O poeta Waldemar José Solha e o maestro José Alberto Kaplan, com assessoramento de Dom José Maria Pires, escreveram e apresentaram a Cantata pra Alagamar, que se tornou um hino de louvor aos camponeses que, em 1978, impuseram a bandeira de lutas por um pedaço de terra. O padre católico, o judeu e o ateu deram voz às famílias espezinhadas na terra ensanguentada, onde antes plantavam e colhiam.
O grito e o sonho que saíram do recanto da terra na beira das serras que margeiam o Rio Paraíba, pelas palavras do poeta, do maestro e do padre ganharam ressonância em alcovas palacianas e nos presbitérios. Esse sonho e esse grito que a terra alimenta e a arte dá vida.
Dom Hélder Câmara nos movimentos para Alagamar UFPB
Tanto tempo depois, é oportuno fazer memória de tudo o que aconteceu naquele recanto de terra onde famílias plantavam e colhiam, sobrevivendo ao cambão, à enxada e ao chicote. Depois da forte presença dos religiosos que emprestaram sua voz contra a opressão policial e do muque dos senhores da terra, a Cantata pra Alagamar repercutiu com maior abrangência e deu vida às reivindicações das famílias que residiam na região.
Dom José Maria Pires nos movimentos para Alagamar UFPB
Capa do disco da Cantata para Alagamar / Maestro J. A. Kaplan UFPB
José Alberto Kaplan e Waldemar José Solha (1979) @waldemarjose.solha
Sensível à questão da terra, tão em voga também em sua região, poeta e memorialista da Prelazia de São Félix, à beira do Rio Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, escreveu um poema sobre Alagamar, que transcrevo. Este poema se juntou a outras manifestações que vaticinaram a enxurrada de ajustamento que alagaria o mar das injustiças:
… E que o Rio alague o Mar!
- São Francisco alague o Mar
- Tocantins alague o Mar
- Araguaia alague o Mar
Todo Rio se ajuntando
numa enchente de Justiça,
Povo-Rio
Alague o Mar!