A arte, em suas diversas formas, desempenha função determinante para o desenvolvimento do senso crítico e a valorização da diversidade cultural. A música erudita, por exemplo, como a obra do compositor, regente e pianista russo ÍGOR FIÓDOROVITCH STRAVINSKY (1882-1971) denunciou o autoritarismo político e suas consequências, como as injustiças geradas por governos antidemocráticos, incluindo o extermínio de cidadãos sob o regime totalitário de Josef Stalin (1878-1953).
Ígor Stravinsky foi um dos principais responsáveis pela transição da música do final do século 19 para a modernidade do início do século 20. Sua obra, marcada pela constante busca por inovação, reflete as convulsões sociais da época e revela a crise dos métodos tradicionais nas artes e nas ciências. Ele desenvolveu suas composições em três fases distintas: o período russo, o neoclássico e o serialismo.
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Igor com Yekaterina Nosenko e Gury Stravinsky (1900) CC0
Cena de A Sagração da Primavera (Coreografia Maurice Béjart) Ewa Krasucka
A segunda fase das composições de Stravinsky, conhecida como período neoclássico, iniciou-se em 1919 e se estendeu até 1954. Após a Primeira Guerra Mundial e sua mudança para Paris, o compositor adotou o estilo clássico do século 18. Algumas características desta época incluem o uso da
Debussy e Stravinsky Erik Satie
Stravinsky inovou na orquestração, combinando elementos do estilo barroco com suas próprias características, e também buscou inspiração em compositores do período clássico, como o alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) e o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791). Nesta época, Stravinsky adotou uma linguagem musical mais acessível em contraste com a complexidade rítmica e dissonância harmônica de sua primeira fase, mais melódica, tonal e ritmicamente regular. A orquestração torna-se mais leve e camerística em comparação com o grande número de instrumentos utilizados em obras anteriores. Ele incorpora elementos e citações de obras de compositores do passado em suas composições, como forma de homenagear e reinterpretar a tradição musical, e colabora com a companhia de balé do empresário russo Sergei Diaghilev (1872 - 1929), ao compor obras como "Pulcinella" (1920), um balé com música de câmara inspirada em obras do organista e compositor italiano Giovanni Battista Pergolesi (1710 - 1736); "Les Noces" (1923); "Apollon Musagète" (1928); e "Sinfonia de Salmos" (1930), obra para coro e orquestra com influências da música religiosa; "Oedipus Rex" (1927), ópera-oratório com libreto em latim; "Apollon Musagète" (1928), balé para orquestra de cordas e "Concerto para piano e instrumentos de sopro" (1923), uma obra que marca a transição para o neoclassicismo.
Stravinsky e Diaghilev Fundação Igor Stravinsky
Avant-Première de Canticum Sacrum (Catedral de S. Marcos, Veneza, 1956)
Ilaria Parma (TCI)
Ilaria Parma (TCI)
Embora essa fase seja menos conhecida do que suas obras anteriores, ela é importante para compreender a evolução do compositor e sua contribuição para a música do século XX, e já revela um Stravinsky maduro, que explora novas possibilidades sonoras e desafia as convenções musicais.
O estilo de Stravinsky é marcado por ousada flexibilidade, que o permitiu se adaptar às novas tendências da arte e da ciência de sua época. Na maioria das peças citadas, ele também denunciou o autoritarismo dos partidos políticos de então e os crimes movidos pelo ódio cometidos pelo Estado.