Um grande jornal publica uma matéria de página inteira, com dois artigos, sobre a situação da educação. O título da matéria é “Formação dos professores: imprecisões persistentes”, tendo como subtítulo “Uma remuneração mais baixa do que a anunciada pelo Presidente levanta novas críticas”. Além da matéria com chamadas críticas a uma situação não menos crítica, há uma charge ótima, mostrando dois personagens, deliberadamente desenhados pequenos, na amplidão do majestoso espaço dos gabinetes de palácio. Um homem e uma mulher. A mulher, que está com a palavra, dirige-se a um homem com as mãos para trás, em atitude desalentadora, para dizer o óbvio, que ninguém consegue ver: “O mais incrível em tudo isso é que ainda há universitários para crer que nossos anúncios serão seguidos por atos”, com ênfase no advérbio ainda.
Le Monde
MS
Qual o teor da matéria de hoje, dia 08 de maio de 2024, na página 13 de Le Monde? São as propostas pífias apresentadas à classe do Magistério, muito diferentes daquelas proferidas em discursos para seduzir os tolos: promover e incentivar a profissão de professor. Na realidade o que se tem à mesa é a diminuição do tempo de formação do professor, que passa de 5 para 3 anos, de modo que ele possa se submeter a um concurso; salário irrisório de 1400 Euros, mas recebendo, como salário líquido, apenas 900, com a promessa de depois passar a 1800 euros, sujeitos, obviamente, aos mesmos descontos. A insatisfação é gritante porque o recebido efetivamente pelo professor é menor do que o salário do imigrante, o smic, e não corresponde aos investimentos feitos na profissão. Tal situação gera instabilidade na profissão, os professores precisam de um segundo emprego para poder sobreviver e, acima de tudo, torna-se um estímulo ao abandono da carreira, em busca de alguma outra que lhes garanta o sustento.
É claro que o impacto desses discursos governamentais desacompanhados de ações é muito grave, embora muitos néscios acreditem nele, principalmente quem não sabe o que é educação e se mete a discuti-la ou colocá-la nas mãos de incompetentes.
MS
Diante de uma situação como essa da França, vemos como o Brasil encontra-se muito aquém do necessário para poder avançar. Sem existir um Plano Nacional de Educação, como prioridade, é inútil ficar confiando em discursos desarticulados de ações efetivas, o que nos leva à estagnação e ao atraso. Há muito que passei a acreditar que a intenção é exatamente esta.
Gostaria muito de que houvesse um debate sério, em que argumentos fossem levantados, distantes, muito distantes de partidarismos ou de elogios ou insultos a este ou àquele mandatário. Debates com quem conhece o assunto por dentro, professores e professores em sala de aula, sobretudo. Não sendo assim, o que faremos será apenas insistir na inocuidade do bater boca.