Antes do evento que marcou o 90º aniversário de Gonzaga Rodrigues, com o lançamento de seu mais recente livro — Com os olhos no chão — recebemos convite de sua neta, Lays, para gravar em vídeo uma fala a seu respeito. Alguns compromissos relacionados com o centenário de Carlos Romero, também de junho, inclusive com amigos que vieram de longe para confraternizar conosco, e alguns dissabores não previstos impediram-nos de atender ao pedido.
Mas o que teria um arquiteto, metido às letras e à música, a dizer de um escritor já tão falado, estudado e analisado por gente que realmente entende (!) de crítica literária?...
Hildeberto Barbosa, Ângela Bezerra de Castro e Milton Marques Júnior @facebook
Primeiro devo contestar, em se tratando do cronista, a célebre afirmação de que “toda unanimidade é burra”. Pois não há, ou pelo menos desconheço quem não admire o que Gonzaga produziu e ainda produz com singular notabilidade no universo das letras paraibanas. Como diz o escritor Francisco Gil Messias, se ele não fosse da “aldeia”, sua obra já teria se desgarrado para muito além dos mares paraibanos.
Embora tenha exercido com igual esmero outras formas de escrever, é na crônica (o que mais li dele) que Gonzaga cabe inteiro, límpido, sempre atento; da formiga que percorre munida o caminho de volta, em cumprimentos de parceria enfileirada, à magnífica copa do “sombroso gigante” que desdenha da “igreja universal do reino dos homens” que se iludem crentes na monumentalidade arquitetônica. Ele sabe que à sombra da magnífica folhagem abrigará fé maior do que embaixo de portentosas naves jamais imaginadas por quem ensinou que é nos montes desnudos que se vislumbra o reino dos céus.
Das graciosas criaturinhas, como as lavandeiras, as vistas enevoadas pela idade dos olhos — mas não pela íris limpa da alma letrada —, se estendem ao tempo dos bondes, dos pontos sem réis, do cais sem navios, da cidade velha e nova, que do rio foi pro mar e lá se perdeu na imensidão sem freio, sem volta, sem escrúpulos.
Capital Paraibana @paraibadopasssado
Em tempos ingratos, num mundo em que amizades de priscas datas são esquecidas por gente iludida com podres poderes, mantém-se em mim gratidão de se pôr em moldura, ao velho Gonzaga. De quem recebi, quando de ilusões acadêmicas meu olhar se ofuscou, a verdadeira vitória: “Você ganhou, Romero! Terá sido o primeiro disputante que com apenas 5 votos levanta uma memória estética e espiritual que não trai a natureza da cidade de Coriolano” [...] “Você ganhou, e seu pai, agora em sua verdadeira imortalidade, sabe disto bem melhor que nós outros, pobres ingênuos”. Muito obrigado, e parabéns a você, Gonzaga, pelos louros da escrita e pelos que me cobriram.
Carlos Romero e Gonzaga Rodrigues ALCR