Sim, foi ela, a professora Neide Medeiros que fez acender esta velha chama que eu mantinha a salvo de minhas vontades. Eu havia prometido não tocar mais no assunto, mas não resisti à sutil provocação da querida e mais recente imortal de nossas letras. Explico.
Terça-feira, 5 do corrente mês, manhãzinha ainda, Fred me aparece à hora do meu desjejum trazendo à boca este poderoso rotativo embrulhado num saco plástico transparente. Sim, esse meu camarada de quatro patas, como costumeiramente faz, trouxe-me o “A União” do dia.
Até aí, nada que fizesse cócegas em minhas destemperanças. Mas, ao final do texto veio a dedicatória: “Este texto vai para Luiz Augusto, admirador de Lobato, ele acredita piamente na existência de Sacis em terras paulista e na Paraíba”. Tentei resistir ao carinhoso agravo, mas o “piamente” colocado no oferecimento, veio como uma espetada de faca pontuda em minhas vísceras. Resolvi reagir.
Coisa de uns cinco anos para trás, registrei nesta tradicional gazeta, meu encontro com esses bichinhos-gente ali pelo brejo paraibano. Inicialmente fui alvo de impropérios e recebi uma coleção de adjetivos da pior qualidade dos leitores deste diário. Mas fazer o quê? Não ia deixar de tornar pública tão inusitada descoberta. Mas, qual? Sim, havia sacis aqui pelas bandas da Paraíba.
Filatelia Brasil, 1974
Fomos, eu e Manoela, chamados para ver o que acontecia (depois que ele se aliviou). Eles estavam ali. Timidamente no começo e quando viram que não oferecíamos perigo, foram se achegando. Pouquinho depois, já amistosos e comunicavam-se por gestos e assobios, mas entendiam o que falávamos. Percebemos que estavam necessitados, pois assim demonstrou um sacizão que parecia o alfa, com um gorrinho na cabeça feito com o pano de uma bandeira velha do MST. Prometemos voltar.
Na semana seguinte paramos na mesma hora e local. Loguinho eles apareceram. Que festa fizeram quando viram o que trouxemos: rapadura, pé-de-moleque, amendoim (assado e cozinhado), espiga cozida de milho verde, pipoca, carne de charque cozida, farinha, queijo de coalho, uma meiota de cachaça, muitos apitos e chocalhos porque saci gosta muito desses brinquedos.
Essa relação durou bem uns dois para três anos. Levei até lá para vê-los, Zé Edmilson Rodrigues, Zé Pequeno, Thomas Bruno. Ficaram extasiados. Até hoje me agradecem pela oportunidade que poucas pessoas têm;
Tempos depois sumiram dali. Thomas havia se encantado com um filhotinho, que batizamos de Júnior. Queria levar o bichinho para criar em casa? Pode? Saci é peralta, iria fazer cocô no sofá, quebrar louça, rasgar cortina, bagunçar a geladeira além do que sem licença do IBAMA não sei como poderia ser porque saci não é bicho, mas também não é gente.
Estudei muito sobre esses traquinas. Morrem se tentarmos tirar retrato deles. Segundo, o escritor José Carlos Pontes em seu livro “O criador de sacis” [2003 – Secretaria Municipal de Cultura de SJ do Rio Preto], o saci também morre se for roubado do coração de uma criança. Não sei, meus queridos e queridas, se entenderam. Talvez em outra oportunidade eu retome essa conversa.
Poderia dizer muito sobre eles. Um pesquisador paraibano, José Ronald de Farias, jura de pé junto que viu um bando entre Monteiro e Cabaceiras. Acredito ser o mesmo grupo que conheci. Zé Ronald não mente. Quem viu um saci e o tem no coração é incapaz de mentir. O que é o meu caso.