Dr. Arnaldo Tavares sempre me lembrou uma peça do dramaturgo e ficcionista Luigi Pirandello: “Seis personagens em busca de um autor”. Só q...

Dr. Arnaldo Tavares sempre me lembrou uma peça do dramaturgo e ficcionista Luigi Pirandello: “Seis personagens em busca de um autor”. Só que Dr. Arnaldo não era apenas seis personagens, mas mil e uma personagens, desde o médico, o poeta, o artista plástico, o cientista, o humanista, passando pelo boêmio, pelo causeur, pelo enxadrista, até outras tantas que ele desejasse ser, com a diferença de que não vivia em busca de um autor, pois, como no poema de José Régio, o poeta português, parecia dizer: “Não, não vou por aí, só vou por onde me levam os meus próprios passos”.

A morte do corpo físico, ou desencarnação segundo a terminologia espírita, pode apresentar alguns temores, em decorrência da interpretaçã...

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A morte do corpo físico, ou desencarnação segundo a terminologia espírita, pode apresentar alguns temores, em decorrência da interpretação transmitidos por tradições religiosas ou por educação familiar, a despeito de ser a desencarnação um fenômeno natural e inevitável. Na verdade, a verdadeira vida não é a que transcorre no plano físico: “A vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito; sua existência terrestre é transitória e passageira, espécie de morte, se comparada ao esplendor e atividade da vida espiritual. O corpo não passa de vestimenta grosseira que reveste temporariamente o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual ele se sente feliz em libertar-se.[…].”

Martinho Lutero foi, sem dúvida, um revolucionário. Foi ele que disse: “Confiem em Deus, não nos ‘autonomeados’ intérpretes de Deus.” Tal ...

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Martinho Lutero foi, sem dúvida, um revolucionário. Foi ele que disse: “Confiem em Deus, não nos ‘autonomeados’ intérpretes de Deus.” Tal afirmação desafiadora à poderosíssima Igreja Católica Romana, com seu séquito interminável de exegetas da lei divina, hierarquicamente distribuídos em diversas funções eclesiásticas, muito tinha a ver com um tremendo feito do monge agostiniano: ele, em 1522, publicara a primeira versão vernácula,

Desde pequeno eu monto uma espécie de um álbum de figurinhas da cidade. Um catálogo individual, de valor único para o ser eu. É uma coleçã...

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Desde pequeno eu monto uma espécie de um álbum de figurinhas da cidade. Um catálogo individual, de valor único para o ser eu. É uma coleção de imagens, coisas, momentos e sensações existentes e provocadas pela cidade. Um acervo que cresce e se renova. Do som do alto-falante do parque de diversão armado na lateral do mercado público no Castelo Branco, com suas velhas, inseguras e, ao mesmo tempo, geniais canoas; assim como as sementes vermelhas de casca dura enfeitando calçadas da Avenida Epitácio Pessoa durante desfiles de 7 de setembro em épocas nebulosas.

Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da ...

Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da grande avenida.

Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.

Morei em Recife durante algum tempo e o que mais ouvi foi a frase: não pode... é perigoso. Chegou o carnaval, que eu adoro, e tudo não po...

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Morei em Recife durante algum tempo e o que mais ouvi foi a frase: não pode... é perigoso. Chegou o carnaval, que eu adoro, e tudo não podia. Ver a saída do Galo da Madrugada... não pode, muito perigoso. Acompanhar os blocos... perigoso. Olinda? Que doida você é?

O carnaval acontecendo e eu cercada de “não podia”. Lembrei que eu fora, durante anos, rodeada de nãos e minha alma rebelde falou baixinho em meu ouvido – o que você pode perder? Eu que vivi chorando perdas, perder o que mais?

Os causos que vez ou outra publico nesta coluna não são invencionices ou frutos de minhas maldades. Chegam-me por “ouvi dizer” e nem posso...

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Os causos que vez ou outra publico nesta coluna não são invencionices ou frutos de minhas maldades. Chegam-me por “ouvi dizer” e nem posso declinar a autoria porque já percorreram tantas bocas e orelhas que não sei há quanto tempo habitam o imaginário de nossa gente. Fazem-me pensar um pouquinho até nos heróis de Homero que ganharam o mundo através da oralidade e assim seus feitos atravessaram gerações.

Dizem que perdoar é ato dos fortes. Não duvido, eis que guardar ressentimentos é bem mais comum em nosso comportamento. Ressentimento sig...

Dizem que perdoar é ato dos fortes. Não duvido, eis que guardar ressentimentos é bem mais comum em nosso comportamento. Ressentimento significa sentir novamente, e geralmente cultivamos o hábito de trazer aos nossos painéis mentais sentimentos negativos vivenciados em algum momento de nossas vidas, bem como as pessoas ou grupos que responsabilizamos por tais eventos.

Talvez por estarmos mais habituados a nos comprazer com a dor, decepção e mágoa, por algum atavismo cujos meandros não serão objeto desta reflexão, (por se tratar de assunto complexo e controverso), ou pelo simples fato de não cultivarmos com a mesma disposição a gratidão.

CC0
Na terra, somos invariavelmente visitados por um número incontável de decepções e dores, desgostos, medos e frustrações, mas também por outro número, talvez bem maior de momentos de alegria, felicidade, conquistas, demonstração de amizades, solução de conflitos e êxito, em alguns inúmeros tentames.

Não nos referimos tão somente aos êxitos materiais, mas também as vitórias sobre nossos vícios, falhas e defecções.

Não temos a pretensão de analisar com profundidade e/ou abordar a necessidade do perdão, como proposta religiosa, ou de evolução espiritual, na busca da passagem para um céu, nirvana ou paraíso, a depender da cultura. Mas tão somente pelo prisma da saúde mental, física e emocional.

Na prática do ressentimento, cultivamos invariavelmente a mágoa, que etimologicamente quer dizer má água. Se observamos o percurso de um córrego ou fonte cristalina, os movimentos do mar ou dos rios, percebemos que os mesmos, além da beleza e fonte de nutrição e hidratação, carrega em suas entranhas uma variedade de seres vivos, quer sejam vegetais, minerais ou animais, e pela força do movimento arrastam, para suas profundezas, ou para superfície, os corpos mortos, carregados de vibriões, larvas, fungos e bactérias.

CC0
Pelo contrário, a água parada, serve de reserva de insetos, animais e vegetais mortos, que certamente têm sua função em a natureza, mas geralmente causa inúmeros males à saúde e bem estar do homem.

A mágoa, pode ser associada a um pântano ou lago, com suas águas, pestilentas e insalubres, e em alguns casos, periculosas, como as que estão carregadas de lixos tóxicos ou resíduos indústrias, causando enfermidades, deformações fetais e morte. E estas condições são agravadas pela ausência de movimento, ou seja, por estarem paradas. O ressentimento, que vem posteriormente à mágoa, apresenta uma estrutura funcional semelhante. De tanto trazermos à nossa mente imagens de eventos dolorosos, traumáticos e frustrantes, bem como a raiva das pessoas eventualmente partícipes ou causadoras desses eventos, essas imagens se sedimentam dando lugar à mágoa que, à semelhança de ferrugem, ou qualquer elemento cáustico, vai, aos poucos, corroendo nossas resistências físicas, mentais e emocionais.

Quando nos dispomos a perdoar, ou seja, desculpar ou compreender os limites do outro, tentando resignificar a dor que causou o trauma, fazemos um movimento análogo ao dos rios e mares, jogando para a supercie de nossa consciência, iniciando um processo de recolhimento daquele lixo mental que hora nos intoxica. Ou jogamos para as profundezas de nossa memória, de forma a não permitir que a dor seja experienciada cada vez que à lembrança visite nossos painéis mentais.

Merlijn
Não se trata de processo fácil, portanto não podemos nos iludir e realçar essa dor, fazendo uso de muletas psicológicas que podem vir a piorar nosso quadro, podendo, num momento ou outro, quebrar as comportas que impediram o escoamento dessas águas e causar um destrambelhamento em nossas já frágeis resistências, levando-nos às fugas espetaculares, através do abuso de drogas lícitas ou ilícitas, sexolatria, entretenimentos perigosos ou isolamento social, e até mesmo ao autocídio, ou suicídio.

É um processo que exige, vontade, perseverança e calma, eis que na natureza nada acontece de assalto.

Se o outro não aceitar o nosso perdão, não nos diz respeito, posto que perdoar nos tirará dos grilhões do ódio ou da mágoa, e essa alforria é pessoal, não dependendo da aprovação ou aceitação do outro.

CC0
Também não significa que refaçamos os líamos que foram quebrados, ou desrespeitados, ou que esqueçamos o ocorrido, afinal não se trata de amnésia ou Alzheimer, mas tão somente de deixar o evento no passado, lugar de onde nunca deveria ter saído.

Caso seja necessário, procuremos ajuda profissional ou mesmo religiosa, isso claro, sem fanatismo ou candidatura à santificação, para não adentrarmos num processo também grave, que é o da negação ou hipocrisia, pois esse tipo de ferrugem corrói nossa estrutura psíquica de dentro para fora, e não o contrário.

Viver é preciso, e viver de forma leve, sem mágoa ou ressentimentos desnecessários.

Vânia de Farias Castro é advogada e poetisa

É atribuído a Beethoven o seguinte diálogo. Já idoso, surdo e misantropo, numa das múltiplas trocas de domicílio em Viena, o compositor e...

É atribuído a Beethoven o seguinte diálogo. Já idoso, surdo e misantropo, numa das múltiplas trocas de domicílio em Viena, o compositor enquanto compunha sinfonias e estando em meditações, perguntou ao novo amigo que transpôs a porta de entrada de sua casa:

- O senhor tem árvores em seu quintal?

Pertinho do carnaval, eles saíam às ruas em comissão pedindo dinheiro aos moradores. Eram pessoas conhecidas, pobres, honestas e muito que...

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Pertinho do carnaval, eles saíam às ruas em comissão pedindo dinheiro aos moradores. Eram pessoas conhecidas, pobres, honestas e muito queridas no Roggers, bairro que mudou de nome porque o dono da única linha de ônibus não sabia escrever “nome de gringo”. Sempre às manhãs de domingo, lá iam eles: Luís Monteiro, Agostinho Tomáz, Henrique Nascimento, Mário Teixeira, Eulálio Martins, Severino Lima, Edilson Paiva, Severino Almeida, Pedro Coutinho (pai do desembargador Júlio Aurélio), entre outros cidadãos comuns, recolhendo contribuições para o carnaval. Recebidos com satisfação aonde chegavam, os organizadores do carnaval do Roggers formavam

Não basta só uma vida, para ser mãe. Às vezes, sinto que a mãe (“órfã de filho”), fica sem jeito em responder quanticamente sobre os fi...

Não basta só uma vida, para ser mãe.

Às vezes, sinto que a mãe (“órfã de filho”), fica sem jeito em responder quanticamente sobre os filhos... como se incluir quem já não está fisicamente, fosse errado.

Não se deixa de ser mãe, quando um filho vai para outro plano, apenas, nos tornamos mãe em dois mundos, eternizamos nossa maternidade.

Há 110 anos, vinha a público um dos livros mais estranhos da literatura brasileira. Seu título? “Eu”. Seu autor? Um paraibano magro, nasci...

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Há 110 anos, vinha a público um dos livros mais estranhos da literatura brasileira. Seu título? “Eu”. Seu autor? Um paraibano magro, nascido em engenho de cana-de-açúcar, que tinha no magistério o seu ofício e na poesia o meio de traduzir as obsessões que lhe tumultuavam o espírito.

Neste mês de fevereiro está sendo comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, evento que se deu no Teatro Municipal de São Paulo,...

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Neste mês de fevereiro está sendo comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, evento que se deu no Teatro Municipal de São Paulo, sob a liderança do escritor Mário de Andrade, e que pretendeu, digamos assim, inaugurar o modernismo literário e artístico na Terra Brasilis. Sei que muito será escrito e publicado a respeito. E com razão, já que se trata realmente de data importante de nossa história cultural, a despeito das controvérsias inevitáveis. De minha parte, como forma modesta de participar do momento, escolhi comentar sucintamente a visita do célebre Andrade à Paraíba, nos idos de 1929, portanto ainda sob o eco do movimento por ele liderado.

Paraíba, 20 de fevereiro de 2022

Paraíba, 20 de fevereiro de 2022

Quantas vezes ouvi, pelo rádio, a propaganda do Phymatosan – com a mesma... canção “Daisy Bell” que vi, em 1968, o computador HAL 9000 não...

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Quantas vezes ouvi, pelo rádio, a propaganda do Phymatosan – com a mesma... canção “Daisy Bell” que vi, em 1968, o computador HAL 9000 não conseguir cantar até o fim, no filme “2001”, ao ter a memória destruída pelo astronauta David (numa sutil versão do embate Davi/Golias):

Há momentos em que podemos nos dar ao luxo de pensar sobre o porquê de determinados acontecimentos ocorrerem em uma época, ano, ou em um ...

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Há momentos em que podemos nos dar ao luxo de pensar sobre o porquê de determinados acontecimentos ocorrerem em uma época, ano, ou em um período qualquer da vida.

É comum pensar que a manifestação artística, tomando como exemplos a música e a literatura, vivem um declínio relativo com o que já foi produzido em determinado tempo, usualmente vinculados aos nossos tempos de juventude e estabelecendo esta fase como um marco imbatível de criatividade.