O que me basta
Na dura história
De viver?
Se um Céu
De brigadeiro
Ou a tormenta das águas?
Os ocasos
E o Sol rompendo
O horizonte do Atlântico
Viver é belo
Um traço colorido
A cada instante mm
E a dormência
Das coisas na saudade
Nos diz da eternidade de nós
Existem memórias
Que não prescrevem
Como uma certa noite de luar
Um acorde único
Um beijo desejado
Existe somente
O que há
Como prova
Do povo que é
E ama
Das dores
Dos gozos
Das incongruências
Dos dorso nús
E das chicotadas
O vendaval
Arqueia o coqueiro
Na beira do mar
Ele, o vendaval é
A melodia de Yemanjá
Não me rouba a paz
A balbúrdia
Dos infantes
Não me tira o sono
O som estridente
Que vem das baladas noturnas
Não me aflige
O cantarolar dos galos
Na madorna das madrugadas
Mas me desgastam
Os nervos os estampidos
Das armas de fogo
Me aterrorizam
As imagens das guerras
E o genocídio
Me angustiam
As perguntas:
Humanos? Que humanos?...
Ao rés
Do chão
A taça caída
Trincada
Rastro vinho
De vidro
Moído e
Derramado
E no horizonte
O cristal
Das estrelas
Tem a lua prata luz
Já no mar
Estradas de ouro
Nascer de sol ou da lua
Luz em espectro
Ao rés Do chão
O cristal partido
Reflete as cores
Do que dói em quebrar-se
Espectro
Chegou a velhice
E me sinto
Alquebrado
Minhas ideologias
Destruídas
Meu sonho de mundo apagado
Não amealhei
Depois de tanta luta
Nem o necessário...
Armazenei
Bibliotecas na mente
Todas inúteis
Mas se Hércules
Venceu seus 12 trabalhos
Eu também posso
Que a cada pulso
Segundo contado a menos
Se me revele muitos universos
Afinal doer não é privilégio
De uns
É direito de todos