Sempre lembramos de José Américo de Almeida como o escritor sabido que ganhou dimensão nacional com o romance A Bagaceira, mas antes havia se revelado um pesquisador arrojado ao publicar A Paraíba e seus problemas, em 1923. Um ano antes, com sua obra de estreia, Reflexões de uma Cabra, mostrou a dimensão de sua aguçada imaginação e poder de sintaxe para falar de questões inquietantes.
UFPB
O livro Reflexões de uma Cabra saiu com uma tiragem de cinco mil exemplares, sendo vendidos 800 exemplares no lançamento, que ocorreu a 1º de julho de 1922, um sábado, com muita badalação e ruidoso sucesso, como noticiou o jornal O Norte, no dia seguinte. O jornal falava do autor como um escritor talentoso, sociólogo e jurista, à época, “um dos mais belos talentos da Paraíba”, e sua incursão pela novela era francamente vitoriosa.
Não demorou a provar isso. Seu livro ganhou privilegiados espaços na imprensa, críticos literários de renome dedicaram páginas com análise da obra esmiuçando sua temática e seu estilo.
Como descreveram os comentaristas de então, José Américo tinha estilo refinado, percebia-se a influência de Machado de Assis, mas o colocavam superior ao autor de
O título da obra deixava o leitor intrigado, e com razão. O próprio autor chegou a dizer que pensava chamar a obra de “Memórias de um ventoinha”, pois o personagem central foi por ele considerado “um frívolo, ambicioso, ingrato e acomodatício”.
Nos dias seguintes à publicação, os jornais da Capital dedicaram espaços para a opinião dos leitores, em muitas ocasiões ressaltando o preparo literário de José Américo, apesar de sua inconteste modéstia. Apontavam o invulgar senso crítico na abordagem das reminiscências.
Jorge de Lima Arquivo Nacional
Mesmo sem a repercussão de A Bagaceira, sua obra maior que seria publicada seis anos depois, Reflexões de uma Cabra é uma fábula sertaneja a revelar um autor incomodado com as mazelas da região onde nasceu. Usando linguagem escrita fora do modismo em voga, a obra causou uma ruptura estética e temática. Ele introduziu a cabra como símbolo da caatinga nordestina na literatura brasileira.
Na obra fica evidente a presença de aspectos familiares nesta obra. Assim como o personagem Zé Fernandes, José Américo estudou para ser padre, mas abandonou o seminário.
O próprio autor esclarece no Post Scriptum que talvez “nem seja uma caricatura dos novos processos de ficção”. O certo é que a obra abriu as veredas para entrar a linguagem rebuscada do povo do Nordeste, seus ditos e costumes.