Anos depois, assisti ao filme "A insustentável Leveza do Ser" (1988), adaptação do romance homônimo do escritor tcheco-francês Milan Kundera e, mais uma vez, senti-me encantada pelo cenário de uma cidade de nome Praga. Pois bem, um dia chegou minha vez de visitar o local, por quatro dias. Não vivenciei a "primavera de Praga", pois a estação era outra: o verão.
Na adolescência, ouvia meu pai contar que a filha de Mário Rosas, Gerusa Rosas (mais tarde minha guru do shiatsu), havia partido de navio ...
A insustentável leveza de Praga
Anos depois, assisti ao filme "A insustentável Leveza do Ser" (1988), adaptação do romance homônimo do escritor tcheco-francês Milan Kundera e, mais uma vez, senti-me encantada pelo cenário de uma cidade de nome Praga. Pois bem, um dia chegou minha vez de visitar o local, por quatro dias. Não vivenciei a "primavera de Praga", pois a estação era outra: o verão.
Eu era ainda adolescente quando conheci Pascoal Carrilho. Passados os tempos, um dia desses, conheci a praça em sua homenagem. Andei mes...
O radiante Pascoal Carrilho
Pascoal Carrilho foi um homem que por aqui passou meio radiante, meio sereno, acrobático, avoante e extremamente irônico.
Era comum vê-lo dentro de um paletó branco, impecavelmente engomado, no pescoço a inafastável gravatinha de borboleta. Era um homem imprescindível às grandes reuniões solenes, fazia o seu jornal com a cobertura radiofônica, sem tirar-lhe o estigma do bom boêmio e animador, um dos mais festejados e afamados da capital paraibana.
Pascoal era cíclico: sério, sisudo, triste, risonho, um pouco de tudo. Noutras horas, era um tipo meio carrancudo, mas fidalgo quando anunciava no palco da Rádio Tabajara, por exemplo, o Trio Jaçanã, de Marlene Freire, Zé Pequeno e Walter Lins. Àquela época, ao sabor de um tempo puro e sem violação dos castos costumes, estudava-se cântico orfeônico nos colégios e havia sabatina e ditado em todas as escolas municipais e estaduais da Paraíba. Era o tempo de Dedé do Sax, fisiognomonia do Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Quando eu o chamava de São Pixinguinha, via nos seus olhos um dardejar feliz. O saudoso amigo Aldemir Sorrentino – que animava as tardes (quase noites) do saudoso Clube ASTREA - dava o toque contagiante da música da jovem guarda, envolvendo os corações adolescidos por um certo romantismo épico, colado ao som da voz do excelente cantor Gilson, de quem nunca mais ouvi falar.
Não tive o privilégio de conhecer o José de Andrade Moura Filho, que foi amigo de Pascoal Carrilho. Todavia, já àquele tempo, quando era apenas um escriba iniciante de província, aprendendo a andar pelo mundo, recebia do mestre radialista atenções até hoje nunca esquecidas.
Algumas vezes, ele parava-me no Ponto de Cem Réis para me contar histórias hilariantes. Depois, saía gargalhando em cima do seu andar alto e baixo, sobre as pegadas dos melhores momentos de sua vida brincante.
Conta-se que um dia saiu com Bienvenido Granda, cantor mexicano de grande sucesso na época, para tomar uns aperitivos, quando aqui chegou para umas apresentações em João Pessoa. Já fazia dez dias que os dois havia saído, alhures, quando um amigo o encontrou em Campina Grande sozinho, meio desnorteado.
- Que fazes por aqui, Pascoal? - perguntou o amigo assustado com o seu estado de “desligamento”.
- “Bienvenido? Bienvenido?!!! Ele estava cantando ontem em Currais Novos, Pascoal!”
Certamente, o seu estado, ainda sob os efeitos das noites das praias e Praianinhas, com o impacto da notícia, terminou caindo na realidade. Enfim, abrandou os ímpetos.
A caninha “Praianinha” tinha nele o seu melhor divulgador e publicitário. Era bem pago para isto. E onde fizesse uma cobertura radiofônica, fazia o seu comercial: “Eu bebo Praianinha, nós bebemos Praianinha. É a melhor aguardente do Brasil.”
Um dia, ao repetir o mesmo refrão desse slogan, um espectador jovem que estava na plateia do auditório da antiga Rádio Tabajara, gritou:
“Já estás bêbado a essa hora, né Pascoal?”
Ele não hesitou! Não levava desaforo para casa e não contou conversa. Com o dedo em riste, respondeu à afronta que havia recebido do moço da plateia, na presença da namorada:
No enterro do médico Dr. Napoleão Laureano, Pascoal Carrilho fazia a cobertura daquela solenidade fúnebre. Era um momento de muita comoção e respeito. Falando baixinho, ele dizia, com o microfone quase encostando na boca:
“Aguardente Praianinha, a melhor aguardente do Brasil.”
Num súbito escorregão, caiu em pé dentro do túmulo, onde seria sepultado o insigne médico, famoso oncologista paraibano. Lentamente, encostou o microfone na boca e disse quase sussurrando:
“PRI-4, Rádio Tabajara, transmitindo diretamente de dentro do túmulo do Dr. Napoleão Laureano!”
Continuei pensando sentado na praça Pascoal Carrilho e entendi que o tempo e a suas ambiguidades, não conseguem sepultar as histórias curiosas que tanto nos fizeram rir ou chorar!
Esse é o título do livro em que James Geary, editor na Europa da revista Time, faz um abrangente estudo sobre os aforismos. Ele mostra a e...
'O mundo em uma frase'
PESSOAS LIVROS O Mundo é uma grande biblioteca, E Deus é um mágico escritor, Que cria livros de páginas em branco, Que ...
Ele tinha o sorriso no rosto
O Mundo é uma grande biblioteca, E Deus é um mágico escritor, Que cria livros de páginas em branco, Que vão sendo escritas com a tinta do amor. Pessoas são livros, Que escrevem a sua própria história, Há pessoas romances, Há pessoas tragédias, Há pessoas mistério, Há as que são comédia. Há livros de tanta riqueza, Que são enciclopédias, De saber e heroísmo. Há outros que são tão pobres, Que parecem estar em branco, Pois o tempo todo são apagados, Pela borracha do egoísmo. Há livros de belas histórias, Que admiramos sua glória E buscamos copiar, Outros são histórias feias, Tristes e mal escritas, Cheias de pobreza e desdita, Que quase ninguém quer ler, E ficam num canto da estante, Tentando se esconder. Mas Deus é escritor bondoso E ama os livros tristonhos, Vez em quando os reencapa, E lhes dá páginas novas, Que podem ser escritas, Com tintas mais belas e brilhantes, Em letras de amor triunfante, Modificando-lhes a história. Eu sou também um livro De capa simples, modesta, Escrevo-me a cada dia, Com sonhos e fantasias, Gosto de falar de amor, A dor aparece um tantinho, Mas vou com muito carinho, Fazendo da vida uma festa, Que escrevo com alegria, Pois minha maior ventura, É ser livro de poesia. FLUIR
Fluir... Deixar fluir, Deixar a vida prosseguir. Ninguém pode conter O oceano entre as mãos. Entreguemo-nos à vida, Pelos caminhos do coração. Para que negar o amor? Para que negar a dor? Ninguém consegue Esconder-se de si mesmo Somente caminhará em círculo Simplesmente caminhará A esmo. Deixemos então fluir, Seja a dor, Seja o amor, Caminhemos até o fim da estrada, Cantemos todos os poemas, Choremos todas as lágrimas. Porque viver é entregar-se, Viver é mergulhar, No infinito mar de sentimentos, De sonhos, de esperanças. Viver é deixar fluir. Negar-se é ser covarde, ´ É ver a vida passar pela janela, Convidando-nos à felicidade E a ela voltarmos às costas, Preferindo olhar o vazio A extasiar-se com o brilho Da mais bela estrela. ESTRELA CADENTE
Passaste ontem pela minha janela, Como imenso foco de luz, Clareando a noite escura. Pomo de ouro que o céu cruzou, Tanta beleza e energia, Que o amor em mim despertou. E da forma que viestes, A tudo ofuscando, E embelezando o firmamento, Sumiste. Assim, sem aviso, sem que eu esperasse, Deixando-me a alma em tormento. Eras tu, apenas uma estrela cadente, Que se inflama no céu e depois somes, E na tua própria beleza e energia Te consomes. E eu, menestrel desavisado, Fiquei a olhar para o céu, Ofuscado. Acreditando que havias levado, Todas as outras estrelas, Na tua passagem instantânea. E dei de entristecer, Sentindo-me roubado, Pois o que pode fazer um menestrel, Sem a Lua e as estrelas, Para à noite ele cantar? Porém, (agora sorrio a dizer) Tudo foi apenas, Questão de ofuscamento, Pois lá em cima, no céu, No mais alto firmamento, Ainda estavam minhas estrelas. Estava também a Lua, Ora redonda, ora fininha, Sorrindo da minha bobagem, Das lágrimas de criancinha, Que um dia derramei, Por uma estrela cadente. SUAVE
para Carlos Romero Era uma criatura suave De olhos e palavras mansas. Tinha no rosto o sorriso E na alma a alegria de viver.
Até onde pode ir a ruindade humana? ... Há vezes que estranhamos sobremaneira a indiferença, a incompetência moral e a covardia enquanto c...
Música é a resposta
Sobre os poemas de “A Chave selvagem do sonho” (Editora Tribuna, João Pessoa, 2020), de Anna Apolinário, faço minhas as palavras do poeta ...
Trouxeste a chave?
Esta aconteceu aqui mesmo em João Pessoa. No dia da votação para prefeito e vereador me dirigi à escola estadual na qual estão situadas...
Borboletas em Manaíra
No dia da votação para prefeito e vereador me dirigi à escola estadual na qual estão situadas a minha zona e seção eleitorais. Há muito não moro mais no bairro de Manaíra, mas preservei o local de votação como uma deferência aos tempos de adolescência e juventude, passados lá.
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Tropeços
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O néctar do jornalismo espírita
Literatura se alimenta, sobretudo, de literatura. Todo teórico e crítico sabe disso. Todo escritor tem consciência desse fato, afinal de c...
O escritor, um leitor privilegiado
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As capelas dos engenhos
As capelas estão presentes nas construções de muitas cidades, desde os mais remotos tempos. Foi uma pequena capela de taipa erguida nas imediações do Rio Sanhauá que marcou a pacificação entre portugueses e índios, e o início da construção de nossa capital.
As imagens do Engenho Pau d’Arco ganharam vida nas páginas do “EU” pela criatividade poética de Augusto dos Anjos, mesmo recordadas com nostalgia. Outras são encontradas nos romances telúricos de José Lins do Rego, com páginas de relevante valor estético de nossa literatura que falam desses ambientes das casas-grandes e das capelas dos engenhos. Lugares, onde existe uma força mítica misturada ao sabor da garapa de cana e do cheiro das frutas tropicais, perpetuados na palavra escrita, mesmo que o desleixo de alguns proprietários contribuiu na destruição de muitas delas.
Ainda existem resquícios de antigos engenhos ou fazendas de café no Brejo, com grossas paredes que sustentam no alto uma cruz, símbolo milenar da fé cristã, mesmo cobertas pelo melão-de-são-caetano. Muitas paisagens dos livros de José Lins ganham vida nas mentes e trazem emoção aos corações de visitantes ao contemplar esses ambientes centenários, em alguns casos, guardando suas antigas características.
Por volta de 1850, junto do primeiro engenho de Serraria, foi construída no sopé da elevação uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Morte, originando-se, então, a cidade que se estendeu pelo cocuruto da serra, onde cinquenta anos depois iniciaram a construção do imponente monumento sede da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Nas regiões do Vale do Rio Paraíba e no Brejo, com o tempo, muitos engenhos e fazendas, lugares onde também se cultivava algodão e criava-se gado, desapareceram, levando de reboque as capelas. Seus novos donos, na maioria, não se deram conta da importância dos monumentos que marcam a riqueza histórica da região e o passado das famílias.
Nem todos se dão conta de que a arte é o meio mais cauteloso para fugirmos do mundo opressor e por meio dela nos vincularmos à vida. Semeia um gozo de liberdade quando estabelecemos uma relação genuína com esses antigos ambientes, e também com a natureza que os rodeia.
As capelas não são apenas adornos ao ambiente em redor das casas-grandes e dos engenhos, mas surgiram como sinais das visões místicas dos antepassados, e deixam os lugares mais belos.
O episódio nº 12 da Pauta Cultural entra no ar na ALCR TV com atualidades do mundo cultural participação dos autores, leitores e telespe...
Pauta Cultural (Ep. 12)
Nesta pauta destaque para:
O lançamento do livro de contos dos escritores Sonia Zagheto e Claudio Chinaski, “A Página em Branco dos Teus Olhos”
O lançamento do livro "Nobelina" - poesias de Cibelle Laurentino,
Curso gratuito on line, promovido pela UFABC - “Ler e Escrever Poesia – um percurso” – com 80 horas de duração (cursos.ufabc.edu.br)
Resumos comentados sobre os textos:
“O tema do déspota nos romances hispano-americanos” – da professora Ester Abreu (ES)
“A chamado do Brasil - de Gonzaga Rodrigues
“A noite do corta-jaca no palácio presidencial” - de Flávio Ramalho de Brito
Além dos comentários dos leitores Fernando Melo, Abelardo Jurema Filho e Rosa Aguiar
O episódio desta Pauta Cultural foi ilustrado com obras do artista plástico paraibano Flávio Tavares.
O célebre conto (ou novela) “ Cândido ou O Otimismo ”, de Voltaire, termina com o personagem que dá nome à obra afirmando, conclusivo, “.....
Cultivar nosso jardim
O Físico e Astrônomo Carl Sagan (1934 - 1996) afirmou que se o tivessem interrogado sobre qual lugar desejaria ter conhecido, ...
A escolha de Carl Sagan
Os historiadores da música popular do Brasil costumam designar como “Época de Ouro” o período que se estende do final da década de 1920 at...
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Pousada no píncaro da torre da Igreja do Carmo uma pombinha mesclada em branco e cinza. Animada em saracotear as penas, beliscando-s...
Meiga ameaça
Nunca imaginei que, de repente, Iraci viesse influir com tanta evidência nas minhas considerações de experiência pessoal no trato com os m...
Tudo como tem de ser
Quando a conheci - num instante para toda a vida - não deu para ver melhor seu rosto ou detalhes de suas feições. Ia com pressa, com alguma coisa a buscar, a fazer, sem dar ou sem ter chance ou lembrança de passar outra imagem da vida.