TABAGISMO quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brôn...

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TABAGISMO
quando acho uma imagem, trago-o. e mais o trago se não a encontro. (de imagens e não-imagens, entulho os brônquios).

O destino dos livros em Serraria era algumas casas na rua principal e ao redor da praça central, e objeto de adorno de salas nas casas...

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O destino dos livros em Serraria era algumas casas na rua principal e ao redor da praça central, e objeto de adorno de salas nas casas-grandes de engenhos no tempo quando já estavam a caminho de apagar a fornalha.

No sítio onde morávamos restavam, na maioria das vezes, revistas sobre agropecuária e a desbotada Bíblia, de modo que somente em Arara, já entrando na metade da segunda década de minha vida, cobicei a biblioteca de Marísio Moreno. Quando cheguei para morar nesta Capital, em 1971, ampliei o olhar à estante apinhada de livros que Nathanael Alves abriu para mim e que, depois, Gonzaga Rodrigues ensinou como escolher a melhor leitura e dela tirar proveito.

Domingo passado, após o almoço, fui, como de hábito, fazer a sesta no terraço de casa, contemplar o meu álacre jardim, enquanto degustava ...

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Domingo passado, após o almoço, fui, como de hábito, fazer a sesta no terraço de casa, contemplar o meu álacre jardim, enquanto degustava uma deliciosa sobremesa. Uma cenazinha pacata do cotidiano, mas, como nos lembra o poético Yasujiro Ozu, “a rotina tem seu encanto”.

Pois logo o encanto foi quebrado. Vinda de uma das casas vizinhas, uma música alta tomou conta da tarde.

Capítulo I Espreitando o espírito iluminado de Gonzaga Rodrigues, lendo a sua bela crônica sobre a Rua Direita , agressivamente cham...

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Capítulo I

Espreitando o espírito iluminado de Gonzaga Rodrigues, lendo a sua bela crônica sobre a Rua Direita, agressivamente chamada pelos ignaros extemporâneos de Duque de Caxias, e por todos aqueles que ignoram a dimensão secular das ruas da Parahyba de então. Rua Direita que na memória fisiográfica “urbana” sempre foi, e para os que têm a dimensão sentimental desta cidade, ela, sempre será a artéria que secularmente irrigou com alegria a nevralgia do centro desta cidade.

O escrito do Neguinho Gonzaga me aguçou o desejo de dedilhar e rever os meus passos na infância e na juventude sublimando cada passo, e em cada olhar, revi e vivi com felicidade a Rua Direita. Ela era um dos meus apreciados endereços afetivos.
A rua dos meus avós, dos amigos da infância e adolescência. A rua da primeira paixão aos 13 anos em que os hormônios despertaram para o sentido de um amor ainda infantil. Declarei-me timidamente: você quer ser a minha namorada? Ela fez um afirmativo e discreto e lindo sorriso. Não passamos desta mise em scène sem palco e sem atos. O tempo nunca esmaeceu aquele primeiro amor.

A minha caminhada reluzindo da memória, começou no Cruzeiro do pátio de São Francisco onde com dificuldades nos meus dez anos tentava escalar aquele monumento. Era o terreiro de Quincas Brito, com quem batia pelada com ele, Castanha e Péricles Ombreira. O adro da Igreja, as largas calçadas da Rua Nova, a quadra do Lins de Vasconcelos era o nosso chão onde proliferavam grandes topadas.

A memória me conduziu em lentos passos a rever o belo casario, iniciando pela Academia de Letras que pertenceu a recatadas professoras da família Mesquita. Olhando a margem direita, fiquei imaginando Orlandinho, e Maria Santiago née Cavalcanti, esta uma das mais belas donzelas da minha geração. Tinha cabelos pretos e sedosos como as asas da craúna vide Iracema a virgem dos lábios de mel. Ao lado da casa deles, havia morado o Juiz Maurício Furtado, pai de Celso.

Ao lado, pude distinguir o casarão de Seu Sassá Norat que recolhia os travessos Hardman, Ives, Badu, Marquinhos e muitos outros filhos que faziam travessuras na vetusta rua. Os meus passos, se paralisaram diante da casa de meus avós Luiz e Carolina Lopes de Mendonça. Lembro-me de uma frondosa goiabeira na qual minha delicada e culta avó pendurava suas peneiras com passas de caju. Eu e os primos, especial Beto Oião dizimávamos sempre as suas sedutoras passas.

Pude ainda sentir ressoando os chamamentos das minhas tias Lucila e Bernadete: "Franz — era o meu apelido —, sai da rua menino". Desobediente prossegui e me postei diante da casa do Professor José de Mello e D. Maria que abrigavam, entre muitos filhos, o grande e valoroso Humberto, e, entre outros, Gilson, o Caveira, Heraldo e Celso. Educadas e recatadas, pude ver os vultos de Maria Lúcia e Maria Helena. A grande e serena Maria Lúcia que sempre percorreu a sua trajetória humana, como médica e mulher com a grandeza de um ser superior. A minha queridíssima Comadre, que se casou com meu primo Carlinhos, e que me concederam esta honraria muitos anos depois.

Mais à frente, a memória me reeditou as imagens infanto juvenis de Gabriel, Zé Elias, Chico e a formosa Ângela, todos os rebentos de Sr. José Metri. Nesta mansarda, residia também o meu estimado e atencioso professor de biologia Antônio Augusto de Arroxelas, a quem chamávamos jocosamente de espirilo.

Andava espionando as casas, apenas ouvia as risadas e as brincadeiras, das quais eu sempre participava com os pupilos de Waldemar e Ivanda Nunes do Rego, pais de Leninha, Francisco Eduardo, o Babinha, Ani e Leonor. Na primeira esquina dava para sentir o halo do brilho e da beleza de Selda Rolim, irmãzinha do inteligente e bem comportado varão Sergio Rolim. A casa dos avós deles, em sua sala, ostentava uma rara beleza ornamental do forro de madeira finamente lavrada no estilo neoclássico.

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ESQ ▪ Os irmãos Selda e Sérgio, com os pais, Zuleida Rolim e Francisco Mendonça.
Fonte: livro "O Caçador de Lagostas", de Sérgio Rolim Mendonça.
DIR ▪ A casa do avô, Romulado Rolim, na Rua Direita.

Do terraço de Ivanda sempre acenávamos para o Padre Juarez Batista, o nosso Juju, cabelos revoltos, e que ainda ajeitava a embaraçosa batina, sempre atrasado ia para a Catedral. Figura luminar, que quando descia a Rua Direita levava horas, proseando para chegar ao Ponto de Cem Réis. Era muito querido e admirado.

Prosseguindo no lado direito, me acomodando, passei a recordar apenas os apelidos que começaram fluir à margem da residência de Seu Ciro, dono da loja o Faqueiro, que sabia ser o esconderijo de Xaréu e Albacora, e de Ciro, o seu filho mais velho.

Na sequência, não me contive em observar as moradas de Lúcio, Pé de Valsa, e a sua bela irmã Lucinha. Ali em frente, estava o Armarinho de Seu Viana, que nervosamente irritadiço nos atendia
quando íamos comprar bolas de gude e outras indefinidas bugigangas. Não ligávamos para o grau de insuportabilidade demonstrado ao nos atender sempre com o indisfarçado mau humor: "Vão querer o quê?"

A memória me vaticinou a fazer o reconhecimento dos múltiplos personagens pelos apelidos, muito dos quais foram irreverentemente gestadosno Pio X e nas peladas. Foram os casos de Marcelo Piola, Catabi, Catapora e Catapeba os gordinhos que não economizavam os sapatos Clarks chutando as pontas de calçadas. Vizinho de Roberto Peru, era a Casa de Eudoro Chaves. O apelido Peru viera de cenas cômicas do Pio X, em que ele secundava o velhinho Irmão Anastácio que cuidava de um criação de muitos perus.

Passando pelo Beco da Companhia de Comércio PB/PE que existira no século XIX, e que desembocaria na Maçonaria da Rua Nova. Em seguida divisava a Chefatura de Polícia com o seu repelente camburão, uma Chevrolet preta 1948, da RP, a rádio pancada, guardada repressivamente por Balbino, um policial que não hesitava em invocar o seu bastão de borracha. Ele era terror dos incipientes delinquentes. Balbino respeitava apenas Newton Borges — amigo de meu pai —, que valentemente o surrara na calçada-bar do Cabo Branco. Perto dali, podiam-se ouvir os gritos abafados que vinham dos confessionários. Reinava o Capitão Belmont.


Defronte à Chefatura, estava a Praça Rio Branco, que frequentava assiduamente lá trabalhavam na bela agência dos Correios a minha mãe e a minha tia Bernadete. Passava timidamente pelo suspeito bar do Camonge, cujo dono era deficiente de um olho, frequentado pelos pés de cana, que bebericavam, e tinham por parede um caldo de ovo de boi que era propagandeado numa lousa – Caldo de colhões. À frente ficava o Foto Stuckert, onde podia se divisar Guilherme, que secundava o pai.


Ao lado da Polícia, e sob a sua proteção, se homiziava ordeiramente uma figura com singular nome de Luiz de Marillac, casarão que abrigava também a escola de datilografia de D. Alzira, minha professora, que não hesitou em me dizer: Meu filho vá fazer outra coisa, faz uma semana e você não consegue passar do a s d f g, o primeiro exercício. Você será sempre dedógrafo. Revoltado, fui embora... semi-desmoralizado.

Capítulo II

No lado direito da Rua Direita a curiosidade me empurrava para ver as bacanas se lapidando pelas mãos de D. Edith, a cabelereira mais famosa da cidade. Vizinha estava a redação do Jornal O NORTE. Nunca adentrei, mas ouvia os sonidos tipográficos. Quase em frente estava a Farmácia do Seu Teixeira, que era vizinha ao Restaurante Lido muito frequentado pelo meu pai, amigo que era do Coronel Fialho, e de Inácio Pedrosa, os donos, sempre atenciosamente atendidos pelo garçom Cobrinha.

Na esquina da Rua Direita com o Beco da Misericórdia, estava a imponente sede do Cabo Branco, que com frequência ia ver os habitués do xadrez, lembrei-me de Yves Beach desafiando Chico Espínola, Arnaldo Tavares, ou Ivo Bichara, ameaçando sempre os concorrentes com seus xeque-mates. Era imbatível no relógio. Havia várias sinucas, mesas de jogos de baralhos onde foram destronados muita gente abonada, e o indefectível Pelé Tuxaua dos Índios de Mandacaru. Fazia um café irretocável. Sempre dava uma espiada nas vitrines da Livraria de Benevides em frente ao Cabo Branco. Na diminuta loja Seu Ciro, o Faqueiro fui presenteado pelo meu pai com uma linda capa de Gabardine, marrom clara, que me fez parecer um diletante imitador da extremada elegância de Humphrey Bogart.

Conhecia e frequentava muito o Cine Rex, com um porteiro intransigente Seu Etelvino, que nos tangia para não entrar nos filmes interditados para os menores de 14 anos. Era insuportável e repugnante a sua vigilância. Era muito difícil ludibriar. Só conseguíamos quando ele ia ao banheiro. Não conseguiu segurar a enxurrada de fãs quando foi exibido O Balanço das Horas – Rock Around the Clock com Billy Halley e seus Cometas nos idos de 1958. Pararam a sessão, e chamaram a polícia tamanha era a algaravia e alucinação destruindo muitas cadeiras do Rex. Ia às sessões matinais, aplaudia Fumanchu, e fazia um escambo de Gibis. Os mais cotados eram os heróis Rock Lane, Roy Rogers, Hopalong Cassidy e Jesse James.

O Salão João Mata, estava ao lado do Rex, e era dirigido pelo barbeiro Severino, que nos impunha cortes de cabelo à la Jack Deman, canastrão hollyoodiano no estilo zero de recruta. Um desastre agravado pelos selos que nos eram infligidos no colégio.

Em frente ao Salão, estava o Restaurante Flórida, de Zezé Laet, vizinho ficava a Sinuca de Seu Salú, onde íamos goderar e espionar os jogos dos outros. Mais atraente era ir à Casa dos Frios do alemão, Seu Ernesto, pai de Gasolina e Erica, meus colegas de Pio X. Era permitido que tomássemos um chope com ovos cozidos coloridos. Em seguida, íamos para o bar de Forzinho, num beco transversal à Rua Direita.

Ao desembocar no Ponto de Cem Réis com seus belos pavilhões art déco e um belo relógio ao centro, aguardávamos os bondes para ir até a Praça Dom Adauto, sendo impiedosamente perseguidos pelos cobradores. Ainda no Ponto de Cem Réis podíamos observar à distancia: o Bar Duas Américas, a Padaria de Seu Aranha, o Café Alvear, a loja de long-plays de Walmir dos Santos Lima, a Sorveteria Canadá no Paraíba Palace Hotel, de João Minervino. Na Praça de Táxi, eu procurava os taxistas Elias Teixeira, Zé Papagaio e Dionísio, para saber os rastros de meu pai, do qual eram amigos.

Ao subir a Rua Direita, em direção à Praça João Pessoa, destinava um olhar curioso em direção do Bar Querubim, e que era detentora de uma quadrinha irreverente: “Na Paraába existe coisa de admirar. Subindo é o Bar Querubim. Descendo é Quero Bimbar". Silva Jardim, Rua da Areia e Maciel Pinheiro eram os pontos de aterrissagem. Muito tempo depois entendi a inversão semântica.

Mais adiante, podia se avistar a Escola Underwood, que abrigava Tartaruga, sobrinho da dona do estabelecimento. A escola era chamada, de modo insultante e irreverente, de Cabaré de Osmarina... Havia ainda a livraria de Nólo Pereira: a Casa do Estudante.
Foto Antônio David Diniz
Em seguida — em nossa inesquecível perambulação, a consumir quase tudo que a memória permitiu —, a rua deságua na burocrática Praça João Pessoa.

A Rua Direita assomou as minhas lembranças à conta da enorme influência de Gonzaga Rodrigues, e me fez mergulhar nas minhas infantis e adolescentes andanças. Fui só, queria muito ter tido o prazer de rastrear o Neguinho ao meu lado. A rua sempre abrigou uma fase muito feliz. Ela foi o início da longa e tortuosa estrada que percorri na vida.

Se a memória me acenou para voltar à Rua Direita, devo dizer que o Neguinho Gonzaga, sem o saber, me empurrou e me deu o prazer de lhe dedicar esta crônica desembalada. Gostaria de tê-lo tido ao meu lado, mão no ombro, o querido Gonzaguinha. Fiz o meu itinerário sozinho, recorrendo, aqui e acolá, às luzes de Humberto Mello.

Merci, Gonzaguinha

A Rua Direita — a de ontem, não mais a devastada de hoje — foi o principal berço viário de uma vida jovem semeada de aventuras e brincadeiras, e inicio de muitas amizades e paixões carbonárias.

Ritinha surgiu na sala, de repente. Ao ver Luizinho, espantou-se. E não entrou. Surpreendida, quis fugir mas limitou-se a observá-lo. O c...

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Ritinha surgiu na sala, de repente. Ao ver Luizinho, espantou-se. E não entrou. Surpreendida, quis fugir mas limitou-se a observá-lo. O coração disparou, o de Luizinho também. Ela encostou-se na moldura da porta e deixou-se ficar. Em coisa de instante o vento morno da tarde formou um pequeno redemoinho e varreu tudo em volta. O alpendre ficou cheio de folhas e poeira, as coxas de Ritinha completamente nuas. Em vez de prender o vestido com as mãos, ela ergueu os braços e entrançou os cabelos jogando-os para um lado, sobre o ombro, um meio de esconder os seios firmes que sobravam no decote, talvez tivesse mesmo essa intenção, talvez o fosse para acentuá-los, como ficou mais evidente.

Voltei a traduzir Catulo. Primeiro dos poetas latinos clássicos, Catulo opera uma revolução na literatura da sua época, ainda limitada à é...

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Voltei a traduzir Catulo. Primeiro dos poetas latinos clássicos, Catulo opera uma revolução na literatura da sua época, ainda limitada à épica e à história. Viveu pouco, cerca de 30 anos. Oriundo da cidade de Verona, de família abastada, Gaius Valerius Catullus (87/84-57/54 a.C.), estabeleceu-se em Roma, onde viveu uma vida de cliente, ainda que não tenha passado pelas agruras desse relacionamento com os patronos, como Marcial, o seu discípulo mais dileto, de quem ele dista quase cem anos.

Brainstorming ? Com quem? Uma voz interior: – Você não tem autocrítica? Ri ao me lembrar de um filmezinho, genial, de animação, Geri’s ...

Brainstorming? Com quem?

Uma voz interior:

– Você não tem autocrítica?

Ri ao me lembrar de um filmezinho, genial, de animação, Geri’s Game, do Pixar Studio, no qual um velhote (a cara do Ariano Suassuna), se vê sozinho ante o tabuleiro de xadrez sobre uma mesa com duas cadeiras, e não resiste: movimenta um peão. Aí... vai pro lado oposto, move outro, volta pra primeira posição, revida, etc., etc., num crescendo em que se cria um feroz antagonismo entre os “dois”.

A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento ...

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A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento a que se associa a Fundação Joaquim Nabuco, pode ser vista até sob suspeição, diante da pontinha que fui chamado a fazer em suas duas gestões no governo do nosso Estado. No primeiro, como auxiliar direto, no segundo governo como coautor de publicações destinadas à preservação em álbuns de tratamento gráfico compatível com a singularidade histórica e monumental da terceira cidade mais antiga do Brasil.

NENHUM OLHAR Nem um olhar Nenhum olhar Que ninguém veja. Há apenas o silêncio Em conserva, Preservando nosso Sopro de vida, Esse ...

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NENHUM OLHAR
Nem um olhar Nenhum olhar Que ninguém veja. Há apenas o silêncio Em conserva, Preservando nosso Sopro de vida, Esse vento de morte Essa boca atada, Calada sobre tudo, Prostrada sobre o mundo. E eis que sou convocado A acordar o mundo Depois que o imundo Interceptou o sexo, Tomou-me sem nexo, Depois que o verbo Foi adjetivado. Descobri que não sei A gramática dos afetos. A sintaxe do tempo Virou somente ausência, Semântica sem morfologia, Afônico amor, A nos sugerir A preposição do (per)verso Na conjunção da carne. Todo silêncio é refletido Quando a voz é passiva. Todo silêncio é reflexo Da voz ativa. Sinto falta da voz recíproca. Eu quero um “a gente” Paciente. Eu quero um nós Que possa ser Conjugado em todo Tempo, modo, pessoa. Quero um sujeito plural Que seja singular.
TEMPORAL
Tempo (in)vestido nos teus olhos. Tenho revertido em meus olhos o íntimo que já não se intimida, ao revelar uma eternidade que já se mostra utópica. Nostalgia talvez seja o ressentimento de todas as expectativas frustradas pelo eu e as circunstâncias às quais nos rendemos e de que somos reféns Se ao menos eu pudesse ser mais pai de mim quanto Deus é do nada, mas eu sinto que há um Tudo que se emerge nos delicados sinais: Ele está no aparente desconexo, no surpreendente sexo, suspenso num abraço infantil.

Sigam meu conselho; pulem a fase de pais, sejam avós diretamente, sem escalas. Dona Creusa Pires dizia que casa de avô é cabaré de neto. É...

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Sigam meu conselho; pulem a fase de pais, sejam avós diretamente, sem escalas. Dona Creusa Pires dizia que casa de avô é cabaré de neto. É bom, viu? Você conversa, brinca, deseduca e quando eles começam a chatear devolve aos pais. E é cada conversa... minha linda neta Aurora até pouco tempo devia imaginar que eu nasci tão antigamente que na cabeça dela convivi com os dinossauros, tantas eram as perguntas escalafobéticas.

O assunto que tem ecoado bastante nas páginas de arte e cultura do Brasil é a acusação de plágio contra a cantora Adele, vencedora de um t...

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O assunto que tem ecoado bastante nas páginas de arte e cultura do Brasil é a acusação de plágio contra a cantora Adele, vencedora de um total de 15 prêmios Grammy, o “Oscar da música”. A acusação partiu recentemente do compositor mineiro Toninho Geraes, autor da canção ‘Mulheres’, um dos grandes sucessos do sambista Martinho da Vila. Para o autor, a canção ‘Million years ago’, lançada pela cantora inglesa em 2015, “tem quase 80% da melodia de ‘Mulheres’”, informação confirmada por uma perícia encomendada por ele.

Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem...

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Quo Vadis
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor

Quem valoriza produtos orgânicos, não resiste à uma banca de frutas em plena estrada... e, se existe uma falta real de uma apreciada, just...

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Quem valoriza produtos orgânicos, não resiste à uma banca de frutas em plena estrada... e, se existe uma falta real de uma apreciada, justifica e faz necessária a procura. A maior possibilidade seria não encontrar, em pleno sábado à tarde, algum remanescente vendedor. O olhar atento perscrutava adiante.

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a via...

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a viagem de quem foi e nunca deixou de ser esperado. E com dureza de itacoatiara não larga minha memória:

“A jarra está com a mesma e igual porção que ele deixou quando partiu, há mais de meio século.”

A ela vem juntar-se o parecer de um velho advogado da antiga amizade que me vendo chegar e sentar a seu lado, no lugar e hora de sempre, em tempos da sede central do Cabo Branco, tentou me adivinhar: “Você ri como defesa, para se enganar, mas o banzo é seu natural”. Ficávamos na calçada do clube, sob uma empanada que encobria a visão inquisitorial da Misericórdia. Já aposentado, doutor Jeremias Maurício de Sena mantinha lugar cativo entre os convivas, sempre reservado, ouvindo uma hora para falar um minuto. Eu ainda moço, sem escola formal, era atraído pela sabedoria menos despretensiosa daquele amigo velho. Sabedoria da lei e da vida.

No universo dos mitos, a origem do mundo é feminina. A narrativa que conta a origem do universo, a Cosmogonia, apresenta as quatro Forças...

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No universo dos mitos, a origem do mundo é feminina. A narrativa que conta a origem do universo, a Cosmogonia, apresenta as quatro Forças Primordiais, Caos, a primeira delas, depois Gaia, a Terra de amplo seio, em seguida Tártaro nevoento e Eros, a força cujo surgimento passou a promover a vida. A primeira ação de Eros foi impulsionar à geração da vida Gaia, que, a partir de si mesma, deu à luz Urano, o Céu, primeiro rebento da primeira linhagem divina. Trata-se do elemento masculino com quem ela gerará, agora através do coito, seus outros filhos. Após a decepação dos seus órgãos genitais por Crono, seu filho mais novo, enquanto realizava o coito com Gaia, encontrando-se no ventre da mãe Terra sem poder sair à vida, pois o pai não permitia, Urano passará a fertilizá-la constantemente através da chuva. Logo, é a partir dela, de Gaia, da força feminina, que surge o elemento masculino, Urano.

Toda manifestação homofóbica se resume na falta de amor, de respeito para com o próximo, com a comunidade e com a vida íntima alheia. Resp...

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Toda manifestação homofóbica se resume na falta de amor, de respeito para com o próximo, com a comunidade e com a vida íntima alheia. Respeito que não deve se limitar às relações entre homens e mulheres, mas entre quaisquer indivíduos que desfrutem comunhão afetiva. A harmonia de um relacionamento, de um ambiente familiar transcende a questão de gênero, pois é uma virtude de caráter e de nobreza. Há muitas relações homoafetivas em que existem muito mais dignidade, amor e respeito do que entre casais de sexo oposto.

Muito nos impressionaram as notícias recentemente divulgadas sobre a maneira discriminatória com que o empresário depoente na CPI da Covid se referiu ao senador Fabiano Contarato,
bem casado há mais de uma década com o fisioterapeuta Rodrigo Groberio, com quem tem dois filhos. Infelizmente isso ainda acontece, conquanto vivamos uma época em que o preconceito e a discriminação, sob qualquer forma, têm sido rejeitados pela sociedade pensante, com ênfase na mídia nacional e internacional, inclusive no Jornal A União, que dedica amplos espaços de abordagem correta acerca da diversidade humana, com séria rejeição a manifestações de comportamento homofóbico.

A ciência da psique já atestou que não há possibilidade alguma de redirecionamento de perfil sexual através de nenhuma terapia. A tendência para comunhão afetiva entre iguais é visceralmente pessoal, espontânea, e pode variar com as condições, o meio, as emoções e todo um contexto que envolve cada individualidade. Além de ser uma questão puramente pessoal e que não diz respeito a ninguém, as modernas pesquisas científicas apontam para que a tendência à comunhão afetiva entre pessoas do mesmo sexo pode até vir na genética, com a própria vida, ou na formação biológica. Por isso que a OMS a retirou de sua lista de doenças, desvios ou perturbações psíquicas, há algum tempo.

Há meia dúzia de anos, foi espantosa a repercussão positiva em cidades do mundo inteiro por conta da decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos reconhecendo o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, a mesma decisão de nosso Supremo Tribunal Federal, há alguns anos, não teve igual acolhimento da opinião pública, ainda que o nosso país haja se antecipado, estendendo os direitos matrimoniais por unanimidade.

Chico Xavier, eleito em votação nacional como o “Maior brasileiro de todos os séculos”, aborda o assunto de forma sensata e educativa, no livro Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel:

“A homossexualidade, definida no conjunto de suas características por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas. Observada a ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais”.

Como símbolo de uma vida dedicada ao amor fraterno com uma produção de centenas de livros, dos quais nunca se disse autor e não quis receber nem um centavo, tendo doando às causas sociais todos os lucros obtidos, Chico coloca o amor muito acima da identidade de gênero. Afinal, espírito não possui sexo e o sentimento entre eles, que é o que perdura além da vida material, está em outro nível. Jamais deveria incomodar a quem quer que seja.

E prossegue:

“Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis a vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus. Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”.

Chico Xavier conclui brilhantemente, com a dignidade que pautou seu exemplo de amor:

“Dia virá em que a coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos”.

Isso é amor!

Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome...

nome de rua bucolismo cotidiano urbano cronica
Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome da árvore simbólica do Natal. A exceção deve ser as castanholas na Rua das Castanholas, já que essas plantas parecem se adequar a qualquer espaço pelas vias da cidade.

Uma pena não encontrar as belas cerejeiras no logradouro que homenageia a planta símbolo do Japão. Decepcionante também não descobrir um lugar cheio de flores na Rua das Flores. Afora o nome poético, a foto revela um lugar comum.

O budismo, cuja filosofia me interessa muito, diz que nós inventamos desejos e nos tornamos dependentes deles. Sei disso a partir de vária...

facebook bloqueio conta cancelada
O budismo, cuja filosofia me interessa muito, diz que nós inventamos desejos e nos tornamos dependentes deles. Sei disso a partir de várias experiências. Uma delas foi o cigarro. Sim, já fui fumante. Aliás, acho que quase todo mundo da minha geração foi.

Não conheço ninguém que gostou do cigarro da primeira vez que provou. Gosto ruim na boca, tontura, enjoo. Com o tempo, a pessoa aprende a gostar, e vou dizer, pense numa coisa difícil de largar. Quem já fumou sabe disso. Conheço muita gente que largou há anos e ainda sente falta. Não é o meu caso. Foi a própria filosofia do budismo que me ajudou nesse sentido.
O meu pensamento foi simples: se eu já vivi sem isso, posso voltar a viver. Assim consegui me livrar de um mau hábito que mantive por muitos anos e, o que é pior, consciente dos prejuízos que aquilo me causava.

Vez por outra penso nisso com relação às redes sociais. Lembro quando uma amiga me sugeriu abrir uma conta no Facebook. Fui resistente no início, mas cedi. Foi muito interessante começar a encontrar amigos que não via há algum tempo, familiares que estavam morando fora, curtir postagens engraçadas, músicas, fotos, fazer amizade com gente que não conhecia "em carne e osso". Com o passar do tempo, fui me animando e comecei a escrever alguns textos e publicá-los ali. As pessoas interagiam, curtiam e isso foi se tornando cada vez mais divertido. Uma ou outra treta também acontecia, mas era algo raro.

Um dia escrevi um texto chamado "Você não é obrigado a nada". Postei e, de uma hora para outra, centenas de pessoas estavam me solicitando amizade. Essa frase até virou "meme" ou o "meme" serviu de mote. Isso foi em 2015 e esse texto continua sendo muito compartilhado. A experiência permaneceu interessante e segui escrevendo e postando. Novos amigos foram chegando, alguns passaram a me ajudar, corrigindo erros, incentivando que escrevesse mais, sugerindo temas. Algumas deles, até viajei para conhecer pessoalmente. Outros, recebi aqui em João Pessoa, inclusive na minha casa. Não me desapontei. Pelo menos os que encontrei aqui, em São Paulo, Curitiba e Fortaleza foram do tipo "o santo bateu".

Continuei escrevendo e fazendo amigos novos e antigos. E a outra verdade é que criei uma necessidade. O Facebook passou a fazer parte da minha vida diária. E deve ser assim na vida de muitos. Plataforma política, paqueras, muro de lamentações, poesia, literatura, humor, gente talentosa e, claro, coisas desagradáveis também. As últimas eleições presidenciais exacerbaram demais o lado tóxico das redes.

Cancelamento, linchamento virtual, agressividade, intolerância.

Muitos começaram a abandonar a interação para se protegerem. Sim, tudo pode se tornar nocivo. Mas, preciso admitir, para mim sempre foi mais prazeroso do que ruim. Vez por outra acontece de retirar alguém do meu grupo de amigos ou de ser retirado. Enfim, é o mundo virtual permitindo que você "dê sumiço aos seus desafetos".

De todas as gostosuras que essa rede me trouxe, o contato com o povo das artes foi a coisa mais gratificante. Poetas e escritores que admiro interagindo comigo. Artistas plásticos que amo, atores e atrizes, músicos, palhaços. E pessoas interessadas nesse universo, que fazem postagens lindas, divertidas e inteligentes.

A semana passada, levei um susto gigante. Um amigo comentou a minha idade e fui nas minhas informações ver o que estava ali registrado. Minha conta foi desativada. Não foi bloqueio, coisa pela qual alguns têm passado. Simplesmente recebo um aviso que não tenho idade suficiente para usar o Facebook e por isso não tenho acesso à minha conta. Eles me pedem que mande um documento de identidade, que comprove meu tempo no planeta, mas de nada adianta. Que sensação horrível. Foi como se tivesse chegado em casa de uma viagem e a encontrasse completamente vazia, saqueada.

Aquilo me deu um desamparo enorme. Bia, minha amiga, falou em "morte virtual". E foi assim que me senti. Pensei numa música em que Gil fala da morte. Eu "morri" mas ainda estava lá. Me botaram para fora da festa. Desapareci para meus amigos, que ficaram sem saber o que aconteceu. E cada vez que lembro de alguém que gosto ou de um texto que não salvei meu peito congela.

Ainda conversando com Bia, ela me perguntou se vou criar nova conta. Respondi que não sei, que talvez eu ressuscite no sétimo dia. Ela falou — entendendo ao que me referia — que é no terceiro. Sete foi a criação do mundo. Rimos juntos e já surgiu a ideia para a primeira música da TRILHA SONORA: Meu Mundo Caiu, de Maysa


As outras são:

Volta (Lupicínio Rodrigues), com Gal Costa ▪ Coragem, Coração (Carlos Rennó / Cláudio Monjope), com Ney Matogrosso ▪ Não Tenho Medo da Morte , Gilberto Gil ▪ Começar de Novo (Ivan Lins / Vitor Martins), com Simone

A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas p...

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A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas para voltar ao antigo normal. Isso se explica pelo longo tempo em que o coronavírus privou-as de liberdade, modificando hábitos, dificultando a convivência e fazendo a maioria se enfurnar em casa.

A casa existe como um contraponto da rua, é o lugar para onde se volta depois de sair (com todas as ressonâncias simbólicas que esse gesto possui).

Alcançar a plenitude da vida exige sacrifícios, algumas dores e inúmeras inquietações. Do desejo à concretização, é preciso ser paciente...

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Alcançar a plenitude da vida exige sacrifícios, algumas dores e inúmeras inquietações.

Do desejo à concretização, é preciso ser paciente! É imprescindível acreditar no que se faz e naquilo que, verdadeiramente, se quer alcançar!

Somente após este inquietante processo interno, a vida se exterioriza, revelando a mais absoluta das belezas e plenitudes!