T ias? Tive muitas. Cada uma com o seu modo de ser e de viver. Tias paternas, tias maternas. Nenhuma ficou solteirona. Ficar solteirona era ...

Ah, minhas tias...

Tias? Tive muitas. Cada uma com o seu modo de ser e de viver. Tias paternas, tias maternas. Nenhuma ficou solteirona. Ficar solteirona era uma coisa horrível para elas.

Se eram bonitas? Algumas, sim, outras simpáticas apenas. E começo falando de Tia Autinha, professora da Escola Normal, muito educada e simpática. Não foi feliz no casamento. Separou-se e ficou fazendo companhia à sua mãe.

A mais idosa das tias, Totonha, morava num lugar chamado Araçá. Criatura ótima e muito humilde. Muito diferente da sofisticada Nautília, a caçula das tias. Casou-se com um italiano e foi morar no Rio. Era de pequena estatura. Tanto é assim, que quando era fotografada, trepava-se num tamboreto. Tinha o complexo da altura.

Vem agora tia Anília. Ela dava, todos os dias, aulas de otimismo. Estimava-me muito. Foi ela quem me ensinou datilografia. Casou-se com tio Henrique, um homem alegre, brincalhão e que se formou em Direito, já idoso. Ele e tia Anília formavam um belo casal.

Vejamos tia Ninália. Uma criatura boníssima. Casou-se com João Batista Barbosa, um ótimo sujeito. Ele era comunista, chegou a visitar a Rússia, e hospedou Luiz Carlos Prestes muitas vezes em sua casa.

Agora falemos em tia Alzira, sertaneja de Patos, casada com o major Jansen, um homem inteligentíssimo. Pai do desembargador Orlando Jansen. Tia Alzira fumava muito, tal qual a mãe, minha avó Quininha.

Minhas queridas tias, quando solteiras, frequentavam a famosa retreta na Praça João Pessoa que ia até as nove horas da noite. No coreto tocava a banda de música e aquele passeio era uma das grandes atrações da cidade. Quando davam 21 horas, a Banda ia embora e o pessoal também. Minhas tias não perdiam a retreta. Ali era uma oportunidade para a paquera, o namoro e o casamento. Elas só não gostavam quando, ao avistá-las, os sobrinhos saiam gritando: “Titia, titia!”


Falei sobre minhas tias maternas e me esqueci das paternas. E dessas, a que mais me encantava, pela sua beleza e educação, era Tia Clarice, uma beleza de mulher. Educadíssima e sempre de bom humor. Educação chegou ali, ficou. Que me perdoem as outras tias, mas, tia Clarice... E o mais bonito nela era o sorriso.

A verdade é que todas minhas tias não ficaram no caritó, como se costumava dizer. Voltemos à tia Autinha, professora da Escola Normal, que tinha o sorriso mais bonito do mundo. Tia Autinha, num dia de São João, com suas bombas, fogueiras e fogos, foi me visitar e me deu um livro sobre História Universal, que eu ainda conservo na estante. Ela era uma mulher de cultura e sensibilidade. Vestia-se muito bem. Perdoe-me quem me lê por estas recordações. Mas, bem diz o ditado: recordar é viver. Vez por outra, é bom. É bom somente, não, é terapêutico soltar a imaginação e reviver o passado.

Pois não é que eu ia me esquecendo de uma grande tia? Tia Ester, casada com o jornalista José Leal. Uma ternura de mulher. Sempre bem humorada.

Ah, minhas tias! Como foram importantes na minha vida. Como aprendi com elas! Como me ensinaram, como gostavam de mim, como enfeitaram a minha vida.

Nenhuma delas ficou no caritó, o que mais temiam...

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