Sempre tive no jornal o livro que nunca fecha, que se abre a cada rasgo no cotidiano. Nesse do domingo passado sublinhei de vermelho e guardei como recorte a aula que Lucilene Meireles foi extrair em entrevista com o presidente do Conselho Federal de Economia, presente num seminário do ramo em João Pessoa.
“O ajuste fiscal, por si só, não traz crescimento econômico (...) Isso é uma das falácias assumidas pelo Brasil desde 2016: a visão de que você cuida da área fiscal – e sequer isto foi feito – e automaticamente a economia recupera a atividade. Não é assim que funciona. O Estado tem que intervir, fomentar o desenvolvimento econômico para que o setor privado também invista”.
A entrevista com o professor Antônio Corrêa de Lacerda toma página inteira, o suficiente para recordar experiências não tão remotas de conquistas inéditas no esforço brasileiro por diminuir os extremos da desigualdade social que desmentem a consciência
Antônio Corrêa de Lacerda
@gov.br
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Evoluímos além da inventiva ou do sonho, ingressamos de súbito no inimaginável, pisando na lua, que ninguém quer mais, tornando presentes, instantâneas, falas e imagens as mais distantes. No entanto, quanto mais nos beneficiamos dessa evolução, quanto mais conquistamos, mais crescemos em irmãos “em condição de fome e situação de rua”. O Estado mais rico, matriz industrial e do agronegócio exportador exibe o fundo social em que se assenta.
Luiz Carlos de Souza, editor de política do jornal A União. @eduardo.santos
Quando a extrema-direita concentrou todo o seu arsenal na cassação de Dilma, a pretexto de infringir o ajuste fiscal, ouvi de uma de nossas lideranças empresariais: “Não estou falando em corrupção, pois não sei bem quem não entrou nela. O que sei é que dinheiro não é para ser dado de graça a quem não trabalha, dinheiro é para aplicar em negócio, investir.” E me lembrei do que disse a mulherzinha que fui encontrar às margens do rio Piancó, ao responder como ia ao neto do antigo dono daquelas terras desertas de gente e de pastagens: “Estou só, fulano passou-se pra rua, mas estou bem. Tenho aqui, sozinha, o que o melhor inverno nunca me deu”. E abriu o armário velho com o feijão, o fubá, o arroz, o café, o sabão que as terras não davam mais. Por falta de chuva e de braços.
Volto à dona do Itaú: “Todos ganham com uma sociedade menos desigual. Mas têm pessoas que não querem ser iguais, querem manter as diferenças”. Se realizam mesmo com isso.