Fernando Vasconcelos obriga-me a acompanhar a escrita dos seus passos, de suas observações e, com a voracidade com que a globalização s...

De mãos para os céus

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Fernando Vasconcelos obriga-me a acompanhar a escrita dos seus passos, de suas observações e, com a voracidade com que a globalização sucateou os meios e subverteu os usos da comunicação, mais me atenho às repercussões disso tudo em sua coluna semanal.

Começa que fui passado para trás no único ofício em que tive persistência para adquirir algum domínio técnico, como o de fazer jornal nos limites do lugar onde vivo. Disso não passei, a não ser pelo testemunho. Em 1979, chegando a diretor-técnico de A União, toda ou quase toda a maquinaria que sedimentara meu currículo passara a sucata. Aposentado, livre
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Etsy
para a prosa vagabunda - o melhor que sempre achei da vida – puxaram as cadeiras, fecharam o clube e o Alvear, símbolo pessoense dos cafés. E não consegui incorporar o celular e seus derivados a meus hábitos. Lembraram-se de mim, felizmente, quando mantiveram o teclado do notebook na mesma ordem alfabética da remingtonzinha que comprei na conversa a Romero Peixoto, amigo que não me pediu cadastro bancário. Amigos assim, onde estão eles? Não estou pensando nos que o sangue da profissão nos fez irmãos, mas na gente que deu a João Pessoa a grinalda de cidade cordial mantida hoje tão somente pelo que resta no ornato fronteiriço das casas fechadas que se entreabraçam no centro histórico. Onde estão eles além da minha lembrança? No Municipal, no papo com Luciano Wanderley? No cartório de Chico Souto? No banco de Edmundo, vulgo Bode Rouco? Na Gama e Melo com Cláudio Santa Cruz e Nizi? Na mesa de Zé Laet com José Gomes da Silva?

As notícias que podem ter parte comigo não vêm mais por onde me ensinaram. Nem pelo telefone.

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Marshall McLuhan Stephen Mills
A mídia, onde está a velha media, palavra que enchia a boca na onda revolucionária de Mc Luhan?

Por sorte minha, Fernando ainda escreve em jornal de papel. Ele e toda uma elite de imprensa chegada airosamente pelas asas que José Américo auspiciou ao futuro da Universidade. E muito me ajuda, feito e atento aos direitos do consumidor, às responsabilidades civis e, sobretudo, como observador e frequente viajante, tornando-se um dos meus canais confiáveis de informação e opinião.

No jornal da última terça-feira, 27 de maio, toca no meu fraco: “Por que o Centro Histórico não engata?”.

Ora, amigo velho, não engata porque são poucos, raros os pessoenses que levam isso a sério. Reclama-se muito do governo, mas o governo atua por pressão da opinião pública. Damos graças quando se rendem às questões primeiras como saúde, educação, infraestrutura básica. Precisou que um desvairado rompesse uma madrugada dos anos 1970 e danificasse uma das imagens de São Francisco para que se corresse em busca do que se perdeu, desatando-se um programa de restauração que teve seu auge em Burity, com
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Igreja São Francisco (PB)
Arquidiocese da Paraíba
Celso Furtado no Ministério da Cultura e ajuda da Espanha. Isso quando a marreta não vem do próprio governo, derrubando igrejas como a do Rosário dos Pretos para dar lugar ao Ponto de Cem Réis que tentam aprontar desde Oswaldo Pessoa como prefeito de 1951. O herói da nacionalidade brasileira, André Vidal de Negreiros já mudou de pedestal três vezes. Felizmente a efigie continua a mesma, não sei se de Parreiras, o pintor fluminense que nos deu o painel principal do Palácio dedicado ao herói José Peregrino, cuja casa, na rua de seu nome, continua de pé sob a garantia bicentenária de sua própria caliça. Só por isto, caríssimo Fernando, pela resistência indômita do sobradinho descascado e roto do herói de 1817, do busto de Vidal, da herma belíssima de Augusto dos Anjos no Parque Sólon de Lucena, mesmo desamparada de abrigo, levantemos as mãos para os céus.

Um esforço está havendo, para o qual espero voltar em outro comentário.

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