, suavizando ainda mais essa relação mítica de devir-animal – não só fala, como lê e cozinha como poucos humanos. A sujeira na vida de esgotos dos ratos, a relação com o homem, e os preconceitos são todos postos à prova na moral dessa estória que se encerra na crítica final de Monsieur Anton Ego: um rato jamais poderia ser artista, mas os humanos desprezados hoje, ou sem o devido reconhecimento e espaço, são como ratos que proviriam de quaisquer lugares. A música, também competente enquanto função de ambientar a trama, fica a cargo do premiado Michael Giacchino que, bem diferente do estilo de North ou Scharf, cumpre seu papel sem grandes orquestrações, e num estilo mais industrial, ou fabril, com clichês que servem bem ao espírito da animação.

Voltanto à França de Guattari e Deleuze, Giacchino compõe a canção Le Festin que encerra o filme de modo altruísta, fazendo-nos respirar fundo, arrepiar de vontade em rodopiar nessa canção em valsa no estilo tradicional das ruas da cidade-luz, com o acordeão bem característico, e na interpretação da cantora parisiense Camille Dalmais.


Camile possui um timbre escolhido a dedo, tão suficientemente leve, agudo e nasal que se pode associar a Rémy, personagem principal, na felicidade da inauguração do restaurante La Ratatouille, em que ele é a estrela.

Ratos ou homens, rituais e mitos, em todos manifesta-se esse saber, ora alquímico, ora prático e objetivo: a música envolve, ambienta, serve à narrativa ou dela se serve para imprimir e afetar por meio de intrincadas tramas de subjetividade e simbolismo. Creio que mesmo transcendente à criatividade humana, a música, posto que manifesta em som, é em nós e através de nós.


Sam Cavalcanti é mestre em música, crítico e escritor

Matinal A luz da manhã é um rio de saudade que invade meu silêncio.

ecologia porto do capim rio ipojuca poesia juca pontes ambiente de leitura carlos romero natureza

Matinal

A luz
da manhã

é um rio
de saudade

que invade
meu silêncio.

Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferent...

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero

Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferente dos demais produzidos pelo filósofo, descreve uma reunião festiva na residência do poeta trágico Agaton, da qual fazem parte inúmeros convidados famosos, a elite da sociedade ateniense.