A rua onde a rapaziada ia em busca de caçar borboleta ficava no centro. As casas se equilibravam em desalinho, roupas estendidas nos varais, principalmente lençóis encardidos, tomando sol forte ou a fresca do dia seco.
Desde cedo da noite começavam a chegar, em escancaradas conversas, risadas que não poderiam ser dadas noutros trajetos. Ziguezagueavam mulheres de tipos sortidos, muitas debruçadas às janelas com os olhos resvalando sobre os "meninos" (brevemente fregueses de cama). Geralmente louras, brincos ou argolas pendendo das orelhas.
MS
De uma feita, me contaram em fonte segura, dois amigos e clientes assíduos chegaram a um dos cabarés e, vexados, logo ocuparam cada qual com sua amante circunstancial, os quartos apertados para os atos permissivos. Após a prática libidinosa, um deles disse à companheira de quarto que estava se sentindo mal e avisasse ao amigo do quarto contíguo em emergência. A mulher assustada assim o fez. O avisado logo saiu a acudir o companheiro. Saíram ambos às pressas, ligaram o carro e sumiram. As garotas ficaram em polvorosa, a casa assanhada, todos comentando o fato. Ele sofria do coração - comentavam - e, decerto, não suportou o "exercício"...
Celyn Kang
Nunca ninguém da Silva Jardim desconfiou da peripécia deles. Por muito tempo frequentaram tranquilos a rua em que as mulheres madalenas borboleteavam em noites traquinas, onde o fantasma do pecado não assustava. Pelo contrário, incentivava ao desmantelo de prazeres comprados com a conivência de Eros.