A população sempre busca uma alternativa para escapar do transporte público, e não faltam razões: ônibus e metrôs lotados, trânsito caótico, e a eterna pressão de chegar no horário para não levar bronca. Recordo que, quando criança, já havia alternativas na minha cidade natal, que era rural. Primeiro surgiram os “alternativos” – aqueles Opalas, Monzas –, e a gente pagava uma quantia próxima à da passagem de ônibus e dividia a corrida com outros quatro passageiros. As crianças, claro, iam no colo. Depois vieram as vans, as kombis.
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Agora, na era digital, temos os motoristas de aplicativos – carro e até Moto Uber.
A vida, assim como o trânsito, é cheia de desvios, curvas inesperadas e paradas forçadas. Às vezes, precisamos de um “plano B” para seguir em frente – seja um alternativo de quatro rodas ou um improviso no dia a dia.
Essa semana precisei optar por essa nova modalidade. Meu carro foi para a oficina, e, com compromissos inadiáveis, me rendi ao Moto Uber. É curioso como tudo é prático: contratamos a corrida por aplicativo e podemos pagar com Pix, dinheiro, cartão de débito ou crédito. A tarifa é mais acessível que a do carro, e, claro, chegamos mais rápido, pois as motos deslizam entre os corredores e os carros. O problema é o coração – o meu quase saiu pela boca quando um Moto Uber passou entre um carro e o meio-fio. Gelei. (Risos nervosos).
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A vida, como essas viagens de moto, é uma mistura de medo e adrenalina. Estamos sempre tentando nos equilibrar, passando entre obstáculos e procurando a linha de chegada – mesmo que seja só o próximo compromisso do dia.
Como usei esse meio a semana toda, comecei a reparar nos motoristas. Um era tão perfumado que se a corrida fosse mais longa, morreria intoxicado com aquele aroma forte. Outro era uma mulher – sim, elas estão ocupando os espaços na sociedade sem tabus. Em um dia chuvoso, veio um roqueiro,
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vestido com colete de couro, roupa preta e bota coturno – achei o traje perfeito para as chuvas e poças. Teve também o conversador, que me contou da esposa, dos filhos e de como acordou cedo. Outro se empolgou tanto em falar de política, Lula, Bolsonaro e economia, que subiu na calçada só para me deixar no horário para o trabalho. Nessa hora, até esqueci do risco e agradeci mentalmente pela “gentileza patriótica”.
E não é assim com todos nós? Cada um, à sua maneira, se desdobra, enfrenta a chuva, veste o colete, perfuma a alma ou se distrai com conversas para continuar na jornada. Os desafios nos tornam resistentes, e o que nos move não é apenas a obrigação – é o desejo de chegar, de vencer o dia.
E foi assim que passei a semana: observando, ouvindo histórias, tentando me equilibrar nas curvas e agradecendo a coragem desses profissionais que enfrentam o trânsito para nos levar onde precisamos. No fundo, eles são como nós: fazendo desvios, malabarismos e até piruetas para sobreviver – afinal, quem no Brasil não faz isso para continuar na pista?
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A vida é um pouco como ser Moto Uber: a gente vai se arriscando, desviando, pegando atalhos, enfrentando congestionamentos e perigos para chegar a algum lugar – nem sempre com certeza do destino, mas com a coragem de tentar. Porque, no final, quem não arrisca... não chega.